Marcos 8.27-30

Prédica

29/05/1977

Marcos 8.27-30 - Quem diz o povo ser Jesus?

4º. Dia da Igreja do Distrito Eclesiástico ljuí (RS), em 29-05-77 

Então Jesus e os seus discípulos partiram para as aldeias de Cesareia de Filipe; e, no caminho, perguntou-lhes: Quem dizem os homens que sou eu? E responderam: João Batista; outros: Elias; mas outros: Algum dos profetas. Então lhes perguntou: Mas vós, quem dizeis que eu sou? Respondendo, Pedro lhe disse: Tu és o Cristo. Advertiu-os Jesus de que a ninguém dissessem tal cousa a seu respeito. 

Meus caros amigos!

I - Lá na minha terra, onde me criei, havia um médico muito bom. Logo depois que se formou em medicina ele foi para lá, bem moço. Gostou do lugar e do pessoal, foi ficando e nunca mais saiu de lá, até morrer. No cortava a barriga do pessoal só para faturar. Levantava-se a qualquer hora da noite, sem reclamar. Metia-se na última picada para ajudar alguém. Viu minha mãe criar-se, viu-me nascer, a mim e a todos os meus primos. Acompanhou minha avó quando o câncer foi acabando com ela. Cuidou do meu sarampo e da coqueluche do meu irmão. Um médico daqueles que conhece a todos, por fora e por dentro; um médico em quem se podia confiar sempre. Tinha lá os seus pequenos defeitos, também. Mas não contavam. 

Agora imaginem que eu estou sentado com esse médico, de tardezinha, tomando chimarrão, conversando disso e daqui lo. De repente ele olha para mim e diz: O Nelson, quem tu dirias que eu sou?. Eu não entendo bem a pergunta. Assim de repente. Ele sabe que sei quem ele é. Por que pergunta? Parece que precisa saber se eu realmente o conheço, parece que ele precisa ouvir isso, expressamente, da minha boca. Não basta que eu diga: Ora doutor, mas o senhor sabe! Não, ele quer ouvir a minha resposta, clara, sem rodeios. E ele merece uma resposta. Por isso eu fico pensando - quem tu dirias que eu sou? - penso em tu do que ele significa para os meus, para o nosso lugar, para - mim. Então olho bem para ele e digo: Olha, o senhor é o doutor. E nessas palavras está tudo que sinto; toda experiência boa que já tivemos com ele e toda confiança que deposito nele. Médicos, doutores, há muitos. Mas o senhor é o nosso doutor.

II - Uma situação parecida deu-se há muito, muito tempo, quando Jesus ainda andava entre os homens, lá na Palestina. Um dia vinha caminhando com os seus discípulos pela estrada, andando, conversando disso e daquilo como a gente faz quando caminha assim numa turma - de repente ele pára e diz: Me digam uma coisa, quem é que o pessoal anda dizendo que eu sou? Pergunta estranha. Mas os discípulos ficam pensando. Aquele pessoal todo, nas redondezas, já ouviu Jesus falar, já percebeu as coisas importantes que ele dizia, já notou que havia algo de muito especial em torno daquele homem, algo que tinha a ver com os homens e Deus. E por isso, foram dizendo os discípulos meio misturado, falando um, falando o outro, tem gente que acha que tu és o Elias, aquele profeta antigo que, como dizem, Deus não deixou morrer, mas levou para o céu assim mesmo, vivo. Outros aí andam dizendo que tu és o João Batista, que ressuscitou. E tem muitos que no sabem bem certo, mas acham que tu és um dos profetas? É, o pessoal adivinhava que havia algo de muito especial com esse Jesus. 

Mas aí Jesus se vira para os discípulos e diz: E vocês, quem vocês diriam que eu sou? Os discípulos não entendem. Por que essa pergunta. Então, Jesus não sabe que eles o conhecem? E eles ficam ali, quietos, olhando para o chão, aquela pergunta batendo nos ouvidos, quem vocês diriam que eu sou?. Até que Pedro levanta a cabeça, olha nos olhos de Jesus, bem firme e diz: Tu és o Cristo!. 

III - A pergunta de Jesus aos discípulos é igual àquela pergunta do médico a mim. Vocês diriam que eu sou quem? Jesus quer saber. Jesus precisa saber. E ele quer saber da dente, da boca da gente. Aquele médico convivia comigo, sabia que eu gostava dele. Jesus convivia com os discípulos, sabia que gostava dele, que o apreciavam; eles tinham até deixado tudo para segui-lo. Mas chega um momento em que ele quer ouvir da sua boca, direto, preto no branco. Jesus chama uma resposta, Jesus exige uma resposta. E aí nós não temos escapatória. Não adianta ficar em silêncio, pois nesse caso o silêncio é a resposta mais dolorosa.

É, Jesus exige uma resposta de todos que o seguem. Também hoje. Chega um momento em que vem a pergunta. Ela vem de repente. Ela incomoda um bocado. A gente fica embatucado. Por que essa pergunta? O que é que ele está querendo? Para quem convive com Jesus, a pergunta vem. Cedo ou tarde, mas vem. Ela por de explodir na nossa frente numa leitura da Bíblia, na palavra dita por alguém, no encontro com uma pessoa, no confronto com o sofrimento de um ser humano. De uma forma ou de outra, chega o momento em que Jesus exige: e tu, quem tu dirias que eu sou?. 

IV - As perguntas do médico e de Jesus foram iguais. Mas a resposta de Pedro foi bem diferente da minha. Quando o médico me perguntou: O Nelson, quem tu dirias que eu sou? - Eu fui me lembrando de tudo que ele tinha feito, de toda a experiência que tinha tido com ele, e aí eu disse: O senhor é o doutor! A resposta que eu dei veio da experiência feita com aquele homem. E a minha resposta foi completa; ela envolveu tudo o que aquele médico significava. 

As pessoas que dizem Elias, João Batista, um dos profetas também se baseiam na experiência sua ou do seu povo. Elas sabem que ha algo de especial com esse homem; e então elas buscam nas histórias que conhecem, nas experiências que tiveram,- uma comparação. Esse Jesus é tão diferente, parece que ha nele alguma coisa daquele Elias, daqueles profetas, dos quais ouvimos falar. 

E assim, buscando comparações na sua história e nas suas experiências, aquela gente esta no caminho certo, mas não chega a entender mesmo quem é Jesus. Porque nenhuma experiência, nenhuma história, nenhuma doutrina, nenhum livro é capaz de abrir nossos olhos para que realmente entendamos quem é Jesus. 

Pedro diz: Tu és o Cristo!. Tu és aquele que Deus mandou para acertar as coisas com o mundo - para sempre - tu és aquele que vai levar toda humanidade de volta para Deus - em ti eu vejo Deus, aqui na minha frente. Meus amigos, isso é um absurdo tão grande! Isso é uma novidade tão radical, que não esta na experiência de ninguém, não pode ser ensinado por ninguém. Dizer de uma pessoa de carne e osso como tu e eu: Tu és o Cristo, em ti Deus está presente - isso é uma coisa tão absurda que ninguém pode descobrir ou entender por si só, por ensinamento de alguém ou pela experiência. A esse reconhecimento só se chega quando Deus abre o coração da gente. Por isso, Mateus, quando conta essa nossa história, diz que Jesus respondeu ao Pedro: ...não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas meu Pai que esta nos céus. E, se Deus não abre os olhos e o coração, ninguém vai ver o Cristo em Jesus. Essa confissão, esse reconhecimento, têm que ser dados, têm que ser colocados por Deus no nosso coração, na nossa boca.

V - A pergunta que se coloca para nós, então, é a seguinte: Se esse reconhecimento, se essa confissão só podem vir de Deus, se por nosso esforço nós não chegamos lá - o que é que nós podemos fazer? Na verdade, nós só podemos esperar. E confiar. Quem espera em Deus, não espera em vão. Nós sabemos disso. Deus quer que nós conheçamos o Cristo. Nós podemos confiar nisso. Essa ë uma das grandes coisas que podemos levar desse Dia da Igreja. Na resposta de Pedro se vê que Deus quer abrir os olhos e o coração da gente, que Deus quer que nós reconheçamos em Jesus o Cristo - e que vivamos desse reconhecimento. Então, vamos esperar. Mas não precisamos esperar de braços cruzados. 

VI - Vejam que antes da resposta veio a pergunta. Jesus tem que perguntar. Só vamos responder se ouvirmos a pergunta. Agora observem uma coisa: A pergunta daquele médico a mim só tinha sentido porque eu tinha convivência com ele. Se eu não tivesse essa convivência, ele nunca me teria perguntado coisa nenhuma. 

Assim também é com Jesus e os discípulos. Jesus só lhes perguntou quem vocês diriam que eu sou?, porque eles estavam Juntos. Porque os discípulos andavam com Jesus, porque estavam perto dele, porque tinham convivência com ele. 

Isto é: Para se ouvir a pergunta de Jesus é preciso ter convivência com ele. E preciso estar perto dele. E preciso estar andando com ele. E preciso manter a amizade com ele. Do contrário nós nem entenderemos a sua pergunta. Se estamos longe, não vamos sequer ouvir a pergunta. Se o seu rádio em casa está sintonizado na Gaúcha, você não vai ouvir a Guaíba. Se você não estiver sintonizado em Jesus, você no vai ouvir Jesus. Então, é preciso deixar o rádio ligado, e sintonizado em Jesus, é preciso se expor a Jesus e ficar aguardando a sua pergunta. 

VII - Que Deus coloque no nosso coração aquele reconhecimento! Que Deus coloque em nossos lábios aquela confissão: Tu és o Cristo! Todo o bem que já houve no mundo veio de ti; todo amor que o ser humano viveu está em ti; em ti está toda a amizade de Deus para os homens; tu és o começo e o fim; tu és todo o amor de Deus feito gente! - Que Deus nos dê essa confissão clara, limpa, honesta, tranquila, sem a menor dúvida Uma confissão da qual possamos viver. 

É, tu que estás aí me ouvindo: Tu que depois vais participar nos grupos. Tu, sozinho, não vais nunca confessar a Jesus “tu és o Cristo. Só com a ajuda de Deus. Só se ele te abrir o coração e os lábios. Mas antes é preciso que Jesus te pergunte. Por isso eu te digo agora: Meu amigo, vai chegando perto de Jesus Não fiques longe, que tu não vais ouvir a pergunta. Vai chegando perto, vai papeando com ele, vai mantendo a amizade. Vai deixando o rádio ligado e bem sintonizado. Pode acontecer de uma hora para outra, de repente, você até vai achar estranho, mas ouve bem quando ele te disser: Escuta, quem tu dirias que eu sou?. 

Oremos: Busca-nos, Senhor, fica sintonizado conosco para que possamos ouvir e entender quando tu nos perguntares. Abre os nossos corações e os nossos lábios, para que possamos entender e confessar com todo nosso ser que tu és o Cristo. Amém.

Veja:
Nelson Kirst
Vai e fala! - Prédicas
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS
 


Autor(a): Nelson Kirst
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 8 / Versículo Inicial: 27 / Versículo Final: 30
Título da publicação: Vai e fala! - Prédicas / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1978
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 20337
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