Mensagem de Pentecostes - 1987

26/05/1987

Após longo intervalo quero retomar a forma de comunicação por carta pastoral, fazendo votos que, doravante, me seja possível manifestar-me com maior frequência. Transmito a todos minhas fraternais saudações e espero que, nos atuais tempos difíceis e no dia a dia dos afazeres, a força de nosso Senhor não permita que desanimemos. Expresso minhas saudações nos termos do lema para a semana de Pentecostes, dizendo: ‘ Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito o farei, diz o Senhor dos Exércitos’ (Zc 4.6).

E é o que me proponho como tema de reflexão desta carta: Pentecostes. Que significa este dia para a cristandade e, particularmente, para a nossa Igreja? Pentecostes é o dia em que, conforme Atos 2.1ss, os primeiros discípulos receberam o Espírito Santo. E se todos os anos comemoramos este acontecimento de novo, é porque devemos ser lembrados deste dom de Deus. É dele que a Igreja vive. Importa, pois, pedir para que o Espírito venha também a nós, desperte a cristandade e crie nova vida. É pelo Espírito que Deus transforma o mundo.

Talvez haja quem, diante dos imensos problemas da atualidade, considere este dom insuficiente. Porque o espírito é fraco. Quer reorientar as pessoas, dar-lhes uma nova mentalidade, um novo coração. Não é verdade que violência, armas, estruturas, política são mais poderosas que o Espírito de Deus? Sentimo-nos impotentes, inclusive, diante do poder dos meios de comunicação em nosso País que ‘fazem a cabeça’ de todo o mundo, divulgando espíritos diferentes do que o Espírito de Deus. A tentação de desconfiar do Espírito e de apostar na força e no poder é muito grande.

De outro lado nos vemos questionados por grupos ‘espiritualistas’. Enxergam a ação do Espírito Santo predominantemente em fenômenos sensacionais, a exemplo do falar em línguas. Curas milagrosas, exorcismos, explosão de emoções, êxtase, é isto o que seria a obra do Espírito Santo. Tudo o que é ‘normal’, rotineiro, tudo o que não é espontâneo e ‘carismático’ é visto, então, com suspeitas, como não sendo ‘espiritual’. São fortes tais movimentos em nosso País.

Que vem a ser, pois, uma Igreja fundamentada no Espírito? Destaco três características:

1 – É uma Igreja que busca sua força em Deus. As fontes de energia da comunidade cristã estão na palavra e nos sacramentos. Quem julga ser forte, não costuma pedir ajuda. E quem supõe estar em posse de grandes dons carismáticos costuma comportar-se como se fosse ele o salvador do mundo. Não! É Deus quem salva e quem dá forças para aguentar inclusive derrotas. Igreja do Espírito Santo não precisa impressionar com demonstrações carismáticas nem precisa possuir poder secular. Mas ela será uma comunidade confessante, convincente, forte mesmo em sua fraqueza. É porque o culto é de tão grande importância. Nele é ouvido o testemunho dos apóstolos, são celebrados os sacramentos, nele são confessados os pecados, é glorificado o nome de Deus. Todo culto verdadeiro terá aspectos de Pentecostes.

2 – Igreja do Espírito é uma Igreja que busca a comunhão. O Espírito Santo ensina a ver os irmãos e as irmãs ao nosso lado, a perceber suas necessidades e a querer o seu bem. O principal fruto do Espírito não é o êxtase, mas sim o amor (I Co 12.31; Gl 5.22). Numa época que cultua o egoísmo e individualismo, é duplamente importante ressaltar que o Espírito cria comunidade. Nela uns ajudam aos outros – ou ela não existe. Portanto, é fundamental a vivência que ensaia a comunhão fraternal. O Espírito Santo congrega as pessoas, ele as reconcilia, faz com que se entendam, cria nova comunhão.

3 – Igreja do Espírito Santo é uma Igreja que busca a vontade de Deus no mundo. Coloca os propósitos de Deus acima dos interesses individuais. É a desgraça de nossa sociedade e do mundo que não se importam com o que Deus quer ou que confundem vontade de Deus e interesses pessoais, respectivamente grupais. O que Deus diria com relação à situação vigente em nosso País? O que ele iria exigir? Isto aí deveríamos discutir bem mais. Na Igreja do Espírito há estudo, reflexão, diálogo, sempre na tentativa de ouvir ‘o que o Espírito diz às igrejas’ (Ap. 2.7 etc).

Prezadas irmãs e irmãos! Que Deus conceda ao mundo e a nós mesmos um Pentecostes vigoroso. Que faça vir aquele Espírito do qual falou o profeta Isaías e que é ‘o Espírito da sabedoria e do entendimento, o Espírito de conselho e de força, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor’ (11.2). Deste Espírito temos urgente necessidade.

Fraternalmente,

Gottfried Brakemeier
Pastor Presidente
 

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