Marcos 1.4-11

Auxílio homilético

12/01/1997

Prédica: Marcos 1.4-11
Leituras: Isaías 42.1-7 e Atos 10.34-38
Autor: Ana C. Figueroa
Data Litúrgica: 1º Domingo após Epifania
Data da Pregação: 12/01/1997
Proclamar Libertação - Volume: XXII
Tema: Epifania

1. O Tema

Primeiro Domingo após Epifania. Este é o período litúrgico intermediário entre o nascimento de Cristo e a Páscoa. Epifania é revelação de Deus, graça revelada. Não é à toa que o texto escolhido trata da revelação de Deus no batismo de Jesus.

Para nós, comunidade cristã, todo o ano é uma grande festa reflexiva e celebrativa da memória do que fez, do que falou e de como viveu Jesus, nosso Senhor. Na Páscoa começa o nosso ano litúrgico. Começa aí porque um dos principais elementos para a compreensão da salvação em Cristo está no signifi¬cado de sua morte e ressurreição. O que significa para nós, então, a Epifania? Esse período, que se inicia com a condução dos reis magos ao Cristo através da estrela guia, é a nossa oportunidade para recordar os momentos de revelação do Cristo na vida de Jesus.

Refletir sobre os momentos de revelação do Cristo tem muita importância para a nossa vida cristã. Nesses momentos aprendemos um pouco mais sobre a nossa identidade, o nosso compromisso, a nossa vocação. E um momento de reflexão ética, de construção de referências.

O Cristo revelado é a luz para o nosso caminho e guia para os nossos passos. Epifania é revelação do Cristo. Nós, hoje, com praticamente dois mil anos de história do cristianismo, não devemos refletir o Cristo revelado como repetição de memória. Os discursos vazios de sentido para a vida enchem nossas igrejas e nossas vidas. Somos mestres em dizer e não fazer. O revelado é feito, visto, além de dito. Devemos evitar o espírito proselitista de querer que o Cristo seja nosso, dos cristãos; devemos evitar o ufanismo de entender o Cristo somente revelado a nós, mas devemos abraçar a ideia da gratuidade da ação divina nos propiciando a beleza de viver a presença do Cristo entre nós e recordá-lo como o norte para as nossas próprias vidas.

2. O Texto, os Textos

Temos como guia o texto que se encontra em Mc 1.4-11. Orienta-nos lambem a leitura de Is 42.1-7 e At 1.34-38. Todos eles tratam de uma dimensão da revelação. O texto de Marcos, com paralelos nos outros sinóticos e também, parcialmente, em João, trata do batismo de Jesus. O evento é marcado pela imagem da pomba que desce e pela voz que diz: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo. Ás leituras do dia cuidam para que não sejamos ingênuos no entendimento do lado prático do que significa ser filho de Deus. No ideário do judaísmo o filho de Deus é o servo sofredor idealizado em Isaías a partir do sofrimento vivido no exílio babilônico. Por outro lado, o caráter universal do Cristo é recordado no sermão de Pedro relatado na passagem de Atos.

Por isso entendemos como mantidas as devidas recomendações hermenêu¬ticas das leituras do dia, ou seja: a) que o filho de Deus é o servo que não esmagará a cana quebrada... e que vai abrir os olhos aos cegos...; b) o Cristo não é propriedade de ninguém, mas revelação para todos.

Pensemos, agora, no nosso texto para reflexão. Marcos é, provavelmente, o primeiro evangelho dos três sinóticos. Tem estilo próprio e seu contexto histórico determina o estilo da redação e a organização do conteúdo. Numa breve comparação percebemos que os sinóticos são muito parecidos no uso do material que contém a memória dos fatos. A unidade literária, sem dúvida, é dada pelo testemunho de João Batista, culminando com a revelação do Cristo em Jesus quando é balizado pelo Batista, seu precursor.

Marcos constrói o seu relato colocando o Batista como porta de entrada para a compreensão do sentido do evangelho de Jesus Cristo, filho de Deus. Reparem como logo após uma breve abertura o evangelista começa a relatar a respeito do ministério de João Batista (Mc 1.1-3). O relato do batismo de Jesus conclui a perícope sobre o Batista e ao mesmo tempo introduz o ministério de Jesus.

Marcos é um evangelista de poucas palavras. Seus relatos, com algumas exceções, são mais breves e diretos quando comparados com os outros sinóticos. As pesquisas sobre o Evangelho apontam Roma como comunidade destinatária de Marcos. É uma afirmação muito mais baseada na tradição do que na pesquisa exegética apurada sobre o contexto do texto. Há quem diga que um possível Proto-Marcos teria sido escrito primeiramente na Síria e depois levado a Roma, num processo migratório intenso dos cristãos do séc. 1.

De qualquer forma, essa passagem parece ter sido um trecho de prédica litúrgica na maioria das comunidades cristãs do séc. 1. É um estilo de relato muito propício para uma conversa entre as pessoas na hora de celebrar a menu iria sobre a vida de Jesus. Na raiz da narrativa está simplesmente o falo de que Jesus foi balizado e nessa ocasião houve epifania. É importante respeitar o movimento do texto em sua sincronia com a unidade literária no Evangelho de Marcos. No cap. l os vv. l a 11 são introdutórios ao relato da missão de Jesus. Como introdução ele pode ser dividido em perícopes. Nosso trecho sugerido vai dos vv. 4a II, mas já encontramos algumas rupturas nessa divisão, que devem ser revistas:
— os vv. 2 e 3 não podem ser separados da unidade 2 a 6;
— o trecho 2 a 11 pode ser dividido em três unidades menores: 2-6; 7-8; e 9-11. A própria comparação sinótica reforça essa ideia devido aos núcleos de informações comuns;
— as unidades são temáticas e sequenciais: 2 a 6 apresenta o personagem João Batista, mensageiro que prepara o caminho; nos vv. 7 e 8 João Batista confessa que espera o Cristo, não é o Cristo; em 9 a 11 o Cristo é manifesto na cena do batismo de Jesus.

Ao respeitar os temas assim organizados pelo evangelista devemos cuidar para não reduzir o sentido introdutório da passagem, que quer preparar o espírito do ouvinte/leitor para a grande narrativa que virá mais adiante.

3. A Prédica

Na organização das informações para a elaboração da prédica não temos como fugir das perguntas da vida atual que nos orientam no jeito de abordar o texto. Já dissemos antes que este é o momento de uma reflexão ética, para falar de identidade cristã. Neste ls Domingo após Epifania as alternativas são muitas.

Primeiro, pode-se comparar a ideia das sugestões de leituras. Em Isaías podemos refletir a respeito da intervenção nas injustiças que ocorrem no mundo — tarefa do cristão. Em Atos podemos refletir sobre o modo como as relações ecumênicas sinalizam a presença do Cristo. Em Marcos podemos amarrar as leituras que nos relatam sobre o Cristo revelado, inspiração e norte da vida cristã.

Outro caminho pode ser uma leitura passo a passo de toda a narrativa. As cenas são fortes e relatam, como num teatro, situações que crescem em intensidade de emoção, culminando com a pomba e a voz que vem do céu. Uma pregação que ressignifica os símbolos: o mensageiro, a água, o Espírito/pomba, a voz do mistério então revelado.

Uma alternativa possível seria também aprofundar os temas teológicos implícitos na narrativa: filho amado; batismo; o ministério do mensageiro. Nesta abordagem temática é possível trabalhar algumas ideias básicas da vida cristã.

De qualquer forma, o mais importante é perceber que o texto nos orienta para uma abordagem sobre a vida cristã, apesar de não estar diretamente ligado a uma reflexão ética. Mas como entender a revelação sem a prática de vida, ou como refletir a respeito do Espírito que age sem levar em consideração as próprias ações que estão manifestas, reveladas a nós?

A cena mensageiro/batismo/epifania deve ser a figura simbólica para entender que nós também somos mensageiros e testemunhas do Cristo revelado em Jesus. Só que para nós compete pensar no testemunho que nos cabe nos dias atuais.

4. Bibliografia

Para auxiliar a conversa com a comunidade sobre o tema podemos utilizar alguns materiais de fácil acesso:

ABUMANSSUR, E. S. & SANTA ANA, J. Jesus Cristo, a Vida do Mundo. São Paulo, Sagarana, 1984. (Primeira parte.)
POR TRÁS DAS PALAVRAS. Ns 24, 1989; na 33/34, 1990. São Leopoldo, CEBI. VV. AA. Quem É Jesus Cristo no Brasil? São Paulo, ASTE, 1974.


Proclamar Libertação 22
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia

 


Autor(a): Ana C. Figueroa
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: 1º Domingo após Epifania
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 4 / Versículo Final: 11
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1996 / Volume: 22
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 12116
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