Lucas 3.1-9 - 3º Domingo de Advento

Prédica

14/12/1969


Lucas 3.1-9 - 3º. DOMINGO DE ADVENTO 

Aconteceu no décimo quinto ano do governo do imperador romano Tibério. Pôncio Pilatos era governador na província da Judéia. Herodes era interventor romano na Galiléia; seu irmão Filipe, em Ituréia e Traconites; e Lisânias, em Abilene. Anás e Caifás eram sumos sacerdotes. E João, o filho de Zacarias, ainda se encontrava no deserto. Foi ai que Deus o chamou a atuar. Assim, João passou a percorrer toda a região do Jordão pregando o seguinte: Arrependam-se e deixem-se batizar, que então Deus perdoara a sua culpa! Já no livro do profeta Isaías consta: Alguém chama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Aterrai todos os vales e nivelai todos os montes e colinas, cortai as curvas e aplainai as partes acidentadas! Então, todo mundo poderá ver a salvação de Deus. O povo vinha para ser batizado por João. E ele lhes dizia: Vocês são serpentes viscosas! Quem lhes disse que vocês conseguirão fugir ao juízo de Deus que se aproxima? Produzam frutos que correspondam ao arrependimento! E não comecem a dizer uns aos outros: Ora, Abraão e nosso pai.. Eu lhes garanto que Deus pode transformar estas pedras aqui em filhos de Abraão. O machado já golpeia a raiz das árvores. Toda árvore que não produzir frutas boas será cortada e lançada ao fogo. 

Prezada Comunidade! 

Há 1969 anos Deus fez uma visita aos homens. Ele veio na figura de um homem, chamado Jesus de Nazaré, e nascido no ano zero da nossa história. Mas Deus não chegou assim, de sopetão. Primeiro, ele mandou preparar a visita. O preparador foi um cidadão que atendia pelo nome de João Batista. 

Dentro de duas semanas e meio estaremos comemorando aquela visita. Mas antes, durante esses quatro domingos de Advento, temos que passar pela preparação. Nós temos que passar por João Batista para chegar a Jesus. Sem João Batista, não tem Jesus para nós; sem João Batista, Deus não nos visita: sem João Batista, o Natal é uma farsa. E eu, hoje, sou um João Batista em miniatura, edição 1969, para ajudar a preparar a visita de Deus. Por isso, atentem bem para o que eu vou dizer! 

I

Aconteceu no décimo quinto ano do imperador romano Tibério. Pôncio Pilatos era governador na província da Judia. Herodes era interventor romano na Galileia; seu irmão Filipe, em Ituréia e Traconites; e Lisânias, em Abilene. Anás e Caifás eram sumos sacerdotes. E João, o filho de Zacarias, ainda se encontrava no deserto. Foi aí que Deus o chamou a atuar. 

Corria o ano da graça de 1969. Richard Nixon era o presidente dos Estados Unidos da América. Kossygin, Breshnev e Podgorny governavam a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O general Emílio Garrastazu Médici era o presidente do Brasil; Walter Peracchi Barcellos governava o Estado do Rio Grande do Sul e o prefeito de Porto Alegre era Thompson Flores. 

Foi aí que Deus ordenou fosse dita esta mensagem de João Batista a esta Paróquia da Matriz da Comunidade de Porto Alegre. Foi aí. Neste mundo, neste pais, nesta cidade e neste fim de ano. Foi aí. Mundo convulsionado, se retorcendo em guerras. Matanças de soldados, matanças de civis. Tanques, caças a jato, bombardeiros e mísseis. Napalm, bomba atômica e bomba H. Foi aí: transplantes de órgãos, raio laser, viagem à lua, computadores eletrônicos; televisão, satélites de comunicação, Embratel. Foi aí: país subdesenvolvido, educação nota zero, criminalidade nota dez, operários e camponeses na miséria, gente morrendo aos montes de fome e de doenças curáveis, subversão e repressão, atentados e torturas. Foi aí: pais que não compreendem filhos, filhos que não compreendem pais; cônjuges que não se amam; jovens que se rebelam, adultos que se fecham; angústia. Foi aí: ritmo de vida tresloucado, trabalho, condução, exames, falência, compromissos, insegurança, desespero, medo. Foi aí que João Batista veio preparar a visita. 

II

O que fez João preparar a visita? Primeiro ele diz o seguinte: Vocês, que vivem neste mundo da guerra, neste mundo da ciência, neste pais subdesenvolvido, nesta sociedade do transtorno, da angústia e do medo; vocês, atenção! Isso ai no é tudo! Isso não é toda a realidade! Existe mais!
Existe um Deus! Um Deus que pode dar um futuro grandioso ( ... então Deus perdoará a sua culpa); e que pode botar pra quebrar e arrasar com toda existência (Quem lhes disse que vocês conseguirão fugir ao juízo de Deus, que se aproxima? ... O machado já golpeia a raiz das árvores. Toda árvore que não produzir frutas boas, será cortada e lançada ao fogo). 

Esta, diz João, esta é a realidade que vocês esquecem. A realidade que está mais no fundo e mais acima e mais além e que é maior e tremendamente mais importante do que qualquer outra realidade em sua vida. Um Deus que pode: restituir-nos a paz e harmonia do paraíso perdido e decretar a derrocada, o aniquilamento para todo o sempre. O Deus que vai exigir prestação de contas. O Deus que vem visitar! 

Esta é a primeira coisa que João nos diz neste ano da Apollo 11, neste ano do governo de Médici, Peracchi e Thompson Flores. 

III

E agora? Que fazer diante dessa realidade? Que fazer diante desse Deus que pode dar e negar? João responde - e essa é a segunda coisa que ele diz: Arrependam-se e deixem-se batizar! Lembrem-se que eu disse de inicio que sem João Batista o Natal é uma farsa. E por quê ? O que houve de tão importante nesse homem? O que ele disse! O importante em João foi o que ele falou: arrependam-se!

O que é isso? Já vou explicar. Com um exemplo: Imaginem que eu vou descendo a Farrapos de carro, em direção ao Aeroporto, com uma boa velocidade. Na minha frente uma sinaleira que se aproxima. Quando eu chego em cima, a sinaleira muda de verde para vermelho. Eu freio com toda força. Rangem os pneus. O carro para. E eu começo a pensar: Mas, afinal, para onde é que eu vou indo? Eu nem queria ir pela Farrapos, nesta direção! Como é que eu vim parar aqui? Então, (o tráfego é relativamente pouco) enquanto a sinaleira ainda está vermelha, eu dou uma ré, vou para a direita, o sinal do retorno está aberto e eu faço o retorno. 

Minha gente, assim é o arrependimento. Arrepender-se é ter um estalo por dentro, parar, pensar: mas para onde é que eu vou indo desse jeito, como é que eu vim para aqui? -e fazer o retorno. O importante é fazer o retorno. Nada vale um arrependimento dentro das quatro paredes da minha cachola. Nada adianta pensar: puxa, mas eu estou levando uma vida desgraçada, está mais que na hora de pôr as coisas em ordem com Deus - e continuar sempre em frente, numa corrida louca sem direção. 

Arrependimento significa: parar, pensar, e mudar de rumo! Sem esse arrependimento não tem Jesus Cristo, se os senhores não sentirem e viverem este arrependimento neste Advento, o nosso Natal será uma farsa, um show, uma brincadeira vergonhosa. Vergonhosa porque usaremos Deus para a brincadeira, o mesmo Deus que disse: Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor não deixará' sem castigo aquele que abusar do seu nome. Natal sem arrependimento e abuso flagrante do nome de Deus. 

E aqui, uma advertência violenta de João: E não comecem a dizer entre si: Ora, Abraão é nosso pai! Eu lhes garanto que Deus pode transformar estas pedras aqui em filhos de Abraão, Os senhores já perceberam como n6s costumamos celebrar a visita de Deus aos homens, o Natal? Como gostamos de falar no menino Jesus, tão meigo, deitadinho na manjedoura, ao lado da sua mãezinha e do seu paizinho, o burrinho e a vaquinha olhando, e os anjinhos voando por cima e cantando docemente: glória, glória ...! Isso tudo nos dá um aconchego, nós nos sentimos tão bem ... Com um deusinho tão meigo, tão querido, não pode dar nada errado. E esquecemos que aquele menino teve que ser executado na cruz, por nossa culpa! Sim, esquecemos da nossa culpa! Toda essa montagem melosa que colocamos em torno de Deus nos faz esquecer que ele é um Deus que quer prestação de contas. Nos faz esquecer que o machado já golpeia a raiz das árvores. Toda arvore que não produzir frutas boas será cortada e lançada ao fogo. 

Toda essa montagem nos clã uma garantia tragicamente falsa. Eu lhes garanto que Deus pode transformar estas pedras aqui em filhos de Abraão. Deus no precisa de nós. Nós não lhe fazemos um favor celebrando o Natal. 

É, o alerta de João Batista é violento. E tem que ser sentido em toda sua violência, para que não façamos do nosso Natal uma afronta a Deus, uma palhaçada. Uma palhaçada, que se transformará em juízo, pois para realizá-la, usamos e abusamos do nome de Deus. 

Por isso, prezada comunidade, ARREPENDIMENTO! Parar, pensar, fazer o retorno! O arrependimento fará com que o menino Jesus, Maria e José, os animais, a mensagem dos anjos, tudo isso adquira seu significado certo. Ter ã que ser um arrependimento autêntico: Produzam frutos que correspondam ao arrependimento! Para preparar o Natal temos que agir. E agir quer dizer: eliminar todo e qualquer obstáculo que impeça a visita de Deus á nossa vida e ao mundo. 

Vamos endireitar os caminhos, aterrar os vales, nivelar os montes e colinas, cortar as curvas, aplainar as partes acidentadas. Vamos praticar o arrependimento. Vamos acabar com tudo o que há de tortuoso e obscuro, de altivo e orgulhoso, vamos abrir a cancha da nossa vida, para que ele possa entrar. Para que ele possa vir a nós, no Natal, como ele quer. 

E a melhor maneira de abrir a cancha é confessar-lhe tudo e pedir perdão. Prezada comunidade, eu coloco diante de todos o sinal vermelho. Parem o carro da sua vida. Encostem a cabeça no volante, e pensem: para onde vou indo?

Estou na direção certa? Que vida estou levando? Pensem bem, confessem tudo. E façam o retorno. Saiam daqui, andando na outra direção, preparando a visita de Deus, mudando de vida. 

Isto é o que diz aquele chamado João a cada um de nós, dentro da sua realidade, dentro do mundo em que vive, neste ano da graça de 1969. Amém. 

Oremos: Senhor, nosso Deus, ajuda-nos a fazer o retorno, cria tu em nós o verdadeiro arrependimento, aquele que produz frutos, que é de verdade; faze-nos mudar de vida, para que este Natal não seja uma farsa, uma brincadeira em teu nome, mas realmente a tua visita a nós. Por Jesus Cristo. Amém.

Veja:
Nelson Kirst
Vai e fala! - Prédicas
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS


Autor(a): Nelson Kirst
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 3º Domingo de Advento
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 9
Título da publicação: Vai e fala! - Prédicas / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1978
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19920
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Se reconhecemos as grandes e preciosas coisas que nos são dadas, logo se difunde, por meio do Espírito, em nossos corações, o amor, pelo qual agimos livres, alegres, onipotentes e vitoriosos sobre todas as tribulações, servos dos próximos e, assim mesmo, senhores de tudo.
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