Marcos 14.32-42.

Alocução Culto Eucarístico

24/11/1994

1. A situação

A alocução foi proferida numa Quinta-Feira Santa. A situação estava tensa para a comunidade e para o pregador. Havíamos tido uma série de sepultamentos de pessoas queridas, o matrimônio de uma pessoa ligada ao presbitério estava no fim. Muitos de nós diziam: Não posso mais!

2. O texto

O texto usado foi Marcos 14.32-42.

3. A alocução

Minhas irmãs e meus irmãos!

Reunimo-nos para celebrar a Ceia do Senhor depois de termos nos despedido de muitas pessoas queridas de nossa comunidade. Em diversas de nossas famílias há tristeza e conflitos. E é nessa situação que o evangelho quer falar a nós e nos convida para acompanharmos a Jesus.

1.
Depois de celebrada a Santa Ceia, Jesus deixa a cidade de Jerusalém e desce para o vale. Ali, onde o vale começa a subir em direção ao Monte das Oliveiras, está o Jardim das Oliveiras. Os troncos das antigas oliveiras podem ser vistos ainda hoje. São testemunhas silenciosas do que presenciaram. Jesus quer orar e, por isso, deixa a maior parte de seus discípulos para trás. Só leva três consigo. Ele tem medo da solidão. Também nesse aspecto Deus se coloca completamente do nosso lado. Ele se torna humano como nós. Mesmo querendo dialogar com o Pai, Jesus não prescinde da comunhão com seus companheiros. Leva consigo a Pedro, Tiago e João. A eles Jesus perguntara: Estais dispostos a beber comigo o cálice? Agora as coisas ficam sérias para Jesus e para os três discípulos.

Enquanto as coisas ainda estão distantes de nós, é fácil dizer: Topamos a parada! Agora... Durante sua atividade terrena, Jesus predissera a hora da paixão e do sofrimento, e agora? Agora temos esse entristecer-se e angustiar-se. Será que essa tristeza e essa angústia ainda têm razão de ser depois dos anúncios do sofrimento, depois da Santa Ceia, em que a tristeza e a angústia e a certeza da morte próxima foram a tônica dominante? A resposta a essa pergunta pode ser dada por todo aquele que crê. Também a fé mais firme fica exposta à dúvida. O apóstolo Paulo diz: Não há nada que nos possa separar do amor de Deus. Hoje posso ter certeza dessa realidade, para amanhã duvidar dela. Posso preparar-me hoje para a morte e pensar alegre em minha ressurreição, mas quando chegar a hora pode ser que terríveis depressões tomem conta de mim. Essa situação é a mesma pela qual Jesus passa. Jesus não é aqui um super-homem como nós o costumamos imaginar. Ele é um homem tentado. Seria fácil subir o Monte das Oliveiras até seu topo e descer do outro lado, fugindo. Mas isso teria sido o fim da missão de Jesus. Tudo continuaria no mesmo. A obra da reconciliação ficaria incompleta. Seríamos pessoas não-reconciliadas, porque Deus ter-se-ia afastado de nossa maior angústia e nela não se teria encarnado.

Através de toda a sua obra, Jesus nos quer tornar filhos de Deus. Se ele tivesse fugido, ter-se-ia voltado contra o Pai, deixaria de ser Filho. Aqui, nesta cena, encontramos Jesus completamente do nosso lado. Sua luta é nossa luta. Nessa situação desesperadora, ele faz a única coisa possível: invoca o Pai.

2.
Observemos os discípulos, a comunidade de Jesus, nós. Eles o deixam só. Jesus precisa de comunhão com eles. O fato de invocar o Pai não significa que ele possa desistir do apoio dos irmãos. E por isso que pede: Vigiai comigo!

A Igreja dorme, enquanto seu Mestre tem que travar sua maior batalha. Não é essa a nossa situação? Ou será que agimos de modo diverso dos discípulos, vigiando com Jesus? Conseguimos, realmente, carregar a nossa cruz, após o Mestre?

Os olhos se fecham. Nós fechamos os olhos, quando não podemos mais. É difícil a gente ficar firme ao lado de uma pessoa que não sabe mais o que fazer de tanto medo. Nesses casos nós gostamos de desligar. Fechamos os olhos e dizemos: Não posso mais! Eles desligam e depois, no instante extremo, abandonam-no.

Na hora da maior tentação, Jesus experimenta solidão. Aqui começa a paixão. Aqui ele não está mais com os seus. Agora só se pode dizer: ele está aí para os seus. Ante esse fato, temos que confessar: só podemos viver porque ele assumiu essa solidão em nosso favor! Nós somos a Igreja dos que abandonaram a Jesus na hora H! Somos a Igreja que só pode viver porque ele fez tudo por nós!

Esse Cristo angustiado é sacrificado pelo Pai. Ele luta com o Pai: Morrer é fácil, Pai, mas ter que morrer essa morte é horrível! É a morte do sem-Deus; é a morte do abandonado e castigado por Deus.

E, mesmo assim, após lutar, Jesus dobra-se à vontade do Pai. Diz sim à maldição que pesa sobre ele. Ele ensinou aos seus a prece: Seja feita a tua vontade! Agora, ele próprio a ora: Não a minha vontade, mas a tua vontade seja feita. Aqui ele se coloca completamente nas mãos de Deus e ainda chama a Deus de Pai. É aí, justamente aí que ele encontra paz. Ele é o homem que está completamente do nosso lado e completamente do lado do Pai. Por isso, é o Deus que está completamente do nosso lado e é totalmente fiel a si mesmo. Isso significa salvação.

Vivemos de uma Santa Ceia para a outra, experimentando a fidelidade de Deus, apesar de nossa infidelidade. O que faz de nós uma comunidade não é a nossa decisão, mas a decisão de Deus por nós. Meu desejo ardente é que ao celebrarmos a Ceia, hoje, possamos voltar ao Senhor, porque ele já se voltou para nós. Que ele nos dê forças para nos voltarmos aos que entre nós não podem mais. Amém.


Autor(a): Martin Dreher
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Quaresma
Perfil do Domingo: Quinta-feira Santa
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 14 / Versículo Inicial: 32 / Versículo Final: 42
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1994 / Volume: 20
Natureza do Texto: Liturgia
Perfil do Texto: Alocução
ID: 17681
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Isaías 58.11
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