Martim Lutero, um Teólogo que Pensa a Partir do Povo

Reflexões em torno de Lutero

01/09/1984

Martim Lutero, um Teólogo que Pensa a Partir do Povo

Eduardo Hoornaert

Nestas páginas não trataremos senão de Lutero, e não do luteranismo que lhe é atribuído. Todos sabemos da diferença entre figuras históricas e movimentos que se articularam em torno destas figuras: a relação não é simples, como por exemplo entre Francisco e franciscanismo, Huss e hussitismo, Agostinho e agostinianismo e mesmo Cristo e cristianismo. Os movimentos históricos não respondem simplesmente à inspiração de seus fundadores, eles correspondem igualmente a condições políticas, sociais e culturais concretas que fogem da inspiração do fundador, e constituem movimentos 'possíveis', historicamente realizáveis e sujeitos ao confronto com as leis da sociedade na qual estão inseridos, especialmente à lei da manipulação política por parte do grupo que exerce efetivamente o poder e não pode permitir que um movimento venha a desestabilizar a sociedade. Assim não podemos atribuir todos os posicionamentos políticos de um movimento cristão ao seu fundador: seria pecar por falta de realismo. Nestas páginas não abordaremos a relação entre o protestantismo histórico ou mais especificamente o luteranismo e o povo, limitando-nos a falar de Lutero a partir da análise de um de seus escritos mais conhecidos, recentemente publicado pela Editora Sinodal de São Leopoldo (1982): 'Do cativeiro babilônico da igreja'. Procuraremos mostrar que este escrito revela um pensador organicamente ligado ao povo da base, que intui os problemas e o modo de pensar das pessoas do povo. Lutero tinha clara consciência de que ele abordava as questões da igreja a partir de um ponto de vista que não era costumeiro nas publicações teológicas de seu tempo e que corria o perigo de não ser entendido pelos intelectuais:

¨Abordo um assunto árduo e que talvez seja impossível de desarraigar. Apóia-se no uso de séculos e foi aprovado pelo consenso de todos. Arraigou-se de tal maneira que seria necessário pôr de lado e modificar a maior parte dos livros hoje difundidos e talvez todo o rosto da igreja e introduzir um gênero totalmente diferente de cerimônias, ou melhor dito, reduzi-las a seu estado primitivo. Mas meu Cristo vive e devemos observar a palavra de Deus com maior solicitude que a inteligência de todos os homens e anjos¨ (33-34).

Estes 'livros hoje difundidos' são adiante relatados pelo autor. São basicamente quatro: a `Summa Angelica', a 'Ecclesiastica Hierarchia', a `Theologia Mistica', e finalmente o `Rationale Divinorum'. Uma palavra acerca dos quatro:

• A `Summa Angelica de casibus conscientiae' da autoria de Angelus Carletus (falecido em 1495) era um manual de confessores muito estimado na época. Abordava as questões de consciência em ordem alfabética. Escreve Lutero:

¨Anda grandemente difundido um livro de muita fama, elaborado e mesclado de toda a sujeira da confusão de todas as tradições humanas. Seu nome é Summa Angelica¨ (107).

• A 'Ecclesiastica Hierarchia' é um texto falsamente atribuído a Dionisío Areopagita mencionado nos Atos dos Apóstolos 17.34. O texto não deve ser anterior ao século V e provavelmente proveniente da Síria, e teve imensa autoridade na Idade Média exatamente por causa do seu suposto autor. Nele se diviniza o princípio da autoridade e da desigualdade, o que vem a ser uma das maiores deformações do espírito cristão. Numa expressão de rara lucidez, Lutero ousa opor-se a toda uma tradição cristã divulgada entre o povo na sua época quando escreve:

¨'A mim (para ser mais atrevido) desagrada totalmente que se atribua tanta importância a este Dionísio, seja quem for, pois quase nada há nele que seja de sólida erudição' (123).

• A `Theologia Mistica' do mesmo Dionísio Areopagita é analisada com a mesma agudeza por Lutero:

'A 'Teologia Mística' é muito perniciosa, pois é mais platonizante que cristianizante' (123).

• A `Rationale Divinorum' ou `Rationale Divinorum Officiorum' de Guilherme Durandus Mimatensis (falecido em 1296) é um livro de alegorias, interpretando as cerimônias da igreja e seu culto de forma alegórica, muito ao gosto do povo. Lutero reage contra tal literatura:

'Tais escritos de alegoria são próprios de homens ociosos' (123).

Pelo elenco destes escritos e pela segurança que Lutero assume diante deles, percebemos que ele conhecia o que circulava no meio dos pregadores em contato com o povo e não tanto nos ambientes universitários. Ele cita ainda uma obra de Boaventura, também de teor alegorizante (123), assim como a leitura 'cristianizante', feita por João Gerson, do 'Pequeno Donato', uma gramática latina muito popular na Idade Média. Lutero ironiza:

¨Gerson fez do Pequeno Donato um teólogo místico... Quem é tão pobre de espírito que não possa aventurar-se com alegorias? Não gostaria que nenhum teólogo se ocupasse com alegorias enquanto não se houvesse aperfeiçoado no legítimo e simples sentido da Escritura¨ (124).

Lutero é um excelente conhecedor do cristianismo tal qual foi praticado na Idade Média no nível do povo e propagado por um tipo de literatura que tinha influência real no povo, mais do que os tratados de teologia ensinados na Universidade.

Lutero observa no cristianismo da época uma anomalia essencial, que chega a deturpar o sentido mesmo da mensagem cristã, e que ele denomina 'cativeiro'. O povo cristão é 'cativo', não consegue alcançar a 'liberdade cristã' por causa de um sistema sacramental manipulado pela 'tirania dos clérigos'.

Existem, pois, de um lado a 'tirania dos clérigos' e do outro lado o 'cativeiro dos leigos'. O escrito `Do cativeiro babilônico' trata sucessivamente dos diversos sacramentos assim como são administrados na época: o sacramento do 'pão', o batismo, a penitência, a confirmação, o matrimônio, a ordem, a extrema-unção.

Através da sacramentalização' os cristãos se tornam cativos de um sistema dentro do qual não conseguem viver a liberdade cristã, enquanto fora dele são considerados heréticos, sujeitos à perseguição inclusive pelo 'braço secular'. O cristianismo, dividido por dentro entre clérigos e leigos, está pois diante de um impasse criado pela propriedade privada sobre os sacramentos e sua administração nas mãos do clero. O povo, por sua vez, precisa dos sacramentos para a sua salvação, precisa submeter-se, sem contudo consentir com o mal:

¨Devemos suportar a tirania romana como se estivéssemos presos na Turquia¨ (24).

¨A culpa não está nos leigos, mas nos sacerdotes. O sacramento não é propriedade dos sacerdotes, mas de todos. Os sacerdotes não são senhores, mas ministros¨ (24).

Essa análise de Lutero, centrada na sacramentalização e não na doutrina, mostra como ele se situa no nível do cristão comum, mergulha fundo na vida de seu povo, sujeito às leis do preceito pascal (25), às obrigações dos 'sacramentos pagos' (53), às celebrações como fonte de 'contratos lucrativos' (33), a 'infinitos tipos de negócios de lucro e dinheiro' (47). Ele demonstra ter uma grande sensibilidade pelo que o povo simples experimenta diante do clero e de seu poder e, explicita o que todos sabem sem dizer:

¨Na missa se baseiam os aniversários, os sufrágios, as aplicações e as comunicações, etc., a saber: as rendas mais gordas¨ (50). ¨E esse tipo de negócios se vende e se compra na igreja, são objetas de contratos e são celebrados, e deles depende toda a manutenção dos sacerdotes e dos monges¨ (33).

Através destes e de outros textos candentes, Lutero faz a análise de pelo menos quatrocentos anos de vida cristã vivida sob o domínio de um clero sempre mais profissionalizado. Este domínio sobre a vida cristã se firmou sobretudo através do terceiro concílio de Latrão, em 1179, no qual se articulou a reforma administrativa do clero e a restauração política do papado, e do quarto concílio de Latrão, mais famoso, celebrado em 1215, no qual se programou uma pastoral sacramental que visava a reconquista dos fiéis e o afastamento deles das primeiras grandes heresias populares que ameaçavam organizar o povo e lhe dar os instrumentos de contestação do poder clerical, sobretudo a Bíblia. Tratava-se de uma verdadeira cruzada ao interior da cristandade, na qual o sermão, reservado ao clero, e a prática sacramental, igualmente administrada unicamente pelo clero, se convertiam em verdadeiras armas 'espirituais' para manter o povo ligado à instituição eclesiástica centralizada sempre mais no papado. Escreve Michel de Certeau:

¨O corpo sacramental tem como função rearticular sobre o aparelho eclesiástico a vida do povo cristão. A Eucaristia é o sacramento da instituição, sua autorização teórica e seu instrumento pastoral. O 'corpo' sacramental substitui o 'corpo' eclesial. Desde o quarto concílio de Latrão até Trento e depois ainda, esta pastoral será de muita estabilidade¨. (La fable mystique, Paris, 1982, 116).

Foi contra esta substituição de um corpo eclesial unido pelo sacramento do batismo por um 'corpo' sacramental dividido pela ordem presbiterial que Lutero levantou sua voz:

¨Com este artificio (dizer que as palavras 'Fazei isso em minha memória' significam a instituição do sacramento da ordem) se procurou criar uma sementeira de implacável discórdia para que os clérigos e os leigos sejam mais diferentes entre si que o céu e a terra, o que é uma ofensa inconcebível à graça batismal e traz confusão à comunidade evangélica. Daí, pois, vem essa detestável tirania dos clérigos em relação aos leigos¨ (126).

E ainda:

¨O sacramento da ordem foi e continua sendo uma maquinação belíssima para consolidar todas as monstruosidades que se cometerem até hoje e ainda se cometem na igreja¨ (126).

Lutero não só acusa os abusos da igreja de sua época, como se diz freqüentemente, mas ele aponta para uma questão de estrutura: a própria estrutura clerical da igreja.

Mesmo assim ele não chega a ser radical quanto aos jovens que querem ingressar nas ordens sagradas, conforme testemunha o belo texto que passamos a citar:

¨Fugi, jovens, e não vos inicieis nessas ordens, a não ser que queirais evangelizar ou sejais capazes de crer que por esse sacramento da ordem em nada vos tornastes melhores que os leigos¨ (130).

Um texto como este afasta para longe a acusação da radicalidade anárquica de Lutero: suas análises, profundas e por isso mesmo duras, são contudo inspiradas no mais sadio realismo e na compreensão dos condicionamentos que envolvem as pessoas. Delas emana uma profunda dor pela degeneração da igreja por causa da 'tirania' de um sistema eclesiástico, mas nunca um ódio contra pessoas ou situações concretas. Precisa-se mergulhar nos próprios textos de Lutero para guardar esta impressão.

A leitura do escrito `Do cativeiro babilônico da igreja' nos permite responder brevemente a algumas críticas que certos autores contemporâneos fazem a Lutero e que criaram enraizados preconceitos.

— Uns criticam Lutero por ter criado o mito de uma igreja evangélica, primitiva, de origem, pura e finalmente inexistente por ser a-histórica. Pode-se responder dizendo que uma outra leitura da obra de Lutero é possível. A volta ao 'evangelho' não é necessariamente idealismo, é antes de mais nada esperança. Lutero esperava que a igreja se corrigisse de seu erro e relativasse o caminho percorrido pela referência ao evangelho. A volta às origens relativiza os caminhos, re-historiciza o cristianismo petrificado num sistema jurídico que pretende ser eterno e imutável. O evangelho é o recurso a um discurso absoluto para combater outro discurso absoluto do sistema clerical. Lutero repete que só existe um discurso absoluto: o evangelho, a revelação, e que todo o resto é relativo, passageiro, histórico, sujeito a mudanças. Se o evangelismo for interpretado como idealismo, então não há saída, temos que aceitar a história como ela foi contada por aqueles que chegaram ao poder, temos que abandonar toda esperança.

— Outros criticam Lutero na questão de Karlstadt e Müntzer. Esta questão chegou a ser famosa após a publicação, em 1921, da obra de Ernst Bloch: ¨Mamas Müntzer como teólogo da revolução'. Esta obra teve sucesso nos anos sessenta (reimpressões em 1960, 1963, 1969) e criou o mito da dialética entre Lutero e Müntzer, mas o autor não teve o cuidado de consultar, para as reimpressões, nem o livro de Cari Hinrichs, Luther und Müntzer, 1952, nem a nova edição das obras de Müntzer elaborada por G. Franz em 1968. Ernst Bloch criou a imagem de um Lutero anti-popular, comprometido com os poderosas. Pelo menos é o que ficou na cabeça de muitos. Será necessário aprofundar a questão na base de obras recentes e sérias (Para esta questão veja: Revue d' Histoire Ecclésiastique, 1975, 2, 535).

— Uma terceira crítica considera Lutero como expressão típica do individualismo moderno, como se ele tivesse projetado um problema pessoal em âmbito mais largo.

A simples leitura do escrito aqui comentado desfaz esta crítica: nele se descobre um homem que olha o que se passa com o pessoal da base, com os camponeses e pequenos comerciantes, sujeitos aos ditames da sacramentalização e ao monopólio clerical da pregação cristã. Ele sabia qual era a razão de movimentos como o dos hussitas (ou boêmios):

¨Se alguns devem ser denominados de hereges e cismáticos não são os boêmios (hussitas) nem os gregos (que se baseiam nos evangelhos), mas vós os romanos sois esses hereges e ímpios cismáticos, já que apenas vós sois presunçosos com vossas ficções contra as evidentes escrituras de Deus¨ (21).

O significado histórico de Martim Lutero, visto a mais de quatrocentos anos de distância, parece ser o de relativizar as experiências eclesiais, o de demonstrar que a vida cristã concreta necessariamente transcorre numa realização histórica relativa do projeto cristão e não num mundo absoluto e definitivo.

O Concílio Vaticano II, ao aceitar a liberdade religiosa e apregoar o ecumenismo, aceitou essa lição da história ensinada por Lutero. Acreditamos que esse passo dado pelo cristianismo como um todo seja definitivo: daqui por diante não será mais possível absolutizar nenhuma estrutura eclesiástica como definitiva e totalmente fiel aos intentos de Jesus. Temos que agradecer a Martim Lutero a coragem que ele teve em enfrentar a poderosa máquina eclesiástica de seu tempo, certamente com perigo de vida, para nos libertar de um cativeiro ou pelo menos para ter colocado a base teórica da libertação de um cativeiro intra-eclesial que deforma o rosto da igreja e impede a liberdade cristã.

O ponto de vista assumido por Lutero ao analisar a igreja fez com que ele fosse tratado como herege. Ele mesmo respondia a esta acusação dizendo: 'Vós os romanos sois esses hereges'. Percebe-se a expressão 'herege' como uma palavra de guerra: é herege quem é julgado unilateral, exclusivista, fanático, desequilibrado, subversivo. A palavra sai do arsenal de uma 'ortodoxia' que se diz equilibrada, serena, equidistante. Acontece que uma ortodoxia não consegue 'produzir' a heresia no sentido de acusar alguém de herege de maneira eficaz, senão quando se torna hegemônica.

Assim toda a história do cristianismo, desde Jesus até hoje, é mareada pela dialética entre ortodoxia e heresia. Aos olhos dos defensores da ortodoxia religiosa do judaísmo da época, Jesus era um herético e como tal foi condenado. Qual a razão? Jesus privilegiava certos temas da tradição bíblica do povo judeu, exatamente os que colocavam o pobre no centro da história. Jesus praticava uma releitura da Escritura a partir do pobre: Moisés, os profetas, o conceito 'reino de Deus' foram desta forma submetidos a uma releitura considerada 'herética' ou unilateral da Escritura. Os judeus nunca perdoaram a Jesus tal exclusivismo, por exemplo na releitura do tema do 'povo eleito'. Todo cristianismo fiel a Jesus é herético na medida em que 'escolhe' os temas da bem-aventurança dos pobres por opção, do reino de Deus construído a partir dos pobres. Daí surge uma sucessão de heresias no decorrer da história da igreja que acusam invariavelmente a 'igreja grande' de não ser mais evangélica, mas mundana. Particularmente a Idade Média foi uma época fervilhada de movimentos heréticos, quase todos abafados desde o início ou recuperados pela ortodoxia. São os bogomitas da Rússia, os cátaros do sul da França, os albigenses, valdenses, primeiros franciscanos, umiliati, joaquimistas, espirituais, fraticelli, beguinas e lolardos, hussitas. São Francisco de Assis foi herege, mas o movimento franciscano foi recuperado por uma rápida e hábil manobra por parte do Papa Inocência III, ainda durante a vida do próprio Francisco. Podemos dizer que as três maiores expressões da heresia medieval são Joaquim de Fiore, Francisco de Assis e Mestre Eckhart. Foge ao intento destas páginas uma apresentação mais detalhada destas três figuras históricas importantes.

A novidade do movimento iniciado por Martim Lutero consiste no fato de não ter sido abafado nem recuperado pela hierarquia católica. Após Lutero, a heresia como fenômeno social deixa de existir, dando lugar à formação de uma outra 'igreja'. Só há heresia quando uma posição majoritária tem o poder de preencher totalmente o espaço do discurso legitimado e de excluir o discurso discordante como marginal. No momento em que esta autoridade não serve mais de ponto de referência, desaparece a possibilidade histórica da heresia. Lutero encerra uma época na história da igreja: a do mito da unidade sob um sistema clerical único e unificante. A partir do protestantismo não existem mais heresias, mas sim igrejas diferentes.

Essa 'explosão' do cristianismo (no dizer de Michel de Certeau), enquanto ponto referencial da sociedade, relega aos poucos ao estado a função de unidade referencial para as sociedades ocidentais dos tempos modernos. A passagem se faz no século XVIII sob os nomes de iluminismo, racionalismo, liberdade de pensamento. A partir daí a questão religiosa vira questão ideológica, a heresia vira subversão diante de um estado doravante organismo articulador da sociedade.

Lutero revelou, pelo seu posicionamento corajoso diante do sistema clerical de sua época, uma verdade por demais esquecida entre os cristãos: mais que um sistema organizado, o cristianismo é um fermento, uma força explosiva no seio das sociedades, uma referência contínua, e incômoda, ao evangelho, ao pobre, ao esquecido, ao oprimido. Sempre houve e haverá tentativas de canalizar e 'amansar', civilizar ou institucionalizar essa força do Espírito que age na história. Mas sempre haverá também pessoas inspiradas pelo Espírito, profetas e carismáticos, 'protestantes' no sentido genuíno da palavra.

Hoje o cristianismo explode em mais de vinte mil pedaços: são as assim chamadas seitas cristãs. Parece que só na África existem mais de dez mil. Uns lamentam esse fato em nome da unidade perdida, outros colocam a unidade num plano diferente, no plano não tanto jurídico mas antes evangélico. O 'objeto' heresia se encontra hoje fragmentado em seitas, minorias étnicas ou culturais, grupos de pressão, cultos mais ou menos clandestinos. Muitos ainda vivem o mito da unidade perdida, do ponto referencial que necessariamente é 'clerical', de uma ou outra forma, e sonham com a 'volta' dos que saíram do único rebanho de Cristo considerado legítimo, sob a autoridade do papa de Roma.

Outros vivem o assim chamado confessionalismo dentro do qual palavras como 'seita' ou 'igreja separada' têm consistência. Finalmente há quem entende o cristianismo como um fermento dentro das mais diversas situações históricas e sociológicas, vive o cristianismo pluralizado e pluralista, sectário no bom sentido, minoritário, em `diáspora', no meio da sociedade, procurando uma certa articulação organizatória e um certo ponto de referência num grupo, numa comunidade, num movimento. A coisa não parece madura nos dias que correm. Por isso mesmo vale estudar a trajetória de um frade católico do século XVI que enfrentou o mais poderoso sistema religioso da época; seu nome é Martim Lutero.

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Autor(a): Eduardo Hoornaert
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Reflexões em torno de Lutero II / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1984 / Volume: 2
Natureza do Texto: Artigo
ID: 24885
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