Lucas 16.1-9

12/08/1979

Prédica: Lucas 16.1-9
Leituras:
Autor: Martin Norberto Dreher
Data Litúrgica: 9º Domingo após Trindade
Data da Pregação: 12/8/1979
Proclamar Libertação - Volume: IV
Tema:


I - Sugestão de Tradução

V.l: Disse ele também aos discípulos: Havia um homem rico que tinha um administrador e este foi denunciado diante dele como un que estava esbanjando a sua propriedade.

V.l: Mandou chamá-lo e lhe disse: Que tenho que ouvir a teu respeito? Presta contas da tua administração! Pois não podes mais ser administrador!

V.3: O administrador pensou consigo mesmo: Que farei, pois meu senhor tira de mim a administração? Não posso cavar; tenho vergonha de mendigar.

V.4: Sei o que farei para que me recebam em suas casas, quando for demitido da administração.

V.5: E, chamando a si cada um dos devedores de seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor?

V.6: Este respondeu: Cem bath de óleo. Aquele, porém, disse: Toma tua conta, assenta-te e anota ligeiro: cinquenta.

V.7: Então disse a um outro: Tu, quanto deves? Este respondeu: Cem kor de trigo. Ele, porém, lhe disse: Toma tua conta e escreve: oitenta.

V.8: E o senhor louvou o administrador daquilo que é mau porque agira de maneira sábia. Pois os filhos deste mundo são mais sábios que os filhos da luz em relação a sua própria geração.

V.9: E eu vos digo: Fazei amigos da riqueza iníqua para que eles vos recebam nos tabernáculos eternos quando ela terminar.


II — Contexto

Nosso texto é precedido pela parábola dos dois filhos. Jesus dirige-se a seus discípulos, mas os fariseus, aos quais ele até agora se dirigira, não desaparecem do cenário. O uso do termo esbanjar em 15, 13 e 16,1 relaciona os dois textos. O esbanjamento de bens a eles confiados é o que relaciona o filho mais jovem e o administra¬dor. Um volta ao pai, o outro devolve o que tirara a mais dos outros. O administrador sucumbe ante a questão da propriedade, que é formulada também no final da parábola dos dois filhos (v. 31: tudo que é meu, é teu), surgindo assim a pergunta: Como é que a propriedade é administrada de maneira correta? Em 14,26-35 foi exigida, dos discípulos, a desistência de toda e qualquer proprieda¬de, agora eles são instruídos a esse respeito. No texto subsequente ao nosso, na parábola do rico e de Lázaro, a temática de nosso texto é continuada.


III - O Texto

A narrativa apresentada bem pode ser a reprodução de um escândalo sensacional, realmente ocorrido, o qual Jesus toma para ensinar seus ouvintes (Jeremias, Gleichnisse, na passagem). Quer que se aprenda da sabedoria do homem que age de maneira aparentemente fraudulenta. A pergunta que fica, no entanto, é: Em que sentido é que se deve aprender?

V.1: Jesus dirige-se especialmente a seus discípulos e conta a respeito de um homem que tem um administrador. Tem diante de seus olhos a situação da Galiléia: Latifúndios que estão nas mãos de estrangeiros e que são administrados por pessoas da terra que, por sua vez, devem prestar contas ao proprietário. (É a mesma situação de Mc 12,1ss.) Este administrador é acusado de esbanjar os bens que lhe foram confiados pelo senhor.
V.2: O latifundiário convoca o administrador. Nada é dito a respeito de um exame acurado da acusação. O que é exigido é uma prestação de contas, devendo ser apresentados todos os documentos (notas de venda, promissórias); ao mesmo tempo é anunciada a demissão do administrador. A pergunta. Que tenho que ouvir a teu respeito? mostra a irritação do latifundiário. Aqui não há mais chances para um revide, ou para desculpas!
V.3: O administrador encontra-se em uma situação muito difícil. Em um monólogo ele confessa seu desnorteamento. Não tem condições para o trabalho braçal, ou não gosta dele (Não é possível distinguir isso no texto). Resta-lhe apenas ser mendigo, esmoleiro; mas envergonha-se em dar este passo.
V.4: O que lhe resta é fazer-se amigos através de uma manobra à primeira vista fraudulen¬ta. Estes amigos poderão protegê-lo na hora do aperto, quando tiver que apresentar as notas de venda e as promissórias.
V.5-7: O administrador chama os devedores e procura torná-los seus amigos. As promissórias são adulteradas (100 bath de óleo correspondem ao óleo produzido por 140 oliveiras! 100 kor de trigo correspondem à produção de 42 ha). Os números do texto evidenciam que são grandes somas que estão em jogo. - Aqui a narrativa é interrompi¬da sem que se fique sabendo a respeito dos resultados das manobras do administrador em relação aos devedores. Em relação ao seu senhor, a situação é modificada.
V.8: O senhor que antes o ameaçara de suspensão das suas atividades agora o louva. - Aqui se iniciam as discussões dos exegetas de todos os tempos! Como pode o senhor louvar a um espertalhão?! Ele o pode porque aqui não houve esperteza, aqui houve arrependimento! Aqui é importante que se reconheça que para Lucas os pecadores não são pessoas que falharam perante a lei, mas pessoas que falharam em relação à propriedade (Lc 19,8; 15,13.30) (cf. Goppelt, Theologie des NT, Vol. II, p. 616s). O administrador que falhara diante de seu senhor, sendo mau administrador, mostra seu arrependimento, devolvendo ao próximo aquilo que dele tirara, demonstrando-se como administrador ao qual o senhor pode louvar. Até agora ele fora um administrador daquilo que em si é mau (oikonomos tes adikias é genitivus qualitatis). Arrependendo-se ele age de maneira sábia, isso pode-se aprender dele já que o juízo de Deus está prestes a irromper. Sábio é o homem que em meio a uma vida passageira não se esquece que o reino, o domínio de Deus está próximo (cf. Lc 12,42ss; Mt 7,24s). - O termo filhos da luz é designação que os monges de Qumran davam a si mesmos. O termo deve ter suas origens entre os Chasidim, movimento do qual surgiram os fariseus e os monges de Qumran. O termo também veio a ser designação para os cristãos (cf. Jo 12,36; Ef 5,8). A eles se contrapõem os filhos da treva, designados aqui de filhos deste mundo. Jesus refere-se neste dito, certamente, aos monges de Qumran, querendo dizer aos discípulos que eles podem aprender mais do administrador do que dos homens piedosos que os cercam e que não possuem a sabedoria do administrador (cf. Grundmann, Lk, p. 320). Nesse sentido também o v. 9 admoesta os discípulos a agirem de maneira sábia. Agir de maneira sábia significa aqui, conseguir amigos com o mammon tes adikias. O termo mammon é um termo proveniente da língua hebraica e ali é deduzido de um radical, cujo significado é confiar, devendo ser traduzido com: aquilo em que se confia, o que é seguro. O termo é desconhecido ao AT, mas pode ser encontrado na literatura rabínica e de Qumran, significando aí: propriedade, posse, havendo tendências para torná-lo termo técnico para a propriedade adquirida de maneira incorreta (cf. F. Hauck, ThWB IV, p. 390-392). - Os amigos podem ser os anjos de Deus que recebem os remidos nos tabernáculos eternos, ou homens que no dia do juízo servem de testemunhas de defesa, por haverem recebido as obras de amor dos que estão sendo julgados. Eles recebem aqueles que administraram de maneira sábia os bens terrenos nos tabernáculos eternos. Segundo Mc 9,5 na consumação escatológica os remidos habitarão em tabernáculos como outrora o povo de Deus no deserto.

IV — Para a meditação

Lutero: Este evangelho é uma pregação a respeito de boas obras e especialmente contra a avareza, para que não abusemos do dinheiro e da propriedade, mas para que auxiliemos pessoas pobres e necessitadas. Como o Senhor afirma no final, v. 9, com palavras claras: Fazei amigos da riqueza iníqua, i.e., auxiliai pessoas pobres com vosso dinheiro e bens. Este é o ensino do Senhor (Hauspostille).

Nosso texto é um espelho de problemas da comunidade cristã através dos tempos: Como administrar nossas propriedades, nossos bens e sermos discípulos de Jesus? Se tudo o que é meu é do Senhor (Lc 15,31), como posso administrar corretamente o que é do Senhor? E mais: Estou em um mundo no qual reconheço que toda a riqueza, toda a propriedade é de origem iníqua, no qual também meu ordenado de pastor é de origem iníqua. Como administrar corretamente na fábrica, onde o capital que meus avós, meus pais e eu ajuntamos vem de origem iníqua? Como administrar, por outro lado, corretamente para que o capital ajuntado não se vá, fazendo assim com que os que trabalham não tenham mais com o que viver? Como administrar corretamente como operário, bens a mim confiados, como administrar minhas horas de serviço (qual a minha posição frente à morosidade no serviço)? Como administrar bens de origem iníqua no meio, rural, quando sou bodegueiro (Vendist), quando trabalho com o caderno-de-ovos ou o caderno-de-manteiga? Qual o preço justo dos ovos e da manteiga? Qual o preço justo do tecido e da bacia de plástico que permuto com o agricultor em troca de seus ovos e de sua manteiga? Como administrar quando sou agricultor?

O capítulo 16 de Lucas quer me falar a respeito de proprieda¬de, de dinheiro. Ele me pergunta como é que eu uso propriedade, dinheiro. O texto me fala de que estou a caminho, em direção ao grande alvo. Nesta caminhada, justamente o dinheiro, a propriedade: pode se transformar em um tropeço que faça surgir a pergunta do Senhor: Que tenho que ouvir a teu respeito? Presta conta da tua administração. É horrível ter que se ouvir: Não podes mais ser administrador''. - O dinheiro, a propriedade, o mammon em si não é mau, mas ele faz parte deste mundo injusto e por isso torna-se importante que venha a ser usado de maneira correta nas mãos dos discípulos. E necessário que os discípulos imitem o administrador no arrependimento e na aplicação dos bens em favor do outro. É aqui que o cristão deve ser vigilante. Ele está na situação daquele que pode perder tudo: Não podes mais ser administrador. Por isso ele não deveria brincar com a graça de Deus. O maior e mais profundo interesse dos discípulos deveria ser, administrar sua propriedade de acordo com a regra apresentada por Jesus! Na administração de seus bens, no uso do dinheiro, o cristão é chamado a comprovar a liberdade dos filhos de Deus, tendo olhos, ouvidos, mãos e pés para as necessidades do outro. É através de meus olhos que Deus vê, de meus ouvidos que ele ouve, de minhas mãos que ele auxilia, de meus pés que ele vai ao encontro do outro.

Também esta parábola me fala em salvação. Mas a salvação não me vem do dar ao que não tem, da boa obra. A salvação me vem da palavra que Deus me dirige: Que tenho que ouvir a teu respeito? Diante dessa encruzilhada eu fico desnorteado. Mas, aqui nesta encruzilhada entre o céu e o inferno Jesus Cristo pende da cruz. Ali na cruz ele está dependurado por mim. Ali ele pende da cruz para dizer que o caminho para a vida ainda está aberto, que ainda é tempo agradável, que o Pai ainda está à espera, que ele ainda não nos tirou a administração.

Também a palavra a respeito dos filhos da luz e dos filhos das trevas me dá o que pensar. Os filhos das trevas são ativos adulteram, roubam, matam e não se cansam de fazer isso, mas os filhos da luz, os piedosos cristãos (aí estou incluído) são preguiço¬sos, desleixados no que toca à causa de Deus. Lutero diz nesse contexto que os filhos das trevas correm desabaladamente em busca do inferno, esforçando-se para lá chegarem, enquanto que os filhos da luz, que são chamados de cristãos, são preguiçosos e desleixados. Eu deveria dar uma cuspida em meu rosto por não engatinhar em direção aos céus. enquanto que eles correm e caminham apressadamente em direção ao inferno.

V – Bibliografia

- GRUNDMANN, Walter. Das Evangelium nach Lukas. Berlin. 971.
- RENGSTORF. Karl Heinrich. Das Evangelium nach Lukas. Göttingen. 1968.
- GOPPELT, Leonhard. Theologie des Neuen Testaments. V. II. Göttingen. 1976.
- JEREMIAS, Joachim. Gleichnisse Jesu Göttingen, 1965.
- LUTHER. Martin. Hauspostille. Hannover 1905

 

Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia
 


Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 10º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 16 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 9
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1979 / Volume: 4
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 11385
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