Malaquias 2.17-3.5

Auxílio Homilético

07/12/1997

Prédica: Malaquias 2.17-3.5
Leituras: Filipenses 1.3-11 e Lucas 3.1-6
Autor: Werner Brunken
Data Litúrgica: 2º Domingo de Advento
Data da Pregação: 7/12/1997
Proclamar Libertação - Volume: XXIII
Tema: Advento

1. Considerações gerais

O texto de Ml 2.17-3.5 ainda não foi comentado em nenhum auxílio homilético ao meu alcance. Optei em comentar o texto não na delimitação sugerida pela série trienal, que é 3.1-4, pois entendo que o bloco 2.17-3.5 forma uma unidade temática.

2. O Livro de Malaquias

O Livro de Malaquias faz parte dos oráculos proféticos. É o último livro dos chamados pequenos profetas. O autor é desconhecido. A palavra malaquias significa meu mensageiro (1.1 e 3.1).

Através das páginas do livro é possível descobrir a época aproximada quando ele foi escrito. Lemos que a indiferença do povo chegou ao extremo. Vendo que as antigas promessas não se realizavam, o povo caiu na apatia c até desprezo a Deus. Duvidava do seu amor, da sua justiça. Tal situação nos leva ao século V a.C., antes das reformas levadas a efeito por Neemias e Esdras. Dados do livro confirmam esta data: o templo fora reconstruído (1.10); o culto funcionava (1.7-9; 12-13); os sacerdotes e levitas estavam organizados (2.3-9). Diante desses fatos podemos concluir que o livro foi escrito após o ano 515 a.C. Assim, é possível que o profeta anônimo (Malaquias) tenha aluado entre os anos 480-450 a.C.

O escritor usou muito o diálogo no seu livro. Podemos detectar o seguinte esquema:

a) Afirmação inicial do profeta ou de Deus por seu intermédio.
b) Objeção dos ouvintes.
c) O profeta justifica a afirmação inicial e tira as consequências.

Podemos dividir o Livro de Malaquias em seis partes:

7.2-5: Afirma o amor de Deus.
1.6-2. V: Refere-se aos sacerdotes, que oferecem sacrifícios de pouco valor.
2.10-16: Trata do matrimônio misto e do divórcio.
2.17-3.5: Resposta aos que duvidam da retribuição de Deus.
3.6-12: Justifica as más colheitas e a praga dos gafanhotos, mostrando que os israelitas defraudam Deus ao não pagarem o dízimo e não ofertarem as primícias.
3.13-18; 4.1-3: Dirigido aos arrogantes e céticos que duvidam da retribuição de Deus.

O livro termina com dois apêndices: 4.4 e 4.5-6.

3. Mensagem do livro

O Livro de Malaquias trata das questões prementes da sua época, quer sejam de princípio (amor de Deus, justiça divina, retribuição), quer sejam práticos (oferendas, matrimônio, divórcio, dízimo). Nesse sentido, Malaquias se enquadra na linha dos antigos profetas. Ao lermos o livro, temos a impressão de que a palavra de Deus se tornou pequenina, adaptando-se às circunstâncias do seu povo. Como se a palavra de Deus não tivesse nada de novo a apresentar, limitando-se a recordar a pregação de Deuteronômio ou dos antigos profetas.

Passagens de Malaquias são citadas no Novo Testamento:
3.1: fala do mensageiro; aparece em Mc 1.2; Lc 1.17,76; 7.19,27; Jo 3.28.
4.5-6: fala de Elias; aparece em Mt 17.10-11; Mc 9,11-12; Lc 1.17; Rm 9.13 cita Ml 1.2-3.

4. Contexto

O texto originalmente sugerido (3.1-4) faz parte da unidade maior, que vai de 2.17 até 3.5. Nela se pergunta pelo juízo de Deus. A resposta vem com a promessa do envio do mensageiro, que julgará.

5. Reflexão sobre o texto

2.7 7: O pensamento da retribuição havia se cristalizado entre o povo: se observa­mos as leis de Deus, então tudo precisa ir bem na vida. O povo observa os maus, constata que em suas vidas tudo vai bem, e levam queixas à presença de Deus. Parece um grito desesperado de um povo que continua submetido ao poder dos maus (persas). Apesar de Deus expressar que ama o seu povo (1.2), este age como se nada sentisse do amor de Deus. O povo está cansando Deus com suas palavras. As pessoas colocaram para fora o que sentiram.

3.1: Aqui temos três personagens. O primeiro é o mensageiro enviado, que pre­parará o caminho (também aparece em Is 40.3; 57.14; 62.10). O segundo é o próprio Deus, ou seja, o Messias prometido, aquele que as pessoas estão esperando para mudar sua situação de vida, e que virá ao templo (também está presente em Ag 2.7-9; Ez 43.7). O terceiro personagem e designado como mensageiro da aliança, que pode ser o próprio Cristo (Hb 9.15). O mensageiro da nova aliança aparece nas promessas de Jr 31.31; Ez 16.60; 34.35; 36.27s.

3.2-3: Deus vem, mas vem para o julgamento. Quem poderá suportar a sua vinda? Pois Ele é como fogo; como potassa (água em que se ferve a cinza para a lavagem de roupa) de lavadeiras; como fundidor, Ele vai refinar a prata e purificar o ouro. Purificar os filhos de Levi, eis o objetivo desses versículos. E uma vez purificados, aí sim eles trarão ofertas justas ao Senhor. A situação deve mudar a partir da classe dos levitas. Do templo o povo precisa ser orientado para pensar diferente em relação à justiça de Deus.

3. 4: Este novo tipo de oferta, a saber, que mantém as mentes abertas para a ação e a justiça de Deus, agrada-lhe e o remete aos tempos antigos, quando o povo andava nos seus caminhos.

3. 5: O juízo daquele que vem é desmascarar as injustiças sociais relatadas neste versículo. As pessoas se aproveitam da situação - fazem feitiço, adulteram, prestam falso juramento, defraudam o assalariado, oprimem a viúva e o órfão, torcem o direito do estrangeiro - para tirar proveito próprio. Tudo isso acontece sem que elas temam a Deus. Tais pessoas não terão aceitação diante de Deus, pois já têm a sua recompensa ao maltratarem e enganarem os outros.

6. Meditação

Advento é tempo de espera. Tempo no qual nos orientamos nas promessas bíblicas de que Jesus Cristo voltará para o julgamento e o estabelecimento definitivo do seu reino. O texto de Malaquias aponta para o mensageiro, que vai preparar o caminho do Senhor. Assim como João Batista chamou o povo ao arrependimento, também o texto de Malaquias o faz. Esse povo que só pensava na retribuição - eu sou bom, por conse­guinte tenho direito à retribuição -, precisa arrepender-se e ter a certeza de que o Senhor virá e fará justiça. O povo precisa retornar ao caminho indicado por Deus já nos tempos antigos.

O texto de Lc 3.1-6 também coloca a necessidade de arrependimento e preparo do caminho para a vinda do Messias.

Em Fp 1.3-11 o apóstolo Paulo agradece a Deus em oração, pois os cristãos colaboram na divulgação do evangelho, e deseja que o amor aumente mais c mais. Assim eles produzirão frutos de justiça.

Também nós precisamos refletir como pensamos e agimos hoje com relação a Deus. Não ouvimos muitos dizer: Deus é injusto, pois os que não participam da vida na Igreja cristã passam melhor do que nós? A vida daquelas pessoas parece estar cheia de realizações e alegrias. E nós? Temos a impressão de que Deus está distante das nossas dúvidas e sofrimentos.

Onde estás, ó Deus? Desce depressa e faze justiça para o teu povo. Também neste Advento Ele responde: Eis que eu envio o meu mensageiro que preparará o caminho diante de mim; de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o anjo da aliança, a quem vós desejais; eis que ele vem, diz o Senhor dos Exércitos. Como no livro de Malaquias, também João Batista alertou o povo para a vinda do Messias. Mas para que ele venha é preciso acontecer arrependimento, meia-volta nos pensamentos e nas atitudes. Isto é, é preciso conscientizar-se que Deus nos ama e quer que vivamos este amor para com Ele e para com as pessoas. Não um amor que só vê o outro numa boa e nós na pior, mas um amor que se expressa para com todos e consigo mesmo. Um amor que seja capaz de respeitar os outros e valorizar sua própria pessoa como alguém a quem Deus ama através de Jesus Cristo.

Vivendo a justiça de Deus neste mundo, não se aproveitando dos outros (v. 5), sentiremos que Ele está conosco e, ao mesmo tempo, esperaremos pela sua vinda defi­nitiva.

7. Celebração e pregação

7.1 - Intróito (órgão, piano, instrumentos, coral).
7.2 - Sentimo-nos alegres com a presença de vocês neste culto do 2° Domingo de Advento. Damos as boas-vindas e desejamos que a mensagem de hoje caia sobre nós como um relâmpago, que nos assusta e ao mesmo tempo prepara para Àquele que chegará.
7.3 - Preparando-nos para viver o clima deste 2° Domingo de Advento, convido para cantarmos o hino l (HPD): Como hei de receber-te, benigno Redentor?
7.4 - O Advento nos desafia a esperar pelo Senhor Jesus e preparar a sua vinda. Nesse sentido, recebamos a palavra do evangelho segundo Lucas 21.27: O Filho do homem aparecerá descendo numa nuvem, com poder e grande glória. Participando dessa vinda de Jesus, convido para que o glorifiquemos com o hino 253 (HPD): Glorificado seja teu nome...
7.5 - Na presença deste Deus glorioso reconheçamos as nossas falhas e fraquezas: Eterno Deus! Diante de ti confessamos que erramos ao olhar nessa época de Advento para outras pessoas sentindo inveja, pois parece que suas vidas são bem mais aceitas do que as nossas. Queixamo-nos, ao mesmo tempo, que és injusto conosco. Perdoa-nos e renova-nos para que, vivendo o teu amor, possamos estar preparados para a tua vinda. Assim sendo, colocamos as nossas vidas diante de ti, cantando:
7.6 - Comunidade canta: Prepara em tua graça meu coração, Senhor (HPD 9,4).
7.7 Para esta época de preparação é importante ouvirmos os testemunhos bíbli­cos. Ouçamos, pois, do capítulo l, os versículos 3-11 da carta de Paulo aos Filipenses:
7.8 - Leitor lê Fp 1.3-11 e termina dizendo: Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e luz para os nossos caminhos.
7.9 - A comunidade responde, cantando: Enquanto, ó Salvador, teu livro ler, meus olhos vem abrir... (HPD 201.1).
7.10 - Na sequência dos testemunhos bíblicos, ouçamos do Evangelho de Lucas, os versículo l a 6 do capítulo 3.
7.11 - Leitor lê Lc 3.1-6 e termina dizendo: Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, alegrai-vos ! Perto está o Senhor.
7.12 - Comunidade canta em dois grupos: Alegrai-vos sempre no Senhor.
7.13 - Oração: Obrigado, Senhor, nosso Deus e Pai, por podermos festejar esta época de espera. Obrigado por estarmos reunidos e recebermos a orientação da tua palavra para a nossa vida. Por Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor e Redentor. Amém.
7.14 - Comunidade canta: Ó vinde em humildade vossa alma preparai! (HPD 9,1-2.)
7.15 - Leitura e reflexão do texto: Ml 2.17-3.4.

a) Tempo de espera - Esperar por quê? Pela vinda de Jesus? Ou muito mais pela retribuição: Eu faço isto e aquilo e mereço ser retribuído com presentes, com atenção, com reconhecimento? Pois o que eu faço não pode passar despercebido aos olhos de Deus. E nem das pessoas. Afinal, sou bem melhor do que os outros! Mesmo que eu tenha a impressão de que a vida de muitas pessoas esteja numa boa.
b) No tempo do profeta Malaquias a queixa era geral, pois diziam que os ou­tros iam bem, enquanto eles estavam na pior. Deus estava favorecendo outros povos e prejudicando o seu povo escolhido. O povo pediu justiça.
c) Deus reage, promete vir ao mundo e fazer justiça. Mas quem estará preparado para a sua vinda? Pois Ele virá para julgar, purificar e refinar. Deus não virá simplesmente para justificar a situação reinante. Ele virá para mudar. Esse mudar significa que as pessoas precisam arrepender-se. Precisam reconhecer a sua fraqueza, a sua inveja diante dos outros, dos quais dizem que vão bem e eles estão na pior. Não olhar para os outros, mas para Deus, que sempre os amou e os ama. Olhar para si, deixar de prejudi­car os outros (v. 5) e agir com novo ânimo para mudar a sua situação e a do povo.
d) Aí Deus se agradará e aceitará o louvor do seu povo como nos tempos antigos.

7.16 - A comunidade canta: Todo mundo louve a Deus... (HPD 2,1-4).
7.17 - Como resposta ao desafio da palavra de Deus, confessemos a nossa fé com as palavras do Credo Apostólico:
7.18 - Comunidade: Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, criador do céu c da terra...
7.19 - Como parte de nossa dedicação a Deus, recolhamos a seguir as ofertas que hoje destinamos para...
7.20 Pessoas passam e recolhem as ofertas. Durante o recolhimento a comuni­dade canta um hino de gratidão.
7.21 - As ofertas são colocadas no altar e faz-se uma oração de agradecimento e de intercessão pela entidade à qual se destina a oferta.
7.22 - Avisos comunitários.
7.23 - Oração: Obrigado, Deus e Pai, por teres vindo a este mundo em Jesus Cristo. Obrigado por este culto, pela participação e colaboração de todos. Obrigado por lua palavra desafiadora, que nos prepara para vivermos do teu amor, que não conhece limites e que nos desafia ao arrependimento; que nos desafia a vermos com novos olhos os outros e a nós mesmos. (A seguir, incluir orações por pessoas e grupos conforme pedido dos participantes do culto.) Tudo agradecemos e pedimos por Jesus Cristo, que nos ensinou a orar:
7.24 - Comunidade : Pai nosso, que estás nos céus...
7.25 - Comunidade canta: Os que confiam no Senhor são como o monte de Sião... (HPD 229,1-2.)
7.26 - O Senhor vos abençoe e vos guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre vós e tenha misericórdia de vós. O Senhor sobre vós levante a sua face e vos dê a sua paz.
7.27 - Comunidade: Amém.
7.28 - Ide em paz e servi ao Senhor.
7.29 - Comunidade: Demos graças a Deus.

8. Bibliografia

ELLIGER, Karl.Die Propheten. Gõttingen : Vandenhoeck & Ruprecht, 1950. (Das Alte Testament Deutsch).
NAKANOSE, Shigeyuki. Como ler o livro de Malaquias. São Paulo : Paulus, 1996.
SCHÖKEL, L. Alonso. Profetas II. São Paulo : Paulinas, 1991. (Grande Comentário Bíblico).Prédica: Malaquias 2.17-3.5

Proclamar Libertação 23
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia


Autor(a): Werner Brunken
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 2º Domingo de Advento
Testamento: Antigo / Livro: Malaquias / Capitulo: 2 / Versículo Inicial: 17
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1997 / Volume: 23
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 6999
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Tu és o meu Deus, eu te louvarei. Tu és meu Deus, eu anunciarei a tua grandeza.
Salmo 118.28
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