João 5.24-29

Auxílio homilético

02/11/1997

Prédica: João 5.24-29
Leituras: 1 Coríntios 15.50-58 e Mateus 22.23-33
Autor: Teobaldo Witter
Data Litúrgica: Dia de Finados
Data da Pregação: 02/11/1997
Proclamar Libertação - Volume: XXII


1. Introdução

Uma amiga minha de Chapada dos Guimarães contou que uma empresária de lá colocou à venda a sua casa que adquirira há 12 anos. Motivo: o ex-dono da casa morrera em Curitiba, há dias. E a empresária, depois que ficou sabendo dessa morte, sentia constantemente o frio da mesma em toda a casa. Com exceção do negócio que fizeram, ela não tinha relação com o falecido. Mesmo assim, a notícia de sua morte lhe trouxe pavor.

Um adolescente de 13 anos desabafa, durante o ensino confirmatório: A morte é uma coisa sem graça, uma chatice e uma sacanagem. Por que vocês sempre falam disso?

Uma criança de 4 anos, após a morte de um amigo, pergunta: Pai, quem vai cuidar do Tobias agora? Você acha que Jesus cuida dele?

Num encontro de presbíteros se discute a respeito da reencarnação e da ressurreição. Alguém constata: ' 'Por mais que eu me esforce, não consigo enten¬der a ressurreição.

O Catecismo Menor, na segunda parte, confessa:

Ele [Jesus Cristo] perdoou a mim, pessoa perdida e condenada, e me libertou de todos os pecados, da morte e do poder do diabo (...) O Espírito Santo me chamou pelo evangelho, iluminou com os seus dons, santificou e conservou na verdadeira fé. Assim também chama, reúne, ilumina e santifica toda a Igreja na terra, e em Jesus Cristo a conserva na verdadeira e única fé. Nesta Igreja cie perdoa, cada dia e plenamente, todos os pecados a mim e todos os crentes. E, no último dia, ressuscitará a mim e a todos os mortos e dará a vida eterna a mim e a todas as pessoas que crêem em Cristo.

O apóstolo Paulo insiste: Antes de tudo vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras (l Co 15.3-4).

De fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem (l Co 15.20).

Estêvão testemunha: Agora vejo os céus abertos e o Filho do homem [Jesus] em pé à destra de Deus (At 7.56). E Jesus realiza a esperança: Estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do inferno (Ap 1.18).

2. Os Textos de Leitura

Os textos das leituras e da pregação para o Dia de Finados já foram trabalhados no Proclamar Libertação.

A primeira leitura é l Co 15.50-58 e há uma reflexão sobre este texto no PL XIX, elaborada pelo colega Valdemar Witter. O poder criador de Deus recria a pessoa caída sob o poder do pecado e da morte. Jesus Cristo, nosso Senhor, ganhou poder sobre pecado e morte. Através dele, Deus dá vida já agora e para sempre ao seu povo.

A segunda leitura é Mt 22.23-33. Há uma reflexão sobre esse texto no PL VIII, elaborada pelo colega Günter Wolff, e outra no PL XVI, escrita pelo colega Valdim Utech. O texto fala da importância de se conhecer e se informar a respeito daquilo que as Sagradas Escrituras dizem de Deus e seu poder. A concretitude da ressurreição implanta, também, novos relacionamentos. As velhas relações egoístas de posse, em que um é dono do outro, acabarão. Deus faz acontecer a salvação. Trata-se do Deus que age na história (Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó) despertando para a vida, resgatando para a vida e recriando a vida. Neste sentido é o Deus dos vivos que transforma a morte em vida.

3. O Texto da Pregação

O texto para a pregação é Jo 5.24-29. Também sobre este texto há uma reflexão no PL XVIII, elaborada pelo pastor George E. Edmundo Grübber. Gostaria de destacar alguns pontos do texto que podem servir de orientação para a pregação.

1. Jesus diz: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida'' (v. 24). O nosso futuro se decide no confronto com a palavra de Deus e com a pessoa de Jesus. Quem nele crê, ganha vida e salvação. Ela se concretiza no santo Batismo, na partilha da Ceia do Senhor, no ouvir e praticar a palavra de Deus na família, na comunidade de Jesus Cristo, na vizinhança e na sociedade. O mais importante é viver sob a palavra e os sacramentos de Deus, integrado na vida do seu povo. Aí a gente vai sendo carregado da morte para vida.

2. Jesus diz: (...) vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a vo/. do Filho de Deus; e os que a ouvirem, viverão. Entendo que mortos são as pessoas que são enganadas pelo mundo ao seu redor, pelo poder da morte, pelo seu egoísmo, levadas pela injustiça que praticam nos seus relacionamentos; elas sempre têm muitas desculpas para não se envolver, ficam atrás da moita ou em cima do muro e não querem abraçar a comunidade de Jesus Cristo. Também elas terão chance. E a chance é esta: ouvir a voz de Jesus. Deixar-se libertar, dar a meia-volta e abraçar a causa.

3. Jesus diz: Assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo. E lhe deu autoridade para julgar (...) (vv. 26-27). O ponto de referência de Jesus é o Pai criador da vida. O que Jesus faz está em concordância com o que o Pai faz. O Pai tem o poder criador e libertador. O Filho também. Ele tem autoridade para dar vida e julgar.

4. Jesus diz: Todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz [de Jesus] e sairão. E então haverá ressurreição para a vida ou para o juízo (cf. vv. 28-29). Entendo que os que estão no túmulo são as pessoas que nos antecederam na morte. Também elas ouvirão e seguirão o chamado de Jesus. Aqui se faz referência ao grande julgamento (Mt 25.31ss.), quando Jesus reunir todas as nações na sua presença. Todas as pessoas que em vida se prepararam para a morte, ouvindo Jesus, se integrando ao seu povo e lendo a vontade de Deus nos olhos das pessoas necessitadas e deprimidas ressuscitam para a vida. As outras para o juízo. Neste Dia de Finados, resta saber de que lado nós estamos. Disso dependem a nossa morte e a nossa vida.

4. Morte, Perdidos e Achados

Ouvimos, conforme o ponto l desta reflexão, que a morte ocupa grande espaço em nossa vida e nossos relacionamentos. Também nestes dias, em que se fala muito dos finados, as pessoas estão ocupadas com os afazeres em relação aos mortos. Visitam os cemitérios. Lavam os túmulos. Levam flores. Fazem viagens longas para irem aos locais onde estão sepultados seus familiares. Fazem orações. Reúnem-se em cultos. A morte se apresenta como um abismo entre amigos. Acabou-se o convívio entre eles.

A morte tem muitas faces. Ela acontece diariamente. Entre os achados e perdidos da história humana, a morte nos encontra. A morte nos visita na forma de frustrações, no desespero, no individualismo, na competição. Ela nos encontra na falta de opções e na falta de chances de viver. Ela nos vence quando o egoísmo vence o amor e a mágoa derrota o perdão. Perdemos todos, quando nossas relações são calculistas, acumulativas, fundamentadas na troca de favores, em que nos tornamos reféns uns dos outros. Perdemos quando matamos a espontaneidade, a alegria, a acolhida e a liberdade. Somos agentes da morte quando silenciamos diante da tortura. Somos assassinos quando defendemos a pena de morte para presos. Matamos quando o nosso coração é tão pequeno que somos incapazes de amar as pessoas para as quais dá tudo errado na vida. E aí o fim da vida é, apenas, a forma mais cruel da manifestação da morte que sempre esteve presente.

Diante de tão horrível situação, o que resta? Existe saída? É claro que sim. A morte foi vencida e está sendo vencida. As pessoas cristãs sempre perceberam que Jesus destruiu o poder arrasador da morte. Por causa da ação dele, as pessoas cristãs estão livres desse poder destruidor. Afinal, Ele a venceu pela raiz. Seu grito: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? é o nosso grito de liberdade. Ninguém de nós precisa morrer daquele jeito, abandonado por Deus. Aquela morte maldita Jesus já venceu. As pessoas que ouvem a sua voz e crêem nele podem ver o céu aberto e Jesus Cristo em pé, à direita de Deus. Basta um grito seu, e ele virá para as conduzir pelo vale escuro da sombra da morte. Pessoas cristãs não morrem sozinhas. Jesus Cristo ressuscitado está com elas. Quem nele confia e crê tem a vida eterna já agora e para sempre. Tem vida depois da morte. Por isso tem mais liberdade. Sabe que a morte não é o fim. Assim está livre de suas relações calculistas e da exagerada preocupação consigo mesmo. Está mais livre para defender a vida de outras pessoas. Já que Jesus cuida dele e o defende, ele está agora animado para cuidar e defender pessoas necessitadas.

A respeito dessa liberdade podemos refletir também nesta época de finados. Com a ressurreição, estamos caminhando em direção ao novo tempo. Já sabemos por onde andar. Não estamos mais perdidos na escuridão. Podemos despertar e promover vida já agora. Então, neste novo céu e nova terra, nos perdidos e achados a vida plena nos encontra, pela gratuidade e misericórdia de Deus criador e libertador.

Libertação da morte significa para os evangélicos luteranos que eles mantêm a esperança mesmo no desespero (Rm 4.18). Nós temos a liberdade dos sem-esperança. Não desanimamos com seguidos fracassos. Enxergamos longe. Mostramos que os mecanismos da preocupação e do medo deixam a pessoa passiva, induzindo-a a acomodar-se. Desmascaramos e desarmamos tais mecanismos e, em situação de risco, sabemos que a morte jamais é o fim. Em consequência, a vida, seja ela como for, não é tudo. Evangélicos luteranos o comprovam em sua existência. Estão conscientes de que todos os movimentos de libertação começam quando um punhado de pessoas perde o medo. (A. Baeske.)

5. Bibliografia

BAESKE, Albérico. Quem São os Evangélicos Luteranos? In: Ingo Wulfhorst, ed. Grupo de Trabalho sobre Movimentos Religiosos; Informação e Posicionamento; Fascículo na 10. São Leopoldo, Faculdade de Teologia — IECLB, 1994. (Xerox).
LUTERO, Martim. Catecismo Menor. 17. ed. São Leopoldo, Sinodal, 1993.


Autor(a): Teobaldo Witter
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Dia de Finados

Testamento: Novo / Livro: João / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 24 / Versículo Final: 29
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1996 / Volume: 22
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17372
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