Isaías 56.1,6-8

Auxílio Homilético

29/08/1993

Prédica: Isaías 56.1,6-8
Leituras: Romanos 11.13-15 e Mateus 15.21-28
Autor: José Roberto Cristofani
Data Litúrgica: 13º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 29/08/1993
Proclamar Libertação - Volume: XVIII


1. Texto

Utilizaremos a versão de Almeida Atualizada, porém com uma diagramação própria.

V. l
Assim diz o Senhor:
Mantende o juízo (retidão) e fazei justiça,
porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça prestes a manifestar-se.

V. 2 Bem-aventurado o homem que faz isto,
e o filho do homem que nisto se afirma; que se guarda de profanar o sábado, e guarda a sua mão de cometer algum mal.

V. 3 Não fale o estrangeiro que se houver chegado ao Senhor dizendo:
O Senhor com efeito me separará do seu povo; nem tão pouco diga o eunuco:
Eis que sou como uma árvore seca.

V. 4
Porque assim diz o Senhor:
Aos eunucos que guardam os meus sábados,
escolhem aquilo que me agrada, e abraçam a aliança,

V. 5
darei na minha casa
e dentro de meus muros
um memorial e um monte eterno darei a a cada um deles,
que nunca se apagará.

V.6
Aos estrangeiros que se chegam ao Senhor,
para o servirem,
e para amarem o nome do Senhor, sendo deste modo servos seus, sim, todos os que guardam o sábado,
não o profanando, e abraçam a minha aliança,

V. 7 também os levarei ao meu santo monte,
e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos
e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar, porque a minha casa será chamada
casa de oração para todos os povos.

V. 8
Assim diz o Senhor Deus que congrega os dispersos de Israel: Ainda congregarei outros aos que já se acham reunidos.

Sua estrutura pode ser a seguinte:

Vv. 1-2 — programáticos para todo o bloco de Is 56-66. Mostram a direção em que
esses capítulos querem ser lidos.

V. 3 — um lamento, que resulta nos seguintes oráculos de salvação:

Vv. 4-5 — aos eunucos

Vv. 6-7 — aos estrangeiros. V. 8 — fecha o bloco, resumindo a atividade salvadora de Javé.


2. Contexto

Com Is 56-66 estamos em plena época pós-exílica, na qual vários projetos de reconstrução nacional dos judeus estão sendo planejados/executados sob os auspícios dos governantes persas.

Especificamente Is 56.1-8 aponta para um conflito dentro da proposta de restauração da nação, respectivamente do Templo e de seu serviço.

A disputa se dá, ao que tudo indica, em relação à abertura da adoração a Javé e do serviço do Templo, para outros povos e gentes, o que dá o tom universalista de Is 56-66, mas que é duramente criticado por Ez 44.6ss., que quer exclusividade na comunidade de adoradores de Javé.

Ë sintomático que a problemática se dê em torno de eunucos e estrangeiros. Assim temos, por um lado, judeus que serviram em cortes estrangeiras, onde foram feitos eunucos, e agora retornam e, por outro, estrangeiros que estavam em Judá, pois tinham ocupado as terras deixada pelos exilados.

3. Destaques

No v. l, temos uma admoestação para que se mantenha a retidão e se faça justiça. É uma exortação para agir, motivado pela boa-nova de que a salvado justiça de Deus está próxima. Assim, o v. 2 pode chamar de bem-aventurado quem nessa prática se firma, qualificando o que seja tal prática, isto é, guardar o sábado e a mão de cometer algum mal. É bom lembrar que o sábado, que ganhou guinde relevância no exílio, é visto agora como o sinal da aliança (cf. Ex 31.13,17), e não como um ritual apenas.

No mesmo v. 2, ficamos sabendo quem são os bem-aventurados: são os Homens (Lit. filhos de Adão), o que antecipa a ideia do v. 7: ... para todos os povos.

O v. 3 é um lamento de estrangeiros e eunucos, pois a lei, Dt 23.1ss., negava o acesso de tais pessoas à comunidade cúltica. Ao que parece, tal lei estava sendo usada por um outro grupo para justificar a separação entre judeus e os outros.

Os vv. 4-5 e 6-7 trazem uma palavra de Javé aos eunucos e estrangeiros, respectivamente. Nela fica expressa a boa vontade de Deus em acolher tais como seus adoradores e servidores.

Também os quesitos para se tornarem adoradores e servido rés são explanados juntamente com as promessas: memorial/nome aos eunucos, isto é, a mesma promessa feita a Abraão (Gn 12), pois eles se consideravam (ou consideravam-nos?) árvores secas, aos estrangeiros a bênção vem em forma de serviço no culto, isto é, pleno direito de um judeu puro.

No v. 7 ainda, é significativo que a casa do Senhor será chamada de casa de oração. Há uma mudança em relação à função do templo. Ele não mais será utilizado para sacrifícios, mas para ser o lugar de comunicação com Javé.

No v. 8, a palavra outros significa estrangeiros, e não outros judeus somente.

4. Is 56 e o NT

É Jesus quem utiliza Is 56.7, ao expulsar os cambistas e vendedores do templo (Mc 11.15-18), se bem que em outro contexto.

Porém, antes de tudo, é a mensagem de Is 56 que é grandemente difundida no NT, qual seja: a abertura da comunidade de fiéis para outros povos e gentes.

Assim, At 8.26-40 narra a admissão de um eunuco (!) estrangeiro (!!) à comunidade primitiva, sem que lhe seja feita qualquer objeção. Notem que Filipe é helenista.

Outro texto de Atos (10) fala da inserção de Cornélio (gentio, militar romano!) na Igreja pelo trabalho missionário de Pedro (judeu), que tem que deixar seus preconceitos judaicos, que o impedem de aceitar um gentio como membro da comunidade.

5. Is 56 e sua mensagem na época

O texto mostra um conflito entre dois grupos de exilados judeus que estão retornando a Judá. Um é aquele que transmitiu o texto bíblico. O outro deve ser aquele que encontramos em Ez 44. O primeiro é universalista, tolerante, enquanto o segundo se ressente de haver tal abertura e tolerância para com estrangeiros e eunucos.

A salvação/justiça prestes a se manifestar é entendida como programa de reconstrução da comunidade de adoradores, centrada no Templo. Nisso, ambos os gru¬pos parecem concordar. Contudo, é no limite que tal comunidade deve ter, que acaba a concordância em torno do assunto.

Para os articuladores do texto de Is 56, a comunidade deve abranger todos os homens, mesmo aqueles que, por qualquer motivo, a lei de Deus não acolha (estrangeiros, eunucos, p.ex.). A eles serão dados um memorial/nome (posteridade) e lugar, não só no culto, mas em todas as atividades, e privilégios de um judeu legítimo, isto é, cidadania, propriedade etc.

É fácil ver como a reação do outro grupo não poderia deixar de ser veemente, pois seu sectarismo não o deixa repartir privilégios e direitos.

Mais ainda: se para o grupo de exclusivistas o Templo é o local apenas para a prática da religião, para os outros é casa de oração, local onde se conversa com Javé, onde se ouvem suas promessas e oráculos.

Outra diferença é que o grupo universalista entende como condição para o serviço a Javé a vida em retidão e a prática da justiça. Para os outros, o que conta é pertencer ao povo de Israel. E isso basta.

Resumindo, o retorno a Judá é a salvação/justiça que se manifesta para todos os homens, mesmo para os estrangeiros e eunucos, que serão congregados com Israel (v. 8).

6. Is 56 e sua mensagem hoje

Podemos abordar a mensagem de Isaías em nossos dias em dois níveis: no da igreja e no do mundo como um todo.

No primeiro caso, está em questão o trabalho missionário da Igreja, que, por sua própria natureza, tende a operar de maneira seletiva, o que se transforma, via de regra, em uma porta aberta a sectarismos de toda espécie: racial, denominacional, cultural, social etc. O seguinte canto parece expressar bem o que queremos dizer:

Conceitos e preconceitos
Ah! Os conceitos de vida,
que aos outros impomos,
por acharmos tão bons.
Ah! preconceitos da gente,
jeito, gestos e comida,
cores, modos e sons.
Desce do céu o lençol das mudanças,
grego e judeu, numa mesma esperança.
Cristo rompeu, interrompeu preconceitos que nos separam.
Cristo venceu, Ele nos deu os conceitos de vida e paz.

Guilherme Kerr Neto/Jorge Rehder

No segundo caso, está em questão um projeto de sociedade global, no qual as diferenças socioeconômicas são derrubadas e surge uma fraternidade capaz de distribuir melhor os recursos, permitindo uma vida mais digna. Uma sociedade em que todos, indistintamente, tenham participação no bem-estar social. O canto abaixo pode ilustrar o que estamos dizendo:

Um pouco além do presente,
alegre o futuro anuncia,
a fuga da sombras da noite,
a luz de um bem novo dia.

Botão de esperança se abre,
prenúncio da flor que se faz.
Promessa da tua presença,
que vida abundante nos traz.

Saudades da terra sem males,
do Éden de plumas e flores.
Da paz e justiça irmanadas,
num mundo sem ódios nem dores.

Saudades de um mundo sem guerras,
anelos de paz e inocência:
de corpos e mãos que se encontram,
sem armas, sem morte, violência.

Saudade de um mundo sem donos:
ausência de fortes e fracos,
derrota de todo sistema,
que cria palácios, barracos.

Já temos preciosa semente,
penhor de teu Reino, agora.
Futuro ilumina o presente,
tu vens e virá sem demora.

Venha teu reino, Senhor.
A festa da vida recria.
A nossa espera e ardor
transforma em plena alegria.

Silvio Meincke

Não há como desconectar um nível do outro, pois ambos interagem na mesma esfera. O que deve ser comum, então, tanto para a Igreja quanto para o mundo, é a concepção de que salvação/justiça de Javé é para ser patrimônio de todos os seres e que a prática de retidão/justiça é exigência da mesma. Tal conexão expressa o canto:

Nesta mesa ninguém é estrangeiro,
desde pão todos podem partilhar.
Irmão algum vai expulsar o outro irmão,
lutemos sempre pela terra de união.
Nova terra eu busquei, encontrei a mesa farta e pão.
Pise firme, meu irmão. Pise firme, que este é o nosso chão.

7. Bibliografia

ACHTMEIER, E. The Community and Message of lsaiah 56-66 Minneapolis, Ausgburg, 1982
CRABTREE, A.R. A Profecia de Isaías vol. II, Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1964
HAMLIN, E.J. A Guide to Isaiah 40-66, London, SPCK, 1979
WATTS, J.D.W. Isaiah 34-66 In: Word Bíblica! Commentary vol. 25, Waco, Word Books, 1987
WESTERMANN, C. Isaiah 40-66 Philadelphia, The Westminster Press, 1987.
 


Autor(a): José Roberto Cristofani
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 13º Domingo após Pentecostes
Testamento: Antigo / Livro: Isaías / Capitulo: 56 / Versículo Inicial: 6 / Versículo Final: 8
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1992 / Volume: 18
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 13547
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Ó Senhor Deus, o teu amor chega até o céu e a tua fidelidade vai até as nuvens. A tua justiça é firme como as grandes montanhas e os teus julgamentos são profundos como o mar.
Salmo 36.5-6
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