Lucas 9.28-36

Auxílio Homilético

25/02/2001

Prédica: Lucas 9.28-36
Leituras: Deuteronômio 34.1-12 e 2 Coríntios 4.3-6
Autora: Heloísa Gralow Dalferth
Data Litúrgica: Último Domingo após Epifania
Data da Pregação:25/02/2001
Proclamar Libertação – Volume: XXVI


1. Introdução

Este texto tem paralelos em Mt 17.1-8 e em Mc 9.2-8. Nos três evangelhos, ele se situa entre os dois primeiros anúncios da Paixão de Cristo (entre Lc 9.18- 22 e paralelos e Lc 9.43b-45 e paralelos).

2. O termo transfiguração

Na Bíblia não se encontra o substantivo, mas somente o verbo transfigurar. Em grego, metamorfosis significa o aparecer em outra que não é a própria forma (morfe) (confira Dicionário Enciclopédico da Bíblia, p. 1.526); conforme Walter Bauer (Griechisch-Deutsches Wörterbuch zu den Schriften des Neuen Testaments und der übrigen urschristlichen Literatur, p. 1.011-1.012): in eine andere Form bringen, umgestalten, verwandeln in uns [colocar em outra forma, remodelar, transformar em nós].

A palavra transfigurar pode ser substituída por glorificar, pois transfiguração significa fazer parte ou convidar para fazer parte da glória eterna de Deus! Jesus é chamado de transfigurado porque a glória de Deus e a eternidade divina vêm sobre ele.

Assim, fica claro que a transfiguração faz parte da tensão que existe no termo glória. A glória que enche o mundo de Deus nas alturas brilhou e surgiu aqui na terra (Lc 2.14) e ficará até o fim, até a glória vindoura (Mc 13.26, Rm 8.18).

O evangelista Lucas, entretanto, não usa o termo transfiguração em seu texto (a tradução de Almeida a aparência de seu rosto se transfigurou [v. 29] não corresponde ao texto grego). Está correta a tradução da Bíblia de Jerusalém: o aspecto de seu rosto se alterou.

3. Análise detalhada do texto

v. 28 - Lucas amarra o nosso texto com a perícope anterior através das palavras cerca de oito dias depois de proferidas estas palavras. Jesus sobe ao monte para orar. Trata-se aqui de um determinado monte (to oros), que não é citado por Lucas nem pelos paralelos. Conforme uma tradição não muito antiga, trata-se do monte Tabor. Assim como já em Lc 9.18, Jesus ora antes. Ele leva consigo os discípulos Pedro, João e Tiago, os mais íntimos de Jesus e os mesmos que o acompanharam para o monte das Oliveiras, no jardim de Getsêmani, na noite em que foi preso (conforme Mc 14.33 e Mt 26.37). Lucas não os cita, mas apenas fala que os discípulos o acompanharam (Lc 22.39).

v. 29 - É neste versículo que acontece a alteração no aspecto do rosto de Jesus. Também as suas vestes resplandecem de brancura. Este estado de Jesus pode ser comparado somente a seu estado depois de sua ressurreição, quando ele também é outro, mas ao mesmo tempo o mesmo (Lc 24.36ss). A transfiguração, ou melhor, a glorificação transporta Jesus de forma antecipada para a ressurreição; é primícia e manifestação da glorificação eterna de Jesus, a ressurreição!

Nem Lucas nem tampouco os outros evangelhos se preocupam em explicar o fenômeno, o que dificulta ao pesquisador ou à pesqui¬sadora procurar explicá-lo. A intenção é mostrar que a divindade de Jesus se faz presente em sua forma humana (conforme NTD, vol. 3, p. 123).

Lucas fala que o aspecto de seu rosto se alterou, enquanto Marcos e Mateus falam da transfiguração de todo o corpo. Parece que Lucas tenta amenizar o aspecto mágico e inexplicável. Nos três evangelhos, as vestes de Jesus resplandecem de brancura. As vestes de Jesus, bem como a sua aparência, recebem brilho celestial (cf. SI 104.2).

v. 30 - Surgem Moisés e Elias, que falam com Jesus.

v. 31 - Também eles vêm do reino celestial. A sua conversa gira em torno de sua partida e de tudo o que Jesus tem pela frente mi Jerusalém.

v. 32 - Somente neste versículo os três discípulos entram em cena. Tudo acontece à noite. Sabe-se que peregrinações aos montes somente eram possíveis à noite, por causa do calor. Isso também explica o cansaço dos discípulos (conforme NTD, vol. 3, p.
124).

Apesar do sono, conseguindo, contudo, vencê-lo, viram a sua glória (teen doxan autou) e os dois varões (dyuo andras).

v. 33 - Pedro se dirige a Jesus com a palavra epistata (mestre), tendo aqui o sentido de mestre divino. Ele sugere montarem três tendas (por causa do frio da noite?), uma para Jesus, outra para Moisés e uma terceira para Elias. Segundo Lucas, Pedro não sabia o que estava dizendo; estaria com medo da separação. Construindo tendas, ele estaria eternizando este momento.

v. 34 - A aparição da nuvem que envolve os dois varões faz com que os discípulos fiquem com muito medo. O seu temor somente faz sentido se é relacionado com 2 Reis 2.11 (Indo eles andando e falando... e Elias subiu ao céu num redemoinho). Os discípulos temiam a possibilidade de Jesus também desaparecer junto com Elias (NTD, vol. 3, p. 124).

v. 35 - E dela veio uma voz dizendo: Este é o meu Filho, o meu eleito: a ele ouvi. Esta voz anuncia o caminhar por meio da morte de Jesus (Javier Pikaza, A teologia de Lucas, p. 70). A glorificação de Jesus chegará à sua plenitude, mas antes disso ele terá que passar pelo sofrimento de sua paixão e morte.

E este destino de Jesus é vontade de Deus.

v. 36 - Por fim, depois que a nuvem desaparece, somente Jesus permanece no monte. Os três discípulos, nomeados novamente na mesma ordem que no v. 28, Pedro, João e Tiago, observam tudo, mas não comentaram nada do que viram com ninguém, enquanto que Jesus está entre eles - een ekeinais tais eemerais (cf. Walter Grundmann, Das Evangelium nach Lukas, p. 193).

4. O caminho para a prédica

Este texto é, sem dúvida, um texto difícil para a pregação. Para o início, é necessário responder algumas perguntas que surgem para as e os ouvintes como: o que é transfiguração? O que aconteceu com Jesus neste monte? Por que isso aconteceu? Como o evangelista Lucas relata este texto para a sua comunidade?

A pregadora ou o pregador pode sugerir que a comunidade se coloque no lugar dos discípulos que assistiram essas cenas. Isso provoca curiosidade e prende a atenção. Os discípulos que, como diz Javier Pikaza, vislumbraram num instante a glória de Jesus e a harmonia que supõe a presença de Deus, a plenitude do velho povo israelita (p. 70).

Eles queriam eternizar este momento de glória, construindo tendas. No entanto, esqueceram que a plenitude da glória de Deus e a paixão de Jesus são inseparáveis.

Outra coisa que não deve faltar na prédica: o evangelista Lucas não fala em transfiguração - em seu texto não encontramos o termo metamorfosisl Por isso, o tema da prédica não deve ser a transfiguração, mas sim a glória de Jesus, pois no v. 32 está escrito que os discípulos viram a sua glória. Isto significa que, naquele momento, lhes foram antecipadas as primícias do Cristo Ressurreto.

Os três discípulos tiveram a certeza de que aquele Jesus que estava no meio deles era verdadeiramente o Messias, Filho de Deus. Só que a sua glória ainda teria que passar pelo caminho da cruz.

Para a prédica é importante frisar que a intenção deste texto é reforçar a fé na ressurreição de Cristo, já antes de sua morte na cruz.

5. Subsídios litúrgicos

Sugestão de hinos: HPD n° 40, 225, 243, 262.

Confissão de pecados: Senhor e Deus, tu nos conheces muito bem. Tu sabes quando temos problemas... Tu sabes quando estamos ansiosos ou tristes e também quando temos motivos para nos alegrar. Que bom que é assim!

Nós queremos te dizer neste momento que nós sabemos que nos falhamos. Tantas vezes nós não enxergamos as necessidades dos nossos irmãos e irmãs... Não nos dedicamos à nossa Comunidade como deveríamos... Não seguimos os teus mandamentos...

Senhor, teríamos tanto para te confessar. Pedimos-te perdão, Senhor, também por aquilo que nós não conseguimos mencionar agora. Ajuda-nos a melhorar. Tem, Senhor, piedade!

Oração de coleta: Bondoso Deus e Pai celestial. Os nossos passos nos trouxeram até este culto. Nós viemos com perguntas... Viemos na incerteza do que o futuro nos trará. Nós viemos com esperanças e com temores... com boas e com más experiências. Nós te pedi-mos, acompanha-nos quando os nossos passos nos levarão deste culto. Mostra-nos o caminho, dá-nos um chão firme onde podemos pisar. Aqui estamos para receber a tua mensagem. Oramos em nome de teu Filho amado Jesus Cristo, que deu a sua vida por nós. Amém.

Intercessão: Misericordioso e eterno Deus! Tu disseste para nós que nós podemos trazer a ti em oração tudo o que nos preocupa. Nós sabemos que tu ouves as nossas orações e as atendes da maneira como tu achas melhor para nós. Agradecemos-te e te louvamos por teres nos dado a tua Palavra e a força de teu amor.

Nós te pedimos, Senhor, protege todas as igrejas, escolas e lares onde se anuncia a tua Palavra. Favorece a propagação do teu Evangelho em todo o mundo.

Esteja com a juventude, com as nossas crianças, com as nossas famílias. Que marido e esposa sempre se amem, se respeitem e se entendam.

Recomendamos a ti todas as pessoas que estão aflitas. Esteja com os/as idosos/as, com os doentes, com as pessoas empobrecidas.

Senhor, acompanha a todos nós. Guia as nossas vidas e faze de nós instrumentos teus para a tua seara.

Ainda teríamos muito para agradecer e para pedir. Nós o fazemos naquela oração que tu mesmo nos ensinaste a orar:

Pai nosso que estás no céu...

Bibliografia

BAUER, Walter. Griechisch-Deutsches Wörterbuch zu den Schriften des Neuen Testaments und der übrigen urchristlichen Literatur. Berlin/New York, 1971.
BORN, A. van den (ed.)- Dicionário Enciclopédico da Bíblia. Petrópolis, 1977.
PIKAZA, Javier. A teologia de Lucas. São Paulo, 1978.
RENGSTORF, Karl Heinrich. Das Evangelium nach Lukas. Göttingen, 1969. (Das Neue Testament Deutsch, 3).
RIBEIRO, Antônio Carlos. Auxílio homilético sobre Lucas 9.28-36. In: Proclamar Libertação, São Leopoldo : Sinodal, 1994. v. 20, p. 82-85.
RIENECKER, Fritz (Ed.). Lexikon zur Bibel. Wuppertal, 1960.


Autor(a): Heloísa Gralow Dalferth
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: Último Domingo após Epifania
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 9 / Versículo Inicial: 28 / Versículo Final: 36
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2000 / Volume: 26
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17635
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