Marcos 16.1-8

Auxílio Homilético

31/03/1991

Prédica: Marcos 16.1-8
Leituras: Isaías 25.6-9 e I Coríntios 15.19-28
Autor: Werner Brunken
Data Litúrgica: Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 31/03/1991
Proclamar Libertação - Volume: XVI


1. Considerações gerais

1 — Auxílios homiléticos sobre o presente texto encontramos nos volumes IV e X do Proclamar libertação. Os dois trabalhos oferecem bom material para a compreensão do texto. Sugiro ler os referidos trabalhos para inteirar-se de alguns pormenores, que não comentarei a seguir.

2 — Fazem parte do presente texto dentro da Série ABC os textos Isaías 25.6-9 e l Coríntios 15.19-28. Sobre o 2° texto elaborei um subsídio que se encontra no Proclamar libertação XV.

2. Contexto

Marcos 16.1-8 é antecedido pelo relatos da morte e sepultamento de Jesus. Havia tristeza e desânimo geral. O presente texto inclusive aponta para esta situação, pois mesmo diante da mensagem da ressurreição ainda permaneciam a incerteza e o medo. Na sequência se percebe que a mensagem da ressurreição não foi logo aceita pelo que a ouviram. Havia muita dúvida. Finalmente Jesus apareceu aos onze e censurou-lhes a incredulidade e dureza de coração (16.14).

Ao ler os relatos sobre a ressurreição em Mateus e Lucas, notamos que ali as pessoas tiveram mais facilidade para aceitar a ressurreição, pelo menos as primeiras pessoas. Já no relato de João notamos as mesmas dificuldades encontradas em Marcos: muita dúvida quanto à ressurreição.

3. Exegese

1 — A tradução conforme Edição Revista e Atualizada no Brasil de João Ferreira de Almeida corresponde ao texto original e não oferece problemas.

2 — A perícope tem relato semelhante nos demais evangelhos.

3 — Exegese dos versículos:

V. l — Quanto às primeiras pessoas que foram ao túmulo os relatos diferem. Vemos que houve dificuldade de precisar quem foram na verdade as primeiras pesso¬as que constataram que Jesus não estava mais no túmulo, onde o haviam colocado. O que importa, no entanto, não é quantas pessoas, nem quem elas eram, mas que pessoas estavam interessadas em render sua última homenagem a Jesus. Afinal, Ele lhes tinha falado bastante a respeito de uma nova vida e agora tudo havia passado.

Este Jesus merecia uma homenagem póstuma. Assim as três mulheres, conforme o relato de Marcos, compraram aromas para embalsamar Jesus. Conforme Mc 15.16 o corpo tinha sido envolvido com um lençol. As mulheres pretendiam embalsamar o corpo para que a decomposição não fosse tão acelerada.

V- 2 — Todos os relatos falam que a ida ao túmulo aconteceu no primeiro dia da semana. É um dado histórico importante e sobre o qual não pode haver dúvidas. Esta ida ao túmulo aconteceu bem cedo. O sol estava despontando no horizonte.

V- 3 — A dúvida se acendeu quando se lembraram que diante do túmulo havia uma grande pedra. Todos os evangelistas fazem menção da pedra diante do tú¬mulo. Mas, enquanto nos demais evangelhos se constata que a pedra já estava revolvida ou foi revolvida diante dos seus olhos, no relato de Marcos elas conversaram no caminho sobre a dificuldade de remover a pedra.

V- 4 — A dúvida se desfez quando chegaram ao túmulo e viram a pedra revolvida. O evangelista não refletiu no texto sobre como isto foi possível. Quem afinal tirou a pedra diante do túmulo? Parece que este fato lhe era secundário, sem importância. Doutro lado, para a vida de fé tal reflexão é importante, pois chega-se à conclusão de que a ação de Deus se fez presente. O que para as pessoas era problema e dúvidas, para Deus se tornou uma possibilidade de ajudar as pessoas. Deus no seu agir fez com que esta pedra fosse revolvida e as pessoas tivessem livre acesso ao túmulo.

V. S — Ao entrarem no túmulo, seus olhares foram dirigidos a um jovem vestido de branco assentado ao lado direito. Algo estranho para elas, e, por isso, ficaram surpreendidas e atemorizadas. O jovem vestido de branco na mensagem bíblica é identificado com os anjos (mensageiros) de Deus. Este os usa para transmitir sua mensagem ao mundo (Ap 5.2; At 8.26). Quanto ao ser jovem é a concepção que o evangelista tinha da aparência dos anjos. Vestido de branco — sinal da pureza dos mensageiros de Deus. Como não era comum se ver um anjo de Deus, a atitude das pessoas foi de surpresa e temor.

Vv. 6-7 — O anjo de Deus, ao ver as mulheres paradas e caladas com os olhos cheios de pavor, confortou-as com as palavras não se atemorizem. Vocês não precisam ter medo. Vocês estão procurando Jesus, que foi crucificado. Ele não está mais aqui. Ele ressuscitou. E o anjo de Deus continuou a transmitir a mensagem. Elas deveriam deixar o túmulo e dizer aos discípulos que Jesus iria aparecer-lhes na Galiléia. Sua manifestação não se daria em Jerusalém (Judéia), mas na Galileia, no local antigo dos discípulos. Pois após a prisão e morte de Jesus os discípulos voltaram para suas casas na Galiléia. A mensagem deveria ser transmitida também a Pedro, que tinha negado Jesus (Mc 14.66-72). Ele precisava de uma injeção de esperança e de ânimo. A ele Jesus queria aparecer.

V. 8 — Mas as mulheres não estavam nada animadas diante da mensagem do anjo. Fugiram com medo da presença do anjo e nada disseram aos discípulos. Certamente pensaram que as pessoas não iriam dar crédito ao que dissessem a respeito do anjo e do túmulo vazio. Ou elas próprias não conseguiam aceitar o que viram e ouviram.

4. Meditação

Incompreensão, dúvida, medo — eis o que passou na vida das mulheres ao irem ao túmulo de Jesus no primeiro dia da semana. Elas tinham em mente rendei uma última homenagem a Jesus e tudo aconteceu diferente.

Não é esta a realidade de milhares de pessoas em nossos dias? Fazem-se pia nos e se procura executá-los. Isto em todos os setores da vida: na escola, na família, no trabalho, na economia, na política, nos grupos sociais, na despedida de entes queridos, nas homenagens aos mortos. Tudo geralmente é bem planejado e se procura executar. Espera-se que nenhuma pedra de tropeço seja colocada no caminho. Mas muitas vezes estas boas intenções, estes bons propósitos não se cumprem em nossa vida. E por quê? Porque somos acostumados a ver só a nós mesmos e nossos planejamentos. Tenho experimentado isto comigo e com outras pessoas: quando a gente coloca algo na cabeça, é difícil aceitar algo diferente. A gente defende com unhas e dentes o seu ponto de vista. E quando as coisas se desenrolam diferente, há surpresa, há medo, há incertezas.

Interessante é observar que enquanto os próprios planos se concretizam, as pessoas andam de cabeça erguida, orgulhosas, cientes de que vão vencer. Mas quando algo acontece diferente ou alguém lhes mostra que não é este o caminho para resolver os problemas, aí há perplexidade, insegurança, medo, fuga.

Foi o que aconteceu com as mulheres no túmulo vazio. Estavam perplexas. Não estavam preparadas para algo diferente: mensagem do anjo a respeito da ressurreição de Jesus. Por isso fugiram e não disseram nada a ninguém.

Páscoa! Ressurreição de Jesus! Será que esta mensagem ainda possui o fermento do novo em nossos dias? Será que estamos preparados para mudar de pensamentos, de rumo? Será que ainda aceitamos que Deus pela ressurreição pode interferir em nossos planos e pensamentos e mudá-los?

Vejamos! Esta é a mensagem do anjo nesta Páscoa: Ele não está aqui. Ele ressuscitou. Ele vive. Isaías (25.6-9) aponta para este novo e diferente quando diz: Tragará a morte para sempre, e assim enxugará o Senhor Deus as lágrimas de todos os rostos. Deus quer criar algo novo, que esteja além de nossos planos e de nossas possibilidades. Também o apóstolo Paulo em l Co 15.19 aponta para aquilo que está além de nossas possibilidades: Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.

As mulheres no dia da Páscoa não conseguiram olhar além do túmulo vazio. Daí a sua surpresa, temor, fuga e silêncio. Acredito que também nós precisamos mudar de rumo diante da mensagem da ressurreição. É preciso deixar de materializar demais esta mensagem no sentido de planejar tudo e afirmar com certeza absoluta: Este novo da ressurreição vamos conseguir por nosso esforço. Sabemos as causas da morte. Já está tudo planejado. Basta o esforço e organização da sociedade e tudo vamos conseguir. Estou consciente de que precisamos lutar por paz com justiça diariamente, mas não podemos perder de vista o novo, o diferente que só Deus pode criar. É certo que ele nos usa como seus instrumentos, mas a última palavra, a decisão final é dele. Aceitar esta mensagem é muito difícil. Foi difícil para as mulheres e para os discípulos de Jesus. Depois de lhes aparecer várias vezes e lhes falar a respeito do reino de Deus (At 1.3) é que se deixaram transformar. Perderam o medo e, movidos pelo poder de Deus, passaram a falar ao mundo a mensagem do evangelho.

Também nós precisamos estar abertos nesta Páscoa para a mensagem da ressurreição, que quer transmitir-nos uma esperança que vai além dos nossos planejamentos e das nossas possibilidades. Uma mensagem que nos liberte do medo e da fuga. Precisamos estar abertos para que o Espírito de Deus possa criar este algo novo em nosso mundo, mas, sobretudo além dele. A Páscoa é assim o tempo no qual precisamos deixar de lado nossos planos para estarmos abertos para os planos de Deus.

5. Sugestões para a prédica

Usar os pensamentos desenvolvidos na meditação:

1 — Nossos planos e sua execução.
2 — Incompreensão, dúvida, medo e fuga quando algo acontece diferente do que planejado.
3 — As mulheres no primeiro dia da semana encontravam-se nesta situação.
4 — Deus cria algo novo através da ressurreição sem a interferência das suas criaturas. Descrever o fato da ressurreição.
5 — As mulheres não conseguiram aceitar a ação de Deus.
6 — E hoje? Ainda damos lugar à ação de Deus — à ressurreição? Onde temos planejado tudo nos mínimos detalhes e temos respostas para tudo?
7 — Precisamos reaprender a dar espaço para o novo de Deus, que, conforme Isaías, enxugará dos olhos toda lágrima e acabará definitivamente com a morte. E, conforme o apóstolo Paulo em l Co 15, ressuscitaremos para uma outra vida porque Ele ressuscitou e onde Ele será o Senhor absoluto e tudo em todos.

6. Subsídios litúrgicos

1. Intróito: Diz o apóstolo Paulo: Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.

2. Confissão de pecados: Eterno Deus e Pai! A nossa esperança não pode limitar-se a esta vida. No entanto, nossos planejamentos e ações muitas vezes se limitam a melhorar as situações neste mundo. Perdoa-nos, pelo sangue de Jesus, por termos uma visão tão curta, que nos leva ao medo e ao desespero. Abre nossas mentes para algo novo e diferente, que só tu podes criar e executar. Humildemente pedimos-te: tem piedade de nós, Senhor.

3. Absolvição: Onde nos aproximamos de Deus conscientes de nossas limitações, Ele nos enche de esperança: ler Isaías 25.6-9.

4. Oração de coleta: Obrigado, Pai celeste, porque tu vês as nossas limitações, frustrações e medo. Tu abriste através da ressurreição um raio de luz, que nos enche de esperança. Concede que neste encontro possamos deixar de lado nossos planos para aceitar algo novo, que possa mudar nossas vidas. Por Jesus Cristo, que contigo e com o Espírito Santo vive e reina para sempre. Amém.

5. Leitura bíblica: l Co 15.19-28.

6. Oração final: Senhor, nosso Deus e Pai! Obrigado pela mensagem da ressurreição. Pois ela nos conscientiza de que esta nova vida vai além de nossos planos terrenos e materialistas. Nossos esforços e nossas lutas continuam neste mundo para experimentarmos dias melhores. Mas ao mesmo tempo reconhecemos nossas limitações e fraquezas. Ajuda-nos, Senhor, para que nesta luta diária não esqueçamos que a vitória final está em tuas mãos. Só em ti há vida plena. Por isso, a nossa esperança vai além da visão deste mundo; vai ao reino eterno, onde tu serás definitivamente o nosso Deus e nós o teu povo. Por Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Amém.

7. Bibliografia

Breit, Herbert — Markus 16.1-8. In: Neue Calwer Predigthilfen; Erster Jahrgang A; Stuttgart, 1978.
Malschitzky, Harald — Marcos 16.1-8. In: Proclamar Libertação; Vol. X; São Leopoldo, 1984.
Weingärtner, Lindolfo — Marcos 16.1-8. In: Proclamar Libertação; Vol. IV; São Leopoldo, 1979.


Autor(a): Werner Brunken
Âmbito: IECLB
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Área: Governança / Nível: Governança - Rede de Recursos / Subnível: Governança-Rede de Recursos-Auxílios Homiléticos-Proclamar Libertação
Natureza do Domingo: Páscoa

Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 16 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 8
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1990 / Volume: 16
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 13316
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