Isaías 45.1-7

Auxílio Homilético

19/10/2008

Prédica: Isaías 45.1-7
Leituras: Mateus 22.15-22; 1 Tessalonicenses 1.1-10
Autor: Ulrico Sperb
Data Litúrgica: 23º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 19/10/2008
Proclamar Libertação - Volume: XXXII


1 Introdução
O texto fala de maneira profética sobre o fim do cativeiro babilônico do povo judeu. O Salmo 126 faz isso na forma poética. O livro de 2 Crônicas faz o relato da volta do povo a Jerusalém na forma histórica (2 Cr 36.22 e 23).

2 Situação histórica
O pano de fundo histórico de nosso texto é o Édito de Ciro, promulgado no ano 538 a.C. por ocasião da tomada da Babilônia. Ciro governou de 558 a 529 a.C., inicialmente num pequeno principado no meio do deserto a sudeste da Babilônia chamado de Ansã, também conhecido como Pasárgadas. Com muita habilidade foi conquistando tronos e reinos até se tornar o maior monarca da Ásia Menor até então. Em 539 a.C., Ciro conquistou a Babilônia e, no ano seguinte, permitiu com seu édito que os povos deportados pelos babilônios pudessem retornar a suas terras de origem. Entre esses povos estavam os judeus, que permaneciam no cativeiro babilônico desde 587 a.C. Ciro foi além: devolveu aos judeus que retornaram a Jerusalém os tesouros do Templo, bem como concedeu a licença para que reconstruíssem o Templo (o que ocorreu entre 520 e 516 a.C.). Essa política de Ciro é cantada no texto de Isaías 45.1-7.

3 Exegese
3.1 – Contexto
Os capítulos 40 a 55 do livro de Isaías são atribuídos a Dêutero-Isaías (outro ou segundo Isaías) por falta de qualquer referência à sua pessoa. O certo é que não se trata do próprio Isaías. Os temas principais são: soberania de Deus (também entre outros povos); libertação do cativeiro; queda da Babilônia; servo de Deus.
V. 1 – Ao declarar Ciro como ungido de Deus (a palavra em hebraico é messias), o profeta faz de Ciro um instrumento que Deus escolheu. Mesmo que o termo técnico – ungido – seja usado para o rei Davi e seu tão esperado sucessor (o Messias), aqui o uso retórico dessa palavra visa acentuar que o rei Ciro foi escolhido por Deus para o grande propósito da volta dos judeus a Jerusalém. Ciro é tomado por Deus pela mão direita para os seguintes propósitos: abater nações, destronar reis, abrir portas – fatos também narrados em relatos históricos da época.
V. 2 – Deus mesmo facilitará a trajetória conquistadora de Ciro.
V. 3 – Inclusive dará acesso aos lugares secretos, onde estão escondidos os tesouros. Esses dois versículos têm seu paralelo em Jeremias 27.6s., que tratam do rei babilônio Nabucodonosor (sete décadas antes).
V. 4 – O motivo da escolha de Ciro fica claro nesse momento: por causa de seu povo (descendente de Jacó), Deus interfere no curso da história. Levanta Ciro para derrotar os babilônios e, por conseguinte, libertar Israel.
V. 5 – Tanto no final do versículo anterior como no final desse está a expressão: “Ainda que não me conheces”. Aliado a isso está o fato de que Deus está se dirigindo diretamente a Ciro, cujo sobrenome (“Ungido”) Deus mesmo lhe deu.
V. 6 – No final desse e no início do v. 5 está a afirmação: “Eu sou o Senhor, e não há outro”. O Dêutero-Isaías é um dos profetas que com maior vigor defendeu o monoteísmo. Javé, o Deus dos judeus, é o Senhor da história.
V. 7 – Aqui é usado o mesmo termo que em Gênesis 1.1 para designar o criar de Deus. O profeta cita um hino antigo, no qual é dito que Deus cria as trevas e o mal (vide Jó 9.5s. e Sl 104.32).

3.2 – Duas questões teológicas
Ciro é ungido (messias) de Deus? Ao chamar Ciro de ungido ou de pastor (Is 44.28), fica clara a relevância histórica de Ciro no contexto da Ásia Menor naquele tempo. Sua trajetória vitoriosa é admirável. O objetivo de chamá-lo de “Messias” é ressaltar que Deus o usou para libertar seu povo.
Deus criou o mal? Conforme Gênesis 3.5 e 22, Deus colocou no jardim do Éden a árvore do conhecimento do bem e do mal. Esse antigo relato e a hinologia antiga tomavam como natural a criação das trevas (em contraposição à luz) e do mal (oposto ao bem) por parte de Deus. Os hinos posteriores já não entram mais nessa temática (cf. Gerhard von Rad).

4 Meditação
Deus não é uma divindade que só se restringe a um povo ou a causas individuais. Isso seria pensar pequeno sobre Deus. Como Criador, Javé também é o Senhor do mundo e da história (vide o contexto Is 44.24s. e 45.8s.).
Nosso texto quer nos “cantar em prosa e verso” que Deus escolheu o grande rei Ciro para libertar seu povo do cativeiro babilônico. Esse Ciro foi em sua origem um “reizinho” insignificante numa cidade provinciana.
Entre o povo hebreu vemos como Deus escolheu Moisés para ser o grande líder da libertação da escravidão no Egito. Moisés foi, na verdade, um assassino (Êx 2.11s) e era pesado de boca e de língua (Êx 4.10).
O grande libertador que Deus enviou ao mundo (Jo 3.16) foi seu próprio Filho, Jesus Cristo – o Messias (Ungido de Deus). Jesus tem uma origem e uma vida humilde: filho de carpinteiro (Mt 13.55), nasceu numa estrebaria (Lc 2.7), não teve lar (Mt 8.20) e morreu condenado à morte na cruz (Mt 27.35 e par.).

5 Imagens para a prédica
Sugiro usar o método “Ver – Julgar – Agir – Celebrar” para a pregação.
Ver – Dois exemplos da história mais recente: Mahatma Gandhi e Mikhail Gorbatchev (citado no PL 21 por W. Buchweitz) sugerem que Deus usa pessoas para conduzir de maneira positiva a história, mesmo que não estejam vinculadas ao “cristianismo oficial”.
a – Gandhi: Mohandas Karamchad Gandhi – apelido Mahatma (Grande Alma) – (1869-1948). Com os princípios da não-violência e da desobediência civil e com sucessivos e longos jejuns, Gandhi foi um dos principais articuladores da independência da Índia, alcançada em 1947 (apesar da teimosia britânica).
b – Gorbatchev: nasceu em 1931 e foi o último secretário-geral do Partido Comunista, governando a União Soviética de 1985 a 1991. Implantou a Glanost (Abertura) e a Perestroika (Reestruturação) com três conseqüências históricas: o fim da União Soviética; o fim da Guerra Fria; a salvação da Rússia de uma derrocada com uma miséria imprevisível.
Sem dúvida, pode-se fazer observações críticas a essas duas figuras da história. Aqui se trata de ressaltar o saldo positivo, o qual pode ser atribuído à ação de Deus na história humana. Afinal, o grande rei conquistador Ciro também não foi um monarca sem “pecados”.
Julgar – Ler o texto de pregação. Descrever a situação histórica.
Agir – Tirar as conseqüências do texto para o nosso contexto. Para tal proponho:
Alguns aspectos negativos da atualidade que mostram como Deus não é incluído na história:
a – Há religiões, igrejas e seitas que transformam Deus em mero “atendente de necessidades individuais”. Escrevo o auxílio homilético em maio de 2007, período da santificação de frei Galvão, cujos efeitos milagrosos são atribuídos a pílulas de papel.
b – Há correntes religiosas que preconizam a teologia da prosperidade, calcada na “loteria divina”. Ouvi um dos fundadores de uma tal seita dizer em seu programa de televisão: “Tudo o que você der a Deus, ele é obrigado a lhe devolver em dobro”. Isso não é o nosso Deus, é um deus qualquer manipulado por um homem qualquer.
c – No mundo secularizado, Deus é excluído das tomadas de decisão. Não se pergunta pela vontade de Deus. Disso resulta que também a ética, muitas vezes, é excluída. Na medida em que se rejeita um ser superior, a tendência é colocar-se a si mesmo como ser supremo.
Alguns aspectos positivos da atualidade que mostram a atuação de Deus na história:
a – Muitas pessoas – também presentes no culto – já se beneficiaram com o milagre da medicina atual.
b – Tanto na igreja como fora dela, há pessoas com atuação marcante, que agem sob a condução do Espírito Santo.
c – A consciência ecológica, de preservação do meio ambiente, também é fruto da atuação do Espírito de Deus em nossa história atual.

6 Celebrar – Subsídios litúrgicos
Na liturgia inicial, sugiro incluir o lema da semana, o qual também pode servir como palavra de absolvição.

Confissão de pecados:
Pai bondoso, tu és o Senhor de nossa vida e de todo o mundo. Perdoa-nos quando nos esquecemos de tua grande Majestade, quando te colocamos num cantinho destinado apenas para resolver problemas pessoais. Ajuda-nos a aceitar-te como o senhor da história, tanto de nossas vidas como de todo o universo. Tem piedade de nós e do mundo. Amém.

Oração do dia (oração de coleta):
Nós te agradecemos, Senhor, por interferires com tua bênção na caminhada da humanidade. Para tal escolhes pessoas como teus instrumentos de atuação. De maneira definitiva enviaste o teu próprio Filho para salvar a humanidade. Ajuda-nos a ouvir, aceitar e testemunhar o evangelho de Jesus Cristo. Amém.

Leituras bíblicas:
Evangelho: Mt 22.15-22 – Dar a César o que é de César coloca César em seu devido lugar: seu atributo é cobrar o tributo.
Epístola: 1 Ts 1.1-10 – Em solo europeu, há uma comunidade exemplar. Os dois textos refletem a questão do relacionamento e do convívio com pessoas não-vinculadas à fé cristã.

Oração de intercessão:
Deus, nosso Pai e Senhor de toda a vida! Nós te agradecemos por acompanhares a história da humanidade. Justamente por isso te imploramos para derramares o teu Santo Espírito especialmente sobre as autoridades deste mundo. Faze com que sejam mais responsáveis pela construção da paz, pela superação da violência, pela promoção da justiça. Abençoa nossa igreja e nossa congregação. Cuida bem de nossos familiares e de nossos lares. Ampara todas as pessoas que sofrem e fortifica a nossa fé. Por Jesus Cristo, teu amado Filho, nosso Salvador. Amém.

Bibliografia
BUCHWEITZ, Wilfrid. Meditação sobre Isaías 45.1-7. In: Proclamar Libertação, v. XXI. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1995. p. 264-266.
von RAD, Gerhard. Theologie des Alten Testaments, v. I e II. Munique: Chr. Kaiser Verlag, 1965.
KEYES, Nelson Beecher. História Ilustrada do Mundo Bíblico. Rio de Janeiro: Seleções do Reader’s Digest, 1962.
 


Autor(a): Ulrico Sperb
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 23º Domingo após Pentecostes
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 45 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 7
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2007 / Volume: 32
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 24330
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