Lucas 9.18-24(25-26)

Auxílio Homilético

09/07/1995

Prédica: Lucas 9.18-24(25-26)
Leituras: Zacarias 12.7-10 (11) e Gálatas 3.(23-25) 26-29
Autor: Cláudio Molz
Data Litúrgica: 5º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 09/07/1995
Proclamar Libertação - Volume: XX


1. A oração

Ao mencionar a oração, em geral se pode pressupor que Lucas esteja introduzindo um assunto de importância relativamente grande. Isso se vê nos seguintes exemplos: batismo — 3.21; escolha dos doze — 6.12; a transfiguração — 9.28; o ensino do Pai-Nosso — 11.2; a última ceia — 22.32; agonia — 22.41; antes de morrer na cruz — 23.46 (Fitzmyer I, 412). Lucas não só menciona que Jesus rezava, mas também nos narra várias vezes o conteúdo das orações. Ao orar, o estado de espirito de Jesus variava bastante, indo desde a alegria exultante do filho grato ao Pai celeste pelo dom do Espirito concedido aos pequeninos em detrimento dos sábios (10.21) até a amarga tristeza tentando — sem forçar — recusar o caminho solitário da morte inevitável (22.42).

Já por esse uso da oração como elemento de estruturação do texto Lucas deixa claro que no v. 18 de fato começa uma nova perícope. O fim da perícope parece ser indicado pela expressão típica do início do v. 28: Egeneto de... — Aconteceu, porém.... Desse modo se deveria incluir na nossa perícope ainda o v. 27. O fecho fala, portanto, da proximidade da parúsia.

2. Temas

Os temas principais do texto são:

1. Para o mundo a verdadeira identidade de Jesus se mantém secreta, enquanto os discípulos identificam nele o Messias — v. 18-21;
2. Jesus faz o primeiro anúncio do seu sofrimento — v. 22;
3. Ele convoca os discípulos a seguirem o seu caminho à cruz — v. 23-27.
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2.1. Tema 1: vv. 18-21

2.1.1. O que dizem os outros de mim?

Por uni lado, para qualquer pessoa é indispensável ter um certo conhecimento do que os outros pensam dela. Por outro, temos dificuldade de nos identificar com aquilo que as pessoas dizem de nós. Entre esses dois pólos nos movimentamos no dia-a-dia. Às vezes a opinião alheia mexe bastante conosco. Outras vezes, nem lhe damos a mínima atenção. Qual deve ser o posicionamento que nos satisfaz'?

2.1.2. Diálogo

Inicialmente constatamos que Jesus não determina ele mesmo a sua identidade. Dialoga com os discípulos a respeito. Sonda a opinião do mundo e desafia os discípulos a tomarem uma posição própria. A comunidade primitiva refletiu muito sobre a identidade de Jesus. Foi e ainda é difícil defini-lo. Para os judeus — e todos os discípulos eram antes de mais nada judeus — é um horror introduzir na teologia um personagem que pode ser visto como afronta ao primeiro mandamento: Não terás outros deuses. Um dos resultados mais claros dessa reflexão nos foi legado por Paulo em Fp 2.6-11:

Pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.

Como a identidade de Jesus nunca é afirmada separada de Deus Pai ou sem ele, mas sempre no relacionamento entre ambos, assim também nossa identidade carece do diálogo com os outros para ser encontrada. Precisamos de oportunidades de interação e comunhão com os outros para nos encontrar.

2.1.3. Modelos

Em geral usamos uma espécie de gavetas, nas quais vamos classificando as pessoas. Cada uma é enquadrada. É o que chamamos de preconceito. Isso facilita o nosso trabalho. O problema é que é muito injusto, porque a verdadeira identidade do outro só aparece quando nos abrimos para ele, o ouvimos com bondade e atenção e lhe concedemos o favor de um espaço especial não-padronizado. Nesse espaço que nos concedemos mutuamente, podem então surgir vários aspectos da nossa realidade até ali desconhecidos. Os modelos que o povo aplicou a Jesus eram três:

1. João Batista, um profeta asceta que vivia em regiões semidesérticas, pregava a vinda do reino de Deus e balizava os arrependidos no Rio Jordão: 3.1-22. Foi mártir da sua coragem de denunciar a injustiça do poderoso Herodes Antipas. Lucas, alias, omite os detalhes da morte de João Batista. Só a menciona: 9.9.

2. Elias, um campeão na luta contra os falsos deuses, cheio de atitudes de compaixão em favor de gente sofrida, mas violentíssimo contra os adversários. As alusões diretas ou indiretas que Lucas faz a Elias, ao falar de Jesus, se vêem nas seguintes comparações: 4.25 — l Rs 17.9; 9.51 e 24.49-51 e At 1.10 — 2 Rs 2.2-11; 9.54 — 2 Rs 1.10-12; 9.61s. — l Rs 19.19s.; 22.43-45 — l Rs 19.7s. (George, 29, nota 17).

3. Um profeta. Pode-se supor que profetas que morreram como João Batista tenha havido muitos, se bem que a Bíblia cite apenas poucos pelo nome. O mais conhecido foi Urias (Jr 26.20-23). Um outro se chamava Zacarias (2 Cr 24.20s.), mas os LXX o chamam de Azarias. Lucas o menciona em 11.49-51. Conforme o livro apócrifo Ascensão de Isaías 5.Is., também Isaías foi mártir. O mais famoso entre os muitos incógnitos sem dúvida se tornou para os cristãos aquele mencionado em Is 52.13-53.12, o servo sofredor.

2.1.4. Pedro

Falando como porta-voz do grupo dos discípulos, Pedro define a pergunta pela identidade de Jesus, dizendo: o Cristo de Deus. É simultaneamente uma resposta para a pergunta que em Lc 9.9 Herodes já fizera. A formulação provém de Lucas. Em Marcos Pedro chama Jesus de Cristo apenas, enquanto Mateus emenda: Cristo, o Filho do Deus vivo. Por um lado Lucas evita agora a expressão Filho de Deus, reservando-a para o período depois da Páscoa (At 9.20; 13.33); por outro, relaciona Jesus muito estreitamente com o Pai. Desse modo consegue dar um sentido gradual ao conhecimento do mistério de Jesus. Ele vai se desvendando aos poucos, com recaídas para comportamentos de falta de fé (9.37-43); incompreensão (9.43-45); espírito de competição (9.46-48); e intolerância (9.49s.) (Storniolo, 99s). Como em Marcos, Lucas dá um destaque a Pedro, ao omitir a felicitação que lemos em Mt 16.17-19. Omite também o protesto que Pedro levanta contra o anúncio do sofrimento de Jesus, e a subsequente reprimenda severa, na qual Jesus chama Pedro de Satanás (Mc 8.32s. e Mt 16.22s.).

2.2. Tema 2: v. 22

2.2.1. Paixão

Com a chamada grande omissão de Mc 6.45-8.26, respectivamente Mt 14.22-16.13, Lucas selecionou e dispôs o seu material de forma que o segredo que em Marcos se refere à messianidade de Jesus, se concentre no sofrimento. Mistério é que o Messias precise sofrer.

O mistério desse sofrimento continua até hoje. A resistência a ele é forte entre nós. Como os discípulos, temos dificuldade de aceitá-lo. Escandalizamo-nos com ele. Como a gente da época de Jesus, também preferimos uma Igreja que seja forte e triunfe, que consiga vitórias e glórias, que se imponha à sociedade, que lhe ensine a verdade. Os falsos ídolos que com tão grande facilidade se instalam e se apoderam de tudo, nos escandalizaram o suficiente, como já constatava Daniel (8.13; 9.27; 11.31; 12.11). Quando, apesar dessa experiência do passado distante e recente, Jesus insiste que o Filho do homem deverá sofrer, e muito, será que o nosso alento não tem que cair mesmo? Gostamos de ouvir o canto natalino dos anjos: É que hoje vos nasceu na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. (2.11.) Gostamos também de saber que até os demónios reconheciam a sua presença: Tu és o Filho de Deus! (...) pois sabiam ser ele o Cristo. (4.41.) Agora, porém, vem essa humilhação incompreensível. É o mistério da paixão de Jesus. Os discípulos custam a recebê-lo.

Os leitores de Lucas, porém, são informados de que a presença do Messias é gloriosa: isso se nota desde o anúncio do seu nascimento, também nos seus milagres e outras manifestações de poder. O tempo de sua presença é o meio de (todos) os tempos, como Conzelmann cunhou pelo título de sua teologia de Lucas. Enquanto Jesus está atuando, Satanás precisa recuar e se afastar (4.13 e 22.3). Com a paixão e morte a tribulação volta e marca o tempo da Igreja, como ainda hoje também o nosso dia-a-dia, até o seu retorno. É o tempo da missão que com o seu Espírito Santo Deus promove entre nós.

2.3. Tema 3: vv. 23-27

2.3.1. Seguir o caminho da cruz

Os exegetas são da opinião de que a referência à cruz: “dia a dia tome a sua cruz! dificilmente poderia ser histórica. Acaso não seria comparável à hipótese de o fanático religioso Jim Jones, antes de envenenar os seus seguidores na Guiana, admoestá-los a dia a dia tomar o seu veneno? De onde Jesus teria tirado a comparação? Apesar de, no dia da sua execução, muitos revolucionários terem que carregar o instrumento de sua própria morte, o anúncio do v. 22 nada falava de cruz. A hipótese mais aceita se baseia em Mt 11.29. Originalmente Jesus teria falado de jugo e não de cruz. Uma hipótese mais rara se baseia em Ez 9.4, onde as pessoas a serem poupadas de uma ação de purificação por extermínio estavam marcadas com um tau hebraico (T ou, adaptado ao grego, o X de Cristo) (cf. Ap 7.3; 9.4; 14.1). Será que Jesus teria usado essa imagem: Deixem-se marcar com o sinal do X na testa e sigam-me!? A marca batismal da cruz na testa teria aí a sua origem: os assim marcados serão salvos.

Assim como está no nosso texto agora, a expressão só é compreensível a partir da experiência soteriológica pós-pascal em que se baseia l Co 1.18: Certamente a palavra da cruz é loucura para os que sé perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus, ou ainda na versão exclusiva de Jo 19.17, que, ao contrário dos sinóticos (Mt 27.32; Mc 15.21; Lc 23.26), não diz que foi Cirineu quem carregou a cruz, mas o próprio Jesus. De quaJquer maneira, o verdadeiro discípulo compartilhará o destino do seu mestre. Esse é o significado geral de toda a admoestação. Cito um comentarista:

O paralelismo entre a paixão de Jesus e o martírio de Estêvão deixa entrever claramente: o servo é como o seu mestre. Mas também entre o processo de Jesus e o de Paulo existem óbvias relações. O Evangelho conclui com a paixão de Jesus; o livro dos Atos conclui com a história da paixão de Paulo. Essa estrutura é definida pela afirmação de Paulo: Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogénito entre muitos irmãos (Rm 8.29). Só nesse pano de fundo a imagem de Jesus, traçada por Lucas, se evidencia plenamente em seu significado plástico e simbólico. (Grundmann, 33.)

Na nossa comunidade, porém, será importante recordar um duplo aspecto dessa palavra. Paulo nos conscientiza disso em Gl 6. No v. 5 estabelece que certo tipo de carga é mais ou menos pessoal e intransferível na nossa vida. É a carga a que Jesus se refere quando convida: Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. (Mt 11.28.) No v. 2, entretanto, expressa que há a possibilidade da ajuda mútua, num trabalho conjunto de amor ao próximo, como costuma surgir, p. ex., a partir de um diálogo amigo ou terapêutico.

2.3.2. Salvar a vida

No v. 23 se pede que o discípulo de Jesus saiba negar-se a si mesmo, desistindo, p. ex., de vantagens próprias em favor da causa de Cristo. No v. 24 se prevê uma disposição tamanha que permita a entrega da vida, i. é, o martírio. Jo 12.25s. interpreta essa passagem no sentido escatológico. Podem-se, no entanto, também imaginar situações diárias. No fundo a palavra de Jesus vale sempre, mas com toda a clareza ela se evidencia em situações de emergência. Nelas o empenho da vida pode salvar a própria vida e a de outros. Penso, p. ex., num ataque violento a alguém e a defesa de guarda-costas; a luta numa situação de legítima defesa da família ou de um grupo de pessoas; a intervenção em situações de resgate em incêndio ou inundação, etc. Essas situações extremas servem de estímulo para vislumbrar o que importa na vida, a que se deve dar a prioridade. De nada adianta manter a vida nua e crua, se o preço tiver sido a perda da dignidade perante nós mesmos e da alegria de viver.

Um outro aspecto do negar-se a si mesmo me parece incluído na questão do imediatismo que está na base do nosso sistema industrial, ou em termos mais amplos: como nos relacionamos com a natureza em geral, seja na indústria, seja na agricultura, mas também como simples consumidores ou turistas. Ainda é fraca a consciência de que há limites para a exploração da natureza. As reservas de recursos não são ilimitadas. Até mesmo um dos produtos mais abundantes do planeta tende a escassear rapidamente: a água, a potável. A pergunta que surge a partir do texto é: quem está disposto a negar a si mesmo, as próprias vantagens, o seu desenvolvimento tecnológico e desistir do avanço agressivo que lhe poderia trazer um lucro imediato? Quem faria tudo isso, sob o argumento de que alguém precisa começar a preservar a natureza, poupar os recursos naturais, evitai a destruição da camada de ozônio, a contaminação dos lençóis de água, etc.? Quem não teria vergonha de ser tachado de ignorante e ingênuo?

2.3.3. Um senhor chamado Mamon

No v. 25 Lucas toca em um tema que é bastante frequente em seu evangelho, as riquezas. Cito para tanto o seguinte trecho de um comentário:

Em vista das comunidades helenistas, na sua apresentação da história de Jesus Lucas se vê motivado a relegar a segundo plano a disputa com a lei e com os partidos judaicos em favor da questão da ligação com a propriedade e os bens materiais. As grandes parábolas do agricultor rico (12.16-21), do administrador infiel (16.1-13) e do rico e Lázaro (16.19-31) mostram a pessoa atrelada à sua propriedade particular, sem visão para os que estão ao seu redor. Em combinação com a piedade dos pobres entre os judeus, mas também com pensamentos e ideais estóicos, Lucas espera o reino de Deus como a revolução da forma tradicional de vida: Encheu de bens os famintos e despediu vazios os ricos (1.53). Começa com a história de Jesus; seu nascimento é revelado aos pastores. Aos pobres é prometido o reino de Deus, enquanto aos ricos cabem os ais. O próprio Jesus é pobre. Na administração injusta da propriedade se dá o envolvimento da pessoa com a culpa e é ali que se decide o seu destino eterno (15.11-32; 16.1-18). Por isso os ricos são instados a receber os pobres (14.7-24). Os inimigos de Jesus são apresentados como avarentos (16.14). Jesus convoca os seus para a pobreza volun¬tária (cf. 18.18-30). Riqueza e poder se relacionam. (...) No exercício do seu reino [Jesus] se distingue do que no mundo é tido por governo (22.24-30). [Lucas] sabia que a natureza do ser humano se revela ao lidar com a propriedade; por isso a questão que coloca como decisiva não é o bem ou o mal, crente ou ateu, mas: Deus ou Mamon, i. é, as riquezas (cf. 16.13). (Grundmann, 32.)

A julgar por esse quadro, na comunidade de Lucas o relacionamento dos ricos com a fé era difícil.

2.3.4. Não me envergonho...

É assim que Paulo diz: Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego. (Rm 1.16.) Diante da ameaça à nossa vida, o instinto de conservação funciona. Não nos arriscamos, não inutilmente ao menos. A convocação à lealdade exige da fé, portanto, um empenho pela veracidade e autenticidade na palavra de confissão a Jesus diante dos poderosos que desprezam o evangelho. O medo de Pedro (22.54-62) certamente funciona como exemplo negativo doloroso, mas muito convincente. O ambiente de perseguição violenta das comunidades cristãs primitivas certamente tornou muito necessária essa admoestação.

2.3.5. Ele virá

A palavra promete que alguns dos que a ouvem verão o reino de Deus antes de morrerem. Como toda a comunidade cristã primitiva, Lucas também expressa a esperança na vinda próxima do reino de Deus. Só que pelas suas supressões no texto de Marcos, Lucas parece querer indicar que se refere muito mais ou à transfiguração (9.28-36) ou à morte e ressurreição. Na transfiguração se afirma que Pedro, João e Tiago viram a sua glória. Seria um tipo de cumprimento da palavra de 8.10: A vós outros é dado conhecer os mistérios do reino de Deus. Mas todos os evangelistas são unânimes na compreensão de que só a fé na ressurreição fez os discípulos chegarem a entender melhor a sua experiência com Jesus. Em vista disso, a promessa pode também se referir ao fato de que a compreensão mais profunda e ampla do reino de Deus se dará após a ressurreição de Jesus.

3. Prédica

Já há muitas reflexões entremeadas no texto acima. Gostaria de lembrar que a exortação que nos alerta para seguirmos a Jesus, só encontra amparo no evangelho, se ela parte da graça e com ela serve de ajuda e não representa mais uma lei imposta como jugo ao crente. Seguimos a Jesus, porque ele já nos salvou e nos salva diariamente. Não o fazemos com o fim de sermos ainda salvos. O amor de Deus é precedente.

Nesse sentido, a autonegação só pode ser esperada daquele que em Cristo já se sabe plenamente conhecido e reconhecido. Só consegue manifestar amor ao próximo quem tiver experimentado amor a si mesmo. Em vista disso a capacidade de dialogar precisa ser promovida entre nós.

Muitos não a possuem suficientemente desenvolvida. Será que a comunidade teria gente que se dispõe a ouvir sem ser ouvida? A comunidade teria gente disposta a servir sem receber o respectivo reconhecimento por isso? Um exemplo de que isso não é tão fácil assim, se vê na baixíssima procura atual das faculdades com licenciatura: o professor é muito pouco reconhecido. Mas só o investimento prévio é que trará resultados depois. E investir em pessoas ainda é um segmento negligenciado na economia dos homens.

Na opção entre os três temas o tipo de comunidade-alvo deveria nos guiar. Em geral se pode dizer que entre nós já há muita cruz, muito sofrimento. Será que devemos aumentá-lo ainda mais, acrescentando o nosso próprio sofrimento? A fé acabaria sendo uma espécie de ópio para o povo que iria se satisfazer com o status quo, apático, sem nada mudar. A cruz de Jesus só é salvífica na medida em que servir de alerta contra o sofrimento injusto e desumano. Podemos partir da certeza de que pela vontade de Deus as circunstâncias de nosssa vida podem se tornar boas, à semelhança da declaração repetida na criação: E viu Deus que isso era bom.

Participamos da construção do reino de Deus como convidados e não como escravos. Por isso não discursamos, espalhando aos outros comandos de “você deve, é preciso, ele. Mesmo assim, a Igreja prega e admoesta. Tem como ponlo de pari ida para essa admoestação a consciência plena de que Deus amou o inundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16). O pregador conhece a sua própria identidade que ficou clara desde o seu Batismo. De uma parte, a admoestação, portanto, é um sinal da consciência de que constantemente fraquejamos diante de tentações, o que nos facilita a solidariedade; de outra, um sinal do amor que nos constrange a não nos omitir, procurando orientar o que sem a intervenção poderia se perder. E isso permite a construção de novas relações de louvor e gratidão entre nós.

Na história da Igreja houve muitas tentativas de reduzir a vida, para assim ganhar a vida. Nesse sentido se louvava o jejum, se dormia pouco, se castigava o corpo com açoites, se condenava a atividade sexual, enfim tudo o que tornava a vida agradável era proibido. É isso o que Deus quer? Não, a morte não é o meio para a vida. Cremos em um Deus que veio ao mundo em Jesus e se doou, que soube se negar a si mesmo, não foi egoísta e se entregou por nós. Não precisamos nos envergonhar desse nosso Deus. Ele é bom mesmo.

Outro ponto importante é ajudar a definir quem realmente são os que matam Jesus. O texto indica que são os maiorais religiosos judaicos. Mas nós sabemos que eles não tinham muita autonomia para executar alguém. Estavam sob o domínio dos romanos imperialistas. O nosso discurso visa também hoje constai i temente clarear bem e localizar a origem da vontade e do poder de matar a vida. Contra esse poder destruidor lutará o amor que Deus coloca dentro de nos, aceitando o convite arrojado e libertador: Segue-me!

4. Bibliografia

FITZMYER, Joseph A. El Evangelio según Lucas; Introducción General. Madrid, Cristiandad, 1986. v. I.
_________. El Evangelio según Lucas; Traducción y Comentário, Capítulos 8,22-18,14. Madrid, Cristiandad, 1987.
GEORGE, Augustin. Leitura do Evangelho segundo Lucas. 2. ed. São Paulo, Paulinas, l984.

GRUNDMANN, Walter. Das Evangelium nach Lukas. 10. ed. Berlin, Evangelische Verlagssanstalt, 1984. (ThHK, 3).
HÄRTLING, Peter, ed. Textspuren; Konkretes und Kritisches zur Kanzelrede. Stuttgart. Radius, 1990. v. l, p. 85-87.
STORNIOLO, Ivo. Como Ler o Evangelho de Lucas; os Pobres Constróem a Nova História. São Paulo, Paulinas, 1992. (Como Ler a Bíblia).


Autor(a): Cláudio Molz
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 5º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 9 / Versículo Inicial: 18 / Versículo Final: 24
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1994 / Volume: 20
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17739
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Mal tenho começado a crer. Em coisas de fé, vou ter que ser aprendiz até morrer.
Martim Lutero
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