João 15.1-8

Prédica

João 15.1-8 – 20º. DOMINGO APÓS TRINDADE

Eu sou a videira verdadeira, e meu pai é o agricultor. Todo ramo em mim, que não der fruto, eis o corta; e todo o que dá fruto, ele o limpa para que produza mais fruto ainda. Vós já estais limpos, através da palavra que vos tenho falado. Permanecei em mim, e também eu permanecerei em vós. Assim como o ramo não pode dar fruto por si só, se não permanecer na videira, assim vós também não, se não permanecer dez em mim. Eu sou a videira, vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, este dará muito fruto; porque sem - mim nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, como o ramo, e secará, e o apanham, lançam-no ao fogo e ele queima. Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito. Nisto e glorificado meu pai, em que deis muito fruto, e assim vos tornareis meus discípulos.

Prezada comunidade! 

Esse nosso texto de hoje é daqueles que a gente houve as primeiras palavras e já desliga, porque sabe como vai continuar. Assim, quando li há pouco: Eu sou a videira verdadeira, muitos devem ter pensado: Ah, já sei!, e lá se foram seus pensamentos nas mais diversas direções. E uma tal reação até que é compreensível. 

No entanto, eu lhes asseguro que vale a pena dar-se um empurrão lá por dentro e ficar de olho. Os senhores não imaginam as novidades com que se depara ao se vasculhar e dissecar um texto batido como este. Há tanta riqueza escondida nessas linhas, que nem é possível examinar versículo por versículo no breve espaço de uma prédica. 

Mas, vamos ao assunto. Esta passagem tão conhecida, que li ha pouco, forma parte do grande discurso de despedida proferido por Jesus aos discípulos, pouco antes de ser preso e crucificado. As palavras de Jesus são claríssimas, límpidas, não pode haver equívoco: Eu sou a videira verdadeira, vós sois os ramos. Quem permanece em mim, e eu nele, este dará muito fruto; e todo ramo em mim, que não produzir fruto, será cortado e queimado. Pronto, só isso! Uma simplicidade quase desconcertante, que, no entanto, diz tudo sobre a nossa realidade de cristãos. 

II

De certa forma, a nossa situação aqui, hoje, é semelhante àquela em que foram proferidas essas palavras. Jesus não as proferiu a pagãos, mas a pessoas que já lhe pertenciam, aos seus amigos. Da mesma forma, os senhores que me ouvem não são pessoas que Ignoram ou mesmo polemizam contra o cristianismo. São gente dotada de uma atitude positiva frente a Jesus Cristo. Assim, estas palavras têm para nos, hoje e aqui, o mesmo sentido que tiveram então. 

Isto é, Jesus Cristo diz, também a nós: Eu sou a videira verdadeira, na qual vós sois os ramos! Ele é o tronco, — que produz a seiva, que dá a força; nós somos os ramos, que recebemos a seiva, a força, do tronco, para transformá-la em fruta. Como cristãos, dependemos de Jesus da mesma maneira absoluta e irrestrita como um raminho depende do tronco, que o segura e lhe passa a seiva para a produção da fruta. Trata-se de uma dependência total e completa.

Já percebemos que aqui se fala muito da produção de frutos. Frutos. Parece ser um termo tão abstrato. Mas não é. um termo até muito real. Mais adiante, no mesmo capítulo, Je-sus explica melhor o que entende por fruto. Frutos produzimos, diz Jesus, se guardamos os seus mandamentos. Eu cito: O meu mandamento é este, que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Este é o fruto: que nos amemos uns aos outros, assim como ele nos amou. 

E como é difícil isso! Como é difícil amarmo-nos uns aos outros - e mais - assim como ele nos amou. Não é só difícil. Chegaria a ser mesmo impossível, se dependesse apenas de nós. E o próprio Jesus sabe disso. Por isso é que diz: Quem permanecer em mim e eu nele, este dará muito fruto; porque sem nada podeis fazer. É preciso tornarmo-nos conscientes de que para qualquer ato legitimo de amor dependemos de Cristo, como o ramo depende da videira. É uma dependência total e absoluta. 

A videira sustenta o ramo, para que fique firme, e ao mesmo tempo fornece-lhe seiva, sem a qual no pode haver fruto; fornece-lhe a força, sem a qual não pode haver um legitimo ato de amor.

Porque sem mim nada podeis fazer. Palavras que são um osso duro de roer para qualquer ser humano normal. Nossa primeira reação é: Essa não! E evidentemente admitimos que o homem que nega ou nada sabe de Cristo é capaz de grandes feitos. Basta olharmos para este século XX com suas façanhas em todos os campos da ciência. Mas aqui se fala de feitos diferentes. De valores que vão além da ciência, que pesam mais que a ciência. Fala-se aqui de que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei . 

É lamentável que também esta fórmula - amai-vos uns aos outros - também já tenha ficado tão batida através dos - séculos, adquirindo com o tempo um gosto de agua com açúcar. Mas, tentemos romper esse invólucro açucarado e penetrar até o âmago dessas palavras. Elas contêm uma força, de que não fazemos ideia. Elas encerram a chave que poderia acabar com toda discórdia existente entre os homens entre si e entre os homens e Deus. Estas palavras contêm o dinamite que seria capaz de acabar com toda a tragédia que assola este mundo - pois toda tragédia se origina da falta de amor entre os indivíduos, entre as nações, entre as raças e os continentes. Podemos observar que este amai-vos uns aos outros, quando praticado entre dois ou três indivíduos, espelha em miniatura o paraíso que seria o mundo, se essa divisa fosse praticada universalmente. Se os homens se amassem uns aos outros não haveria uma mulher raquítica e maltrapilha sentada na calçada da Rua da Praia com os filhos famintos no colo, não haveriam malocas e favelas, não haveria gente morrendo aos montes de fome e de doenças perfeitamente curveis por esses brasis e pelo mundo a fora, não haveria um operaria tendo que sustentar a família com seu mísero salário mínimo; no haveria uma guerra absolutamente isenta de sentido, onde milhares morrem sob as mais atrozes condições, de ambos os lados, sem saber ao certo por — quê. Procurem compreender esse fato: Tudo isso e muito mais não existiria, caso fossem postas em prática essas quatro palavras com gosto de água açucarada: amai-vos uns aos outros. Isso é dinamite, onde quer que for praticado e por quem quer que for praticado - ainda que entre duas crianças ou duas velinhas. É dinamite mais potente do que qualquer sistema econômico, do que qualquer ideologia, do que qualquer plano trienal. 

Voltemos atrás mais uma vez: para este amor legitimo, amor-dinamite isento de próprios interesses, necessitamos da seiva da videira. É preciso que Cristo nos transmita a força. Acontece que sem Jesus Cristo, até os parcos atos de amor que exercitamos não passam de egoísmo, pois quando dou uma esmola a um pobre ou deposito alguma coisa na caixa da coleta, o que faço não é mais que dar uma gorjeta à minha consciência. Isso não é amor. É amor próprio. Amar, como Cristo nos amou, é coisa bem diferente. É, para empregar as palavras do apóstolo Paulo: ser paciente, ser benigno, não arder em ciúmes, não se ufanar, não se ensoberbecer, no se conduzir inconvenientemente, não procurar os próprios interesses, não se exasperar, não se ressentir do mal, não se alegrar com a injustiça, mas regozijar-se com a verdade, sofrer tudo, crer tudo, esperar tudo, suportar tudo. Isto, prezada comunidade, é o amor. O amor que ser humano algum pode praticar, a menos que ganhe a força de Cristo. Pela simples razão de que Cristo foi o único a exercitar, a viver este amor. Porque ele amou desta maneira a todos os homens. Porque foi devido a este amor e munido deste amor que ele morreu por todos os homens. Também — por nós. É deste amor de Cristo por nós que o cristo sorve a seiva, a fim de poder amar ao outro, pelo qual Cristo também morreu. Se Cristo encarou o ser humano que vive ao nosso lado como sendo suficientemente digno para merecer o seu amor, não será ele suficientemente digno para ser alvo das nossas débeis tentativas de amor? É isso, prezada comunidade, o que significam as palavras: Eu sou a videira, vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, este dará muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. 

Nesse ponto é preciso apontar para outro detalhe: Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, como o ramo, e secará, e o apanham, lançam-no ao fogo e ele queimar”. 

E olhem que nem e preciso ir longe e pensar em purgatório ou inferno para entender essas palavras. Ou não é certo que somos peritos em preparar nossos próprios infernos? Infernos que, no fundo, são consequência do nosso egocentrismo. Infernos que no existiriam, se aceitássemos a seiva, se pensássemos mais nos outros do que em nós. Nós temos a liberdade de recusar a seiva e optar pelo nosso inferno feito em casa. 

III

Cada qual sabe com que facilidade recusamos a seiva. Mas isso não precisa ser assim. Há, neste nosso texto, um versículo que pode encher-nos de esperança. Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito. Se permanecermos na videira e as suas palavras permanecerem em nós, o que é que pediremos então? Só poderemos pedir uma coisa: que nos encha de seiva, que nos ajude a aceitá-la, que faça com que a transformemos em atos de amor. Este nosso pedido será, então, dono de uma fantástica promissão: a promissão de que será atendido, de que será feito como pedimos. 

E quando estivermos a ponto de desesperar porque sempre de novo há forças em nós que no nos deixam aceitar a seiva, que entravam toda tentativa de amar-nos uns aos outros como Cristo nos amou, lembremo-nos do seguinte: quando Cristo morreu na cruz, lá também ficou pregada esta nossa recusa de aceitar sua seiva, esta nossa relutância em — permanecer na videira, de receber a força para amar-nos uns aos outros. Se nos tornarmos conscientes disso, teremos ainda mais motivos para permanecer, para nos agarrar com unhas e dentes à videira, para sorver gulosamente sua seiva e convertê-la em amor. Que Deus nos mantenha na vides ra e faça de nós ramos ávidos por seiva e carregados de frutos! Amém.

Oremos: Senhor, nosso bom Pai, que nos ofereces a força para que nos amemos uns aos outros. Não nos deixes cair da videira, dá que lá permaneçamos, que aceitemos sua seiva e abundemos em frutos de amor, para que assim possamos glorificar-te, tornando-nos fiéis discípulos de teu Filho nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
 


Autor(a): Nelson Kirst
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 21º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 15 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Título da publicação: Vai e fala! - Prédicas / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1978
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 20328
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Provérbios 16.1
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