Mateus 13.44-46

Auxílio Homilético

31/07/1983

Prédica: Mateus 13.44-46
Autor: Romeu Ruben Martini
Data Litúrgica: 9º. Domingo após Trindade
Data da Pregação: 31/07/1983
Proclamar Libertação - Volume: VIII


I — Meditação

Temos diante de nós um texto bíblico que mostra, de uma forma muito clara e simples, a radicalidade do discipulado: nós somos ou não somos discípulos de Jesus. Nós estamos ou não estamos a caminho do Reino de Deus. Não existe meio-termo, mesmo que, durante a caminhada rumo ao Reino, o nosso lado fraco e humano se manifeste. Observemos: tanto o lavrador, quanto o comprador de pérolas, os dois, deram tudo em troca do achado. Todos os valores da sua vida (não só econômicos, mas também morais e éticos) foram sacrificados e substituídos por um novo valor. Vida nova em Cristo? É! É exatamente isto. Não de uma forma simbólica e abstraía, mas, sim, concreta e visível no dia-a-dia.

Tudo isto é possível através da graça. Não são as obras, o esforço, o empenho que podem levar alguém a esta caminhada. Precisa acontecer o clic, o ahá! E isto é obra do Criador do campo, da pérola, do homem. Ê certo que o comprador de pérolas estava a procura. Assim também o lavrador! Mas o achado lhes foi possibilitado. Por isso, o Reino, o clic, vem ao encontro das pessoas no seu dia-a-dia. Isso deixa claro que não se trata de alguém vender tudo para alcançar o Reino. Mas é o Reino que leva alguém a vender, trocar e até sacrificar tudo.

Consideramos ser importante o fato de que o lavrador comprou aquele campo, (v. 44) Ele não adquiriu o tesouro puro, mas o campo que contém o tesouro. Parece-nos ser muito clara a intenção deste conteúdo, ou seja: o Reino existe em sua plenitude. Isto o discípulo de Jesus Cristo sabe. Deus possibilita que ele adquira o tesouro, mas juntamente com o campo. E o campo contém joio. O Reino pode ser vislumbrado. Mais ainda: o Reino já se manifesta, não no céu ou nas nuvens, mas aqui, no campo, na vida, no meio do joio. E o joio não são só os outros, os pecadores, mas o mundo, onde também os compradores de tesouro estão presentes, com todos os seus tipos de inços. Mt 13.44-46 são, portanto, parábolas que fixam o discípulo no chão, na realidade, no seu dia-a-dia. É lá, no meio do joio, onde ele mesmo é inço, que ele é despertado por Deus para viver o Reino.

Fica claro que nosso texto aponta para uma conversão. Aquele que descobre o tesouro oculto, a pérola, passa a ter outros valores na sua vida. Lembremos o que o apóstolo Paulo escreve aos Filipenses: Sim, deveras considero tudo como perda...(3.8) Dizem os entendidos em grego que, no caso de Fp 3.8, a palavra perda significa, na realidade, excremento. Isto evidencia o real sentido que a descoberta do Reino dá à vida do discípulo de Cristo.

Não é fácil dizer de uma forma simples e concreta o que é esta conversão acima mencionada, e o que acontece na vida do convertido. Há quem fale em vida nova, em entrega a Jesus, em seguir a Cristo. Até podemos concordar com estas afirmações, desde que elas considerem o fato de que a vida nova ocorre no campo. Não conseguiremos adquirir somente o tesouro. Ele está no campo. O mesmo ocorre com a pérola. Nós podemos adquiri-la, mas não somos iguais a ela.

Considerando, portanto, estes aspectos, falamos de conversão, neste contexto da perícope de Mt 13, da seguinte forma:

a) Conversão é a descoberta, que cada pessoa está sujeita a fazer, a partir da qual os valores da sua vida serão determinados pela vontade daquele que a possibilitou: Deus e seu Reino.

b) Estes novos valores modificarão radicalmente tanto a vida individual desta pessoa, quanto a sua vida para com a coletividade (a vida no campo).

II — Sugestões para uma prédica

Com base no anteriormente exposto, propomos os seguintes passos para a prédica:

1. O Reino de Deus é uma realidade presente no nosso mundo. Cada um de nós tem a possibilidade de ser guiado por Deus até ele. Qualquer pessoa, seja ela um discípulo de Jesus Cristo ou não, poderá ser confrontada com esta realidade.

2. A partir deste confronto, a vida desta pessoa tomará novos rumos. Modificar-se-á de tal forma, que aos olhos humanos isto será um escândalo. A própria opção pelo Reino já é escândalo, pois ele é uma ameaça ao nosso próprio modo de vida e à sociedade constituída. Lembremos o caso dos obreiros da IECLB presos na Rondônia em junho de 1982.

3. A descoberta do Reino cria novos valores. Citemos alguns:

a) Em relação à terra: aqui basta lembrar a intenção do lema da IECLB para este ano de 1982. A terra é dádiva de Deus. Nós somos chamados a amá-la e dela tirar e possibilitar o sustento a todos. Apenas isso!

b) Em relação aos órgãos de classe: se o colono sente o problema do baixo preço dos seus produtos, e sabe que um caminho para a sua solução pode ser o sindicalismo, mas mesmo assim não participa, então ele ainda não descobriu o real sentido do tesouro oculto.

c) Favorzinhos e comprometimentos políticos são sinais que impossibilitam a presença do Reino. Olhemos para o nosso querido Brasil ! Apoiando este tipo de coisas, também estaremos longe do tesouro oculto.

Outros exemplos podem ser citados. Nossa intenção é a de mostrar que se faz necessário colocar a mensagem destas parábolas em fatos concretos da vida dos ouvintes e, também dos anunciantes.

III — Subsídios litúrgicos

1. Confissão de pecados: Já nas palavras dos profetas, mas mais ainda nas palavras e atitudes de Jesus Cristo foram nos dados a conhecer sinais concretos da presença de Deus neste mundo: O Reino de Deus está presente. Este Reino requer justiça no pagamento dos salários; apoio ao próximo desanimado e atolado na lama dos problemas; gestos de uma vida que incentiva o entendimento entre casais, entre pais e filhos, entre jovens e idosos. Preferimos, no entanto, ficar na exploração do empregado; na opressão do próximo; na curtição de novelas destruidoras das famílias e maquinadoras de uma moral degradante. Que Deus perdoe nosso descaso diante daquilo que ele já nos revelou.

2. Oração de coleta: Os valores que determinam nossa convivência almejam, direta e/ou indiretamente, destruir a comunhão do povo de Deus. Pedir para que Deus queime com a sua Palavra os corações dos ouvintes, a fim de que a sua vontade prevaleça e reanime mentes desanimadas, desgovernadas e desesperadas. Pedir que Deus, com a sua Palavra, reúna o seu povo num mesmo caminho e o ensine a caminhar de mãos dadas.

3. Assuntos para a oração final: Deus veio a nós em forma humana e mostrou que o bagunçado jardim do Éden pode ser reformado. Nós, as criaturas de Deus, estamos capacitados a fazer estas reformas. Basta buscarmos as forças para isto junto ao Pai. Isto é motivo de agradecimento! — Se formos bem sinceros conosco mesmos, devemos admitir que sabemos o lugar em que o tesouro da parábola se encontra. Quem não está consciente da mudança que ocorreria no nosso reino, se a vontade de Deus fosse praticada? Isto nós sabemos! Por que, então, somos pessoas que ajudam a entravar a presença do Reino? Pedir a Deus para que ele nos fortaleça, a fim de que não só descubramos o tesouro, mas também sacrifiquemos tudo em seu favor. Que Deus nos fortaleça, a fim de que vivamos em função daquele tesouro, arcando com as últimas consequências. — Interceder por todos aqueles que, no Brasil e mundo, são desprezados, odiados e até assassinados, por causa do seu empenho em favor do Reino (bom é citar nomes e casos concretos); pelos governantes deste mundo, para que Deus os faça reconhecer que não são os únicos moradores desta terra, mas, sim, companheiros e irmãos de todos os seres humanos; que, por isso mesmo, governem com justiça, abandonando por completo o orgulho e proveito próprios; pelos governados, para que sintam que também são responsáveis pelos outros, e não só pela sorte da sua própria vida; especialmente pelos idosos, para que saibam que a alegria daquele tesouro, do Reino, também é resguardada para eles, mesmo que a sociedade consumista e opressiva os relegue para um segundo plano; pelos jovens, para que entendam que a vida não se resume nas curtições que a propaganda oferece — moda, sexo —, mas em gestos de vida pura e sincera; pelas comunidades da IECLB e outras confissões, para que entendam que sua função vai além de ritos e tradições vazias.

IV — Bibliografia

- CARDENAL, E. Das Evangelium der Bauern von Solentiname. 2. ed. Wuppertal, 1976.
- GRUNDMANN, W. Das Evangelium nach Matthäus. In: Theologischer Handkommentar zum Neuen Testament, Vol. 1.3. ed. Berlin, 1972.
- SCHNIEWIND, J. Das Evangelium nach Matthäus. In: Das Neue Testament Deutsch. Vol.2. Göttingen, 1968. - VOIGT.G. Meditação sobre Mateus 13.44-46.ln: Die grosse Ernte. Göttingen, 1976.


Autor(a): Romeu Ruben Martini
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 10º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 13 / Versículo Inicial: 44 / Versículo Final: 46
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1982 / Volume: 8
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 18219
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