Mateus 7.21-29

Auxílio Homilético

29/05/2005

Prédica: Mateus 7.21-29
Leituras: Deuteronômio 11.18-21,26-28 e Romanos 3.21-25a
Autora: Vera Maria Immich
Data Litúrgica: 2º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 29/05/2005
Proclamar Libertação - Volume: XXX


Tema do culto:

Ouvir a palavra, permitir que ela more em nosso coração

e que impulsione a nossa ação.

1.Os textos das leituras do dia

Deuteronômio 11.18-21,26-28: Este texto fala de guardar os ensinamentos recebidos dos ancestrais, ou seja, a Torá. Mas não é qualquer guardar. É guardar no coração e na alma e também nos lugares visíveis para não esquecê-los em nenhum momento e também não ser esquecido por Deus. 
A palavra deve fazer parte da vida. Assim como a receberam, também devem passá-la adiante, aos filhos, em qualquer oportunidade. Então, guardando a palavra sempre, Deus os abençoará e multiplicará os dias sobre a terra.

Romanos 3. 21-25 a: Na Carta aos Romanos, Paulo escreve falando do grande desejo de Deus em reconciliar-se com o mundo e que para tal Ele deu seu filho Jesus Cristo para nos fazer justos. Paulo também lembra que perante Deus todos são iguais (todos pecaram) e carecem da graça de Deus, que há em Jesus Cristo.

2. Considerações exegéticas

Nosso texto é o final do Sermão do Monte, e este continua presente influenciando o texto. Ele não deve ser visto apenas como uma bela mensagem, mas deve ser vivenciado. Por isso, ao longo do subsídio, buscarei elementos do referido sermão. Recomendo a leitura dos capítulos 5 a 7 de Mateus para melhor situar o texto em questão.

O ponto central do Sermão do Monte e da pregação é que é da vontade de Jesus chegarmos ao reino dos céus, conf. 7.21, que nos diz: “Nem todo o que me diz: Senhor, senhor! entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus”.

Incomum e surpreendente para os ouvidos evangélicos é que o caminho para o reino de Deus passa pelo agir/fazer e não somente pelo ouvir e crer teóricos. É imprescindível que o ouvir nos leve para o caminho do agir.

O Sermão do Monte inicia com o relato das bem-aventuranças, continua com os ensinamentos sobre a oração, tanto a secreta quanto a pública e comunitária. Enfim, chegando ao nosso texto, a casa e seus fundamentos possíveis nos indicam o fio vermelho para a pregação. O ponto forte está em 7.21b, que fala do fazer a vontade do meu Pai, que está nos céus.

3. Reflexão

Ouvindo... crendo e fazendo...

É no ouvir que a palavra de Deus é preenchida de sentido e alcança seu objetivo. A união do ouvir a pregação e a pratica é que traz discernimento e sabedoria ao ser humano.

Algumas cenas são tão constantes nos noticiários, que nem é necessário situar um local específico. Basta chover mais do que previsto e estritamente necessário, que já vemos nos noticiários cenas de desabamento de casas/barracos construídos nos morros e sem a menor estabilidade, sem um alicerce seguro. É verdade que não podemos apenas responsabilizar aquelas pessoas que constroem suas residências em locais inapropriados, chamando-as de imprudentes. Mas imprudente é nossa política que atraiu as famílias para as cidades, oferecendo mão-de-obra às indústrias, e esqueceu que elas precisam de um novo local para construir suas casas e sua nova história.

Estabilidade, segurança e certeza é o mais importante na construção de uma casa que deverá abrigar e proteger pessoas por longos anos e gerações. Sabemos que, ao construirmos uma casa, não podemos olhar somente pelo mais barato. Quem quer arriscar ao construir uma casa que o fundamento possa desaparecer ou que o telhado voe com a força dos ventos e tempestades?

De qualquer forma, o exemplo usado por Jesus não está falando de políticas governamentais excludentes e nem de projetos arquitetônicos. Mas está falando de nossa vida e dos fundamentos que devemos estabelecer. O fundamento que Jesus propõe dá alicerce estável à nossa existência e discernimento.

Assim como não devemos construir nossa casa sobre a areia, fato que vemos tantas vezes nos jornais, pois a natureza apenas vem pegar o que lhe pertence em seus movimentos naturais, assim não devemos construir nossas vidas sobre alicerces inseguros. Muitas vezes, a angústia, as dificuldades e problemas insolúveis nos fragilizam, enfraquecendo-nos e confundindo-nos. Se não voltarmos nossos olhos para Jesus, poderemos facilmente sucumbir. Sucumbimos quando construímos nossa existência sobre falsas ideologias, superstições, ganância, egoísmo, enriquecimento ilícito e tantas outras coisas que não agradam ao Deus da vida e que nos afastam do projeto de Jesus de que todos possamos ter nossa existência ancorada em um porto seguro, que é ele.

Jesus diz no texto em questão: a estabilidade da casa de vocês depende de como vocês a construíram, depende da qualidade do material e do empenho do pedreiro. Assim é a tua vida. Nossa casa precisa resistir aos primeiros ventos e tempestades, mas também aos últimos. Qual o fundamento de nossa vida? Sobre o que nossa vida deve ser fundamentada? Jesus disse: você tem esse fundamento. “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha” (7.24).

Estas palavras são uma referência a todo o Sermão do Monte. Ele é um convite para entrar no reino de Deus e não um mandamento, uma barreira intransponível que me paralisa e diante da qual eu somente sei dizer: não sou capaz de fazer tudo isso!

Em Mt 13.44-45, Jesus nos promete o melhor e mais precioso que podemos alcançar. Ele compara o reino de Deus a um tesouro e a pérolas. Ele quer que alcancemos o melhor, ou seja, o reino. Jesus diz: eu trago o reino de Deus e desejo que vocês também façam parte dele. Então também podemos confiar nessa pregação. Se nós ouvirmos o seu convite e crermos nele e nos deixarmos impulsionar para uma nova ação, então edificaremos a nossa vida sobre um fundamento sólido e não sobre areia. Ouvir e crer nos ensinamentos de Jesus é uma parte do fundamento sólido, mas que não pode ser separada da segunda parte, que é fazer a vontade do Pai.

As palavras de Jesus não devem entrar por um ouvido e sair pelo outro. Mas entrar e chegar até o coração, fazendo morada ali. Se, de fato, permitirmos a sua morada em nós, então ele atuará em nós, transformando-nos e capacitando-nos.

Em outro texto, Jesus diz que uma boa árvore somente pode dar bons frutos. Por meio do nosso agir surgem as luzes do reino de Deus. E a terra experimenta um aperitivo do reino. Por isso, no Pai-Nosso, oramos: “Venha o teu Reino, seja feita a tua vontade assim na terra como no céu”.

O fundador da Diaconia em Württemberg, Gustav Werner, que viveu entre 1809 e 1887, disse: “Aquilo que não transformamos em ação não tem valor”. Com esta motivação ele ajudou órfãs, viúvas, deficientes e idosos. Ele transformou sua fé em ação. Para Jesus, não precisamos ser Gustav Werner ou Madre Tereza de Calcutá. Para ele não são as grandes obras as mais importantes. Ele fala de edificar bem uma casa, ou seja, a nossa vida. A Jesus interessa que a nossa vida tenha um bom fundamento, que não se desfaz com a primeira tempestade e nem com a última e derradeira, que é a morte.

A última instância neste mundo não pertence a nenhuma pessoa, nação ou organização. Pertence tão-somente a Deus. Jesus não quer nos amedrontar. Ele nos quer convencer de que a sua alegria é a nossa participação no seu reino. Nós fazemos parte desse reino quando agimos de acordo com os ensinamentos de Jesus.

A diferença de uma casa mal-edificada e de nossa vida mal-alicerçada é que não podemos simplesmente transportar uma casa para um fundamento sólido e novo, mas podemos reconstruir nossa vida sobre um novo fundamento, independente de nossa idade e de nossas experiências de vida. Sempre é tempo de recomeçar.

4. Pregação

Tema do culto: Ouvir a palavra, permitir que ela more em nosso coração e que impulsione a nossa ação.

O pregador poderá seguir um esquema com a comunidade, fazendo-a responder às perguntas. O esquema a ser seguido pode ser o seguinte:
1 – Qual o fundamento de nossa vida?
a) Ouvir e crer na pregação de Jesus.
b) Crer e agir segundo a pregação de Jesus.

2 – Praticamos a vontade de Deus?
a) Aquilo que se aprende e não se pratica não tem valor.
b) Pequenos frutos do nosso cotidiano (citar exemplos).

3 – No ouvir e na ação está a participação no reino de Deus.
a) A mudança ainda é possível.
b) Inscrever a palavra de Deus em nossa existência e em nosso coração.

5. Subsídios litúrgicos

O tema da pregação deverá ser também o tema do culto, que deverá permear toda a liturgia, desde os hinos, as orações e o Kyrie.

Acolhida: A comunidade poderá ser acolhida com Mt 7.24, que diz: “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha”.

Oração: Senhor Jesus, minhas bases estão tremendo. O chão parece abrir-se aos meus pés. Preciso da tua estabilidade. Ajuda-me a reconstruir a minha vida a partir da tua palavra. Ajuda-me a confiar em Deus e a praticar os seus ensinamentos. Assim me presenteia, bondoso Deus, para que eu faça parte do teu reino. Amém!

Kyrie

Como cristãos agradecemos e intercedemos por nós mesmos e também por aqueles que amamos. Mas não podemos esquecer de interceder e clamar pelos sofrimentos do mundo e por irmãos desfavorecidos. Por isso, após cada petição, clamamos: Kyrie eleison.
L.: Deus misericordioso: clamamos por todas as pessoas que não têm casa ou que residem em barracões sem um alicerce seguro. Por isso, clamamos: Kyrie eleison...
C.: Kyrie eleison...
L.: Deus misericordioso: intercedemos por todas aquelas pessoas que não construíram suas vidas sobre um alicerce seguro e que, por isso, vivem angustiadas e procurando preencher seu vazio existencial com tantas ilusões. Por isso, clamamos: Kyrie eleison...
C.: Kyrie eleison...
L.: Deus misericordioso: Intercedemos por todos os que vêem suas vidas desabarem junto com suas casas. Seus sonhos desaparecem junto com as chuvas inesperadas. Sê tu o Deus que conforta e fortalece e que permite a reconstrução de vidas em qualquer época, idade e circunstância. Por isso, clamamos: Kyrie eleison...
C.: Kyrie eleison...


Autor(a): Vera Maria Immich
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: 2º Domingo após Pentecostes
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 7 / Versículo Inicial: 21 / Versículo Final: 29
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2004 / Volume: 30
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 23578
REDE DE RECURSOS
+
Que ninguém procure somente os seus próprios interesses, mas também os dos outros.
Filipenses 2.4
© Copyright 2024 - Todos os Direitos Reservados - IECLB - Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - Portal Luteranos - www.luteranos.com.br