João 2.13-25

Prédica

01/05/2019

João 2.13-25 (SP Centro: 1 ano queda da igreja) – 1/5/2019

Estimada comunidade, irmãs e irmãos em Cristo.

1. hoje nos reunimos para fazer memória da queda do Edifício, das vidas que se perderam, do rastro de dor que ficou. Mas também das esperanças despertadas e da solidariedade manifestada. As circunstâncias da vida, sobretudo as que não definimos, são momentos que Deus nos dá para falar da fé que professamos.

2. ouvimos do Evangelho de João que Jesus vai para Jerusalém. Ao entrar no templo imagina encontrar um ambiente de espiritualidade, de fortalecimento da vida, impulsos para a justiça. Imagina encontrar um lugar de escuta, de comunhão, de perdão, um lugar belo para a vivência da fé.

Mas não é o que encontra. Cambistas e vendedores do perdão fácil fazem ali seus negócios. A REAÇÃO de Jesus é forte: derruba as barracas e aponta uma das essências da fé: a oração como espaço de espiritualidade.

Segue-se um diálogo, quase uma disputa, sobre autoridade pelo havido. E o diálogo culmina no enunciado: destrua este templo e em 3 dias o reconstruirei. Jesus fala do seu corpo, a ressurreição. Mas os líderes judeus disso não sabiam. Imaginam o templo/edifício que levou 46 anos para ser erguido.

A impressão que dá é a de um diálogo de néscios: um fala uma coisa e o outro não entende o que é dito.

3. estimada comunidade, irmãs e irmãos em Cristo. Quero convidar a atenção de vocês tão somente para 2 aspectos do texto:

1º: O QUE FAZEMOS OU NÃO TEM INFLUÊNCIA DIRETA NA VIDA DAS OUTRAS PESSOAS.
Pessoas de fé buscam no templo um espaço para a vivência da sua fé. Mas encontram o espaço de oração tomado pelo comércio. Procuram oração e encontram comércio.

As lideranças do povo judeu não viam nisto um problema. Para elas algo normal. Para Jesus é um descaso com a fé das pessoas que são instrumentalizadas com o objetivo de ali deixarem seu dinheiro em troca de oração. As lideranças do templo não estão de fato preocupadas com a boa fé das pessoas, mas com o dinheiro que podem arrecadar.

Permito-me fazer uma ponte com o ocorrido:
- o prédio estava com problemas estruturais visíveis (estava inclinado) e as autoridades não cumpriram com seu papel de cuidá-lo. Julgaram os orçamentos de reforma caros demais. O econômico fez dizer: não vale a pena reformar.

- mesmo assim era espaço de moradia. O único possível para muitas pessoas. A necessidade delas foi instrumentalizada e transformada em fonte de recursos.

- e tem ainda as desavenças humanas, o estopim que fez o caos implodir.

Quem paga o preço pelo descaso? As pessoas que morreram, a vizinhança que é duramente atingida, as famílias que perdem seu já precário espaço de moradia, a comunidade que vê seu templo parcialmente destruído.

O descaso, a omissão e a ganância exercem forte influência na vida das outras pessoas. Hoje estamos aqui para lamentar as consequências desta influência. E isto precisa ser denunciado. A barraca, como Jesus o fez, precisa ser derrubada. Silenciar é permitir que as coisas continuem a acontecer como sempre aconteceram. E a situação de moradia e prédios abandonados em nossa cidade não permite que calemos. O poder público precisa compreender que descaso e omissão machucam. Pede-se do poder público – e de todas as pessoas – uma postura mais pró ativa, não somente reativa.

2º: segundo aspecto que quero destacar a partir do texto é o anúncio do Evangelho. Jesus fala da reconstrução do templo/seu corpo em 3 dias – celebramos a páscoa há poucos dias – e os judeus falam dos 46 anos necessários para construir o templo. O anúncio consiste em apontar para o centro da fé. O que nos guia, o nosso norte não é a tragédia em si, mas a fé no Deus que reconstrói.

Jesus, ao apontar para a reconstrução do templo/seu corpo, aponta em ESPERANÇA para além do que está dado. Está dada a morte, a destruição. A tragédia está aí. Mas não é dela a última palavra. Em 3 dias haverá ressurreição. A fé cria uma esperança que vai para além da dor que hoje sentimos.

Já temos sinais bonitos e que permitem esperançar:
- a comunidade está aí. Seu templo foi destruído, mas após algumas semanas foi possível retomar a vivência da fé, da comunhão, os grupos, os cultos.
- a vizinhança está aí. Se aproximou. A dor de um é a dor do outro. Pessoas feridas se cuidam.
- a União Paroquial, o Sínodo, a IECLB estão aí e dizem: somos solidários assim como podemos. Um membro do corpo sofre e nós estamos com ele;
- a cruz está aí. Permaneceu intacta no caos. Deus não se deixa abalar pelas tragédias causadas por mãos humanas. Ela ali ficou no altar como quem diz: “olhem para mim, eu não caí”.

Derrubem este templo e em 3 dias será reconstruído. Derrubem este templo e será reconstruída a comunhão, a vida comunitária, o espaço de culto, a solidariedade, ... pois a fé em Deus nos leva para além do que está dado.

Confiamos na ação de Deus que reconstrói. Ele é fiel neste propósito. Recebemos esta sua fidelidade. A resposta possível que podemos oferecer é a fidelidade de uns para com os outros e outras. Que permaneçamos juntos e fieis mutuamente. Cristo nos guie. Amém.

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