Lucas 11.5-13

Auxílio Homilético

24/05/1981

Prédica: Lucas 11.5-13
Autor: Knut Robert Wellmann
Data Litúrgica: Domingo Rogate
Data da Pregação: 24/05/1981
Proclamar Libertação - Volume VI

 

I - Pedi - e pedi pelo Espirito Santo!

Este texto convida para orar, pedindo. Mas fala também do objetivo do pedido. O trecho é precedido pelo Pai Nosso e culmina no pedido pelo Espírito Santo. Este pedido prepara Pentecostes.

II - Espírito Santo ou Boas Coisas

No v. 13 se encontra o único problema significante do texto grego. Há diversas tradições: Espírito Santo - boas coisas - (o) bem (assim Mt) -Espírito bom (assim o manuscrito antigo p 45). Não conseguiremos achar o termo autêntico. Por isso vamos encarar os diversos termos como complementares.

Outra dúvida: pela situação e pelo dicionário a ANA1DE1A, no v.8 (AUTOU, se refere a quem?), deve ser a insistência do amigo que pede, e não a preocupação do amigo procurado, que se preocuparia com a sua futura fama.

III - Se até o egoísta atende - quanto mais não atenderá Deus!

Jesus transmite a sua mensagem em forma de pergunta (vv. 5 e 11) - de maneira que o ouvinte, pela resposta que ele mesmo deve dar, mudará, ele próprio, o seu relacionamento com Deus. A pergunta será possível que ... ? se dirige a cada ouvinte, como eventual amigo que poderá ser procurado ou como pai. Imagina a tua reação! E a pergunta quer levar à resposta: É impossível! E a conclusão: é mais impossível ainda que Deus não atenda se for procurado. Deus — que não é PONEROS, que é o sim num mundo negativo (Morte e Vida Severina). Por isso, a mensagem não convida para insistir, como se Deus fosse duro, mas para pedir, confiando. Deus é diferente de nós.

IV - Duas parábolas irmãs, do mundo dos pobres e desprezados.

A parábola — somente em Lc — reflete um momento na vida dos pobres. Há milhares de casas de uma peça só nas vilas e nas áreas invadidas de hoje. Querendo imaginar, concretamente, a situação, sentir-se-á o ambiente de necessidade; mas notar-se-á, também, que o maior problema não é a necessidade. Ë a falta de vontade do amigo.

Acho importante considerar, na preparação e talvez até na prédica, também a parábola afim que encontramos — também este só — em Lc 18.1-8. O mesmo mundo, pior ainda: a realidade dos oprimidos.

Acho significante a escolha do ambiente para estas duas parábolas. Não me parece correto sequestrar a mensagem, tirá-la deste ambiente, dizendo que perante Deus, todos nós somos pobres. O correto seria que as pessoas que não fazem parte dos que sofrem necessidade e opressão, dos que estão no centro da Igreja do Novo Testamento e de Cristo — que tais pessoas se fizessem companheiras e auxiliares deste povo central.

V - As boas coisas são as coisas do tempo da salvação.

Nas duas parábolas se trata do necessário: três pãezinhos para um hóspede que está com fome (uma variante: AP AGROU — poderia significar, hoje do interior) — e um apoio jurídico elementar para uma viúva. Com este pano de fundo, Jesus — ou o Cristo que fala através da sua Igreja — promete o Espírito Santo ou boas coisas, ou seja, que Deus fará justiça em favor dos seus eleitos, bem depressa. São estas as promessas de que o povo necessita, quando começa a lutar por sua sobrevivência e pela justiça. Ë importante que Voigt, citando Rm 3.8;10.5 e Lcl.53, lembre que as boas coisas (AGATHA) são as coisas do tempo da salvação, a vinda deste tempo — tempo para os pobres, cativos, cegos, oprimidos (Lc 4.18-19).

VI - As comunidades eclesiais são as fontes do Espirito Santo para quem luta por um projeto histórico.

O tempo de salvação ou o reino de Deus aparece diante de nós como utopia. Na ressurreição de Jesus — que se uniu aos homens que estão sonhando, ansiosamente, com este tempo de salvação — Deus nos promete esta utopia. Nós podemos realizar somente um projeto histórico: não uma sociedade ideal, mas uma sociedade melhor. É disso que falam, há tempo, no Brasil e fora dele, milhares de Comunidades Eclesiais de Base, católicas e evangélicas. Em consequência da abertura política surgiram, em parte das próprias Comunidades de Base, as organizações populares (associação de bairro, grupos de direitos humanos, sindicatos, etc.) que lutam pelas necessidades básicas da sua vila ou categoria. Estão em formação partidos que pretendem mudar as leis. Mesmo assim, as Comunidades de Base que se reúnem em cultos, grupos de reflexão, grupos de confirmandos, etc., não estão sobrando, mas se tomarem ainda mais necessárias. São elas as fontes do espírito da luta. Elas enviam os seus membros para a luta concreta, preparam-no espiritualmente, acompanham-no, observam, fortalecem, questionam, recebem-nos no seu meio para celebrarem juntos os momentos alegres ou tristes da caminhada. Elas pedem de Deus o Espírito Santo e o transmitem aos que estão na luta organizada.

VII - Pedir o Espírito Santo - para quê?

Pode ser que o pedido pelo Espírito Santo, em nosso texto, tenha sua origem no desejo da cristandade antiga, de que o batismo pela água não ficasse somente um batismo aparente. É o desejo dos cristãos pentecostais de hoje, também. Contudo, é igualmente importante que o Espírito Santo não nos isole do mundo, mas nos abra e comprometa. É igualmente importante que ele nos dê o ser do próprio Cristo.

Parece-me necessário pensar em aspectos concretos do Espírito: para que precisamos dele?

1. Precisamos do Espírito Santo para aceitarmos a visão da Igreja que Jesus tinha: no centro, os humildes (o amigo do nosso texto) e os oprimidos (a viúva). E nós, com as nossas capacidades e bens, estamos no segundo plano, Irmãos e auxiliares deles. Precisamos de Espírito para sair do particularismo da fé.

2. Precisamos do Espírito para conseguirmos viver o perdão. Sem saber dar e receber perdão o povo de Deus não vai avançar. Quantas coisas acontecem no meio do próprio povo de Deus! De repente o amigo não é mais amigo porque vem incomodar durante a noite (observe quem chama quem de amigo). E o amigo que foi pedir deixa o amigo que quase não atendeu. Ü reino de Deus, e também aquele projeto histórico que realizaremos, não se constrói apenas com organizações e manifestações, mas por um relacionamento muito profundo entre as pessoas. Caso contrário, cai o povo de Deus. Na Páscoa, depois de ter dado o seu Espírito aos discípulos, Jesus se refere somente à remissão dos pecados (Jo 20.22-23). Precisamos do Espírito para, depois das discussões, sabermos procurar-nos mutuamente, chorando, em vez de separar-nos, ofendidos.

3. E precisamos de um espírito diferente do nosso para podermos caminhar ao encontro do reino de Deus (Pai Nosso) assim como Jesus caminhou: numa não-violência ativa. Jesus não usava outras armas além da verdade, do amor e - da confiança em Deus. Deixou o resultado por conta de Deus e confiou nele. Foi este o seu contato autêntico com Deus e deve ser o nosso, também. Nossas duas maneiras de ser igreja, igreja tradicional ou igreja progressista, com as suas respectivas mensagens: consolo particular para tudo ou libertação do povo - ambas em nome de Deus, são suspeitas. Será que aqui o próprio homem nâo inventou a mensagem conforme seus desejos e suas necessidades? Mas lutar permanentemente e nunca recorrer à violência, mesmo que se sofra violência, e não odiar, esperando de Deus o resultado (que não seja vingança): isto me parece uma mensagem menos humana e uma relação mais autêntica com o próprio Deus. Para esta união com o verdadeiro Deus, o Deus de Jesus — para esta não-violência tão ativa e tão confiante, precisamos do Espírito*Santo.

VIII - Escutem, nossos amigos humanos - e escute, Pai celeste: chegou a nós um povo inteiro!

A prédica tem que partir da situação da comunidade: bem situada ou pobre, evangélica!, voltada para a realidade ou tradicional. Seja como for minha mensagem abordaria os seguintes aspectos:

1. O texto nos leva a um ambiente muito humilde — e o outro texto bem parecido (da viúva), nos leva ao mundo daqueles que sofrem injustiça. No meio desta gente Jesus viveu. É por isto que aqui, agora, está o centro da Igreja cristã. E a mensagem do texto é para esta gente e para os que estão voltados para esta gente. Disse alguém: ao ler a Bíblia leve consigo, na sua lembrança, o povo ao qual ela pertence.

2. Pode-se ampliar e atualizar o pequeno exemplo do texto. Levantam-se, hoje em dia, categorias inteiras de operários para pedir ou exigir, nas greves, o que precisam. E levantam-se os patrões mesmo que seja somente por causa da importunação. Quanto mais Deus não atenderá, que mandou o seu filho para o meio dos que sofrem!

3. Atenderá com quê? Nós que não sofremos necessidade nem injustiça, mas sentimos a situação dos que sofrem, poderíamos ser o amigo que sai para pedir — acordando os nossos amigos governantes: Veio a nós um povo inteiro e não sabemos como atendê-lo! Será que na resposta, na reação seremos chamados de amigos também? Nós, os necessitados, os injustiçados e seus auxiliares, queremos as boas coisas do tempo da salvação (AGATHA), queremos o próprio tempo de salvação, o reino de Deus onde ninguém mais vive sacrificado pelo irmão. Sabemos que não conseguiremos o ideal - conseguiremos apenas melhoramentos num projeto histórico.

4. Nesta caminhada não teremos progresso de verdade sem o Espírito de Deus. Precisamos dele, em primeiro lugar, para o próprio povo e os que o acompanham. É preciso viver a reconciliação e é preciso saber viver e não-violência. Por isto, chegamos aos amigos humanos, pedindo: Veio um povo a nós, e precisa de pão e de tudo que faz parte do pão de cada dia. E procuramos Deus, pedindo: Chegou a nós o povo imenso e precisa, para sua caminhada de luta, do Espírito de Cristo. São as comunidades cristãs e seus membros que devem, conforme a sua posição, procurar justiça nos amigos terrestres, e que devem procurar de Deus o Espírito de Jesus.

5. Por sua parte, Deus não quer e não vai falhar. Talvez não responda dramaticamente, num dia determinado: Pentecostes. Mas dará em medidas crescentes. E cada um de nós deveria descobrir, agora já, onde há um sinal ou sinais do Espírito de Deus, numa pessoa, ou num grupo, ou numa comunidade. Assim, os cartazes colocados no ano passado, Ele (Jesus) mudou o rumo da humanidade, serão justificados, pelo menos nas exceções. E uma coleção, uma troca de experiências sobre sinais do Espírito Santo em nosso meio poderia levar à alegria da festa de Pentecostes.

IX - Bibliografia

- LANG, F. Meditação sobre Lucas 11.5-13. In: Calwer Predigthilfen. Vol.7. Stuttgart, 1968.
- RENGSTORF, K. H. Das Evangelium nach Lukas. In: Das Neue Testament Deutsch. Vol.12. 5.ed. Göttingen, 1949.
- VOIGT, G. Meditação sobre Lucas 11.5-13. In: -. Der rechte Weinstock. 2.ed. Göttingen, 1974.


Autor(a): Knut Robert Wellmann
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Páscoa
Perfil do Domingo: 6º Domingo da Páscoa
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 11 / Versículo Inicial: 5 / Versículo Final: 13
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1980 / Volume: 6
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 18249
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