Marcos 6.1-6

Auxílio Homilético

06/07/1997

Prédica: Marcos 6.1-6
Leituras: Ezequiel 2.1-8a e 2 Coríntios 12.7-10
Autor: Waldemar Witter
Data Litúrgica: 7º. Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 06/07/1997
Proclamar Libertação - Volume: XXII


1. Introdução

Marcos apresenta um Jesus enigmático: Quem diz o povo que eu sou?; Quem dizem vocês que eu sou? Jesus pede segredo sobre sua revelação como Messias. Isto é para nós um sinal de que a figura de Jesus que Marcos apresenta é mais próxima da realidade histórica. Há uma teologia das comunidades, mas ainda não tão elaborada quanto aquela desenvolvida pelos outros evangelhos escritos depois. Jesus recebe de João o batismo e vem do deserto para iniciar sua missão, conforme o relato de Marcos. Sua missão é anunciar e trazer o reino de Deus. Há grupos que não o recebem; entra em conflito com eles. Quem é este; donde vem a este essas coisas?

2. O Texto

Marcos 6.1-6 está inserido no contexto que relata a atuação de Jesus em Nazaré. O contexto menor são os relatos isolados de Mc 6.1-33: Jesus é rejeitado na sua terra (6.1-6); Jesus envia seus discípulos (6.7-13); o retorno dos discípulos (6.30-33). Nesta perícope não está definido o local da pregação de Jesus — Galiléia? Nazaré? Belém? No texto paralelo de Lucas fala-se de Nazaré. Julgamos não ser relevante esse fato para o presente auxilio, por isso não entraremos em detalhes.

Jesus é um cumpridor da tradição religiosa — vai, no sábado, ensinar na sinagoga, conforme era costume. Acontecem reações diferenciadas da parte dos ouvintes. Num primeiro momento o texto relata que muitos, ouvindo-o, se maravilhavam (v. 2). Em seguida levantam-se dúvidas e suspeitas: Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago... (v. 3). Num terceiro momento surge o desprezo: E escandalizavam-se nele (v. 3b). A partir desta estrutura de manifestações, e amparados ainda no texto paralelo de Lc 4.16-30, onde encontramos o relato de que Jesus foi expulso da cidade, levado ao cume do monte para de lá o lançarem abaixo (Jesus, porém, passando por entre eles, telhou-se (v. 30J), temos fortes indícios para concluir que havia na sinagoga um grupo de seguidores de Jesus — os que se maravilharam e seguiram Jesus ale o cume do monte e o protegeram para que pudesse fugir entre eles. Se for assim, aqueles que questionaram a autenticidade de Jesus, aqueles que se escan¬dalizaram, eram representantes de outro grupo (sacerdotes? escribas e fariseus?).

3. Mensagem

A história começa com a partida. Jesus está a caminho e os discípulos o acompanham. Jesus vai para a sua terra natal, talvez para rever pessoas, animar lembranças. É o Deus humano que sente saudades, que tem sentimentos, que visita parentes e amigos... as multidões não vêm ao seu encontro. Jesus vai à sinagoga e lá o Mestre ensina a ponto de muitos se maravilharem; mas nem todos se maravilharam.

Jesus continua olhando para os muitos que gostam de ouvir maravilhas, mas que não crêem naquilo que seus olhos vêem. Jesus não xinga, não grita, só lhes diz o que fica evidente em toda essa história: com ou sem honra, existem profetas. E profetas são honrados, reconhecidos, estimados, mas não na sua terra natal, entre seus parentes, na sua casa. O profeta é um proclamador e/ou intérprete da revelação divina. Jesus não fez ali nenhum milagre por causa da incredulidade, da falta de fé dos ouvintes. Milagres não são fenómenos extremamente excepcionais, mas são acontecimentos que brotam a partir da fé das pessoas e da ação de Jesus. Há pessoas ali que não querem ouvir o que Jesus lhes quer anunciar. Por isso resolve não ficar e vai adiante, a caminho, ensinando em outras aldeias.

Ao ir para sua terra, onde foi criado, Jesus entra na sinagoga num sábado, segundo o costume, para ler. Lê o profeta Isaías e começa a ensinar. O poder divino leva Jesus a abrir a Bíblia e a explicá-la para as pessoas que ali se encontram. O Espírito então age através da pregação. Ele usa a palavra para se comunicar. Também em nossos dias o Espírito Santo faz uso desse livro para criar fé e para transformar a vida das pessoas. Messianismo acontece ali onde os sem-terra, os sem-lar, os destituídos de valor recriam o mundo por suas palavras e suas ações. É esta presença de Deus que faz surgir da letra morta sinais de vida. É a presença do Espírito Santo que nos faz entender e aceitar a mensagem contida na Bíblia.

No texto paralelo de Lucas é especificado o que Jesus estava ensinando: é enviado para evangelizar os pobres, proclamar libertação aos cativos, restaurar a vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos e anunciar que chegou o tempo em que o Senhor salvará o seu povo.

Evangelizar os pobres — Pobres são os que estão de mãos vazias, os que sofrem privações e necessidades, os que estão afastados da palavra de Deus, os que têm fome e sede de pão e de justiça.

Proclamar libertação aos cativos — Cativos são os que vivem sem liberdade, certamente não só os que se acham presos nas cadeias públicas. São também os que têm sua liberdade destruída por vícios, por doenças e desgraças, e a prisão que a sociedade fabrica com as grades do egoísmo, injustiça e falta de solidariedade.

Restaurar a vista aos cegos — Cegos são os que não vêem, que são incapazes de reconhecer a realidade. Os que, tateando no escuro, fiando-se em sua luz própria, em sua inteligência, sua filosofia, se embrulham sempre mais no cipoal do erro, da dúvida, dos caminhos enganosos. Restaurar a vista aos cegos é também restaurar luz própria às pessoas que vivem sob esse jugo para que possam caminhar um novo caminho.

4. Subsídios Litúrgicos

Intróito: Vinde, cantemos ao Senhor, com júbilo, celebremos o Rochedo da nossa salvação. (Sl 95.1.)

Confissão de pecados: Senhor Deus! Mais uma vez estamos reunidos neste culto como tua comunidade. Agradecemos-te por este momento. Em humildade também confessamos diante de ti que estamos por demais preocupados com os nossos projetos individuais e pouco preocupados com o projeto do teu reino. Confessamos que nos acostumamos com as desigualdades ao nosso redor e pouco fazemos na busca da igualdade, da justiça e da solidariedade. Muitas vezes deixamos de ouvir tua palavra porque ela questiona o nosso modo de viver e agir e nos desafia a evangelizar os pobres, proclamar libertação aos cativos, restaurar a vista aos cegos e desiludidos. Queremos pedir perdão pelos erros e pecados cometidos e pelo nosso comodismo ou indiferença. Tem piedade de nós, Senhor.

Absolvição: Feliz aquele que teme ao Senhor e vive de acordo com a sua vontade. (Sl 128.1.)

Oração de coleta: Senhor, te rendemos graças por podermos agora, saindo das agitações desta semana, chegar a ti e diante de ti podermos ficar sossegados c quietos. Faze com que esta quietude se torne tão profunda a ponto de silenciar as vozes da angústia e das preocupações. Dá que ouçamos a tua palavra a partir desse silêncio, porque tu tens palavras que consolam, curam e nos animam. Mostra-nos quando e onde devemos nos engajar no projeto solidário e igualitário pregado e vivido por Jesus Cristo. Ajuda-nos a termos a confiança de que tu podes dar-nos verdadeira alegria e certeza nesta tarefa hoje e todos os dias. Amém.

Leituras: Fiz 2.l-8a e 2 Co 12.7-10.

Oração final: Convidar algumas pessoas da comunidade, com antecedência, para participar da oração final com assuntos da comunidade. Sugestão de intercessões: crianças e jovens; pelo trabalho nos diversos setores da comunidade; doentes ou enlutados; por aqueles que são tentados a sempre criticar ou prejudicar os outros; aqueles que se afastaram da Igreja para não serem questionados pela palavra de Deus; por saúde; justiça; paz. Trazer alguns motivos concretos de agradecimento por fatos ocorridos na última semana, seja na vida pessoal, familiar, comunitária, social... Após cada intercessão a comunidade responde: Ajuda-nos, ó Deus, a fazer a nossa parte. Após cada agradecimento a comunidade responde: Senhor, te louvamos e bendizemos.

Bênção: Dois a dois, com imposição das mãos e abraço da paz cantado ou falado: Deus te abençoe, Deus te proteja, Deus te dê a paz, Deus te dê a paz.

Envio: Mt 5.14-16.

Hino: Hinos do Povo de Deus, no 263.

5. Bibliografia

GOPPELT, Leonhard. Teologia do Novo Testamento; Volumes l e 2. São Leopoldo, Sinodal, 1983. pp. 61 ss.
SCHWEIZER, Eduard. Das Evangelium nach Markus. Göttingen, Vandenhoeck & Ruprecht. pp. 64ss.


Autor(a): Valdemar Witter
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 7º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 6 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 6
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1996 / Volume: 22
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17669
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