Lucas 12.32-40

Auxílio Homilético

11/08/2019

 

Prédica: Lucas 12.32-40
Leituras: Gênesis 15.1-6 e Hebreus 11.1-3,8-16
Autoria: Marcos Henrique Fries
Data Litúrgica: 9º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 11 de agosto de 2019
Proclamar Libertação - Volume: XLIII

Vivendo como herdeiros do Reino

1. Introdução

O texto de Lucas 12.32-40 já foi estudado em Proclamar Libertação (PL) em duas oportunidades: PL 17 e PL 37. Os textos complementares – Gênesis e Hebreus – abordam a temática da fé e da esperança. Fé, conforme os textos, é a certeza e a convicção de que Deus agirá, de que Deus fará o que prometeu, embora as circunstâncias pareçam dizer o contrário. Essa fé, que espera pelo cumprimento da promessa, é ativa e se concretiza num determinado estilo de vida ou numa nova escala de prioridades, o que o texto de Lucas ajudará a entender.

2. Exegese

O capítulo 12 do Evangelho de Lucas apresenta um discurso de Jesus dirigido a uma multidão (12.1), contra os ensinamentos dos fariseus. Esses procuravam motivos para acusá-lo (11.54). É desejo de Jesus que as pessoas confessem-no como Senhor e Salvador (v. 8). A pregação é interrompida por um dos ouvintes, que quer que Jesus interceda por ele numa questão de herança. Esse pedido leva Jesus a tratar do assunto “avareza”, ou o acúmulo de riquezas, o qual é reprovado. Jesus exorta à confiança no cuidado de Deus para com os seus (v. 29-30) e convoca os discípulos a buscarem o reino de Deus, na certeza de que suas necessidades serão providas (v. 31). É dentro desse contexto que nossa perícope se encontra, iniciando com uma promessa. A partir do v. 32 Jesus se dirige aos seus discípulos.

V. 32 – Pequenino rebanho – Essa expressão tanto pode apontar para o grupo dos discípulos, pequeno no tamanho, ou ainda para o grupo dos verdadeiros cristãos, ainda hoje pequeno, como para o fato de que é para os pequenos, os fracos, os desconsiderados do mundo que Jesus faz a promessa. Vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino – Jesus deseja compartilhar sua glória vindoura com seus discípulos e com as pessoas cristãs fiéis e tementes a Deus. Ele deseja que seus seguidores e suas seguidoras reinem com ele na eternidade.

V. 33 – Contrastando com a ideologia de nossa sociedade consumista, o discípulo deve servir ao seu próximo, vendendo seus bens e dando esmola; deve igualmente buscar juntar tesouros para a eternidade, que não são perecíveis como os tesouros da terra.

V. 34 – Quando uma pessoa considera algo valioso, ela direciona seu coração (suas preocupações, suas prioridades) para esse algo, passando a viver  em função de obtê-lo ou preservá-lo. Jesus quer que seus discípulos direcionem seu coração para o reino de Deus, fazendo dele o seu tesouro e aquilo que priorizam e buscam diligentemente, em oposição à ideologia do nosso mundo, que busca riquezas materiais.

V. 35 – Cingido esteja o vosso corpo – é um passo para o estado de prontidão. O reino que os discípulos são convidados a buscar, do qual agora, pela fé em Jesus, já podem experimentar sinais, será instalado em definitivo com o retorno de Jesus. Cingir os lombos consistia em usar vestes longas, amarradas à cintura, que não impediam de fazer movimentos rápidos ou realizar um serviço pesado. Acesas as vossas candeias – as luminárias deveriam estar acesas para o caso de o chamado para o trabalho acontecer durante a noite, em horário inesperado.

V. 36 – Jesus compara os discípulos a servos que devem estar dispostos a servir ao seu senhor, enquanto aguardam pelo seu retorno.

V. 37 – Bem-aventurados os servos a quem o Senhor encontrar vigilantes. Quando o senhor chegar, ele avaliará de que maneira seus servos agiram e servirá aqueles que foram fiéis. O senhor que encontra seus servos em prontidão fica contente. Ele fica tão contente que inverte os papéis normais e os põe sentados à mesa, enquanto lhes serve uma refeição. A fidelidade será recompensada.

V. 38 – Segunda... terceira vigília: no sistema de tempo romano, essas vigílias estariam entre 21h e 3h. No sistema judaico, elas ficariam entre 22h e 6h. Independente disso, Jesus está exortando para a vigilância constante.

V. 39-40 – Ambos os versículos apontam para a hora incomum do retorno de Jesus, tarde da noite. Assim como não se pode prever a chegada do ladrão, não se pode calcular o dia e a hora do retorno de Jesus.

3. Meditação

Uma multidão cerca Jesus. Ele tem muito a dizer. A essa altura de seu ministério, Jesus já havia proferido muitos discursos arrebatadores, feito muitos milagres, servido muitas pessoas. Sua fama já se havia espalhado. Onde ele está, uma multidão se aperta para escutá-lo. Mas, aparentemente, há um descompasso entre o conteúdo da pregação e o interesse dos ouvintes. Enquanto ele convoca as pessoas para recebê-lo como Senhor de suas vidas, há quem esteja mais preocupado com questões materiais (herança). Jesus aproveita a intervenção do ouvinte para condenar essa preocupação doentia com os tesouros da terra, com o acúmulo de riquezas. Essa, segundo Jesus, não deveria ser a questão maior da existência. Em vez de correr atrás de bens, de juntar tesouros, as pessoas deveriam ocupar-se com seu destino eterno. Na parábola, nos v. 16-21, ele lembra que a vida de um ser humano não consiste na abundância dos bens que ele possui (v. 15). E que mesmo o homem rico, cujo campo muito produziu, poderá não estar preparado para quando o seu fim chegar. Jesus, então, dirigindo-se especificamente aos seus discípulos, convida a uma vida de confiança na providência de Deus (v. 22-30) e a busca pelo reino (v. 31). Deus se agradará em dar esse reino aos seus, aos que por não acumularem tesouros aqui são pequenos aos olhos do mundo, mas reinarão com Cristo na eternidade.

Justamente nessa promessa descrita no v. 32 está a motivação para o que Jesus propõe em seguida. Quem crê nessa promessa de reinar com Cristo na eternidade viverá de um modo novo aqui na terra. Essas pessoas passarão a ter novas prioridades. Não mais acumularão riquezas, mas venderão suas posses e darão esmolas. Disporão de seus bens para a obra de Deus e para o socorro ao necessitado; afinal, seu coração agora está na eternidade, e não nas riquezas. Aquele que crê na promessa de Jesus procurará estar sempre atento, pois Jesus, com seu reino, poderá chegar a qualquer momento. É importante permanecer vigilante: a filosofia consumista pode desviá-lo novamente de seu propósito de buscar a Deus e seu reino.

Hoje, multidões continuam a cercar Jesus, ao menos no Brasil. Que querem essas multidões? Seria bom se estivessem em busca de conhecer Jesus, atender ao seu chamado por arrependimento e mudança de vida, sujeitar-se ao seu senhorio e dispor-se a ser instrumento dele na transformação do nosso mundo. Mas não! A exemplo daquele ouvinte apresentado por Lucas, que estava em disputa por herança, também hoje o que se quer é prosperidade material. Esta é a filosofia do nosso tempo: acumular tesouros, comprar, viajar, ostentar. E há igrejas dispostas a alimentar essa ideologia do consumo, apresentando Jesus como alguém que pode satisfazer a fome de riqueza. Mesmo as igrejas históricas, cujo discurso oficial não sustenta a chamada “teologia da prosperidade”, devem saber que entre os seus ouvintes há quem esteja mais preocupado com a posse de bens do que com a posse do reino de Deus.

Ser rico, ter muitos bens materiais, garantir um presente e um futuro confortáveis e ostentar poderio econômico são valores tidos em nosso século como objetivos de vida a serem perseguidos, com vistas a uma existência feliz e completa. A razão da existência passa a ser o dinheiro. E tudo girará em torno dessa razão. Logo, já não há espaço para as coisas de Deus. Culto e vida devocional tornam-se supérfluos, senão estorvos. Servir e socorrer ao necessitado são atitudes que concorrerão com a busca desatinada por dinheiro. Mas, o fim de todos chegará. Nenhuma posse adquirida e conservada aqui na terra poderá ser levada para o além. Tudo o que se conquistou aqui, aqui ficará e apodrecerá. E o que teremos preparado para o encontro com Deus? Nada, pois não fizemos nenhum investimento na eternidade. Adquirimos tesouros na terra e para a terra, mas nada para a eternidade.

Jesus vem. Ele instalará em definitivo o seu reino. E ele quer que compartilhemos com ele esse reino, que é maior e melhor do que qualquer bem terreno. É preciso crer nessa promessa, mesmo que aos olhos da cultura consumista ela não nos ofereça nenhuma vantagem imediata, como Abrão e Sarai, sem filhos e idosos, chamados a esperar contra a esperança. E enquanto se espera, é preciso servir e permanecer vigilante. Talvez o próprio mundo saia beneficiado, pois o que corre atrás de riquezas e ostentação contribui para uma existência injusta e excludente, enquanto o que espera pelo reino de Deus reparte seus bens, socorrendo o necessitado (v. 33).

4. Imagens para a prédica

Uma ilustração que poderá ser usada na prédica é a de correr atrás de tesouros e esquecer o que é mais importante.

A caverna do tesouro

Uma mulher pobre passeava com seu filhinho num bosque quando ouviu uma voz que vinha de dentro de uma caverna:

Aqui dentro há muito ouro, prata e pedras preciosas. Pegue o que quiser.

Meio desconfiada, olhou no interior da caverna e constatou que, de fato, ela estava recheada de tesouros insondáveis.

– Posso mesmo pegar o que quiser?

Sim, mas você poderá encher apenas uma sacola e terá apenas dois minutos para escolher o que quer levar. Depois desse tempo, saia correndo, pois a caverna se fechará para sempre com tudo o que ainda estiver aqui dentro.

Pressionada pelo tempo e com tantas opções à sua frente, a mulher escolhia, juntava, trocava, destrocava, ajeitava os objetos na sacola, trocava novamente.

Agora você tem apenas 10 segundos… 9, 8, 7

Ela pegou mais umas pedras preciosas.

6, 5, 4

Pegou mais um cálice de ouro e saiu correndo. Já do lado de fora, ainda teve tempo de assistir a entrada da caverna se transformando num imenso paredão de rocha. Olhou a sacola, avaliou o que havia conseguido juntar e concluiu que agora era uma mulher rica, que poderia dar ao seu filho uma vida melhor…

Meu Deus… meu filho!

Na correria, esqueceu seu filho dentro da caverna. Para sempre!

5. Subsídios litúrgicos

A oração a seguir pode ser feita em dois grupos. Trata-se de uma oração de compromisso.

Queremos ser teus servos (Orígenes)

Senhor,
queremos ser teus servos e a ti pertencer.
A ninguém mais queremos agradar,
nem ao espírito da raiva,
nem ao espírito da tristeza,
nem ao espírito da cobiça.
Ao teu chamado respondemos:
veja, somos teus
e isso queremos comprovar por nossas obras.
Fizemos nossa promessa
e a ninguém outro obedeceremos,
pois somente tu, ó Senhor, és nosso Deus.
Não reconhecemos nenhum outro deus,
nem o estômago, como os glutões, cujo deus é a barriga;
nem o ouro, como os avarentos;
nem a avareza, que é idolatria;
nem reconhecemos qualquer outra coisa como Deus,
ou colocamos na mesma altura de Deus, como fazem muitos.
Nosso Deus é aquele que está sobre tudo,
que tudo traspassa e em tudo está.
O amor a Deus é nosso único valor,
pois o amor nos torna unos com Deus.
E dizemos: veja, somos teus, pois és nosso Senhor Deus.

Bibliografia

MORRIS, Leon L. Lucas: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1996.
STÖGER, Alois. O Evangelho Segundo Lucas. Petrópolis: Vozes, 1973.

 


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Autor(a): Marcos Henrique Fries
Âmbito: IECLB
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2018 / Volume: 43
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 50305
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Ainda não somos o que devemos ser, mas em tal seremos transformados. Nem tudo já aconteceu e nem tudo já foi feito, mas está em andamento. A vida cristã não é o fim, mas o caminho. Ainda nem tudo está luzindo e brilhando, mas tudo está melhorando.
Martim Lutero
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