João 13.31-35

Auxílio Homilético

24/04/2016

 

Prédica: João 13.31-35
Leituras: Salmo 148 e Atos 11.1-18
Autoria: Angela Lenke
Data Litúrgica: 5º Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 24/04/2016
Proclamar Libertação - Volume: XL
 

 

O amor como princípio

 

Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos:
se tiverdes amor uns aos outros (v. 35).

 

1. Introdução

“Nós amamos porque Deus nos amou primeiro” (1Jo 4.19). É um versículo muito conhecido e cheio de verdade. No entanto, parece que grande parcela das pessoas em nossa sociedade não deseja ir pelo caminho do amor. A cada dia vemos as consequências da falta de amor: aumento da violência, porte de armas, falta de respeito entre gêneros, falta de cuidado com crianças e idosos, desrespeito pelas vagas e acessibilidade das pessoas com deficiência, intolerância religiosa e étnica, desrespeito pelos enfermos e familiares. Poderíamos continuar a lista. Vivemos num tempo em que tudo precisa ser rápido, e a tendência é que as pessoas funcionem tão rapidamente quanto os computadores. Vivemos em grandes conflitos, e chega-se a afirmar que “não há tempo para amar”, para tomar um café em sua comunidade. Estamos mudando tudo e queremos que a igreja também faça tudo rapidamente. Mas o amor é paciente, bondoso e tolerante.

2. Analisando o texto bíblico

Sobre o amor ser tolerante temos um exemplo no próprio texto. Jesus sabia quem era o traidor. Mas lavou os seus pés e deixou que comesse à mesa com os outros. A hora da crucificação aproximava-se, e ele sabia que estavam planejando matá-lo. Mas Jesus não maltrata Judas diante dos outros discípulos. Os dois falam numa linguagem que somente eles entendem, tanto que, quando Jesus diz a Judas para fazer logo o que deveria fazer, os outros discípulos achavam que era para comprar alguma coisa para a festa da Páscoa ou ainda dar dinheiro aos pobres, por ele cuidar do dinheiro do grupo.

Quando Judas sai, Jesus sabe que seria apenas uma questão de tempo e logo o prenderiam. Ainda tinha que preparar seus discípulos para seguir unidos e acreditando nele. Ele não podia levá-los junto. No lugar de Judas um novo discípulo entraria, alguém que também tivesse convivido com Jesus desde o início, ou seja, Matias (At 1.15ss). Os discípulos correriam perigos, e Jesus estava entregando o testemunho nas mãos de homens e mulheres simples. Por isso deixa-lhes um segredo, para que essa comunhão na comunidade e com Jesus não quebre: “Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (v. 33).

A glorificação de Jesus, consequentemente a glorificação do próprio Deus, passa pela cruz. Satanás vai pelo caminho curto. O texto deixa entender que, após receber o “bocado de pão com vinho”, Judas é dominado por Satanás para trair Jesus. Com Jó vemos algo parecido: Satanás só pode ir até onde Deus permite. Por amar sua criatura, Deus não deixa de testar o ser humano. Adiante no evangelho, vemos que o próprio Pedro é testado. Satanás tem as suas artimanhas e pode agir mesmo que pertençamos à comunidade de Jesus. Vacilamos como Pedro, negamos sem querer. Por isso Jesus é o glorioso! Sem ele nada somos.

Ainda assim, Jesus chama seus discípulos para a nobre tarefa de testemunhar que o reino de Deus foi inaugurado: coxos andam, mulheres são respeitadas, crianças são cuidadas, o coração dos oprimidos e pobres é acalentado, enfermos são curados. Esses são os sinais do reino, sinais do amor, sinais do Senhor. A Lei serve para apontar o pecado, para que o ser humano perceba que não consegue cumprir a Lei por vontade ou força própria. Tudo foi purificado (At 11.9). A nova maneira de identificar-se como filho e filha de Deus passa pelo crivo do evangelho: o amor de Deus revelado em Jesus. Há um remédio contra toda prática de maldade: o amor. E “nisto conhecerão que são meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (v. 35). Pedro fala, em Atos, desse amor que vai além e alcança os gentios. Esses ouvem o evangelho e “se arrependem para a vida” (At 11.18). Sem amor a Jesus não há testemunho, porque levará à autobajulação e vanglória. Na prática do amor, o próprio Espírito Santo age. É o segredo: “amar a Deus e amar ao próximo, destes dois dependem toda Lei e os Profetas” (Mt 22.40).

3. Meditação

Jesus amava sua comunidade de discípulos e discípulas. Ele os havia encontrado em lugares simples, fazendo coisas simples e vivendo com suas famílias. Às vezes, percebemos que as coisas mais bonitas e que proporcionam alegria são as mais simples. Mas acabamos afastando-nos porque queremos “inventar” demais e, por querer inventar demais, acabamos não fazendo quase nada do que realmente importaria. Sabemos que cada pessoa é única. Por isso deveríamos valorizá-la mesmo se tivermos duas pessoas num grupo de estudo.

A prática do amor depende de um coração bondoso. Onde há maldade, inexiste o amor. Algumas teorias dizem que nascemos sabendo amar, outras dizem que aprendemos a amar. Da mesma forma, a maldade. Vivemos numa sociedade onde vemos as duas coisas: pessoas que nasceram em situações de maldade não querem ser pessoas más. Por outro lado, pessoas que nasceram em contexto onde houve amor e nada faltou optam pela prática do mal. Essa dualidade existe em todos nós. Há mistérios que não conseguimos compreender. Se não fosse tão nosso, não cometeríamos tantas incoerências. Mesmo batizados na morte e ressurreição de Jesus, Adão e Eva continuam existindo em nós.

Poderíamos, então, dizer que, se as pessoas respeitassem o próximo e vivessem eticamente, não teríamos tantas cenas de violência e desrespeito. Sim, seria uma regra de sociedade. Deus também deu regras ao povo de Israel, e no entanto falharam. Justamente por falharmos, Deus enviou Jesus Cristo para reconstruir a ponte da amizade entre o Criador e as criaturas. Fomos feitos filhos e filhas porque não sabemos andar longe do olhar do Senhor. Fomos aceitos porque o amor de Deus é maior do que o nosso.

Por causa desse amor e da expectativa de responder ao chamado de Jesus para ser “sal e luz” neste mundo, muitas vezes partimos para a ação e queremos fazer tudo. Ficamos sobrecarregados quando alimentamo-nos de nós mesmos e não buscamos glorificar a Deus. Por isso Jesus lembra: “Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai celeste” (Mt 6.1).

Jesus deixa bem claro no texto (v. 35) que somente através do amor mútuo seremos reconhecidos como discípulos e discípulas. Importante reflexão para nossas comunidades, porque nenhuma delas vive sem conflito. E o amor é espontâneo, paciente, bondoso, não busca vingar-se. Comunidades quebram quando o outro ou a outra deixam de ser importantes e quando esquecem de defender a vida. Nossas lideranças também não podem esquecer que correm grande risco de servir sem amor, de alimentar-se de si mesmas e de mostrar ao mundo quão grandes coisas podem realizar. Nos grupos, importa viver o amor mútuo, o aconselhamento e a compreensão em vez de competir entre si. Não amamos por nós mesmos porque não merecemos. Amamos por causa de Cristo. Quem crê em Jesus Cristo terá consciência de que sempre há alguma coisa por fazer (Gl 5.6) e de que é o próprio Deus que precisa atuar, através do Espírito Santo, em nós. Lutero dizia que, ainda que o mundo estivesse acabando, plantaria uma macieira. Somos amados por Deus, portanto amemos uns aos outros e estaremos perto dele.

Lutero escreve a respeito desse texto: Se escolho uma ou duas pessoas que me agradam e fazem o que quero, e sou amável e favorável a elas e a mais ninguém, isto nem de longe é amor quem de um coração puro, mas é pura sujeira. Pois de coração puro é assim que ele funciona: Deus me ordenou que devo ter amor pelo próximo e ser favorável a todos, amigos ou inimigos, assim como procede nosso Pai celeste, fazendo o seu sol levantar-se e brilhar sobre bons e maus (Mt 5.45). Amor verdadeiro, divino, inteiro e completo é o que não faz exceção, nem se divide ou fragmenta, mas é dirigido livremente a todos. O outro é um amor perverso, quando tenho amizade por aquele que me serve, pode me ajudar e me prestigia, enquanto odeio aquele que me despreza e não está do meu lado; pois esse amor não vem do fundo de um coração fundamentalmente bom e puro, que trata um como o outro; é um amor que apenas busca a própria vantagem e está cheio de amor para consigo próprio, e não para com os outros; pois não ama a ninguém a não ser em causa própria, buscando apenas o que lhe serve, seu próprio proveito junto a cada pessoa, e não o proveito do próximo (OS 5, 92 ou na Bíblia Sagrada com Reflexões de Lutero).

4. Imagens para a prédica

Existem várias histórias bonitas de amor ao próximo. Talvez até na própria comunidade haja uma história bonita. Trago uma história que Alcides Jucksch escreveu no livro Amor sem Fronteiras, p. 44:

Sundar Singh foi um evangelista no país do Tibete, terra com montanhas muito altas. Ele contou: ‘Certo dia caminhei junto de mais um tibetano. Fomos atingidos por uma tempestade de muita neve e intenso frio. No caminho encontramos um homem prostrado sem sentidos no chão. Eu disse para meu amigo: ‘Nós devemos ajudá-lo’. Porém ele respondeu: ‘Ninguém pode exigir de nós salvá-lo. Estamos em perigo de morrer na neve e no frio. Além disso, estou cansadíssimo’. Eu disse: ‘Se temos que morrer, é melhor morrer enquanto estamos ajudando ao próximo’. Ele não concordou e continuou sozinho o caminho. Eu, porém, com muito esforço, coloquei o desmaiado sobre os meus ombros e continuei a subir a montanha. O esforço de carregá-lo me esquentou e o calor do meu corpo transmitiu-se ao homem endurecido pelo intenso frio. O resultado foi que ele se sentia melhor quando chegamos na próxima aldeia. Porém, aquele homem que tinha continuado sozinho sua jornada, achei-o ao lado do caminho, duro e frio na neve. Evidentemente ele, cansado como estava, deitou-se para descansar um pouco e morreu gelado. Então, lembrei-me daquilo que Jesus disse, que aqueles que querem guardar a sua vida, perdê-la-ão. Eu queria salvar aquele homem, mas, enquanto estava ocupado em ajudá-lo, eu mesmo me salvei da morte na neve. Se pensarmos egoisticamente somente em nós, a nossa vida na fé esfria e pode morrer.

5. Subsídios litúrgicos

Confissão de pecados

Misericordioso Deus! Confessamos que não temos vivido nem servido como o Senhor deseja. Nossos pensamentos e nossas atitudes estão cheios de egoísmo e vanglória. Não olhamos o próximo como semelhante nem respeitamos as diferenças entre raças e credos. Esquecemos de defender a vida e, muitas vezes, queremos fazer conforme nossa inteligência, quando deveríamos buscar tua orientação. Perdoa-nos, Senhor, por sempre de novo deixarmos de amar. Tem misericórdia!

C: Tem misericórdia de mim... (HPD 408)

Anúncio da graça

Diante da nossa confissão e da incapacidade de amar incondicionalmente Deus nos diz: Será que uma mãe pode esquecer o seu bebê? Será que pode deixar de amar o seu próprio filho? Mesmo que isso acontecesse, eu nunca esqueceria vocês (Is 49.15).

Kyrie Eleison

L: Clamamos, Senhor, pela falta de amor em nossa sociedade; pela violência que assola nosso país, nossas casas, nossas igrejas; pela falta de igualdade e justiça; pela falta de paz em todo o mundo; pelo egoísmo e consumismo; pela natureza que chora.

C: Ouve, Senhor, eu estou clamando, tem piedade de mim e me responde

(HPD 341).

Sugestão de hinos

HPD 170 , OPC 206 ou HPD 399, HPD 417, HPD 430, HPD 347.

Bênção

O Senhor te abençoe com a bondade da criança;
o Senhor te abençoe com a ternura da paz;
o Senhor te abençoe com a leveza das borboletas e dos passarinhos;
o Senhor te abençoe com o seu amor, único e incondicional, revelado em
Jesus Cristo e na presença do Espírito Santo. Amém.


Autor(a): Angela Lenke
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 5º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 31 / Versículo Final: 35
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2015 / Volume: 40
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 35182
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