Levar a Cruz!

30/08/2020

Toda criança é apaixonada por super-heróis. Eu mesmo, na minha infância, era fascinado pelo TARZAN, que vivia na selva e se comunicava com os animais. Depois passei a admirar o HOMEM ARANHA, sempre combatendo o mal. Na adolescência, dos heróis passei aos ídolos, alguns na música, outros no esporte. O que eles tinham em comum? Grandes habilidades, força e inteligência. Com 14 anos cheguei à fé. A Bíblia foi essencial à minha decisão. Por intermédio dela, descobri que os “heróis” bíblicos são sempre suspeitos. Moisés dividiu o mar. Mas, matou um egípcio. Jacó lutou com um anjo. Mas, trapaceou o pai. Davi venceu Golias. Mas, adulterou com sua vizinha.

Bom! Conclui que, biblicamente, há um único Deus, ao qual devemos exclusiva adoração e obediência. Inclusive, qualquer atitude idólatra em relação ao mundo criado é completamente condenada. A Palavra de Deus sempre desmascara o ser humano, colocando-o na situação de pecador. À primeira vista, isso pode parecer cruel e até depressivo. De fato, para muitos, a religião é algo triste, que deixa as pessoas para baixo. Todavia, certo é que – mesmo sendo pecadores - somos amados por Deus e úteis ao seu projeto de salvação. Por isso é que o apóstolo Paulo - de maneira sábia e inspiradora - afirmou: “Quando sou fraco, Deus se faz forte em mim” (2ª Coríntios 12.7-10).

Desde o princípio, Adão e Eva desejavam ser mais do que meras criaturas. Achando que tudo é possível, saíram a presença de Deus ao comer o fruto proibido. O resultado da decisão foi a expulsão do Éden. Você e eu fomos criados para viver na presença de Deus, num relacionamento franco e aberto. Quando dispensamos a Deus de nossas decisões, perdemos a condição de cooperadores do seu Reino e nos tornamos concorrentes entre nós mesmos e com a própria criação. Ou seja, tínhamos tudo de bandeja e passamos a lutar para sobreviver. Decisões erradas trazem prejuízo. Contudo, decisões certas trazem salvação.

Concorrência ou cooperação? Caminhar ao lado de Deus ou lutar contra seus propósitos? Tal escolha perpassa gerações, tornando-se uma decisão diária. Tal situação também é perceptível no Evangelho deste domingo. A situação é assim narrada pelo evangelista Mateus: “Jesus começou a dizer claramente aos discípulos: Eu preciso ir para Jerusalém. Os líderes judeus, os chefes dos sacerdotes e os mestres da Lei farão com que eu sofra muito. Eu serei morto. Porém, no terceiro dia, serei ressuscitado. Então, Pedro o levou para um lado e começou a repreendê-lo, dizendo: Que Deus não permita! Isso nunca vai acontecer contigo. Jesus virou-se e disse a Pedro: Saia da minha frente, Satanás! Você é como uma pedra no meu caminho para fazer com que eu tropece, pois está pensando como um ser humano pensa e não como Deus pensa. Então, Jesus disse aos discípulos: Se alguém quer ser meu seguidor, esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhe” (Mateus 16.21-24).

Jamais podemos esquecer... Que fique bem claro o propósito da encarnação de Jesus. Os profetas anunciaram. Lá no princípio, o anjo já havia dito à Maria que o menino seria o Salvador do mundo. João Batista o identificou de imediato: Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Jesus, volta e meia, declarava abertamente que, diante dele, estava a morte e a ressurreição. Contudo, as pessoas desejam um milagreiro, um herói, um guerreiro que tome o poder em suas mãos, habitando em palácios cercado de ouro. Porém, ele nasce na estrebaria. Vive entre leprosos. Escolhe os rejeitados. Carrega e morre sobre a cruz. Calado, ele vence o mais terrível de todos os adversários, a morte. É levado à sepultura por mãos humanas. É retirado de lá pelo poder do próprio Pai.

Na aparente derrota é que surge a vitória. Na doação é que se concretiza o amor. Na entrega é que se constrói o Reino de Deus. Os discípulos ouviram e viram isso na pessoa de Jesus. Mas, como é difícil entender, aceitar e viver. A natureza humana deseja ser servida, jamais servir. Só podemos entender verdadeiramente o Evangelho quando entendemos o sacrifício de Jesus. Sem ele, nada somos, nada conseguimos, nada alcançamos. Pedro se torna o representante da natureza humana quando diz: Mestre! Muda de conversa. Não fale de morte. Nós vamos conseguir. Vamos vencer, pois você é o nosso herói! Jesus é o anti-herói. Ele incorpora toda maldade humana sobre si, levando nossa natureza ruim à cruz, derramando precioso sangue para nos lavar, regenerar, renovar.

A palavra de Cristo: “Arreda Satanás” precisa ser dita e ouvida sempre de novo em nosso viver. Quando o orgulho toma conta. Quando o amor às riquezas deste mundo aparece. Quando os maus desejos revestidos de santidade querem nos seduzir. Quando a fé e a religião são usadas para explorar pessoas. Quando a preguiça ou o radicalismo espiritual se aproximam. Arreda Satanás! Eu amo Jesus. Eu quero dedicar os meus dias ao serviço do Reino. Então, como alerta constante sobre nossos propósitos, Jesus deixa um triplo desafio: Amigo/a! Se você quiser ser meu discípulo/a...

Primeiro, esqueça seus próprios interesses. Segundo, esteja pronto para se entregar em amor. Terceiro, siga-me. Todas as pessoas são criadas e amadas por Deus. Mas, somente aqueles que entendem e se submetem a Jesus passam à condição de cooperadores no Reino de Deus. De fato, Jesus nos coloca diante da decisão: Viver de maneira própria, dispensando Deus e concorrendo com o outro... Ou, colocando-se junto ao propósito salvador de Jesus na cruz, assumindo o mesmo desafio, entregando-se em amor. O poeta cristão colocou em canção o desejo: “Senhor! Eu quero servir-te sempre de todo o meu coração”. Que assim seja, amém!
 


Autor(a): P. Euclécio Schieck
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense / Paróquia: Garuva-SC (Martinho Lutero)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 16 / Versículo Inicial: 21 / Versículo Final: 24
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 58638
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Antes da criação do mundo, Deus já nos havia escolhido para sermos dele por meio da nossa união com Cristo, a fim de pertencermos somente a Deus e nos apresentarmos diante dele sem culpa.
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