Lucas 24.13-35

Auxílio Homilético

26/11/1980


CELEBRAÇÃO DA SANTA CEIA - Lucas 24.13-35 - Martin Weingaertner

I - Nossas celebrações

Sexta-feira Santa: Nossa igreja no culto à noite está lotada. Apesar das cadeiras postas no corredor, e das crianças sentadas nos degraus do altar, há muita gente de pé. Antes e durante o culto reina silêncio fúnebre. Na celebração da Ceia quatro senhoras da Oase colaboram na distribuição do pão e do cálice. Em grupos de vinte os comungantes vêm provar a migalha de pão e o pingo de vinho. Ao final, depois da oração e do canto de louvor, amigos ainda trocam um boa-noite e logo todos se dispersam pela noite, rumo aos seus lares.

Nossa tradição polarizou a celebração da Ceia na semana da Paixão. Em outras épocas do ano a participação na Ceia não chega a um terço daqueles que a procuram na quaresma. Com isto nossas celebrações adquiriram aspectos estranhos:

- A raridade das celebrações da Ceia nas comunidades evangélicas fez-nos perder o senso para o seu caráter de refeição, bem como para suas implicações cotidianas. Em vez disto, a Ceia adquire características religiosas (ciclo anual, ritual) e mágicas (remédio para a imortalidade).

- A massificação da semana da Paixão bloqueia a comunhão. Simplesmente não acontece compartilhar. Como substitutivo infiltra-se um individualismo do tipo cada um para si e Deus para todos. Ninguém se sente compelido a estender a mão ao estranho ao seu lado, muito menos ao inimigo no outro canto da igreja. Como em Corinto o faminto não sai saciado de nosso encontro.

- Apesar de haver pregações em nossos cultos de Santa Ceia parece haver uma desvinculação de palavra e Ceia. A desproporção existente entre cultos de pregação e celebração da Ceia são um indício. Outro é a presença de muitos membros marginalizados da pregação dominical, nos cultos de Santa Ceia.

II - Orientação

Neste contexto quero destacar da leitura de Lucas 24.13-35 três aspectos:

— O Senhor em nossa jornada: Costumamos comparar nossa vida com uma caminhada. Eis aí dois discípulos a caminhar. Eles representam-nos em nossa caminhada. No entanto, não podemos afirmar que os dois discípulos estejam numa caminhada de fé. Pelo contrário, esta caminhada resulta de descrédito da mensagem da ressurreição e leva as marcas do medo, da fuga e de frustração. Mas também nisto eles estão em nosso lugar. Pois, quem de nós andou o dia inteiro procurando o seu irmão, querendo ser instrumento do Teu amor, do Teu perdão? Não será também nossa jornada, um caminhar de Jerusalém à Emaús? Um andar no escuro, na tristeza, um praticar da descrença de fato? Sim, nós também andamos para nosso Emaús!

E, justamente, desta nossa caminhada participa incógnito o nosso Senhor ressurreto que continua a missão do Filho do Homem que busca e salva o perdido. Este colocaí-se ao nosso lado traz luz na escuridão. Há esperanças! Louvado seja este Senhor.

— A palavra — instrumento de sua boca: O peão na fazenda busca uma rês com o laço. Um policial busca o foragido da justiça com algemas. Mas o Senhor ressurreto não faz uso de instrumentos de coação para buscar seus discípulos: seu instrumento é a palavra. Ela suscita fé: A fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo (Paulo, Rm 10.17). Não há outro caminho, pois como crerão naquele de quem nada ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? (Rm 10.14).

Afastados desta palavra redentora, alheios à mensagem do evangelho, não há fé, e sem fé não haverá jamais reconhecimento da realidade do redentor. Por isto a celebração da Ceia não pode prescindir do anúncio da palavra. Pois ela transforma nosso caminho em Seu caminho, conduzindo-nos à verdade e à vida. Por isto haveremos de empenhar-nos por esta Sua palavra, proclamando-a em simplicidade e com paciência.

— O partir do pão — sinal de sua presença: Sua palavra faz o coração arder e capacita a ver no partir do pão a presença do Senhor. Pela fé podemos reconhecer nesta humilde refeição a realidade que nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano: o amor de Deus por seu mundo, revelado em Jesus Cristo.

E bem diz o ditado alemão Wessen Brot ich ess, dessen Lied ich sing (= O peão que recebe seu pão, defende seu patrão): quem, pois, compartilhou deste partir do pão do Senhor e teve seus olhos abertos, jamais deixará de glorificá-lo. Saciado em sua mesa, jamais terá fome. E por isto glorificará seu patrão!

III - O que fazer?

Sugiro dois passos concretos:

- Caminhar com os grupos da palavra (Oase, JE, Estudo Bíblico, etc.) até o partir do pão, procurando por novos caminhos que vençam as limitações de nossa tradição. Aqui a ênfase seria: a Ceia.

- Nas inevitáveis celebrações para multidões deveremos optar por dar ênfase à palavra, lutando por um testemunho simples, concreto e inconfundível. Não há outro caminho.


Autor(a): Martin Weingärtner
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 24 / Versículo Inicial: 13 / Versículo Final: 35
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1980 / Volume: 6
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 18242
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