Mateus 25.31-46

Auxílio Homilético

23/11/2008

Prédica: Mateus 25.31-46
Leituras: Ezequiel 34.11-11, 20-24; Efésios 1.16-23
Autor: Günter Wolf
Data Litúrgica: Domingo Cristo Rei
Data da Pregação: 23/11/2008
Proclamar Libertação - Volume: XXXII


1 Introdução
O tema dos três textos são o julgamento, o juízo final e a ressurreição, já que o domingo Cristo Rei requer e facilita essa abordagem.

1.1 – Ezequiel 34.11-16, 20-24
Deus acolhe e promete proteger os escravos que estão na Babilônia, mas também julga, como diz o v. 20: “Eis que eu mesmo julgarei entre ovelhas gordas e ovelhas magras”. Deus vai julgar seu povo a partir de sua prática e postura; se são “gordas” ou “magras”. Deus vai trazer bem-estar ao povo, mas não fechará o olho para as desigualdades existentes. O v. 23 fala do Messias que vai apascentar o rebanho.
O texto tem muitas semelhanças com Mateus 25.31-46; vai na mesma linha de pensamento. O texto critica as “gordas” que empurram as “magras” para fora do curral. É a crítica à luta e opressão interna que acontece entre o povo. O v. 16 é muito claro sobre o juízo para todos, mas a “gorda” não tem a aprovação de Deus. O texto acentua a proteção que Deus dá aos fracos e condena os opressores entre o povo. Mesmo entre os escravos, há os que são “gordos”, os que reproduzem o sistema para tirar vantagens pessoais. Isso lembra Mateus 25.21 e 23, que elogia os escravos fiéis que são aliados do sistema.

1.2 – Efésios 1.15-23
O texto fala do Cristo glorificado, que está acima de todos os poderes e que pôs os inimigos debaixo de seus pés para o julgamento final. Paulo pede a Jesus Cristo que dê à comunidade o espírito da sabedoria e do conhecimento para saber qual é a esperança que nos move. Jesus Cristo é quem tem o poder e não o sistema implantado neste mundo que hoje se chama capitalismo ne¬oliberal globalizado. Essa é a análise que Paulo faz. Portanto não precisamos nos dobrar frente ao poder do capital.

2 Exegese
Faço uma interpretação que não consta em comentários bíblicos. Parto da proposta encontrada para a leitura das parábolas em “E lhes falava em parábolas” (Pedro Lima Vasconcelos. Mosaicos da Bíblia, nº 19. Koinonia). Ele diz que as parábolas contêm a realidade concreta da qual Jesus fala.

2.1 – Mateus 25: O julgamento do sistema
Para entender o nosso texto, proponho olhar todo o capítulo 25 de Mateus e faço uma leitura diferente a partir desse. O capítulo 25 quer expli¬car como é o reino de Deus e, conseqüentemente, o juízo: a primeira parte (1-13) diz para estar preparado para o reino, que pode se tornar realidade a qualquer momento; a segunda parte (14-30) diz como o reino não é; e, por fim, a última parte (31-46) diz qual a prática no reino, portanto como ele é. Nas três perícopes está presente a questão do julgamento. Na segunda, é o julgamento feito pelo sistema.
O próprio Evangelho de Mateus, logo a seguir em Mateus 25.14-30, faz uma análise da conjuntura da época do Império Romano, mostrando como ele funcionava, qual sua dinâmica. Logo após, em Mateus 25.31-46, mostra como é o projeto do reino, onde as vítimas geradas pelo sistema dizem o que nós temos que fazer para poder participar do reino de Deus e assim combater o sistema. Todo o capítulo 25 de Mateus é um exercício de análise de con¬juntura para sabermos como fazer também hoje em dia a leitura dos sinais dos tempos. Somos desafiados a nos preparar para o reino lendo os sinais da realidade e propor o novo em contraposição ao atual. A primeira parábola diz que os cristãos sempre esperam pelo novo (conforme a parábola: pelo noivo) e com isso está dizendo que não colocam fé no velho, no sistema atual. Ele já está aí; por isso não precisam esperar por ele.

2.1.1 – Mateus 25.1-13
Uma análise correta da realidade
Mateus 25.1-13 é uma parábola que quer chamar nossa atenção sobre como estar alerta para poder e saber ler os sinais dos tempos. Quer dizer: como fazer análise de conjuntura para não ser pego de surpresa pelos acon¬tecimentos. A parábola adverte para sempre estarmos preparados, sempre termos uma reserva de azeite, porque não sabemos quanto tempo vai durar a espera até que irrompa a nova realidade do reino de forma definitiva. Devemos estar sempre preparados para o momento histórico que virá.
A parábola de Mateus 25.1-13 alerta para estarmos preparados para essa tarefa de saber fazer uma análise de conjuntura correta da realidade. Para poder fazer uma análise de conjuntura correta, precisamos conhecer o sistema em que o mundo está organizado. Isso significa que precisamos es¬tudar o modo de produção escravagista do tempo do Império Romano (Novo Testamento), o modo de produção tributário (Antigo Testamento) e hoje temos que estudar o modo de produção capitalista para poder fazer uma correta análise de conjuntura dentro da realidade brasileira. Caso contrário, não entenderemos o texto bíblico e nem a realidade de hoje.
 

2.1.2 – Mateus 25.14-30 
A descrição da realidade

Essa perícope faz uma leitura da realidade e mostra como funcionava a luta de classes no Império Romano: homem (patrão, senhor de escravos) x servos (escravos). Quem tem escravos e pode viajar para fora do país? O rico. Quem tem escravos é aliado e sustentador do sistema escravagista, tem uma prática de opressão e acúmulo.
Ganha elogios quem faz o jogo do patrão e entra no esquema da eco¬nomia; é o caso dos dois primeiros escravos. Progride, é bem-visto e elogiado quem pratica e se enquadra na dinâmica do sistema. Um escravo resiste ao sistema e o boicota e não trabalha para dar mais riqueza ao patrão, o que resulta em castigo para o assim chamado “servo mau e negligente” (v. 26). Esse terceiro escravo enterrou o dinheiro e não entrou no esquema da especu¬lação financeira do sistema e não foi considerado eficiente e produtivo; nem pôs o dinheiro no banco para alimentar o sistema especulativo. Ele resistiu à proposta do sistema de enriquecer mais ainda seu patrão com seu trabalho.
Os v. 24-25 descrevem o patrão que ceifa onde não semeia. É a prática do sistema romano de invadir, massacrar e saquear outros países. O v. 24 diz que o patrão é severo – os romanos eram muito repressores (a revolta se pagava na cruz). Lembramos aqui o texto de Lucas 13.1: “Naquela mesma ocasião, chegando alguns, falavam a Jesus a respeito dos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios que os mesmos realizavam”. O sistema necessitava de escravos que deveriam ser fiéis, para poder acumular sempre mais. Para conseguir escravos, faziam-se guerras, massacravam-se povos inteiros e se saqueavam suas riquezas, que aumentavam o acúmulo dos escravagistas romanos e seus aliados (Ap 18).
V. 28-29 – Tira-se de quem tem um e dá-se a quem tem dez. Assim funciona o processo de acumulação até hoje. Dar ao que já tem é a prática do sistema. Tirar de quem tem pouco é a experiência dos camponeses saqueados pelos impostos e pela ocupação romana.
O v. 30 mostra o resultado do sistema = choro, trevas e ranger de dentes. Quem não entra no sistema é expulso e fica à margem no sofrimento. Até os escravos são incentivados a entrar nas propostas do sistema escravagista que os massacra. O sistema trabalha bem a ideologia. Quem resiste ao sistema é castigado. O sistema também diz que não há salvação fora dele.
O v. 27 deixa claro que o sistema exige lucros para o patrão. A especu¬lação ajuda o sistema a se manter. Inútil (v. 30) é quem não produz acúmulo para o sistema; esse é marginalizado e excluído dos benefícios do sistema, que são meras migalhas. Os escravos fiéis ao sistema tinham algumas regalias, mas continuavam escravos! Os v. 21 e 23 exaltam os escravos fiéis. Só que eles continuam escravos, pois não foram libertos após ter conseguido muito lucro para o patrão. São chamados de bons porque reproduzem o sistema e defendem os interesses desse. O sistema só pode aproveitar os escravos fiéis; os outros são uma ameaça que precisa ser eliminada.

2.1.3 – Mateus 25.31-46
A proposta de Jesus frente à realidade
O v. 31 contrapõe Jesus ao patrão da parábola anterior. Lá o patrão é o juiz; aqui Jesus é o juiz. Lá o patrão (sistema) julga, e aqui Jesus julga com outros critérios e medidas e a partir de outras propostas. Jesus julga a partir das vítimas do sistema econômico escravagista.
Jesus julga nações inteiras por sua prática com as medidas baseadas no amparo, na solidariedade, na resistência e em favor dos fracos. Na parábola anterior, somente o patrão julga pela prática do sistema contra o fraco e contra quem resiste ao sistema. No texto anterior, somente os escravos são julgados a partir de sua prática de apoio ou não ao sistema. Aqui todos são julgados a partir de sua prática a favor ou contra as vítimas do sistema, inclusive Roma com seu sistema escravagista. Ninguém escapa da justiça divina. Os que ajudaram as vítimas do sistema são justos e terão a salvação – v. 46. O critério para nossa ação é dado pelos que sofrem e não por nós mesmos. São os fracos que dizem o que nós devemos fazer. Quem atende o seu chamado tem misericórdia e é solidário, é salvo. Aqui se parte da prática automática da fé (em favor dos fracos) como critério de salvação.
Critério para ser justo (v. 35-36,40) é o atendimento às vítimas do sis¬tema, e com isso se denuncia o próprio sistema.
Maldito é quem não atende e não vai ao encontro das vítimas do siste¬ma. Abençoado, salvo é aquele que não entra no sistema e pratica a diaconia. Aqui nem se fala explicitamente da fé. A ação de solidariedade e acolhida decorrem automaticamente como gesto de misericórdia. (“Misericórdia quero e não holocaustos” – Mt 9.13). No texto anterior, era maldito aquele que não entra no sistema; aqui é o contrário.
Denúncia do sistema: O sistema traz e produz.
Fome – expulsa da terra, não tem trabalho, cria sem-terra.
Sede – havia multidões de andarilhos, sem lar e terra, percorrendo o país na paisagem desértica da Palestina.
Nudez – pobre não tem roupa, só trapos.
Prisão – quem resiste ao sistema ou não pode pagar as dívidas vai preso ou tem que roubar para viver.
Doença – pobreza e miséria trazem a doença.
Forasteiros – muitos vão para o exílio ou escravidão romana por falta de pagamento de dívidas ou revoltas. Também há os que vão para a Palestina. Há uma migração intensa. Forasteiros e migrantes eram, em sua maioria, pessoas das primeiras comunidades cristãs. São os paroikoi – os paroquianos.
Como nos relata Aristides, cidadão romano (não-cristão) de 125 d.C., que escreve sobre os cristãos: “Eles andam em humildade e bondade. Não existe falsidade entre eles. Amam uns aos outros. Ouve-se que, se alguém dentre eles é preso ou oprimido por causa do nome de seu Messias, todos providenciam para suas necessidades, e, quando possível de ser liberto, eles o libertam. E se há alguém dentre eles pobre e necessitado, jejuam dois ou três dias para supri-lo com o alimento de que precisa. Eles não desviam sua atenção das viúvas, e os órfãos eles libertam de quem os violenta”. O texto expõe a prática exigida aos batizados das primeiras comunidades. Essa é a prática de fé dos batizados, que confere com as exigências do texto.
Quem vive segundo o sistema diz que isso (os famintos e os sedentos) é o preço do progresso. Jesus diz que isso é resultado do sistema econômico escravagista romano opressor.
Os v. 37 e 44 perguntam: “Senhor, quando foi que te vimos...?”. Jesus deixa bem claro que ele é o faminto, a vítima do sistema. Ajudando as vítimas do sistema, estar-se-á combatendo o sistema em si, pois se terá que atacar as causas do sofrimento. Como acabar com a fome? Devolvendo as terras aos camponeses, que o Estado romano deu a seus aliados. Quem não se solidari¬za com as vítimas do sistema também não o combaterá. Isso tudo é feito de uma forma espontânea, que brota da prática da fé. Jesus Cristo continua não sendo reconhecido como estando presente em meio às pessoas. Assim como os judeus não o reconheceram como o Messias, assim também a comunidade cristã tem dificuldade para reconhecê-lo nos massacrados pelo sistema. Mas há sempre um grupo que, mesmo não o reconhecendo nos pobres, acolhe-o por sua prática de fé solidária e revolucionária. Jesus nasceu, morreu e con¬tinua sendo pobre e continua sendo vítima do sistema – essa é a revelação. Nós precisamos optar de que lado queremos ficar: ao lado de Jesus corre-se o risco do sistema nos julgar, e a partir daí faremos parte dos massacrados e vamos necessitar de solidariedade e acolhida – tomai a vossa cruz e sigam-me!
O v. 46 fala do castigo eterno para os causadores do sofrimento e aqueles que o apóiam e fortalecem. Justo é o que ampara as vítimas do sistema e não se enquadra em sua dinâmica, que é excluir e produzir pobres. Ai daqueles que não se solidarizam com as vítimas do sistema e não lutam contra o mes¬mo, que cria essas vítimas.
A diferença no final é que, no texto anterior, o pobre vai para o castigo e o sofrimento. Aqui vai para o castigo quem apóia o sistema e não se solidariza com os pobres. A salvação é para quem acolhe as vítimas do sistema, aqueles que passam fome e não têm terra e trabalho. Não têm terra e trabalho porque os romanos não obedecem ao mandado de Deus. Eles agem como deuses que se apossam da terra. Antes a terra era de Deus (Lv 25.23); agora é do Estado, que a dá a seus aliados.

2.1.4 – Mateus 26.1-5
O texto fala do plano para matar Jesus, que resiste e é contra o sistema. É conseqüência do texto anterior. Quem resiste e denuncia o sistema é uma ameaça e tem que morrer. Essa é a conclusão lógica e a conseqüência de certa prática de fé. Como resistimos ao modelo capitalista neoliberal globalizado hoje? Ou fomos cooptados por ele e o apoiamos? Xingamos os empobrecidos de vagabundos e preguiçosos, como se a pobreza fosse sua própria culpa. Somos contra os que resistem ao sistema?

3 Meditação
A conjuntura desta época
Há uma pasmaceira geral na política nacional, porque estamos vivendo um longo período histórico demarcado por alguns fatores condicionantes da correlação de forças, que a disputa eleitoral e a reeleição do presidente Lula não conseguiram alterar. Que fatores são esses? Primeiramente, viemos de um processo de derrota política da classe trabalhadora brasileira desde as eleições de 1989. Os governos Collor e FHC repre-sentaram a consolidação da hegemonia de um setor da classe dominante que abandonou qualquer proje¬to de desenvolvimento nacional e subordinou-se completamente ao capital financeiro internacional. Disso resultou a “privatização” do Estado brasileiro a esses interesses e uma política econômica neoliberal que beneficia apenas tais setores do capital. Essa hegemonia total permitiu ao capital impor novas condições nas relações de trabalho, implementar mudanças tecnológicas que representaram a derrota política da classe operária in-dustrial, que foi a base da ascensão da década de 1980 e força principal das lutas que se seguiram.
Houve uma crise ideológica das esquerdas brasileiras, que não consegui¬ram enfrentar os novos tem-pos de refluxo e de ofensiva do império estaduni¬dense após a derrota dos chamados países socialistas. Ou seja, a correlação de forças internacionais também nos foi muito adversa nesses últimos anos. Em conseqüência de tudo isso, produziu-se um refluxo do movimento de massas e das lutas sociais, que marcou os últimos quinze anos.
Num contexto histórico de derrota política da classe trabalhadora e de refluxo dos movimentos de massas, só se explica a vitória eleitoral do presi¬dente Lula e do PT como partido depositário das esperanças de mudanças estruturais na sociedade brasileira, porque a classe dominante brasileira se dividiu. Uma parte mais reacionária e talvez burra tentou a todo custo derrubá-lo, usando como arma principal os meios de comunicação. Outra parte, mais hábil e talvez pensando no futuro, preferiu aliar-se e manter seus privilégios.
Dessa aliança e correlação de forças resultou um governo de composi¬ção de classes e de ideologia. No primeiro mandato, havia uma expectativa maior pela trajetória histórica do PT e do próprio presidente de que teríamos um governo de esquerda. Equivocamo-nos. Agora, o próprio governo assume com transparência e honestidade que quer ser apenas um governo de compo¬sição, no qual convivam forças de direita, de centro e de esquerda e convivam representações da classe dominante e da classe trabalhadora. O presidente apressou-se em assumir-se como centro, como fez questão de explicar: passara dos 60 anos e era necessário mudar de posição política. Tudo a ver!
Estamos ainda convivendo com um longo período adverso para os interesses do povo brasileiro. O momento exige muita reflexão, clareza e debate, para que as forças populares, em suas mais diferentes formas de organização, seja pastoral, estudantil, setorial, habitacional, do campo e da cidade, busquem desenvolver ações políticas para enfrentar os verdadeiros desafios que a conjuntura histórica impõe à nossa geração.
Os desafios da classe trabalhadora brasileira, conforme João Pedro Stédile:
O primeiro deles é recuperar o trabalho de base, de conscientização, de organização dos trabalhadores em seus espaços de vivência, seja no tra¬balho, na escola, na moradia, para estimular as lutas sociais. Somente com lutas sociais o povo pode recuperar o sentido coletivo da política, ter forças suficientes para melhorar suas condições de vida, conquistar avanços e alterar a correlação de forças.
Segundo: precisamos dedicar energias para a formação e a capacitação de nossa militância social. Em tempos de pasmaceira, é necessário dedicar-se ao estudo, à formação, para compreender melhor a complexidade da realidade e encontrar as verdadeiras saídas para os problemas.
Terceiro: precisamos colocar energias na construção e no desenvolvi¬mento de meios de comunicação de massa próprios, como rádios e televisões comunitárias, jornais, revistas, programas de comunicação de todo tipo, sob o auspício dos movimentos e organizações populares, para enfrentar o verdadei¬ro oligopólio das comunicações controlado pela classe dominante brasileira.
Quarto: precisamos estimular um amplo debate na sociedade sobre a necessidade de um projeto de desenvolvimento para o país. Não basta falar em crescimento da economia. Não basta resolver as questões conjunturais. O Brasil precisa de um projeto que dê rumo para seu futuro e que, sobretudo, enfrente seus problemas estruturais e construa uma sociedade mais justa e igualitária.
Quinto: é necessário que todas as organizações populares e pastorais se dediquem com prioridade à conscientização e organização da juventude trabalhadora, que vive nas grandes cidades. Será essa geração de jovens, desvinculada dos desvios e vícios do passado e sonhadora com um futuro mais justo, que poderá se mobilizar, construir um projeto diferente e alterar a correlação de forças na sociedade.
E, finalmente, com as energias voltadas para enfrentar esses desafios, é preciso torcer para que se produza então um novo ciclo de ascensão do movimento de massas. Os tempos são difíceis. Mas mudarão. E os ventos somente mudam pela força das massas. Encontramos essa análise em: http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&
task=detalhe&id=4992
A partir dessa análise de conjuntura, podemos trabalhar com nosso texto. Como vamos nos aliar e nos propor como cristãos a andar com o mo¬vimento popular, que são os paroikoi de hoje? Por outro lado, temos que ter em mente que a maioria do nosso povo luterano vai negar-se a andar com o movimento popular, pois acha que isso não faz parte do trabalho de igreja. Então corremos o risco de ser separados e colocados no cercado onde estão os cabritos, onde há choro e ranger de dentes. A questão é que nossa IECLB está cheia desse povo que passa fome, frio etc., só que a direção da igreja, desde a comunidade em diante, nega-se a acolhê-los e acompanhá-los na luta por mais vida, mais amor e mais justiça. Com isso estamos pondo em risco a nossa salvação. Se continuarmos como igreja nesse caminho de frear o movimento popular e nos negarmos a trabalhar com ele, estaremos no meio dos cabritos. Isso aqui não é brincadeira. Onde as nossas comunidades apóiam o movimento popular? Não apóiam. Com isso estamos negando co¬mida e água ao próprio Jesus Cristo. Que Deus nos livre desse julgamento! O texto é claro: Ninguém escapa do julgamento final. Que Deus tenha piedade de nós, comunidades da IECLB!
O v. 46 é muito claro: “E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna”. Portanto não estamos brincando com qualquer coisa! Isso é palavra pura de juízo para nós, comunidades da IECLB! Qual a comunidade da IECLB que concede espaço para o MST, MPA, MMC, MAB, MTD organizarem-se ou se reunirem em seus pavilhões e apóia suas lutas, mesmo sabendo que há luteranos no meio? Estão negando espaço para o pró¬prio Cristo! Não esquecendo que os concílios gerais da IECLB dos anos 1980 dizem para fazer um trabalho de base com os movimentos populares, sindicais e ecológicos. Mas palavra de concílio não vale nada e nem é divulgada e muito menos encaminhada pela direção da igreja, pois vai contra os interesses da classe dominante, que impõe seu jeito de pensar na igreja. Segundo o texto, não haverá piedade para os cabritos. Nós comunidades da IECLB somos os cabritos (com suas devidas exceções, e essas confirmam a regra). Apesar da clareza do texto, ainda ouso pedir: Que Deus tenha piedade de nós!
O desafio que João Pedro Stédile faz na análise de conjuntura é claro. Cabe a nós fazermos um trabalho de base, como decidiu o Concílio Geral de 1982. Levar formação para esse povo marginalizado, que é a grande maioria de nossos membros luteranos, e organizar a juventude que pertence à classe trabalhadora. É isso ou o cercado dos cabritos!

4 Imagens para prédica
Talvez se poderia começar perguntando: O que mata a fome? A comida. Quem produz a comida? Os agricultores. Quantos dos membros sentados nos bancos da igreja já foram ou ainda são agricultores? Por que muitos não são mais agricultores? Aí surgem as questões da exploração no campo e a falta da reforma agrária. Pergunte nas comunidades rurais da IECLB quantos pe¬quenos agricultores podem comprar terra para seus filhos e filhas? Pergunte nas comunidades urbanas quantos membros e jovens estão desempregados? Quantos de nossos membros que moram na cidade vieram do interior porque não se fez reforma agrária? Todo aquele que veio do interior está tirando em-prego dos moradores da cidade. Os dois não são inimigos, mas vítimas do sistema. A luta pela reforma agrária garante terra para os camponeses, que não precisam migrar para a cidade e concorrer nas filas dos desempregados. Assim a reforma agrária ajuda os habitantes da cidade. Os membros da IECLB apóiam a reforma agrária? A maioria ainda é contra. Estão lutando contra si mesmos. Por quê? Porque não fazem uma análise correta da realidade. Nisso a parábola das virgens deve nos ajudar: fazer uma análise correta do momento em que vivemos.
Reforma agrária é dar comida e matar a sede dos famintos e sedentos tanto na cidade como no campo. Agricultor que é contra a reforma agrária é contra a vida digna para seus filhos e filhas. O morador da cidade que é contra a reforma agrária está lutando contra si mesmo, pois a migração ameaça o seu emprego. A reforma agrária resolve uma boa parte do problema do de¬semprego na cidade e obviamente no campo. O capitalismo no estágio atual não quer fazer reforma agrária, mas propõe aumentar o latifúndio plantando cana e eucalipto para gerar lucro e viabilizar o modelo de vida suicida dos países do hemisfério norte.
A nossa prática em relação a isso vai nos colocar no cercado das ove¬lhas ou dos cabritos na hora da vinda do Filho do Homem. Uma boa parte dos membros da IECLB é contra a organização sindical e a organização do movimento popular, que lutam para acolher as vítimas do sistema capitalista e mudar o sistema para que ninguém precise passar fome e sede e ir preso porque não se conformou com esse século.

Bibliografia
VASCONCELOS, Pedro Lima. “E lhes falava em parábolas”. Uma introdução à leitura das parábolas. Mosaicos da Bíblia, nº 19. São Paulo: Koinonia, 1995.
 


Autor(a): Günter Wolf
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Último Domingo do Ano Eclesiástico - Cristo Rei

Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 25 / Versículo Inicial: 31 / Versículo Final: 46
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2007
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 24336
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