Lucas 10.1-11,16-20

Auxílio Homilético

04/07/2010

Prédica: Lucas 10.1-11,16-20
Leituras: Isaías 66.10-14 e Gálatas 6.(1-6) 7-16 
Autor: Jefferson André Samuelsson
Data Litúrgica: 6º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 04/07/2010
Proclamar Libertação - Volume: XXXIV

1. Introdução

Lucas relata uma ação evangelizadora. Trata-se da universalização da missão salvífica de Jesus. Esse é o tema que ele nos apresenta nessa perícope. Tem um enredo completo: a convocação e designação dos setenta e dois, as instruções, o envio e, por fim, o retorno com o relato do cumprimento e as alegrias de uma tarefa bem-sucedida.

A tradição atribui à missão dos setenta e dois um contexto mais amplo de abrangência, além dos muros da nação israelita. Daí a distinção entre essa e a dos doze. Uma das instruções aos doze era: “Vão às ovelhas de Israel” (Mt 10.6). Doze é o número das tribos de Israel (Mt 10.1-4). Assim como setenta e dois é, tradicionalmente, o cômputo das nações pagãs em Gênesis 10. Por isso temos no relato em estudo, pode-se dizer, a prefiguração da futura missão mundial da igreja. A Boa-Nova é para todos os povos.

A narrativa da missão dos setenta e dois é exclusiva do Evangelho de Lucas (existe debate quanto ao número 70 ou 72, mas isso não é relevante para nosso estudo).

A leitura do Antigo Testamento – Isaías 66.10-14 – apresenta uma imagem admirável. As outras nações mamarão nos peitos de Israel. O texto expressa que o Senhor estenderá sobre Jerusalém a paz como um rio e a glória como uma enchente, que transborda. E Jerusalém será como uma mãe: carregará as nações nos braços e, no colo, as abraçará com carinho. A mensagem de Isaías coaduna-se com a leitura de Lucas, porque as outras nações precisam saber da paz de Israel, isto é, precisam saber que “o reino de Deus está próximo”, precisam mamar também desse leite, que é a salvação.

Na leitura da epístola do Novo Testamento – Gálatas 6.(1-6) 7-16 –, a imagem é a da ceifa. Aquele que semeia para o Espírito, do Espírito colherá vida eterna. O texto trata da necessidade de fazer o bem enquanto tivermos oportunidade. Grande bem é ajudar na seara do Senhor. Alegrar-se na colheita dele. A glória do cristão, como Paulo diz, está na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo e não em seus feitos.

2. Exegese

A perícope em estudo é precedida de três breves diálogos. Mostra pessoas que tinham vontade de seguir Jesus, entretanto queriam adiar a sua resolução definitiva. Jesus disse, respectivamente, a eles: eu não tenho onde reclinar minha cabeça; deixem os mortos sepultarem os seus mortos; e ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus. Logo após esses diálogos, Lucas nos retrata a missão dos setenta e dois.
Jesus tinha tomado o caminho para Jerusalém. Estava a caminho quando designou os setenta e dois. Provavelmente a missão dos setenta teve lugar na Pereia (sul da Transjordânia). Vejamos as ênfases:

V. 1-3 – Quem são esses setenta e dois? E por que foram enviados de dois em dois? Não sabemos quem são; sabemos que faziam parte dos seguidores de Jesus. Foram enviados às cidades onde Jesus estava para ir. Registra-se que eles cumpriram a sua missão e retornaram “possuídos de alegria, dizendo: Senhor, os próprios demônios se nos submetem pelo teu nome” (v. 17). A alegria pelas bênçãos de uma boa colheita. A segunda pergunta talvez possa ser respondida em função do perigo e do sentimento de solidão que assolam muitos pastores e evangelistas – “eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos” (v. 3). Ou, ainda, porque a colheita é um trabalho conjunto em que se celebra o ajuntar dos frutos.

Os setenta e dois agiram em nome e em lugar de Jesus. Jesus falaria através deles, pois os enviou para preparar seu caminho. Expressa o texto que “os enviou para que o precedessem em cada cidade onde ele estava para ir” (v.1). Era uma missão temporária, restrita, específica, enquanto Jesus subia a Jerusalém. O verbo utilizado é apostéllo – enviar. Desse verbo provém apóstolo. Eles foram enviados como legítimos representantes, com a autoridade daquele que os enviou. Eram seus arautos. No entanto, foram avisados de que eram impotentes quanto às suas próprias forças. Sua confiança era que iriam cumprir uma tarefa como predecessores do próprio Filho de Deus e tinham a sua autoridade. Seu trabalho era curar os enfermos e anunciar a vinda do reino de Deus na pessoa de Jesus (v. 9).

V. 4 – Fornece dicas da ação dos missionários. Evitar as distrações pelo caminho para que a missão não fosse deixada de lado. Nas saudações orientais, o inferior parava e permanecia quieto enquanto o superior passava. Deviam deixar isso de lado, concentrar-se no tinham de fazer, parando somente nas casas.

V. 5-11 – Instruções de procedimento e a mensagem que teriam de proferir: “paz seja nesta casa”; “até o pó da vossa cidade, que se nos pregou aos pés, sacudimos contra vós outros. Não obstante, sabei que está próximo o reino de Deus”. Isto é, apesar de alguns não receberem os missionários, também ouviriam a mesma mensagem – “a vós outros está próximo o reino de Deus”. Está próximo de todos. Daqueles que os receberam e dos que não os receberam. Qual a diferença? Para uns, é uma boa notícia, que consola, conforta. Para outros, é uma advertência, é juízo. Tomem cuidado! Saibam isso! O reino de Deus é o próprio Jesus. Esse reino veio a todos. Aos que o receberam deu-lhes o poder de ser feitos filhos de Deus. A rejeição é ao reino de Deus, isto é, rejeita-se a Jesus e a Deus que o enviou.

V. 16 – O mesmo verbo enviar é novamente utilizado (v. 1, 4, 16). Os setenta e dois são legítimos representantes. Têm a autoridade de Jesus. Levam a paz e a salvação. Agem de acordo com a promessa que a eles foi dada. Eis aqui um consolo e uma advertência. Consolo porque, ao ouvir um mensageiro, estamos ouvindo Jesus; entretanto, ao não o ouvirmos, estamos rejeitando Jesus, e, ao rejeitarmos Jesus, rejeitamos Deus.

V. 17-20 – O regresso e o relatório. Os missionários retornaram possuídos de alegria. Essa, porém, não deveria estar baseada em seus feitos, porque, na verdade, são feitos de Deus. Ele preparou a terra, plantou, limpou, regou. A alegria está em saber que os seus nomes estão arrolados nos céus. E “Satanás cair do céu” significa, talvez, o prenúncio da derrocada de Satanás, o que ocorrerá no final dos tempos.

3. Meditação

A mensagem de Lucas é resumida em seu prefácio (Lc 1.1-4): “Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, conforme nos transmitiram os que desde o princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra, igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que foi instruído”. A partir dessa perspectiva, devemos ler a missão dos setenta e dois. Sua missão era levar a mensagem da verdade de que “o reino de Deus está próximo”. Essa é a mensagem que levaram às pessoas das outras nações.

O sermão baseado nesse texto de Lucas enfatizará a evangelização. Essa, por sua vez, é tida como uma árdua tarefa. Um trabalho maçante. Um trabalho que exige estudo, preparação de material, idealização de estratégias para o contato com as outras pessoas. Jesus a retrata, porém, como uma grande colheita, em que os trabalhadores são poucos. O primeiro passo dos trabalhadores é rogar por mais companheiros. Depois devem cumprir a tarefa a caminho. Ao chegarem na casa de alguém, dizem: “Paz seja nesta casa”.

O sermão pode também mesclar as leituras do dia. Há nelas um conteúdo de fé e de obras. Aqueles que já mamam do leite de Israel devem oferecer esse mesmo leite às outras nações, aos que os cercam, fazendo o bem, como expressa a perícope de Gálatas. Desse modo, demonstra o apóstolo Paulo.

A colheita tem alegrias, mas tem igualmente trabalho. A lei não é o motivo correto para evangelizar. Mas, sim, a alegria de participar da colheita. O trabalho mais árduo, sob a perspectiva da colheita, já foi feito. A preparação e o plantio já foram realizados: arar, semear, fertilizar, irrigar, capinar e zelar. Essas partes mais difíceis, o texto nos lembra, foram realizadas pelo Senhor da seara. A nossa parte é o regozijo da colheita, como aquela expressão de profunda alegria, demonstrada pelos missionários de Jesus que regressaram.

No tempo de Jesus, milhares de pessoas não o conheciam. A missão dos setenta e dois era torná-lo conhecido. Pregar a respeito do reino de Deus, que estava próximo. Hoje milhares de pessoas igualmente não o conhecem, e a missão que nos cabe é torná-lo conhecido como o único Salvador. Em relação à imagem da colheita, muitos estão preparados para recebê-lo. O coração deles já foi preparado, a semente já foi semeada, cresceu e está pronta para ser colhida. A designação de Jesus aos setenta e dois também é para nós. Nós somos a nação santa, o povo de propriedade exclusiva de Deus, e para quê? Para anunciar às outras pessoas uma nova vida em Jesus. O reino de Deus está próximo de nós, próximo daqueles que nos recebem e próximo daqueles que não nos recebem.

É provável que esses acontecimentos, narrados por Lucas, estejam no período da Festa dos Tabernáculos. Sendo correta essa hipótese, esse contexto é importante também do ponto de vista teológico. Pois a Festa dos Tabernáculos era a celebração da peregrinação de Israel durante 40 anos pelo deserto e a celebração das bênçãos da colheita dos primeiros frutos. Desse modo, leva-se em considera- ção, antes de tudo, o que Deus tem realizado por e para nós durante a nossa peregrinação neste mundo, e não o que nós realizamos. Deus preparou, plantou e cuidou. Nós nos alegramos com a colheita. Esta é a conclusão da perícope em estudo: “Regressaram os setenta e dois, possuídos de alegria”.

4. Imagens para a prédica

Pode-se pensar em ações conjuntas, em que se quer atingir uma abrangência maior em menor tempo. Nesse sentido, a própria colheita é a imagem por excelência. Hoje as máquinas colhem, mesmo assim há grande movimentação quando chega esse momento. Antigamente, ajuntavam-se os vizinhos para colher e trilhar os grãos. Apesar das dificuldades e do trabalho duro, ao sol, todos se alegravam. Alguns faziam os montes, outros recolhiam os feixes e depois separavam a palha do grão. Compartilhavam suas tristezas, seus anseios, suas alegrias e divertiam-se no trabalho. As refeições também eram compartilhadas, comiam do que a família tinha preparado. O mesmo contexto, quanto à alimentação, expressa-se no texto, bem como a alegria dos enviados de Jesus e seu retorno da colheita.

Outra imagem é a dos mutirões realizados no interior para fazer determinado trabalho. Convidavam-se os vizinhos para passar o dia trabalhando com um fim específico. Reuniam-se em torno de 20 a 30 pessoas com um objetivo (isso em um contexto rural). Nas cidades, ocorrem mutirões de cidadania. Profissionais das mais diferentes áreas realizam todos os tipos de trabalho e, assim, conseguem alcançar mais pessoas num curto espaço de tempo nos seus respectivos atendimentos. Cabe observar que sempre tem um idealizador do trabalho. Existe uma convocação e um objetivo a ser alcançado.

5. Subsídios litúrgicos

Oração de coleta:

Ó Deus e Pai celeste, Senhor da seara. Teu Filho Jesus disse: “Rogai ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara”. O mundo é teu, Senhor. Tu o fizeste e zela por ele. Tu fizeste, também, com tuas próprias mãos, o homem e a mulher e deles formaste todas as nações da terra. As nações são a tua seara. Teu Filho nos convida a participar da alegria de colher os frutos. Por isso nós te pedimos: capacita-nos para a tua colheita para que também nós nos alegremos, cumprindo a tarefa que nos designaste. Por teu Filho Jesus, nosso Salvador. Amém.

Litania (responsório):

Oficiante: Cantem uma nova canção a Deus, o Senhor. Cantem ao Senhor, todos os povos da terra! Anunciem todos os dias que ele nos salvou. Falem da sua glória às nações; cantem a todos os povos as coisas maravilhosas que ele tem feito. Digam a todas as nações:

Comunidade: O Senhor Deus é grande e merece todo o nosso louvor. Ele deve ser temido mais do que todos os deuses. Porque os deuses das outras nações são somente ídolos, mas o Senhor fez os céus. Ele está cercado de glória e majestade; poder e beleza enchem o seu Templo.

Oficiante: Louvem o Senhor, todos os povos da terra! Louvem a sua glória e o seu poder. Deem ao Senhor a honra que ele merece; tragam uma oferta e entrem nos pátios do seu Templo. Curvem-se diante do Santo Deus quando ele aparecer; trema diante dele toda a terra. Digam a todas as nações:

Comunidade: O Senhor Deus é Rei! A terra está firme no seu lugar e não pode ser abalada; ele julgará os povos de acordo com o que é direito.

Oficiante: Alegre-se a terra, e fique contente o céu. Rujam o mar e todas as suas criaturas que nele vivem. Alegrem-se os campos e tudo o que há neles. Digam a todas as nações:

Comunidade: O reino de Deus está próximo. O Senhor Deus vem governar a terra; então as árvores dos bosques gritarão de alegria diante dele. Ele governará os povos do mundo com justiça e imparcialidade. (Salmo 96 adaptado)


 

 


Autor(a): Jefferson André Samuelsson
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 6º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 10 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 20
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2009 / Volume: 34
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 25105
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