Lucas 24. (44-49) 50-53

Auxílio Homilético

08/05/1997

Prédica: Lucas 24. (44-49) 50-53
Leituras: Atos 1.1-11 e Efésios 1.(16-20a) 20b-23
Autor: Almir dos Santos
Data Litúrgica: Ascensão
Data da Pregação: 08/05/1997
Proclamar Libertação - Volume: XXII

1. Dia da Ascensão do Senhor

Um sacerdote anglicano escreveu que a ascensão do Senhor aos céus marca o triunfo de Jesus Cristo e sua contínua presença conosco. Isto é uma questão de fé e razão, acessível apenas aos que crêem. Essa afirmação na verdade não restringe esse privilégio apenas aos cristãos. Ela é extensiva também àqueles que ainda vão ser. Nessa perspectiva, diz o sacerdote, a experiência de Cristo entre nós, aqui e agora, é uma oferta a toda a humanidade.

Para atingirmos esse padrão elevado não precisamos escalar as montanhas do misticismo e do domínio teológico. Uma coisa só é necessária. É fácil e está ao alcance de todos. Não há necessidade de subir montanhas. Pelo contrário, deve-se descer das montanhas do orgulho, da inveja, da malícia, das ambições desordenadas e do poder explorador. Quem descer dessas montanhas encontrará o Senhor Jesus entre os que sofrem fome, sede e outros dissabores. Assim sendo, interpretando teologicamente a ascensão, se assim o quisermos, recomendam os anjos que não se fique a olhar para o céu, mas que se espere e prepare a volta gloriosa do Senhor Jesus. Esta é, até o fim dos tempos, a missão da Igreja, em tensão entre o visível e o invisível, entre a realidade presente e a futura cidade para a qual caminhamos.

2. O Destino do Ser Humano: o Ser Humano à direita de Deus

A fórmula do nosso Credo: ressuscitou dos mortos, subiu aos céus, está sentado à direita do Pai exprime a fé pessoal da Igreja no destino de Jesus de Nazaré. Esse homem, com o qual os apóstolos comeram e beberam durante sua existência terrena, tornou-se Senhor depois de sua morte, porque o Pai o associou definitivamente à sua vida, ao seu poder sobre os seres humanos e sobre o mundo: Todo poder me foi dado no céu e na terra (Evangelho A).
Vivo, depois de sua paixão (1a Leitura), ele está presente entre os seus numa nova dimensão, e anda com eles nos caminhos do inundo, para onde os envia como testemunhas da ressurreição, anunciadores do perdão dos pecados e da vida de filhos de Deus, portadores da força do Espírito que reúne as pessoas de todas as nações na única Igreja. Com a f é e o Batismo, todas as pessoas entram na nova dimensão do Ressuscitado, pensam e buscam as coisas do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus (Cl 3.1), participam, como membros do corpo de Cristo, da ' 'plenitude daquele que completa inteiramente todas as coisas (2a Leitura).

Pensando nessa realidade, podem-se compreender as expressões de entusiasmo dos antigos cristãos: ' 'A ascensão do Cristo é a nossa ascensão; já que o corpo é convidado a elevar-se até a glória em que o precedeu a cabeça, vamos cantar nossa alegria, expandir em ação de graças todo o nosso júbilo. Hoje, não apenas conquistamos o paraíso, mas, no Cristo, penetramos nos mais altos céus'' (S. Leão Magno).

3. Subiu aos Céus? O Céu É Alguém

Afirmar que a humanidade, na pessoa do Cristo, já está no céu significa contestar as imagens espontâneas de um céu espacial (lá em cima, para além das estrelas) e de uma felicidade eterna que começaria repentinamente, depois desta vida no tempo. Para Jesus, o céu é a participação plena na vida de Deus, de um ser humano verdadeiro, possuindo a mesma matéria e a mesma história de todos nós; uma relação nova entre o Criador e a criatura numa total transparência, livre dos limites e das dificuldades da condição terrena.

Um céu assim não é simplesmente a recompensa de uma vida justa e boa, porque os sofrimentos do momento presente não são comparáveis com a glória futura que será revelada em nós (Rm 8.18). Tampouco é um narcótico para pessoas passivas e resignadas, ura álibi para não assumir o compromisso de trabalhar neste mundo pela realização (mesmo que imperfeita) daqueles valores de liberdade, justiça, paz, fraternidade, comunhão, vida, amor, alegria que constituem a bem-aventurança do ser humano completo segundo o plano de Deus. Uma comunidade dos que crêem e caminham nesta direção — isto é, aberta ao mundo, a serviço de todos — torna-se testemunha da nova humanidade realizada cm Jesus Cristo.

Essa nova humanidade em Jesus Cristo, podemos entendê-la ao lermos atentamente At 1.3-9,12-13, que é uma das leituras para este Dia da Ascensão. Enquanto os abençoava, era elevado ao céu. O trecho evangélico tem em comum com o texto de Atos (1a Leitura): a ordem dada aos apóstolos de permanecer na cidade para esperar a promessa (Lc 24.46,49; At 1.4-8); o anúncio de que eles serão testemunhas diante de todos os povos ou até os confins da teria (Lc 24.47; At 1.8) da elevação de Jesus ao céu (Lc 24.51; At 1.9); a volta dos discípulos a Jerusalém (Lc 24.52; At 1.12). Não lhe faltam, porém, algumas particularidades:

a) Nele se especifica o objeto do testemunho: aquilo que se realizou em Jesus e o seu anúncio a todos os povos, para que se convertam e recebam o perdão dos pecados, devem ser apresentados como cumprimento do plano salvífico de Deus, isto é, segundo as Escrituras (vv. 46-47; cf. 24.25-27).

b) O ato de Jesus subir ao céu é litúrgico: reproduz o do sumo sacerdote que penetra no santo dos santos (vv. 50-51; Hb 4.14; 6.19-20; 9.1-14,24), enquanto a assembleia (aqui os discípulos) se prostra e continua seu louvor no templo (v. 53). Assim, Lucas termina seu Evangelho no mesmo lugar em que o fez começar (1.7-10).

Depois levou-os até Betânia e, erguendo as mãos, os abençoou. E enquanto os abençoava, distanciou-se deles e era elevado ao céu. Eles se prostraram diante de Jesus, e depois voltaram a Jerusalém com grande alegria, e estavam continuamente no templo, louvando a Deus.

O Pai do céu colocou todas as coisas nas mãos do Senhor Jesus, que ressuscitou e subiu ao céu. Ele intercede por nós. Digamos com fé: Conduze-nos a ti, Senhor! Amém.

4. Ascensão: Senhorio de Jesus e Evangelização

Estamos em plena Década da Evangelização e por isso cremos que esse episódio que envolveu os discípulos olhando seu Mestre ascender aos céus e lhes pedir que se tornassem suas testemunhas, nos faz, neste Dia da Ascensão, meditar sobre o senhorio de Jesus e a evangelização em nosso meio e em nosso tempo.

Jesus subiu ao céu. E como ficam as coisas aqui na terra? Devemos ser suas testemunhas. O que fazemos para isso? A revista Liturgia da Palavra e Caminho da Fé nos auxilia nesta caminhada e nesta preparação.

Os donos deste mundo jogaram Jesus lá embaixo, mas Deus colocou-o lá em cima, à sua direita. Deu-lhe o poder, e Jesus exercerá este poder sobre o universo não só como Filho do homem no fim dos tempos (cf. Mc 14.62), mas, desde já, através da missão universal da Igreja. Nós participamos desse poder, pois Cristo não é completo sem o seu corpo, que é a Igreja (2a leitura).

Na sua última aparição ao grupo dos apóstolos, Jesus foi elevado ao céu (para junto de Deus) e deu-lhes a ordem de serem suas testemunhas ale aos extremos da terra (1a Leitura). Com a ascensão de Jesus começa o tempo para anunciá-lo como Senhor de todos os povos. Mas não um Senhor ditador, e sim o Senhor que se tornou servo e quer que todos o imitem nisso, como discípulos.
Mandou que os apóstolos fizessem de todos os povos discípulos seus (evangelho).

Nessa missão, ele está sempre conosco, até o fim dos tempos.

O testemunho cristão que Jesus nos encomenda não é triunfalista. É o fruto da serena convicção de que Jesus estava certo, que se reflete em nossas atitudes e ações, especialmente na caridade. Este é o testemunho implícito. Mas é igualmente indispensável o testemunho explícito, para orientar o mundo àquele que é a fonte de nossa prática, o Senhor Jesus.

Trazendo mais para o lado da espiritualidade, para o aspecto contemplativo, o Dia da Ascensão enseja um aprofundamento da consciência do senhorio de Cristo. Deus elevou Jesus acima de todas as criaturas, mostrando que ele venceu o mal por meio de sua morte por amor e dando-lhe o poder universal sobre a humanidade e a história. Por isso, a Igreja recebe a missão de fazer de todas as pessoas discípulos de Jesus. Então aí começa a acontecer a evangelização.

5. A Ascensão, Momento Culminante da Páscoa do Senhor

O mistério pascal compreende três elos inseparáveis: morte — ressurreição — ascensão; contudo, a ascensão assinala o momento culminante da Páscoa, pois marca definitivamente a glorificação de Cristo, constitui o último ato de sua exaltação. Os apóstolos anunciavam este mistério, dizendo: Jesus foi exaltado à direita do Pai'', e o final do Evangelho desta festa traz um eco dessa mesma expressão.

A ascensão é uma festa de vitória. A partida de Cristo não nos deixa amedrontados, pois assinala igualmente a nossa glorificação. O culto litúrgico, que realizamos na celebração em torno de Cristo glorificado, é uma etapa do nosso caminho rumo à nossa ascensão aos céus. Somos convidados a louvar a Deus que, no Dia da Ascensão, colocou Jesus de posse de seu trono de glória.

Assim sendo, peçamos ao Senhor que nos prepare para nossa ascensão, dando-nos o desejo das coisas celestes: Concede, nós te rogamos, Deus onipotente, que, assim como cremos que teu unigénito Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, subiu aos céus, também lá subamos em coração e pensamento e habitemos sempre com aquele que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém. (Oração própria para o Dia da Ascensão.)

6. Bibliografia

- Celebração da Assembleia Cristã. São Paulo, Paulinas, 1980. vol. I.
- Devocionário Sementes da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. 1996. vol. 46.
- Guia Bíblico Litúrgico. Petrópolis, Vozes, 1968. vol. II.
- Liturgia da Palavra e Caminho da Fé; Ano A. São Paulo, Paulinas, 1986.
- Livro de Oração Comum da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. 1987.


Autor(a): Almir dos Santos
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Ascensão

Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 24 / Versículo Inicial: 50 / Versículo Final: 53
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1996 / Volume: 22
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 14454
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