João 1.19-28

Auxílio Homilético

11/12/2011

Prédica: João 1.19-28
Leituras: Isaías 61.1-4,8-11 e 1 Tessalonicenses 5.16-24
Autora: Angela Lenke
Data Litúrgica: 3º. Domingo de Advento
Data da Pregação: 11/12/2011
Proclamar Libertação - Volume: XXXVI

1. Introdução

Quem de nós já não se perguntou: Quem sou eu? Nossas ações e nossas palavras respondem o que somos. E como é difícil quando precisamos falar de nós mesmos para outros.

Está na moda falar bem de si, dos títulos que se têm, dos lugares que se conhecem. O importante é estar no alto, no ponto mais alto. Difícil é ver gente identificando-se, em primeiro lugar, como cristão, filho de Deus e servo de Jesus Cristo. João Batista colocou-se como o servo que veio para pregar o arrependimento, a fim de preparar os corações para receber o Messias. Ele também foi interrogado sobre a sua identidade, assim como nós hoje somos.

2. Exegese

Pode-se dividir o texto em duas partes:

V. 19-23 – Sacerdotes e levitas interrogam João a respeito de seu ministério, sua identidade e sua pretensão. João responde: “Eu não sou o Cristo” (v. 20).

V. 24-28 – Os mesmos sacerdotes e levitas, nesse trecho identificados como fariseus, querem saber de João por que ele batiza. João responde: “Eu batizo com água; mas, no meio de vós, está quem vós não conheceis, o qual não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias” (v. 26s).

Algumas observações sobre o texto:

Os sacerdotes e levitas foram enviados da parte dos “judeus” (v. 19). Essa referência aos judeus é usada também em outras passagens bíblicas quando se trata das autoridades religiosas de Jerusalém. As autoridades religiosas querem entender o que está acontecendo com aquele que está atraindo a atenção de numerosa população nas margens orientais do rio Jordão, em Betânia (v. 28).

João responde todas as vezes em que é perguntado. Identifica-se como aquele que veio para endireitar o caminho para “aquele que é mais importante”. Se João não é o Messias, logo não é a luz esperada. João sabe colocar-se em seu lugar (“Ele confessou e não negou” – v. 20). Ele rejeita não só o título messiânico, como também qualquer vinculação a outro importante profeta do passado ou futuro escatológico. João aponta para o Cordeiro de Deus e, quanto a si mesmo, identifica-se apenas como aquele que veio para preparar o caminho do Messias e realizar o batismo preparatório para essa vinda.

“... não sou digno de desatar-lhe as correias das sandálias” (v. 27). O serviço que João menciona aqui era humilde, mais precisamente de escravos. É assim que ele entende seu ministério em relação a Jesus. Também Paulo, apesar da importância de seu apostolado, considerava-se o menor dos apóstolos, indigno de ser chamado por esse nome (1Co 15.9).

3. Meditação

Há uma palavra de Dietrich Bonhoeffer que nos ajudará a compreender o texto de hoje. Ele pergunta: “Sou aquela pessoa calma, com a aparência de um vendedor, que se apresenta cada dia aos guardas, ou sou aquele fraco, inquieto, doente, que está cansado e disposto a despedir-se de tudo?” E responde: “Quem sempre for, tu me conheces, Deus, pertenço a ti” (D. Bonhoeffer, Widerstand und Ergebung, p.179).

O tempo de Advento é tempo do novo e do velho, de trevas e de luz. João Batista é aquele que faz esse caminho, apontando para Cristo como a luz e a nova vida. João Batista encarou sua missão desde o começo. Sabia quem era e para que tinha vindo. Ele não se lamentou da difícil tarefa de preparar o caminho para o Senhor, de viver no deserto, comendo mel e gafanhotos. Ele não se intimidou por saber que, antes de tudo, fazia parte dos planos de Deus e que os olhos de Deus estavam sobre ele. João Batista, em seu ministério, também sofreu a tentação. E é essa história de hoje. Uma tentação que nós também muitas vezes sofremos: das chances que temos para nos engrandecer. Nossa tendência, às vezes, é colocar o Batismo como “posse e autoridade nossa”, quando o recebemos por graça e a nós foi confiada a tarefa de batizar não em nosso nome, mas em nome do trino Deus. Enquanto circula nas religiões a tentação de “quanto mais vezes batizar melhor é”, nós somos incumbidos de pregar reta e puramente o evangelho e administrar corretamente os sacramentos. Segundo a teologia dos sacramentos, o Batismo é um nós; não o merecemos pelo que somos, pois somos aceitos pela graça de Deus. João Batista venceu a tentação, identificando-se como o mais simples, in-digno de desatar as correias das sandálias de Jesus. Nós somos chamados por Jesus de irmãos e, ainda assim, ele é desprezado e ridicularizado por tantos. Somos chamados de cooperadores e servos, mas muitos querem competir pelo lugar da glória junto a Jesus.

Hoje, em todas as profissões, nós vemos pessoas que estão fracas, inquietas, cansadas, mas que, ao contrário da palavra de Dietrich Bonhoeffer, sentem-se exatamente como fracas e cansadas, sem a perspectiva de que pertencem a Deus. Há uma caminhada cada vez maior de vitimização, segundo a qual eu mesmo terei que resolver os problemas, porque Deus está muito distante, na verdade não se conhece Deus. As pessoas não conhecem a si mesmas, por isso andam confusas. Por outro lado, as pessoas não podem demonstrar fraqueza, porque são encaradas quase como máquinas e o mercado capitalista não permite sentir dores nem permite tirar tempo para a fé. Afinal, para tudo há uma invenção nova. Até a celebração do nascimento de Jesus é substituída.

Hoje poucos assumem sua condição de servos de Deus, assim como João Batista, porque muitos talvez gostassem de ser até mais do que Jesus Cristo. Não há arrependimento, porque para tudo há uma desculpa, uma causa. Falta humildade, como a do João Batista. Humildade essa que nos coloca na condição de filhos da luz e não das trevas, de perceber a ação de Deus em nossa vida, a salvação em Jesus Cristo. Temos hoje mais do que mel e abelhas para nos alimentar, e, ainda assim, há muita ganância e falta de amor pela causa do reino. Há falta de humildade e gratidão dentro do próprio templo de Deus, onde muitos colocam os reais que sobram. O mercado capitalista não vai pregar o reino de Deus. A igreja verdadeiramente cristã é aquela que veste a camisa. Mas também nela todos os líderes e membros precisam ser lembrados de que são servos e não senhores, de que arrependimento e humildade agradam a Deus e nos lançam em seus braços.

Aprendemos com João Batista a responder com verdade e humildade toda vez que somos interrogados sobre quem somos e o que queremos. Aprendemos com ele a falar o necessário. Falar demais pode gerar dúvidas. João não quer honras para si. Ele quer que Jesus seja exaltado, não ele: “Convém que ele cresça e que eu diminua” (Jo 3.30). Aqui também se pode citar, como exemplos de atitudes cristãs, os conselhos de Paulo no texto de 1 Tessalonicenses 5.16-24.

A tentação de João é também a nossa. Lutero diagnosticou bem ao dizer que todos nós gostaríamos de ser um pequeno Cristo por nós mesmos. Nada melhor do que a sensação de que nós salvamos outra gente. Nosso mundo está cheio de tais salvadores da pátria, de gurus, donos da verdade, médiuns, de supostas encarnações de divindades, de pessoas que se consideram um “canal especial do Espírito Santo”, gente que está acima do nível dos demais. Claro, poucos têm o atrevimento de se autointitular de Cristo. Mas muitos se comportam como se fossem. No mercado religioso, a procura excede a oferta. Eis aí a chance para os gênios religiosos, os “cristos autopromovidos”, os vendedores e cambistas do sagrado. (Gottfried Brakemeier, Proclamar Libertação 25, 1999, p. 32).

Neste tempo de Advento, somos lembrados de que nem tudo são trevas e escuridão, porque Cristo, o Messias, é a luz. Nós somos iluminados por Cristo. Ele espantou as trevas do nosso coração. Ele, como luz, revelou-nos que pode transformar tudo. Nem todos se entregaram às trevas, ao pecado, à luxúria e à vaidade, porque seguem esse Jesus Cristo. Tempo de Advento é tempo de firmar nossa espera pelo bem mais precioso do mundo. Espera pelo mais importante, pela salvação de nossa vida. Nós continuamos esperando por esse Cristo que é luz, porque ainda há muita gente que precisa ser curada da cegueira espiritual, do egoísmo, do apego a si mesmo; muita gente quer ouvir a verdade do evangelho porque está sofrendo as consequências de um mundo desumano, incrédulo, injusto e capitalista; gente que trabalha o dia inteiro, que ocupa sua mente e tem agenda cheia, mas tem coração de pedra. A esses nós, como igreja cristã, anunciamos a glória de Jesus Cristo, anunciamos a luz que vence as trevas, a humildade do menino pobre nascido em Belém.

O que precisamos perguntar é: quem é o verdadeiro servo de Deus que anuncia Jesus Cristo? Quem exerce em verdade o seu ministério? E por que não perguntar: fugimos da tarefa de ser testemunhas e servos de Deus?

4. Imagens para a prédica

1 – Sugerimos usar elementos que lembrem falas do próprio texto. Pode-se colocar no chão do altar ou exibir em PowerPoint tais imagens. Alguns itens seriam: uma sandália simples, que seja parecida com a dos tempos antigos, a passagem de Isaías que fala do João Batista, imagens de fariseus, imagem de um batismo de João Batista ou mesmo elementos do Batismo (como água e pia batismal).

2 – Quem tiver um grupo de teatro na comunidade poderia ensaiar esse texto. Com certeza, daria um resultado muito bom.

3 – Pode-se ainda usar a comparação entre luz e trevas por meio de uma vela acesa e outra apagada. Ou acender as velas da coroa de Advento somente após a pregação, dando o enfoque de que Cristo é a luz do mundo.

4 – Outro símbolo é comparar frutas. Uma macieira não pode dizer que é laranjeira, assim como nós não podemos almejar querer o lugar de honra de Jesus Cristo, porque a criação não pode ocupar o lugar do Criador.

5. Subsídios litúrgicos

Confissão de pecados:

Senhor, estamos aqui para confessar nosso pecado quando almejamos o poder, quando queremos te abafar, quando não damos o testemunho da fé, quando negligenciamos o ensino cristão, quando fechamos os ouvidos para os irmãos que sofrem com o sistema do mundo, quando fechamos os olhos para a tua luz, quando passamos por momentos difíceis de nossa vida e perdemos a esperança, quando as tentações nos assolam. Tem piedade de nós, Senhor, ilumina-nos e transforma nossa casa para te receber como nosso único Salvador. Amém.

Anúncio da graça (absolvição):

Jesus Cristo diz: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (Jo 8.12).

Bênção e envio:

O Senhor te abençoe para admoestar os fracos na fé, consolar os desanimados, amparar os fracos e ter ânimo longo. O Senhor te torne sensível para não retribuir o mal com mal; pelo contrário, use-te como instrumento de paz. O Senhor fortaleça a tua fé, para que possas regozijar-te, orar sem cessar, sempre dando graças a Deus por ser essa a sua vontade em Cristo Jesus. O Senhor te abençoe com humildade para que não apagues a chama do Espírito de Deus nem desprezes a palavra de Deus. O Senhor te dê sabedoria para julgar e interpretar corretamente as coisas, guardando o que é bom e afastando-te do mal. Assim te abençoe o Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Amém (baseado no texto de 1Ts 5.14-26).

Bibliografia

CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, v. 2: Lucas e João. São Paulo: Ed. Hagnos, 2002.
BRAKEMEIER, Gottfried. In: Proclamar Libertação, v. 25. São Leopoldo: Sinodal, 1999. p. 29-34.
SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph. In: Proclamar Libertação, v. 19. São Leopoldo: Sinodal, 1993. p. 22-26.
 


Autor(a): Angela Lenke
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 3º Domingo de Advento
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 19 / Versículo Final: 28
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2011 / Volume: 36
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 25629
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