Lucas 1.26-38

Auxilio Homilético

19/12/1993

Prédica: Lucas 1.26-38
Leituras: 2 Samuel 7.4-6, 12, 14a, 16 e Romanos 16.25-27
Autor: Augusto Ernesto Kunert
Data Litúrgica: 4º Domingo de Advento
Data da Pregação: 19/12/1993
Proclamar Libertação - Volume: XIX


1. Introdução

A perícope é contestada quanto ao todo de seus versículos. A crítica envolve o v. 27, que fala na virgem visitada pelo anjo e noiva de José, e os vv. 34-37. Opina-se que esses versículos são emendas posteriores feitas pelas mãos de terceiros. Rudolf Bultmann, considerando os vv. 34-37 secundários, afirma que o v. 27, com o conceito natus ex virgine, é um verdadeiro absurdo.

Martin Dibelius discorda da citação de José no v. 27 e da indicação do tempo de seis meses no v. 26. No mais, considera que a perícope trata de uma lenda e acha temeroso riscar o milagre de uma lenda. Observadas as suas restrições aos vv. 26 e 27, aceita a perícope como um conjunto harmonioso.

Já F. Hahn acha importante a inclusão do nome de José no v. 27 para atender a profecia messiânica, garantindo assim a filiação de Jesus como descendente de Davi. A pergunta de Maria: Como acontecerá isso? F. Hahn considera importante, já que o verbo ginoskein, na tradição grega, subentende relações sexuais. O v. 32 F. Hahn qualifica como dito da tradição messiânica e introduzido posteriormente na perícope. Com a sua inclusão a profecia é incorporada ao texto, que é definitivamente espiritualizado.

Chr. Burger afirma que o v. 32 nunca tratou de um reinado terrestre sobre Israel. Antes, diz ele, reflete o entendimento de Lucas sobre a entronização do filho de Maria como filho de Davi e que se relaciona com o conceito natus ex virgine da mesma maneira com que Lucas coloca em 3.23 a não paternidade humana e a descendência de Davi lado a lado.

Prefiro posicionar-me com Günter Klein quando esse escreve: Permanecem muitas dúvidas e, por isso mesmo, não é recomendável isolar os vv. 32ss. Seria pelo menos estranho querer sublinhar a eternidade do domínio messiânico a partir de uma messianologia originalmente orientada por uma compreensão terrena. Entendendo que os predicados aludidos ao Jesus terrestre receberam transformação espiritualizante, nos deparamos com uma cristologia compacta, e faz a retaliação do texto desnecessária (G. Predigthilfe, 22-25).

2. Exegese

Em seu conjunto, as perícopes de Lc 1.8-25 e Lc 1.26-38 apresentam semelhanças e linhas paralelas. Mencionaremos as principais durante a exegese.

V. 26: A província da Galiléia e a cidade de Nazaré são palco dos acontecimentos. A área em questão situa-se no norte do país e não gozava de bom renome entre os judeus. Lá residiam muitos gentios. Havia um provérbio entre os judeus que dizia: De Nazaré pode sair alguma coisa boa? (Jo 1.46).

Gabriel, um dos anjos mais graduados, visita uma jovem residente em lugar marginalizado. Galiléia, a cidade de Nazaré e a visita a uma moça são fatores chocantes para a compreensão judaica.

Provavelmente Maria residia em Nazaré. Era noiva de José. E José era tido como descendente da família de Davi. Quanto à residência de José o texto silencia.

Lucas conhece o direito da família em vigor em Israel. Mt 1.18 e Lucas 1.27 entendem o noivado como oficialização do casamento. A vida conjugal iniciava com o recolhimento da noiva à residência do noivo. Entende-se, também em Mt 1.20 e 24, que o filho de Maria é filho, sem restrições, de José.

V. 28: Entre os dois textos de Lc 1.8-25 e Lc 1.26-38 há outras semelhanças. O anjo fala com Zacarias e com Maria. No primeiro, o anjo encontra-se com um homem que é sacerdote e, no segundo, com uma virgem. Um encontro ocorre no templo, e o outro, na moradia da moça. A aparição a Zacarias transcorre conforme a tradição, enquanto a aparição a Maria foge aos costumes e sofre rejeição por parte dos judeus. Com o sacerdote o anjo entra diretamente no assunto: A tua oração foi ouvida. Maria é saudada por Gabriel: Alegra-te, muito favorecida... A saudação a Maria aponta uma situação constrangedora, pois normalmente a mulher não era saudada em Israel. A saudação nos diz que Maria é destacada. A graça de Deus caiu sobre Maria. A saudação O Senhor está contigo confirma a escolha de Maria e lhe fala na proteção e no amparo de Deus.

V. 29: Maria assusta-se com a saudação, pois tal procedimento para com uma mulher era incomum em Israel. E é compreensível que ela pôs-se a pensar no que significaria essa saudação. Não entendo que a jovem ficasse desconfiada e que por isso procurasse certificar-se da situação. Creio que ela ficou assustada, pois algo inesperado a estava envolvendo.

V. 30: O anjo foi em auxílio de Maria. Ela recebe palavra confortadora: Não temas. Antes, também Zacarias recebera a saudação Não temas. Ambos são tranquilizados e confortados. Enquanto Zacarias recebe a explicação Tua oração foi ouvida, Maria tem o conforto da mensagem: Achaste graça diante de Deus.

V. 31: O versículo ressalta a razão da escolha: Darás à luz um filho. O nome do menino deve ser Jesus. O nome do menino, como aconteceu no caso de João, é decidido com antecedência. No nome de Jesus assinala-se algo do plano de Deus, pois Jesus significa, em nossa linguagem, Deus salva. O conceito Deus salva tem ligação com a tradição messiânica presente em Israel. Os textos de 2 Sm 7.12s., Is 9.6 e Dn 7.14 lembram a conotação messiânica. O teólogo Karl Heinrich Rengstorf lembra no contexto: Ela é uma profecia de Natã à dinastia de Davi. E, mais adiante, o mesmo teólogo conclui: Ela culmina com o anúncio de um segundo e definitivo Davi. Essa profecia fortaleceu em muito o autoconceito messiânico em Israel. Mesmo que o texto não o diga expressamente, a perícope sugere que aquele que nascerá de Maria será o Messias esperado. Ele o é porque com ele se cumpre a profecia (p. 23).

Jesus pode ser descendente de Davi somente como filho de José. Maria, assim quer me parecer, não pertencia à família de Davi. Antes o texto, quando fala no parentesco com Israel, a tem como membro da família de Levi (v. 36). Os textos de Lc 3.23, 4.22 e também Mt 1.24-25 reforçam o critério da adoção por José.

Vv. 32-33: Maria, assustada, não teve condições, imediatamente, de avaliar o significado do nome a ser dado ao menino. No mais, sempre houvera em Israel gente com o nome de Jesus. Ele não era novidade, antes um nome bastante difundido entre a população. Note-se, porém, que de nenhum outro Jesus é dito que será o Filho do Altíssimo. E em nenhum outro veio o Salvador e em nenhum outro cumpriu-se a profecia de que Deus haveria de visitar o seu povo. Somente em Jesus, o filho de Maria, o Verbo se fez carne e veio habitar entre nós (Jo 1.14). Muitos reis ocuparam o trono de Davi nas terras de Israel. Todos foram passageiros. Eterno há somente um Jesus, o verdadeiro homem e o verdadeiro Deus.

V. 34: A aparição de Gabriel confundiu Maria. Como poderá dar à luz a um menino se na verdade desconhece qualquer relacionamento sexual? Daí sua pergunta cheia de admiração torna-se compreensível, já que o verbo ginoskein, usado na respectiva passagem, tem o sentido, na compreensão grega, de relacionamento sexual.

Exige-se muito de Maria. Ela não deve ter constrangimento em ver a sua reputação abalada perante o noivo e a sociedade. Espera-se dela que assuma um caminho doloroso e que tenha disposição e coragem para seguir no caminho traçado. Significa que Maria deve aceitar, no conceito do povo, a situação de moça desonrada.

V. 35: Jesus é santo desde o momento de sua concepção. Não se torna santo posteriormente pela graça de Deus, como acontece as pessoas tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento. Ele é santo e livre de pecado desde a sua concepção e nele se cumpre a profecia de que será para ungir o Santo dos santos (Dn 9.24). Jesus não é santo porque nasceu da virgem Maria, e sim porque foi gerado pelo Espírito Santo como filho do Altíssimo. Ele não seria cheio de Espírito Santo nem seria o Deus que salva se tivesse recebido o Espírito Santo depois de gerado, no ventre de Maria ou no seu batismo. Nesse caso, seria simples homem, agraciado é bem verdade, mas simples homem, e não Deus verdadeiro. Jesus seria homem pecador. Poderia ser o maior profeta de todos os tempos, nunca, porém, o Filho unigénito de Deus. Gerado pelo Espírito Santo, ele é, nascido de Maria, homem verdadeiro e Deus verdadeiro. E Rienecker conclui a esse respeito: Jesus é o único homem que, também necessitando do nascimento, nunca precisou do renas¬cimento. O seu nascimento, porém, é o motivo e a possibilidade do nosso renascimento (p. 22).

A sombra na qual fala o texto lembra a nuvem citada no Antigo Testamento (veja Ex 40.34ss.). Já durante a peregrinação a nuvem acompanhou o povo de Israel (Nm 9.17). A nuvem era o sinal da presença de Deus entre o seu povo. E à sua pergunta Como acontecerá isso? Maria recebe a resposta: O poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra (v. 35).

Vv. 36-37: O sinal para Zacarias é a mudez. A Maria é dado o sinal com a gravidez da parenta Isabel, a qual, tida por estéril e já em idade avançada, está grávida no sexto mês. Tudo acontece contrariando a lógica humana e é visto como loucura e escândalo, mas para Deus não haverá impossíveis. As profecias de Deus cumprem-se pela vontade de Deus contra todo entendimento humano. Deus realiza o seu plano mesmo que a compreensão humana não tenha alcance para tanto. Ele criou o mundo do nada. E agora envia ao mundo caído, pelo nascimento de mulher, o Salvador. Os seus caminhos são insondáveis, e ele usa o caminho, mesmo que seja considerado escandaloso pelos homens, para salvar e redimir o que estava perdido.

V. 38: Maria aceita a mensagem do anjo. Nisso ela se diferencia de Zacarias. Ela se declara serva do Senhor e confessa: Cumpra-se em mini conforme a tua palavra. Maria colocou ;i si mesma cm segundo plano. Aceitou com humildade o que Deus lhe reservara. Na sua humildade e em sua fé cumpriu-se sua participação ativa no plano de Deus. Maria ó respeitada como pessoa. Ela é levada a sério. Não é usada como mulher objeto. Há respeito para com ela. E a favorecida aceita a vontade de Deus e põe-se à disposição para servir aos desígnios de Deus.

3. Meditação

3.1. Natus ex virgine. O nascimento de Jesus de uma virgem sofre contestações. Mesmo que a doutrina da Virgem Maria, assim como é defendida na Igreja Católica Romana, não encontre respaldo no meio evangélico, o natus ex virgine preocupa muitos. Vimos na exegese que o posicionamento vai, como é o caso de Bultmann, desde o qualificativo de absurdo até a plena aceitação da perícope. Não obstante, esse texto e mais Mt 1.18-25 contribuíram paia com o conceito em questão.

O natus ex virgine está registrado na Confissão da Igreja. Sabemos que Mt 1.18-25 tem caráter apologético, dirigindo-se contra maldizentes que espalhavam, conforme Mt 13.55, que Jesus fora concebido cm circunstâncias escandalosas. Lc 1.26-38 é o anúncio de que em Jesus Cristo, nascido de uma virgem, vai cumprir-se a promessa da profecia escatológica da vinda do Messias, o segundo Adão.

No mais, o Novo Testamento não comenta o nascimento da virgem; pelo menos não encontro registros que apoiem Mateus e Lucas. Marcos e João, por sua vez, defendem a preexistência de Jesus. Mc 3.20s. e 6.1-6 falam na família de Jesus sem referência ao mistério de seu nascimento. Jo 1.45 e 6.42 falam em Jesus como filho de José. O apóstolo Paul» usa para a mãe de Jesus, em contraste a Lucas, uma expressão típica do idioma grego, o termo gyné= mulher casada, e não o vocábulo parthénos = virgem, moça (W. Bauer, pp. 278 e 1046). O natus ex virgine limita-se a um texto apologético e a uma afirmação de Lucas.

Maria é a favorecida, a eleita e agraciada. É uma jovem humilde. O anjo visitou-a em sua moradia. O seu ambiente de vida e a visita do anjo não recebem um colorido especial na descrição do texto. A ela é anunciado o que lhe vai acontecer. O texto deixa claro que Maria é o vaso escolhido. A virgem não é a razão ou a finalidade em si da escolha.

Usar a escolha de Maria para desenvolver uma mariologia desconheceria o momento alto do texto e significaria perder-se numa simplificação perigosa do mes¬mo. Aceitamos Maria como a jovem escolhida, respeitando-a como a virgem favorecida. Honremo-la como a agraciada para ser a mãe de Jesus, reconhecendo-a como pessoa de fé.

Contudo, vamos dizer na prédica em alto e bom tom que Maria não é medianeira. Mediador há somente um: Jesus Cristo, o filho de Maria. Maria é uma pessoa igual às demais e pecadora igual a nós, favorecida é bem verdade, mas necessitada do perdão e da salvação de seu próprio filho. Não há como duvidar de que Maria foi, e isso a distingue, o vaso escolhido para a concretização do mistério de Deus.

Nela o humano e o divino se encontraram para que Jesus nascesse homem verdadeiro e Deus verdadeiro. A perícope é cristocêntrica. Ela anuncia a vinda do Deus salva. E propõe que levemos à comunidade o Evangelho que o Deus da graça e do amor, comiserando-se do mundo, encarnou em Jesus. Jo 1.14 diz isso com as palavras: O Verbo se fez carne e habitou entre nós. Maria é o tabernáculo sobre o qual vem a sombra do Altíssimo para gerar o vero homem e o vero Deus.

3.2. Como acontecerá isso? O credo da Igreja conserva, no seu texto, o conceptus de Spiritu Sanctus e, numa passagem mais adiante, registra o natus ex Maria virgine. Como aconteceu isso? O texto responde: Descerá sobre ti o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Lucas chama a nossa atenção para o fruto dos acontecimentos que envolveram Maria. Ele aponta para o mistério que está por acontecer. E esse não pode ser explicado pela lógica humana. O escritor do Evangelho tem muita sensibilidade para com o mistério e nos convida para termos o mesmo respeito.

É mencionada uma sombra que envolverá a moça. Essa sombra nos lembra a nuvem que encobriu a tenda do tabernáculo, quando a glória de Deus encheu o tabernáculo (Ex 40.34). A nuvem, já no período da peregrinação, acompanhava o povo de Israel em seu caminho. Ela significa a presença de Deus entre o seu povo. Na nuvem, o Deus encoberto acompanhou o povo. A nuvem testemunha a presença e o resplendor de Deus e encobre o mistério de Deus na concepção de Jesus.

Sobre o momento em que isso acontecerá o texto silencia. Maria, porém, recebe uma informação sobre o que precede para certificar-se de que o poder de Deus torna o impossível possível. Ela deve visitar sua parenta Isabel, a qual, tida por estéril e já em idade avançada, está grávida no sexto mês.
O mistério envolve a entrada do Salvador no mundo. Ele crescerá no ventre de Maria e nascerá de mulher como as demais crianças, mas, em Jesus, Deus e o homem tornam-se um.

3.3. Filiação de Jesus: A tradição em Israel dizia que o filho receberia o nome da família do pai. Segundo a lei, Jesus é filho de José. O judeu recebia o nome do pai (Lc 4.22). A origem de Jesus está em Deus. Ele é recebido pelo Espírito Santo e por isso declarado Filho do Altíssimo. Para a prédica é importante que Jesus seja anunciado como homem verdadeiro e Deus verdadeiro. Nele concretiza-se a profecia do Messias. A tradição messiânica estava viva em Israel e acompanhava o povo desde longa data. O Antigo Testamento está embebido da esperança messiânica. E ela se cobre com o texto, quando verificamos que o Messias deveria nascer como rebento da família de Davi. Günter Klein diz a esse respeito: O descendente do rei Davi, no exercício do seu reinado, era entendido como representante de Deus na terra, como Senhor do Sião, e sua entronização era reconhecida como ato de Deus e aceita como nascimento verdadeiro. Assim, o motivo do anúncio a Maria, no que se refere a Davi, sempre valeu como 'o tomar morada de Deus na terra' e é levado, nessa perícope, à última consequência (p. 27).

Lucas diz que a profecia messiânica cumpriu-se com o nascimento de Jesus. O caminho para o seu nascimento é de difícil compreensão para o homem. Deus, porém, nos alerta que ele faz o impossível ser possível. Daí é possível que em Jesus o humano e o divino formem uma unidade. Jesus mesmo afirmou: Eu e o Pai somos um (Jo 10.30). Nascido de Maria e Filho do Altíssimo, Jesus é homem verdadeiro e Deus verdadeiro. No rompimento dessa unidade perdemos o Salvador, perdemos aquele que veio buscar e salvar o que estava perdido, perdemos a remissão dos pecados pela graça de quem morreu e ressuscitou em nosso favor, perdemos o renascimento em espírito e na verdade. Estamos diante do mistério de Deus. E a f é deve assumi-lo. Cabe-nos ouvir o que o anjo e Maria nos têm a dizer, sem querer corrigi-los em nossa pregação. Vamos deixar o texto falar a nós e servir de veículo para que também a comunidade ouça e sinta algo do mistério da ação de Deus em favor do mundo caído. É importante que aquilo que está excluído das possibilidades, das condições e da ação humanas, mas é realizado pelo poder de Deus, seja, como diz Günter Klein, o cantus firmus da prédica (p. 29).

3.4. O texto visa a pregação de Jesus Cristo e não dá margem a divagações e comentários antropológicos. A perícope é cristocêntrica. O nascido da virgem Maria não é o escopo do texto, e sim Deus, que encarnou em Jesus Cristo. O texto, portanto, não enaltece Maria, mas prega Jesus Cristo, o segundo Adão, no qual cumpriram-se as profecias messiânicas, que anunciavam a vinda do Salvador como descendente da casa de Davi. Ele é Filho do Altíssimo, nascido em local e circunstâncias humildes. É o Deus encarnado. É o Verbo que se fez carne e que veio habitar entre nós. Ele sofreu a cruz. Ressuscitou na Páscoa. É o homem verdadeiro e Deus verdadeiro, que assumiu o governo do inundo.

3.5. A Igreja agiu certo ao incluir em sua confissão os textos: Filho unigênito de Deus, nosso Senhor e concebido pelo Espírito Santo, nascido da virgem Maria. E ela continua certa em seu firme propósito de manter esses textos, rebatendo as tentativas dos que pretendem eliminá-los. Com a sua posição a Igreja declara e confessa que somente podemos falar em Jesus, homem verdadeiro e Deus verdadeiro, curvando-nos perante o mistério que envolve concepção e nascimento de Jesus. Isso significa que podemos testemunhar Jesus somente na fé. Sem dúvida, o nascimento nos lembra sua mãe. A prédica deve testemunhar que Maria serviu de vaso para que Jesus entrasse no mundo, mas que ela não é medianeira e sim pecadora que necessita da salvação em Jesus Cristo.

3.6. Jesus é Rei. Ele é um rei diferente dos demais. Ele é eterno. Não é passageiro como os reis mortais com passagem pelo trono de Davi. O desejo dos reis era viver para sempre. Na ânsia de ter os seus nomes lembrados entre as gerações futuras, os faraós, por exemplo, construíram pirâmides e mandaram alguns dentre eles marcar as pedras com os seus nomes. O rei que não construiu edifícios, mas que suscita pedras vivas para edificar a sua Igreja na terra e que enviou seus mensageiros ao inundo para anunciar a Boa Nova da salvação, é o Rei eterno, e o seu reinado não tem fim.

3.7. Jesus Cristo é o Santo como Filho unigênito de Deus. Ele exerce seu senhorio após sua ressurreição. Quem se aproxima de Jesus de Nazaré sem assumir sua crucificação e ressurreição não compreendeu os feitos de Deus na concepção e nascimento de Jesus em favor do mundo caído. Natal sem Sexta-Feira Santa e Páscoa esvazia-se para uma data de nascimento de qualquer personalidade da história humana.

3.8. Falar na vinha do Salvador significa expor-se à ação do Criador. Aceitar Jesus, confessá-lo como Senhor e Salvador, é testemunhar a libertação das amarras do pecado. É a libertação para servir. É o testemunho de nossa renovação em espírito e na verdade. Confessar Jesus Cristo como meu Senhor e Salvador liberta-me para o encontro com os homens e para uma vida em comunhão. Valoriza o pequeno e me aproxima do rejeitado e marginalizado. Supera a arrogância e o egoísmo e me torna apto para a vida em comunhão com os que sofrem.

4. Auxílios litúrgicos

1. Confissão: Senhor Deus! Enviaste a tua eterna luz ao mundo para iluminar a nossa vida. Nós, porém, mostramos preferência, em palavras e ações, pela escuridão. Os nossos pecados são prova disso. Perdoa-nos, misericordioso Pai, os nossos erros e a nossa culpa para que também conosco aconteça a graça do anúncio: Canta e exulta, ó filha de Sião, porque eis que venho e habitarei no meio de ti. Tem piedade de nós, Senhor!

2. Oração de coleta: Louvamos o teu santo nome, Pai celeste, que nos visitas e vens habitar em nosso meio. A tua presença nos é alegria e conforto. Ajuda-nos a receber dignamente o teu Filho unigênito, vencendo o nosso medo, a insegurança e a violência nas ruas de nossas cidades. Ajuda-nos a superar a marginalização de tantas pessoas sem emprego, sem salário, sem alimentos. Ajuda-nos ainda na renovação do nosso espírito, preparando-nos para a comunhão de vida com os que sofrem. Ilumina, Filho do Altíssimo, os nossos corações e caminhos com a tua luz, para que possamos, guiados por ti, viver e dar amor aos carentes, desamparados e entristecidos. Amém.

3. Oração final: Senhor, nosso Deus! Louvado sejas tu, que deixas a tua luz iluminar a escuridão que cobre o mundo caído. Louvado sejas por deixares o Verbo tornar-se carne e habitar entre nós. Louvado sejas por convocares mensageiros do Evangelho para que o mundo saiba que o amas, que queres sua renovação e que haja paz entre os homens.
Ajuda-nos, Senhor, a buscarmos a tua face e que a tua obra de renovação aconteça conosco pela graça do Juiz e Salvador. Livra nosso coração do egoísmo, nossos lares de brigas e confusões, nossa Igreja de erros e perturbações e nosso povo de corrupção e descrença. Leva-nos à casa paterna. Dá o Salvador a nós que perdemos o rumo e o caminho. Deixa que nossos olhos vejam a tua salvação e a nossa alma encontre a paz no amor de Jesus Cristo, teu Filho amado. Amém.

5. Bibliografia

Das Neue Testament Deutsch. Das Evangelium nach Lukas. Traduzido e comentado por Karl Heinrich Rengstorf. 4a edição revisada, 1949, Vandenhoeck und Ruprecht, Goettingen.
Das Evangelium nach Lukas. Theologischer Handkommentar zum Neuen Testament. Traduzido e comentado por Walter Grundmann. Vol. 3,8. ed. 1978, Evangelische Verlagsanstalt, Berlin.
Das Evangelium nach Lukas. Wuppertaler Studienbibel. Comentado por Fritz Rienecker. R. Brockhaus Verlag, Wuppertal, 1969.
VOIGT, Gottfried. Die geliebte Welt. Homiletische Auslegung der Predigttexte der Reihe III. Evangelische Verlagsanstalt Berlin, 1980.
Proclamar Libertação vol. VI. Auxílios homiléticos. Série de Perícopes III. Editora Sinodal, São Leopoldo, 1980.
Göttinger-Predigtmeditationen. Série 5, Ano 65, Caderno l, Novembro 1976, Vandenhoeck und Ruprecht, Göttingen.
BAUER, D. Walter. Griechisch-Deutsches Wörterbuch. 3. ed., 1937, Verlag Alfred Trepelmann, Berlin.


Autor(a): Augusto Ernesto Kunert
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 4º Domingo de Advento
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 26 / Versículo Final: 38
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1993 / Volume: 19
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 16176
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