Jesus e o homem cego chamado Bartimeu

Prédica em Marcos 10.46-52 autoria P. Me. Alexander Busch

24/10/2021

Prezada comunidade!
Certa vez um jovem perguntou ao Pastor, “Pastor, quanto custa casar na sua Igreja?” O pastor pensou um pouco antes de responder e disse, “o valor é bem alto. Não sei se vocês conseguem pagar este valor”. “Que é isso, pastor?”, respondeu o jovem, “a igreja quer ganhar dinheiro em cima das pessoas? Vocês querem ficar ricos?” “Não”, respondeu o pastor. “Não é de dinheiro que estamos falando. Estamos falando do preço que um casal precisa pagar quando pede de Deus a sua benção para o lar e casamento. Casar e morar juntos significa assumir um compromisso, assumir responsabilidades um para com o outro. Se você estiver disposto a pagar este preço, podemos realizar o ato de benção matrimonial”.

Algumas pessoas talvez estejam pensando o que este diálogo sobre casamento tem a ver com a história do cego Bartimeu. Será que o pastor vai falar sobre como no tempo de namoro, tudo era tão bonito, mas no casamento, na vida a dois, o casal começa a enxergar melhor os defeitos um do outro? Este seria um tema interessante para uma reflexão, mas não é nesta direção que desejo conduzir os nossos pensamentos hoje. Convido, portanto, para caminharmos juntos nesta história do cego Bartimeu se encontrando com Jesus pelo caminho. No final da reflexão vocês perceberão o que esta história nos oferece.

Não sabemos quase nada sobre a infância de Bartimeu. Mas sabemos que seus pais lhe deram um nome. O nome Bartimeu significa “filho de honra”. Seus pais certamente tinham alegria e grandes expectativas em relação a este filho. Talvez fosse ele o primeiro filho do casal e a esperança é que ele cuidasse da família quando seus pais envelhecessem. Mas, infelizmente, este filho não pode atender a estas expectativas. Talvez, cego de nascença, talvez, vítima de um acidente, fato é que Bartimeu era uma pessoa cega. Este filho de honra infelizmente teve de seguir o caminho da desonra. Ao invés de cuidar de seus pais, Bartimeu tinha que viver de esmolas e contar com a generosidade de outras pessoas.

Assim, anos mais tarde encontramos Bartimeu, “filho de honra” na movimentada estrada que interligava Jericó a Jerusalém. Era caminho por onde circulavam muitas pessoas rumo à cidade de Jerusalém, para participar no templo da oração e do louvor a Deus. No caminho, os peregrinos podiam demonstrar sua generosidade dando esmola aos pedintes. Não nos surpreende, portanto, encontrar Bartimeu sentado na beira do caminho, pedindo esmola. Nos tempos de Jesus era este seu destino como pessoa cega, incapaz de trabalhar. Bartimeu, filho de honra, vivia de esmolas, fruto da caridade de viajantes peregrinos. Entre os seus pertences o que Bartimeu tinha de mais valioso era sua capa. Feito de lã, grossa o suficiente para aquecê-lo nas noites frias, a capa lhe servia como cobertor, lhe servia como vestimenta, lhe servia como ganha-pão. Pois com a capa estendida, como era costume entre as pessoas cegas, recolhia as moedas das pessoas que pelo caminho trafegavam. Era provavelmente uma capa suja, mas Bartimeu não se importava com isso. Sua capa, talvez um presente de uma pessoa caridosa, lhe garantia o sustento para cada dia, lhe aquecia nas noites frias, era sua mais valiosa possessão. Bartimeu não podia imaginar sua vida sem esta capa.

Entretanto, eis que um dia, tudo mudou. Bartimeu sentado, como de costume, percebe uma multidão se aproximando. Um grupo de peregrinos rumo a Jerusalém não era nenhuma novidade nesta estrada, mas Bartimeu percebeu algo de diferente: uma agitação além do normal, o murmúrio de vozes inquietas e animadas, a presença de uma pessoa extraordinária. Era Jesus de Nazaré quem passava por ali, acompanhado por uma multidão. Bartimeu então começou a gritar em alta voz, “Jesus, filho de Davi, tenha pena de mim”. Bartimeu já havia ouvido falar de Jesus e seu poder para curar enfermidades. Ansioso para receber de Jesus a cura e restauração, Bartimeu continuou bradando com toda a força que os pulmões lhe permitiam, “Jesus, filho de Davi, tenha pena de mim”. Esperançoso para receber de Jesus uma nova vida, uma vida digna de seu nome “filho de honra”, Bartimeu não se calou mesmo quando pessoas dentre a multidão ordenavam para que ele ficasse quieto. Talvez dissessem, “cala-te, homem cego. Eis uma moeda para você ficar quieto”. Bartimeu, porém, clamava, “Jesus, filho de Davi, tenha pena de mim”.

Seu clamor não foi abafado pelas vozes da multidão. Seu pedido de socorro não foi ignorado por Jesus de Nazaré. Jesus chamou Bartimeu. Cheio de coragem, Bartimeu levantou-se, e, num gesto antes inesperado, jogando sua capa para o lado, lançando fora o seu mais valioso pertence, aproximou-se de Jesus. Perguntou-lhe Jesus, “o que é que você quer que eu lhe faça?”. “Mestre, eu quero ver de novo”, respondeu Bartimeu e este pedido lhe foi concedido. Bartimeu recebeu de Jesus a benção de Deus. Após ter seu pedido atendido, Jesus lhe disse, “vá, você está curado”. Em outras palavras, você está livre para começar uma nova vida. Bartimeu, entretanto, não foi. Ele não quer ir embora. Ao invés de ir, ele se colocou a caminho, seguindo a Jesus.

Muitos anos depois, eu imagino a alegria de Bartimeu em contar esta sua estória de seu encontro com Jesus. Bartimeu contando como ele jogou sua preciosa capa ao lado para acolher uma nova vida que somente Jesus poderia lhe dar. Deixou de lado sua capa que representava segurança, abrigo, conforto para abraçar algo muito maior, abraçar muito melhor, algo mais cheio de honra do que seu próprio nome. Seu pedido de benção transformou sua vida. Sua nova vida ele a vive em gratidão e compromisso com Jesus.
Assim também, prezada comunidade, pedimos a benção de Deus para nossas vidas, seja no dia a dia, no trabalho, na família, num culto de confirmação. Mas sabemos o que este pedido de benção pode significar para nossas vidas? Será que existem momentos em que pedir a benção de Deus significa deixar ao lado algum tipo de capa que carregamos conosco, deixar ao lado algo que consideramos precioso para acolher um novo rumo em nossas vidas?

O breve diálogo sobre o preço do casamento que citei no início nos serve de ilustração. Um casal que pede e recebe a benção matrimonial está assumindo compromisso de cuidar um do outro. E se o casal receber a benção de uma nova criança, o casal também está assumindo a responsabilidade de cuidar bem desta criança. Entre outros exemplos: o jovem que afirma sua fé no culto de confirmação e recebe a benção de Deus está assumindo um compromisso de colaborar com seus dons, colaborar em oração, colaborar financeiramente na vida da comunidade. Ou aindas a pessoa que ora o Pai nosso está se comprometendo em promover o perdão. Tantos exemplos, mas isto destacamos: uma pessoa que pede e recebe a benção de Cristo Jesus está assumindo um compromisso com a proposta de Jesus. Receber as bênçãos de Deus nos compromete a viver uma nova vida, uma vida de compromisso com Deus e com sua comunidade, uma vida de responsabilidade ao lado de Jesus e paracom o próximo, seguindo o mestre pelo caminho, colocando dons à serviço, hoje e sempre. Amém.
 


Autor(a): P. Me. Alexander Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 10 / Versículo Inicial: 46 / Versículo Final: 52
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 65106
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A intenção real de Deus é, portanto, que não permitamos venha qualquer pessoa sofrer dano e que, ao contrário, demonstremos todo o bem e o amor.
Martim Lutero
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