João 20.19-31

Auxílio Homilético

23/04/2006

 

Prédica: João 20.19-31
Leituras: Salmo 148 e 1 João 5.1-6
Autor: Ulrico Sperb
Data Litúrgica: 2º.Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 23/04/2006
Proclamar Libertação - Volume: XXXI

1. Introdução

Os quatro evangelhos do Novo Testamento dão um grande destaque à ressurreição de Jesus Cristo. Afinal, esse acontecimento é básico para o surgimento da fé cristã e da igreja cristã. Cada evangelho também relata algum fato que mostra que os próprios discípulos de Jesus tiveram dificuldades em acreditar na ressurreição de seu amado Mestre. No Evangelho de João, temos um exemplo dessa incredulidade (Jo 20.19-31). Vejamos a nossa perícope por partes.

2. Texto

No próprio dia da Páscoa 
vv. 19 e 20: No primeiro dia da semana, ao anoitecer, os discípulos de Jesus reuniram-se de portas trancadas em Jerusalém. É o próprio dia da ressurreição de Jesus, o qual mais tarde será o Dia do Senhor, o nosso do- mingo, justamente por causa desse acontecimento inédito e que influenciou toda a história da civilização ocidental. As portas trancadas justificavam-se por causa das circunstâncias da crucificação do Mestre. A saudação de Jesus é o desejo normal do shalom, da paz. Ao mostrar seus ferimentos, Jesus comprova ser ele mesmo. A alegria dos discípulos só é compreensível porque Maria Madalena lhes havia contado sobre seu encontro com o Mestre ressuscitado (Jo 20.18).

O envio
v. 21: No envio missionário conforme o evangelista João, há um paralelismo entre o envio do Filho de Deus e o envio dos discípulos. Esta é a sequência do envio: Deus enviou o seu Filho Jesus Cristo, o qual, por sua vez, enviou seus discípulos (Jo 17.18). Mateus situou esse evento na Galiléia, alguns dias após a ressurreição (Mt 28.16-20). O livro de Atos situa-o em Pentecostes – 40 dias depois da Páscoa (At 1.3-8).

A dádiva do Espírito Santo
v. 22: Assim como o ser humano passou a ser vivente com o sopro de Deus (Gn 2.7), assim também os discípulos recebem a autoridade de ser enviados de Cristo através do sopro do Espírito Santo. João coloca, dessa forma, o evento pentecostal no dia da Páscoa.

O sentido do envio
v. 23: A vinda do Messias estava relacionada com o perdão de pecados (Mt 1.21). Da mesma forma, o envio dos discípulos está ligado ao poder de perdoar ou reter pecados. A missão da igreja é libertar as pessoas de tudo o que impede a vida com Deus, ou seja, do pecado. E os discípulos recebem a autoridade de perdoar ou de não perdoar os pecados – à semelhança da autoridade que Deus concedeu a seu Filho.

Ver para crer?
vv. 24 e 25: A narrativa que segue acontece na semana após a Páscoa (o domingo desse culto que estamos preparando).Tomé quer uma prova científica da ressurreição de Jesus. Com isso se torna porta-voz das gerações que não conviveram com o Jesus histórico, bem como da mentalidade científica atual. É desse acontecimento que provém o dito popular “ver para crer”. Já em passagens anteriores, Tomé é caracterizado como um cético, ou até como pessimista (Jo 11.16 e 14.5). Convenhamos, porém, Tomé representa muito bem a nossa mentalidade. Podemos concordar com ele e certamente também nós levantaríamos nossas dúvidas naquela situação. Será ele um incrédulo ou um realista? Ao mesmo tempo, no entanto, temos que nos colocar ao lado dos outros discípulos que viram Jesus depois da ressurreição. O texto nada fala sobre a reação dos condiscípulos. Mesmo assim, podemos dizer que nós não gostamos quando alguém duvida daquilo que testemunhamos acerca de um acontecimento. Ficamos chateados se não acreditam no que dizemos.

Ou crer para ver?
vv. 26 a 29: Tomé teve que ver para crer. Jesus convida Tomé a fazer aquilo que havia colocado como desafio para eliminar a sua dúvida: tocar nas chagas de sua crucificação. O texto nem se preocupa em relatar se Tomé tocou de fato nas feridas de Jesus. Mas mostra como esse discípulo se rende a seu Senhor e Deus. A bem-aventurança que Jesus expressa no final do v. 29 abre toda a perspectiva para o futuro da igreja a partir daquela época até hoje: a fé dá a verdadeira visão da vida. As pessoas que crêem no Cristo ressuscitado são felizes. Essa felicidade reside no fato de que vêem a vida com os olhos da fé. Aceitar a fé cristã leva a uma melhor visão da vida. Os sinais são muletas para os fracos. A fé autêntica não necessita de milagres. Para nós vale o pedido que um pai fez a Jesus: “Eu creio, ajuda-me na minha falta de fé” (Mc 9.24).

Uma palavra final
vv. 30 e 31: A constatação de que Jesus fez muitos sinais (milagres), os quais não foram descritos no Evangelho de João, significa que o autor não tinha em mente mostrar Jesus como “santo milagreiro”. Os (seis) sinais que narrou (mais a ressurreição) visavam identificar o Mestre como o Cristo, o Filho de Deus. Crer nele significa viver a partir dele, ou seja, ter vida de fato.

3.A importância da fé

O teólogo alemão Jörg Zink escreve o seguinte:
Sem fé é impossível – Todo ser humano crê em algo, mesmo pensando que nada crê. Não se pode viver somente daquilo que se pode ver e provar. Ninguém pode amar uma pessoa se não quer acreditar nela; porque a outra pessoa não pode provar que suas intenções são sinceras. Ninguém pode planejar ou fazer algo se não quer crer; porque não pode saber o que o futuro trará.

Crer significa confiar – Se alguém crê, isso não quer dizer que afirma
coisas absurdas, porque não quer fazer uso de sua razão; que admite coisas inexatas, porque não sabe nada de exato; que sonha com um mundo do além, porque não ama o mundo daqui; ou que permanece com opiniões de ontem, porque não se acerta com o tempo de hoje. Quem crê confia, mesmo onde nada vê. Está certo da sua causa.”

4. Propostas para a pregação e a liturgia

Prédica:
 

O texto tem quatro conteúdos:

a – O Cristo ressuscitado aparece aos discípulos: a alegria consiste em saber que a morte não tem a última palavra.

b – Cristo envia seus discípulos: a missão cristã é reunir as pessoas com Deus.

c – O encontro de Cristo com Tomé: a fé cristã traz consigo a visão correta da vida.

d – A palavra de conclusão: sinais (milagres) apontam para Cristo e não têm um fim próprio.

Confissão de pecados:
Senhor, nosso Deus e Pai, com humildade te confessamos que nossa fé é pequena, falha, incoerente. Precisamos ver para crer. E há ocasiões em que vemos e nem mesmo assim cremos. Perdoa-nos a falta de fé. Ajuda-nos e aumenta em nós a fé para que creiamos em teu amado Filho Jesus Cristo. Amém.

Oração do dia (de coleta):
Jesus Cristo, nós te agradecemos pela salvação que tu nos trazes. Nós te pedimos que nos ajudes a desejar ardentemente, como crianças recém- nascidas, o genuíno leite espiritual, para que por ele nos seja dado cresci- mento para salvação (1 Pe 2.2). Amém.

As leituras bíblicas:
Salmo 148 – É um salmo de louvor que conclama tudo e todos a louvar Deus. Começa no universo, abrange as forças naturais, a natureza, a flora e a fauna, governantes e governados, bem como todas as gerações.
1 João 5.1-6 – Fé e amor são inseparáveis. A fé leva-nos a realizar gestos fraternos de amor. Na prática do amor concretizamos a nossa fé. Fé é a vertical e amor a horizontal na cruz de Cristo e dos cristãos.

A oração comunitária:
Sugiro que copiem a oração e dividam as pessoas presentes em lados A e B. Essa oração contém os cinco elementos: adoração (vide o salmo do dia), confissão (vide o texto de pregação), agradecimento, intercessão e petição (vide a leitura da epístola do dia).

Todos – Deus, em nome de Jesus Cristo e através do Espírito Santo, queremos falar contigo agora.

A – Ó Deus, nós te adoramos, porque tu cuidas de nós como um pai bondoso.

B – Deus, nós te louvamos, porque tu nos amparas como uma mãe carinhosa.

A – Só tu és adorado, pois tu és o único Deus na terra e no universo.

B – Tu mereces todo o nosso louvor, pois te preocupas com a nossa vida, com todos os seres e com o andamento de todo o mundo.

Todos – Nós te adoramos, louvamos, bendizemos e enaltecemos, ó querido Deus!

A – Deus, nós te confessamos que vivemos como crianças desobedientes.

B – Ó Deus, nós reconhecemos que a nossa vida e o nosso convívio têm problemas, porque não contamos contigo e nos afastamos de ti.

A – Nós te pedimos perdão por tudo o que fizemos de errado e pela nossa falta de fé.

B – Nós nos arrependemos de todas as dificuldades que criamos por causa do nosso jeito de viver.

Todos – Perdoa-nos, Deus, por querer ver para crer e não crer para ver a vida como tu a queres!

A – Ó Deus, nós te agradecemos pela vida que nos dás, pelo perdão que nos ofereces, por intermédio de Jesus Cristo, teu Filho, nosso Salvador.

B – Deus, muito obrigado por estares dentro de nós, por meio do Espírito Santo.

A – Estamos muito gratos, porque contigo temos uma vida e um convívio muito bons, porque toda a alegria de viver vem de ti.

B – A ti dizemos toda a nossa gratidão pela proteção e pelo amparo que nos dás.

Todos – Querido Deus, aceita nosso agradecimento por todo amor que recebemos de ti!

A – Deus, nós intercedemos por todas as pessoas, com as quais convivemos: cuida bem delas, dá-lhes uma vida correta e saudável.

B – Ó Deus, nós te pedimos pelo ambiente em que vivemos: conserva a natureza e dá a tua força e o teu apoio a todas as pessoas que cuidam dela.

A – Nós te imploramos por todas as autoridades que dirigem o nosso país: dá-lhes o teu Santo Espírito e afasta delas toda corrupção e dominação.

B – Nós te rogamos por todas as pessoas que sofrem: ajuda-as em sua busca por vida digna.

Todos – Bondoso Deus, a ti dirigimos a nossa intercessão pela paz e nosso mundo.

A – Ó Deus, nós te pedimos por nossa vida: fica conosco para sermos felizes.

B – Deus, aceita a nossa petição em nosso favor: precisamos de ti para ter saúde e bem-estar.

A – Pedimos por nossa comunidade: aumenta a fé em ti, afasta toda incredulidade, abençoa tudo o que é feito em amor cristão.

B – Nós te suplicamos: ajuda-nos em tudo que fazemos de honesto e correto, para que não façamos nada que prejudique a nós e as outras pessoas.

Todos – Deus da vida, fortifica a nossa fé e que ela se concretize em nosso amor ao próximo. Tu que te revelaste em Jesus Cristo, concede-nos o teu Espírito Santo, para que reconheçamos o verdadeiro sentido da vida. Que a tua bênção esteja conosco. Amém.


Bibliografia

A perícope de Jo 20.19-31 – toda ou em parte – foi tratada em sete edições de Proclamar Libertação.

STRATMANN, Hermann. Das Evangelium nach Johannes. In: NTD. Göttingen: Vandenhoeck & Rupprecht, 1963.

ZINK, Jörg & RÖHRICHT, Rainer. A fé dos cristãos. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1971.


 


Autor(a): Ulrico Sperb
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 2º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 20 / Versículo Inicial: 19 / Versículo Final: 31
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2005 / Volume: 31
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 23635
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