João 14.8-17 (25-27)

Auxílio Homilético

23/05/2010

Prédica: João 14.8-17 (25-27)
Leituras: Gênesis 11.1-9 e Romanos 8.14-17
Autor: Alfredo Jorge Hagsma
Data Litúrgica:  Domingo de Pentecostes 
Data da Pregação: 23/05/2010
Proclamar Libertação - Volume: XXXIV 

1. Introdução

“Jesus fez diante dos discípulos muitos outros milagres que não estão escritos neste livro. Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E, para que crendo, tenham vida por meio dele.” João 20.30-31.

Eis a importância desse evangelho para a caminhada de fé, aliás, o Evangelho de João é ferramenta indispensável para a missão de Deus neste mundo. Dos quatro evangelistas, João é o único que aponta o objetivo de seus escritos, ou seja, tornar conhecido o Messias, o filho de Deus, Jesus Cristo, com o objetivo de despertar nos ouvintes a fé. Nesse sentido, o Evangelho de João é essencialmente missionário. O texto proposto para este domingo de Pentecostes condensa o propósito do Evangelho de João, ou seja, levar as pessoas a crer em Deus por intermédio de Cristo.

A delimitação proposta (14.8-17) é tratada na série de auxílios homiléticos do Proclamar Libertação pela primeira vez. Os dois textos auxiliares – Gênesis
11.1-9 (A torre de Babel) e Atos 2.1-21 (a vinda do Espírito Santo) – estão em sintonia com o evangelho indicado para este domingo de Pentecostes. O texto do Antigo Testamento (Gn 11.1-9) revela o que o espírito humano é capaz de fazer: “… Agora vamos construir uma cidade que tenha uma torre que chegue até o céu. Assim ficaremos famosos e não seremos espalhados pelo mundo inteiro” (v. 4) Esses tentam garantir o status e a segurança a partir de suas próprias forças. O texto de Atos dos Apóstolos revela o que o Espírito de Deus é capaz de fazer: “… e todos ficaram muito admirados, porque cada um podia entender na sua própria língua o que os seguidores de Jesus Cristo estavam dizendo” (v. 6b). Esses experimentaram o entendimento, a compreensão a partir do Espírito Santo de Deus. O texto do Evangelho de João aponta para aquele que reconcilia o ser humano peca- dor com Deus, o gracioso: Jesus Cristo.

2. Do texto à mensagem

“Na primeira parte do livro, o autor trata principalmente dos milagres que Jesus fez. Esses milagres são sinais, isto é, eles mostram quem Jesus é e a razão por que veio ao mundo. O maior desses milagres é a ressurreição de Lázaro, pela qual Jesus mostra que ele é a ressurreição e a vida. Outros milagres demonstram que Jesus é o pão da vida, é a luz do mundo, é aquele que dá vida às pessoas e prova que ele recebeu autoridade de Deus para julgar todos os seres humanos. A segunda parte desse evangelho fala da ligação que existe entre Jesus e os seus seguidores. Fala também dos ensinamentos que ele lhes deu e da promessa de que, depois que ele fosse embora, viria o Espírito Santo para ensinar-lhes toda a verdade a respeito de Jesus.”

Esse escopo apresentado pela BLH (Bíblia na Linguagem de Hoje) sintetiza bem o que o quarto evangelho traz de igual e de novidade em relação aos sinóticos. Segundo W.G. Kümmel, o Evangelho de João difere dos sinóticos consideravelmente não só pela estrutura de sua descrição e apresentação, como também pelo material utilizado. São poucas as narrativas de João que estão registradas também nos sinóticos. A diferença não é apenas de conteúdo, mas também cronológica. Segundo Kümmel, a maior parte do material de João não é tomada nem do AT tampouco da tradição dos sinóticos. Segundo esse autor, a mais chocante diferença entre os discursos do Jesus joanino e os do Jesus nos sinóticos é a linguagem conceitual usada por Jesus em João, que em muitos aspectos remonta às concepções e formulações da literatura sapiencial judaica. Talvez essas informações não sejam importantes para a elaboração de uma mensagem a partir do texto proposto, mas são importantes para ter em conta a peculiaridade do Evangelho de João.

O texto indicado para este domingo (14.8-17) encontra-se na segunda parte do livro. Conforme a estruturação da BLH, esses versículos fazem parte do bloco que sugere a ligação de Jesus com seus discípulos, ou seja, a continuidade da obra. Um pedido de Filipe dá início ao diálogo com Jesus: “Senhor, mostre-nos o pai. Isto é tudo o que precisamos”. Jesus deixa claro que o Pai dá-se a conhecer por intermédio dele. Isso significa que conhecer Jesus é o caminho para conhecer o Pai. Nesse sentido, W. G. Kümmel afirma que “a mensagem central do Evangelho de João é o envio do Filho pelo Pai ao mundo e a eterna união do Filho com o Pai”. Para João, fica claro que não há outro caminho para conhecer o Pai senão por intermédio de Cristo. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, somente por meio de mim é possível chegar ao Pai” (14.6) Assim Jesus responde à dúvida de Tomé sobre como chegar ao Pai.

Especialmente no capitulo 14, o evangelista João apresenta uma unidade indissolúvel do trino Deus. O Filho e o Pai são um. “Você não crê, Filipe, que eu estou no Pai e o pai está em mim?”, questiona Jesus. Aquela pessoa que crer na unidade do Pai com o Filho será capaz de servir a Deus de forma plena. “Quem crê em mim fará as coisas que eu faço e até maiores do que estas...” (v. 12). Ou seja, a continuidade da obra passa pela fé inabalável no trino Deus. Segundo Kümmel, João “representa de maneira mais sistemática, mais original e de forma mais grandiosa que os sinóticos, não o que Jesus foi, mas que os cristãos têm em Jesus”. Isso não significa que João é atemporal, sem elementos históricos. Os escritos evidenciam esse conhecimento por parte do autor. Pode-se afirmar que João parte do Jesus histórico para a fé, e não o inverso.

O texto em questão (14.8-17) aponta para uma relação íntima entre o crer em Jesus e o serviço. “Creiam ao menos por causa daquilo que eu faço”, disse Jesus. Ou seja, chegar a crer nesse contexto se dá não pelo ouvir falar, mas pelo presenciar, pelo sentir o amor encarnado de Jesus. Como disse José Martí, escritor cubano: “A melhor forma de dizer é fazer”. E o mais importante, esse fazer não acontecerá unicamente por forças próprias, pois Jesus mesmo promete: “Farei qualquer coisa que vocês me pedirem em meu nome”. A ação dos discípulos não será uma ação desorganizada, mas sustentada e fundamentada nos mandamentos de Deus e acompanhada pelo auxiliador, pelo Espírito da verdade.

3 Pensando a prédica

Pentecostes. Que festa é essa que toda a cristandade celebra neste domingo? De acordo com o dicionário da BLH (Bíblia na Linguagem de Hoje), era uma festa antiga do povo judeu. Para essa festa, povos de toda a região se encontravam em Jerusalém. Conforme Atos 2.5,8-11, era muita gente. Pessoas que não se entendiam, gente com costumes e tradições totalmente diferentes, que falavam línguas diferentes. Todos esses num mesmo lugar. Certamente todos os anos essa festa era uma grande confusão.

Há poucos anos aconteceu em Porto Alegre uma grande assembleia do Conselho Mundial de Igrejas (CMI). Estavam reunidas em torno de 4.000 pessoas, vindas de todos os cantos da terra; eram mais de 300 igrejas representadas. Ortodoxos, protestantes, pentecostais, metodistas, anglicanos, católicos, enfim muitas diferenças. Falavam línguas diferentes, tinham costumes diversos. E eles conseguiram se entender. Por quê? Por um lado, porque havia tradução simultânea para muitas línguas: inglês, alemão, espanhol, português. Era só colocar um fone no ouvido, selecionar num botão o idioma que gostaria de ouvir e tudo estava resolvido. Havia compreensão por causa da tecnologia do mundo moderno. No entanto, em primeiro lugar, havia compreensão porque o Espírito Santo de Deus ali estava presente. Havia unidade no propósito do encontro.

Lá em Jerusalém, não havia o recurso da tradução simultânea. E diz o texto de Atos que todos conseguiam entender, como se as pessoas estivessem falando na sua própria língua. Que coisa mais fantástica! Era o Espírito Santo de Deus agindo. Ali onde ele age há entendimento, há compreensão, povos e pessoas diferentes conseguem conviver em harmonia. No evangelho deste domingo, Jesus promete aos discípulos que Deus lhes dará desse espírito a eles.

Nestes últimos tempos, muito tem se falado sobre o Espírito Santo nas igrejas, mas na verdade não tem como definir o que é ele, ou melhor, como é esse Espírito Santo de Deus. O texto de Atos 2.1-21 tenta dar uma interpretação, dizendo que algo extraordinário aconteceu. Parecia um vento muito forte, pare- cia como línguas de fogo. Sei lá, não dá para explicar o que ele é, mas dá para perceber o resultado de sua ação. Extraordinário, na verdade, é o resultado que o Espírito Santo de Deus pode promover nas mais distintas situações. Lá onde ele age proporciona união, compreensão, coisas fantásticas passam a acontecer. Os filhos e as filhas vão anunciar a mensagem de Deus. Os jovens terão visões, ou seja, serão profetas, os velhos sonharão. Talvez com um mundo melhor, com uma vida mais digna. Se o Espírito de Deus transforma a confusão em ordem e compreensão, o espírito humano, conforme Gênesis 11.1-9, causa confusão e desentendimento.

É interessante que a pregação não se fundamenta apenas em um dos três textos. Se a opção for começar pelo Antigo Testamento, poderia levantar-se questões que hoje causam confusão em nosso meio. O texto de Atos aponta para soluções diante dos conflitos e confusões; a partir do Espírito Santo há entendimento. O evangelho aponta para a prática, fazer as coisas que Cristo fez e até maiores, ou seja, o Espírito Santo está intimamente ligado ao serviço, à diaconia. A partir da ação do Espírito Santo, a comunidade cristã reconhece a confusão causada pelo “espírito humano” e consegue encontrar novas formas de organizar-se e agir neste mundo. O Espírito Santo de Deus nos liberta do caos, faz-nos ter discernimento e reorganizar nosso viver.

4. Subsídios litúrgicos

Hinos do Povo de Deus – vol. 2 – n° 437: Quando o Espírito de Deus soprou.

Litania de abertura:

Leitura do Salmo 104, intercalado com canto pela comunidade:
L.: Que variedade, Senhor, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste;
cheia está a terra das tuas riquezas.
C.: Envia teu Espírito, Senhor, e renova a face da terra.
L.: Eis o mar vasto, imenso, no qual se movem seres sem conta, animais pequenos e grandes. Por ele transitam os navios e o mostro marinho que formaste para nele folgar.
C.: Envia teu Espírito, Senhor, e renova a face da terra.
L.: Todos esperam de ti que lhes dês de comer a seu tempo. Se lhes dás, eles o recolhem; se abres a mão, eles se fartam de bens. Se ocultas o rosto, eles se perturbam, se lhes cortas a respiração, morrem e voltam a seu pó.
C.: Envia teu Espírito, Senhor, e renova a face da terra.
L.: Envias teu Espírito, eles são criados, e assim renovas a face da terra. A
glória do Senhor seja para sempre! Exulte o Senhor por suas obras!
C.: Envia teu Espírito, Senhor, e renova a face da terra.

Oração do dia:

Amado Deus, tu que enviaste o Espírito Santo aos discípulos, dando-lhes coragem para levar a mensagem de Cristo a todos os lugares, iluminando vidas, criando a primeira comunidade cristã, nós te pedimos: concede constantemente o vigor e o poder desse Espírito, para que possamos ser luz e anunciar a tua vontade. Ilumina nosso coração e nossa mente para reconhecermos tua palavra orientadora em meio a tantas vozes e espíritos que nos iludem. Isso nós te pedimos por Jesus Cristo, teu Filho, que contigo e com o Espírito Santo vive e reina eternamente. Amém.

Bibliografia

BÍBLIA NA LINGUAGEM DE HOJE. Sociedade Bíblica do Brasil, São Paulo, 1988.

KÜMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. Ed. Paulinas,1973.



 


Autor(a): Alfredo Jorge Hagsma
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: Domingo de Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 14 / Versículo Inicial: 8 / Versículo Final: 17
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2009 / Volume: 34
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 25110
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