Juizes 5.24-31

Auxílio Homilético

08/03/1985

Tema: Cadê a mulher?


Explicação do tema:

Na sociedade machista e capitalista a mulher é duplamente explorada. Ela é condicionada a viver submissa ao homem, tanto na família quanto na comunidade e, principalmente, no trabalho. Cabe à mulher uma jornada dupla (no emprego e no lar). Pelo trabalho realizado ela recebe menor salário e tem menos direitos.

Confinada às tarefas domésticas, sem participação política, a mulher acaba ficando desatualizada e alienada do que acontece no mundo. Os interesses econômicos fazem dela instrumento de lucro e objeto de uso; e isto, até mesmo dentro da Igreja. As mulheres fazem o trabalho para gerar fundos que serão aplicados como e onde convém aos homens. Desde a comunidade até a cúpula da Igreja há preconceitos enraizados que legitimam a exploração da mulher. A religião tem contribuído para desviar o problema social para o falso moralismo ou a inoculação do complexo de uma culpa pessoal.

Apesar disso tudo, a mulher é capaz de uma incrível resistência, intuição, perspicácia, criatividade e coragem. Ontem e hoje há mulheres a ensinar que o homem será verdadeiramente livre, quando perder a obsessão de dominar. É por isso que a mulher consciente de sua dignidade humana exige mais do que uma salva de palmas pelo almoço gostoso ou engodo comercial no Dia das Mães.


Texto para Prédica: Juizes 5.24-31

Autora: Rosa Marga Rothe

I — Tradução conforme a Bíblia de Jerusalém

V. 24: Bendita entre as mulheres Jael seja (a mulher de Heber, o queneu) entre as mulheres que habitam em tendas, bendita seja ela!

V. 25: Ele pediu-lhe água: leite lhe trouxe na taça dos nobres, serviu-lhe creme.

V. 26: Estendeu a mão para apanhar a estaca, a direita para alcançar o martelo dos trabalhadores.
Então matou Sísara,
rachou-lhe a cabeça, com um golpe perfurou-lhe a têmpora.

V. 27: Entre os seus pés ele desabou e se estendeu, Onde caiu, ali ficou, sem vida.
grade:

V. 28: À janela a mãe de Sisara se debruça e vigia, através da
Por que tarda o seu carro a vir? Por que são lentos os seus cavalos?

V. 29: A mais sábia de suas donzelas lhe responde, e a si própria ela repete:

V. 30; É que sem dúvida demoram em repartir os despojos: uma jovem, duas jovens para cada guerreiro! Finos tecidos bordados para Sísara, bordados para o meu colo!

V. 31: Assim perecem todos os teus adversários, lahweh! Aqueles que te amam sejam como o sol Quando se levanta na sua força! E a terra descansou quarenta anos.

II — Leitura complementar e considerações contextuais

O cântico de Débora é talvez o mais antigo texto literário da Bíblia. Foi composto pouco depois dos acontecimentos que relata (aproximadamente 1125 a.C.). Além do mais, é dos poucos escritos de autoria feminina.

A época dos Juizes compreende o período entre a morte de Josué e os inícios da monarquia (1200 a 1030 a. C.).

A terra prometida estava sendo conquistada pelas tribos de Israel, tendo uma enfrentado mais dificuldades do que outras. Os adversários já sabiam utilizar instrumentos de ferro; além disso, possuíam exércitos profissionais e mercenários, carros ferrados e cavalos que lhes davam enorme superioridade militar frente aos posseiros hebreus. Estes sabiam pastorear e manejar arco e flecha e baladeira, entretanto tiveram que aprender a arte de guerrear. (Jz 3.2-4)

Os Juizes provavelmente não se sucediam cronologicamente. Eles exerciam o poder divino de guias do povo. O tamanho de sua jurisdição é difícil de precisar com exatidão.

Débora pertence à categoria dos seis grandes Juizes, que são conhecidos como heróis libertadores. Única mulher a ocupar este cargo, era também profetiza Mãe de Israel (Jz 5.7) à semelhança dos Juizes denominados Pais de Israel.

O tribunal onde Débora atendia o povo ficava debaixo de uma palmeira (provavelmente uma tamareira) situada entre Rama e Betel, no território de Efraim, a tribo líder do Norte.

Este lugar entretanto, ficava bem ao sul da região que era flagelada pelo exército de Sísara. Débora manda chamar Baraque, da tribo de Naftali, lá do Norte. Baraque sabe o que está acontecendo: um poderoso exército da confederação dos reis Cananeus, da qual Jabim é o mais forte, ameaça massacrar os filhos de Israel, contando para isso com 900 carros ferrados.

Débora tomou a iniciativa; porém, não lhe cabia ir à luta. Após ouvir os relatos dos acontecimentos, perguntou se Baraque conhecia sua responsabilidade. Isto é, perguntou se ele confiava em Deus. Diante disso, Baraque tem que se posicionar, o que ele faz condicionalmente: se tu vieres comigo, eu irei, mas se não vieres comigo, não irei.

Seria uma ação guerrilheira planejada com astúcia e conhecimento da topografia, meteorologia, e estratégia militar. Deus seria o autor, Débora a porta-voz, Baraque e seus homens o instrumento de execução. O poderoso chefe do exército inimigo, porém, seria entregue nas mãos frágeis de uma mulher, entre os fracos que habitam em tendas. A Baraque, portanto, não seria conferida a glória de um grande feito e o exército de Jabin seria humilhado perante os povos de mentalidade machista.

Sísara foi atraído e caiu na armadilha. Os filhos de Israel, organizados tribalmente, souberam escolher o local e o período favorável. As montanhas de difícil acesso para carros puxados por cavalos, as chuvas que transformavam a planície em pantanal e o rio Quison em ratoeira para os inimigos. Os temidos carros fechados se transformaram em obstáculos e Sísara fugiu a pé.

Os quenitas eram os descendentes do sogro de Moisés. Eram midianitas e estes, por sua vez, eram aliados de Jabin. Não se sabe se Héber, o marido de Jael, compactuava com Jabin ou com os posseiros hebreus. O que sabemos através do relato é que Jael tomou posição contra o terrível assassino, comandante do exército cananeu.

A necessidade de sobrevivência e esperança de tomar posse da terra prometida fizeram com que os filhos de Israel se organizassem e procurassem a solidariedade de outros grupos explorados pelo feudalismo cananeu. A terra prometida por Deus teve que ser conquistada através de confronto armado e com armas desiguais.

A solidariedade entre os fracos faz com que um guerrilheiro ou um militante trabalhe por dez ou mais soldados pagos. A luta dos posseiros é a luta pela vida. A luta dos reis é a luta pela dominação (através do poder político e econômico). Enquanto os primeiros são capazes de dar a vida pelos outros, os segundos são capazes de ceifar outras vidas em favor de si mesmos.

O Deus do povo de Israel, colocou em cheque os ídolos dos deuses da morte. A religião cananéia servia para dominar, explorar, domesticar e justificar uma sociedade dividida em classes sociais distintas. Em contraposição a isso, os grupos não israelitas tomaram contato com a teocracia dos hebreus, cujo Deus era um Deus libertador que exigia do seu povo uma organização fraterna. A experiência histórica havia-lhe mostrado como se deram mal todas as vezes em que se haviam deixado seduzir pelo esplendor das religiões oficiais de reinados e impérios. Javé dos grandes e dos pequenos, Pai misericordioso dos que amam e Juiz terrível dos que a ele se opõem, Senhor dos Exércitos, maior do que qualquer conquistador.

Ill — As mulheres do texto

Débora, mulher que era casada e tinha um cargo de serviço ao povo; profetiza e Juíza numa época em que a mulher não costumava ter ingerência nas questões políticas. Sua atividade fora do lar, já por si, fazia dela uma mulher fora do padrão. Deus a coloca frente a mais um desafio. Será preciso deixar a casa, o marido, o trabalho, e arriscar a vida para evitar que seu povo, dominado vinte anos por um tirano, termine massacrado. A área de conflito não atingia seu local de trabalho, mas o povo das tribos atingidas era seu povo também.

Um homem, que não era seu marido, só cumpriria sua função caso ela o acompanhasse. Para que o plano de Deus fosse executado ela deveria integrar o comando da guerrilha que iria enfrentaras forças armadas do poder estabelecido.

Débora poderia bem ter dito isto é coisa de homem, eu faço a minha parte ou eu não posso, por isto ou por aquilo.... Mas ela não se esquivou, ela foi e Deus não a abandonou.

Jael, mulher de Héber, o queneu, bendita entre as mulheres que habitam em tendas. Mulher do povo que mora em barracos porque sabe que sua permanência ali é transitória. Para quem não está definitivamente instalado a vida é cheia de surpresas, e para sobreviver é preciso dar a resposta certa em cada momento. O padrão de vida é outro, o trabalho é árduo para que se obtenha o essencial para satisfazer as necessidades básicas. Jael conhecia os exemplos domésticos e sabe o que necessita um homem desesperado e exausto.

A maneira como ela recebe e acolhe Sísara, faz-nos lembrar a Amélia que era mulher de verdade, ainda hoje o ídolo de muitos homens brasileiros. Entretanto, a ação seguinte mostra como ela estava a par dos acontecimentos (mesmo não tendo TV).

A mesma mão que alimenta e acaricia o homem que vem do campo de batalha, é capaz de cravar-lhe uma estaca na cabeça. A estaca da tenda e o martelo dos trabalhadores são os instrumentos que Jael tem que improvisar para servirem de arma. O mesmo instrumento que apaga a vida do tirano liberta um povo dominado há vinte anos.

As mulheres do Palácio se debruçam na janela e vigiam através da grade. A vida delas se resume naquilo que vem para as quatro paredes. Seu luxo e seu conforto provém do sangue e do assassinato dos mais fracos. Ansiosas elas esperam novos presentes, adornos para o corpo e para a jaula dourada. Seu horizonte sovai até onde as grades o permitem, já estão bem amestradas e por isso são consideradas mulheres normais.

Sísara é o seu ídolo, todos falam dele, conseguiu fazer carreira e ser a figura mais importante na frente de um poderoso exército que todos temem.

Rodeadas de serviçais baratos e submissos, estas mulheres são bem cuidadas e se vestem com elegância. O tempo todo podem gastar consigo mesmas ou com as pessoas que são extensões do próprio ser. Os filhos devem seguir a exemplo de Sísara, para serem respeitados e temidos. Daquele monte de riquezas que o chefe da casa traz, elas sempre dão umas coisinhas para os pobres bem submissos, afinal que outro jeito encontrariam para serem reconhecidas como damas generosas?

Mas elas também são mulheres e amam, com amor de mulher alienada e domesticada, esperam o Seu benfeitor.

IV — Comentário sobre as mulheres do texto

Débora atende o povo debaixo de uma tamareira, sua autoridade provém do serviço realizado a uma coletividade. Este serviço está profundamente ligado ao amor. Ser mulher e mãe não se resume apenas à maternidade física. Débora ama o seu povo como se ama os próprios filhos, e isto capacita-a ao desprendimento. Por amor ao seu povo, ela se informa e age. Sua comunhão com o povo a coloca em permanente comunhão com Deus. Sua obediência não é um ato de submissão, mas de liberdade. Ela exerce a função, conferida pelo Criador de todos os seres humanos, de co-participante da história e zeladora da vida.

Em seguida temos a contraposição das mulheres que habitam em tendas com as mulheres que moram em palácios. Ambas, vivendo na mesma época, desenvolveram uma mentalidade distinta, devido ao lugar que ocupam na sociedade. Se para Débora e Jael está claro que a situação não pode continuar, para as mulheres do palácio, ao contrário, a ordem estabelecida deve continuar. Bitoladas pelo sistema vigente elas se julgam vivas por saberem aproveitar os privilégios que sua posição lhes concede. Nem percebem que estão olhando o mundo através de grades e consideram idiota qualquer pessoa que se empenhe em mudar o status quo. Quem dentre elas seria louca de arriscar perder os privilégios? A rotina representa sua segurança e um presentinho de vez em quando ajuda a quebrar a monotonia. O homem conquistador é o seu escudo, é ele quem decide como elas devem se comportar.

Na rotina doméstica de Jael irrompe o tão temido Sísara. Diante de um homem treinado para aniquilar os opositores, a mulher sozinha e indefesa usa seus recursos femininos. Qualquer oprimido sabe que não é prudente enfrentar o mais forte sem que haja condições para isto. Já que o assassino profissional julga estar em território amigo, é melhor alimentar sua ilusão. Com sua disponibilidade, Jael conquista a confiança de Sísara. Ele arria a seus pés, sua resistência chega ao fim, ele se entrega ao sono. Seria um breve intervalo e logo recomeçaria a matança.

Não sabemos se Jael tinha consciência que fora Deus quem colocou esse homem terrível em suas mãos. Entretanto, como mulher, ela se sabe geradora de vida e percebe que muitas vidas serão extinguidas precocemente se ela não agir rápida e eficientemente.

Jael descobre o que Moisés descobrira ao matar o egípcio torturador do seu povo.

Conscientemente ela corre o risco; qualquer falha e sua própria vida termina ali. Muitos outros após ela fariam o mesmo e pagariam com a vida sua tentativa de livrar um povo das garras de tiranos assassinos. A história está cheia desses exemplos de homens, mulheres e jovens que deram suas vidas porque não queriam a morte mas a vida de seu povo.

Quando o sol se levanta na sua força (Jz 5.31) ninguém pode segurá-lo. A luz que irrompe só não é vista pelo avestruz que, com medo, enfia a cabeça na toca escura. Quem oprime o povo se torna adversário de Javé. O fato de ser mulher não pode ser empecilho para que a criatura responda ao desafio que lhe é lançado. São momentos cruciais dos quais dependem a sorte de muitos. Acabando a violência e a injustiça, retorna a paz.

Foi através da atuação de duas mulheres que a terra pode descansar quarenta anos.

V — E a mulher de hoje?

Socialmente a mulher é herdeira de uma carga de preconceitos da sociedade patriarcal. Não só ela vive dentro do patriarcado, mas também o patriarcado vive dentro dela.

Cultural e religiosamente ela é considerada posse dos homens. A menina de 12 anos, que no Ira andava na rua de calção em companhia de seu pai, foi presa e condenada a 60 chicotadas, morrendo antes de terminar o castigo.

A menina de 15 anos, trazida da ilha de Marajó para Belém a fim de ser criada na casa do fazendeiro, foi usada pelo filho do patrão. E engravidou. Foi jogada na rua, teve que dar seu filho, não podia voltar para casa (o pai a mataria) e ficou sem saber como sobreviver. O complexo de culpa incutido exigia que ela assumisse as consequências; no caso, que se tornasse prostituta. Mulher da vida fácil, como se diz levianamente; e, no entanto, nenhuma profissão expõe a mulher a tantas humilhações diárias, acabando precocemente com sua saúde e seus atrativos físicos. Objeto velho e usado ninguém quer, e o que pagam por ele não dá nem para vegetar.

Biologicamente a mulher é a fonte da vida e, economicamente, ela é a fonte de renda.

Ao mesmo tempo em que a mulher vai produzindo filhos que possibilitam um verdadeiro exército de mão de obra barata, ela também executa trabalhos, até com mais responsabilidade do que o homem, recebendo, entretanto salários inferiores. E tendo menos direitos. Em casa aguarda-a uma outra jornada, não renumerada nem valorizada por não produzir mais valia. Entretanto, com este trabalho doméstico, ela poupa o companheiro masculino, repondo suas energias gastas na empresa para que ele possa produzir mais no dia seguinte.

Em 1970, 90% dos trabalhos de prestação de serviços, no Brasil, eram executados por mulheres.

80% das mulheres ativas trabalham em ocupação de baixo prestígio e pouca renumeração:

empregadas domésticas - 27%
trabalhadoras rurais - 18%
professoras primárias - 9%
funcionárias de escritório - 8%
costureiras - 6%.

Segundo um levantamento feito pela ONU, as mulheres realizam dois terços de todo o trabalho no planeta. A média dos salários femininos, porém, soma apenas uma décima parte da dos homens. 99% das propriedades estão nas mãos de homens.

Vale ressaltar que nestes dados não se incluem trabalhos domésticos. Quando se pergunta a senhora trabalha?, a resposta normal é não, sou dona de casa. A luta da prostituta pela.sobrevivência é considerada vadiagem; no entanto, dela muitos se utilizam para obter lucros, e as famílias da classe privilegiada para proteger a honra de suas filhas.

Sua missão é ser bela e pôr filhos no mundo. Uma mulher que deu cinco filhos ao povo, deu mais que a mais notável jurista do mundo. Não há lugar para a mulher política no mundo ideológico do Nacional-Socialismo, dado que leva a mulher à esfera parlamentar, onde está deslocada. Significa roubar-lhe a dignidade... (Adolf Hitler)

Seria salutar analisarmos o quanto de nazismo está presente entre nós hoje, na família, na sociedade e principalmente na Igreja.

Nas sociedades tribais (chamadas primitivas) a mulher participa das decisões políticas. Sintomaticamente, não há em tais sociedades velhos nem crianças abandonados. Nem tampouco há cadeias nem marginalizados, social ou economicamente.

VI — Cadê a mulher criada conforme a imagem e semelhança de Deus?

Talvez seja mais fácil dizer onde ela não está.

Ela não está nos palácios, pois Deus não se manifesta ali. Ela não está onde se trama estratégias de extermínio da vida em nome dos deuses lucro e desenvolvimento. Ela não está nas cúpulas eclesiásticas, pois, se estivesse, muito já teria mudado. Ela não está nas empresas publicitárias, que seduzem pessoas indefesas a consumirem poluentes e tóxicos para corpo e mente. Ela não está nos serviços de informação e repressão dos regimes totalitários, que favorecem as multinacionais.

As que, porventura se encontram lá, são machões transvestidos em mulher, ou robôs programados por homens.

Onde está, então, a mulher?

Ela está em todos os lugares onde nasce a vida partilhada. Ela está onde as pessoas se organizam para acabar com a injustiça. Ela está onde se luta pela paz. Ela está onde o amor individualista cede lugar ao amor pelo povo. Ela está na guerrilha e também está aos pés da cruz dos seus companheiros assassinados. Ela está na luta que cotinua após a morte de seus homens, mandos, filhos, irmãos. Ela é mãe no mais amplo sentido, que pare, alimenta, cria, educa, anima, conforta e protege os filhos que Deus lhe confiou, nem que por isso tenha que dar a própria vida.

Criada à imagem e semelhança de Deus, a mulher é também criadora e preservadora da vida. Benditas são as mulheres que tomam consciência disto, malditos são todos os que as impedem de exercer essa função conferida pelo próprio Deus. Da atuação das mulheres depende se a terra e as gerações serão abençoadas ou amaldiçoadas.

Para os chineses, a mulher é a metade do céu, e para nós?

VII — A resistência feminina

A luta da mulher não é contra o homem, mas contra estruturas sociais injustas. Existem, porém, questões especificamente femininas que exigem a solidariedade de todas as mulheres. O homem que não deseja a mulher como companheira e sim como escrava, serviçal e objeto, fonte de prazer e de lucro, é contra as reivindicações femininas, que exigem igualdade de direitos e também de deveres.

A mulher que exerce a liberdade concedida por Deus, de ser sujeito ao invés de objeto (como impõe a ideologia machista), rompe com as cadeias de dominação. A mulher consciente passa a temer mais a Deus do que aos homens. À medida que ela vai soltando as amarras, também ajuda os outros a se libertarem, tanto mulheres quanto homens. Ela sabe que o homem também só será verdadeiramente livre quando a mulher o for, pois são pares da mesma espécie. Macho e fêmea de igual valor, distintos na sua estrutura biológica e psíquica para se completarem. Parceiros do Criador para continuarem a vida e zelarem por ela, capacitados para, com sua inteligência, transformarem natureza e sociedade num paraíso para todas as criaturas.

Tudo isso já estava no Antigo Testamento. Jesus Cristo veio selar este pacto do Pai com seus filhos e filhas; o único Senhor é ele, todos os demais são iguais. Deus não é pai dos machos e padrasto das fêmeas, ele é Pai e Mãe de todos igualmente. Esta certeza é a força das mulheres que lutam pela vida partilhada, na família e também na sociedade, tanto nos sindicatos quanto nas comunidades, associações, parlamentos, e, se preciso for, até mesmo na guerrilha, contra exércitos imperiais e fascistas, contra as multinacionais, enfim, contra os deuses da morte.

VIII — Indicações para a prédica

1. Preparar o culto junto com as mulheres. Sugerir que elas elaborem a liturgia, incluindo cantos como, por exemplo, Maria, Maria, Da cepa brotou a rama.

2. Discutir o que significa hoje: morar em tendas; ser mulher que exerce trabalhos considerados inferiores, tais como o de doméstica, faxineira, gari; ser mulher sem homem, tal como a prostituta, a mãe solteira, a viúva ou desquitada; sofrer a discriminação dupla de sexo, raça ou cor. Ver a situação das mulheres nas frentes de trabalho no Nordeste e outras.

3. Discutir quem é o responsável pela situação dessas mulheres e também onde e como vivem as mulheres desses responsáveis.

4. Pedir que apresentem formas de solidariedade concreta com a mulher marginalizada, e de luta por uma sociedade fraterna.

5. Pedir que citem mulheres que já deram um exemplo de compromisso efetivo.

IX — Subsídios litúrgicos

1. Introito:Gn 1.27

2. Confissão de pecados: ato penitencial pela omissão diante da dominação e exploração da mulher.

3. Anúncio da graça: Ap 12.10b-11.

4. Oração de coleta:

Ó Deus, que nos amaste com amor de Mãe! Tiveste a grande paciência de ensinar-nos a engatinhar e caminhar num caminho seguro. Colocaste a mulher como símbolo da vida e sinal de esperança no mundo. Comparaste a mulher com tua Igreja, aquela que deixa o Cristo nascer entre os rejeitados.

Faze com que sejamos dignos da tua confiança para que não tenhas que envergonhar-te de nós. Guia-nos com a sabedoria do teu Espírito para que tenhamos coragem de empenhar-nos em favor da vida dos teus filhos que diariamente colocas em nosso caminho. Ajuda-nos para que não tenhamos medo de levantar a nossa lamparinazinha, que, junto com as outras, irradia no mundo a tua luz. Dá-nos força e garra para sermos parceiros co-responsáveis na construção da Nova Sociedade, cujo Mestre é o nosso Senhor Jesus. Amém!

X — Bibliografia

- BOFF, L. O rosto materno de Deus. Petrópolis, 1979.
- DIVERSOS A luta dos deuses. São Paulo, 1982.
- DIVERSOS. A prostituição em debate. São Paulo, 1982.
- MESQUITA, A. N. de. Estudo nos livros de Josué, Juizes e Rute. Rio de Janeiro, 1979.
- SANTISO, M. T. P. A hora de Maria, a hora da mulher. São Paulo, 1982.


 


Autor(a): Rosa Marga Rothe
Âmbito: IECLB
Área: Missão / Nível: Missão - Mulheres
Testamento: Antigo / Livro: Juízes / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 24 / Versículo Final: 31
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1984 / Volume: 10
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 14642
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