Nascimento de Jesus e os visitantes do Oriente Mateus 2.1-12

Prédica - P. Me. Alexander R. Busch

25/12/2019

Estimada comunidade, irmãs e irmãos em Cristo!

A história de natal narrada pelo Evangelista Mateus é bastante familiar. É tão conhecida a tal ponto que pensamos saber de antemão qual é a sua mensagem. Corremos, entretanto, o risco de não perceber a riqueza e o desafio que esta e outras histórias natalinas nos revelam. A visita dos magos ao pequeno Jesus é uma história de contrastes e diferenças, uma história de expectativas humanas e ação de Deus. E a lógica de Deus muitas vezes contradiz a lógica humana.

Mateus nos escreve que Jesus nasceu na cidade de Belém, na região da Judéia. Na realidade Belém não era uma cidade, como consta na nossa tradução. Estava mais para um vilarejo, um pequeno povoado na periferia da grande cidade e capital Jerusalém. Outro detalhe interessante narrado por Mateus, um detalhe que muitas vezes nos escapa aos olhos, é que Jesus nasceu quando Herodes era rei de Israel. Ou seja, o reinado de Herodes é o contexto para o nascimento de Jesus. E quem era Herodes? Quem é este personagem na história de Jesus?

Num primeiro momento, podemos ter a impressão que Herodes também estava interessado em conhecer o pequeno Jesus. Ele disse aos visitantes do Oriente, “Vão e procurem informações bem certas sobre o menino. E, quando o encontrarem, me avisem, para eu também ir adorá-lo” (Mt 2.8). Mas, por detrás destas palavras, estavam escondidas intenções malignas.

Ao ouvir que os visitantes de longe procuravam “o menino que nasceu para ser o rei dos judeus”, Herodes ficou alarmado e se sentiu ameaçado. Afinal, ele era o rei dos judeus, imposto pelo Império Romano para governar sobre o povo. E ele de fato governava . . . com mão de ferro. Usava seu poder para oprimir as pessoas, cobrando pesados impostos e sufocava qualquer movimento de oposição ao seu reinado. Para preservar o poder agia de forma violenta. No mesmo capítulo 2 de Mateus que fala do nascimento de Jesus, o evangelista descreve a raiva de Herodes quando os visitantes não retornaram para lhe contar onde estava o pequeno Jesus. Inseguro e com receio de ter de lidar com um rival, Herodes mandou matar todo menino com menos de dois anos em Belém e arredores. Este ato de violência extrema também faz parte da história do natal.

Assim podemos dizer que Herodes, este personagem na história de Jesus, representa o poder que oprime, o poder que busca seus próprios interesses, o poder que serve a si mesmo, o poder que machuca e destrói. Nestas condições, o poder se torna um ídolo que seduz e escraviza as pessoas e até mesmo uma nação. E não é apenas a classe política que corre o risco de idolatrar o poder. Ouvi a história de uma deputada federal que, ao adentrar um aeroporto, foi reconhecida por um cidadão que começou a xingá-la de corrupta e desonesta. A deputada, corajosamente, se voltou ao cidadão, e questionou, “por acaso, você acha que todos os políticos são iguais? Você gostaria de estar no meu lugar e as pessoas te tratarem com desconfiança e desprezo?”. Para sua surpresa, o cidadão respondeu, “sim, eu queria estar no seu lugar para poder roubar à vontade”. Que ironia. Por outro lado, que realidade é esta na qual tantas pessoas Brasil afora querem poder para benefício próprio.

Para Herodes, portanto, a notícia do nascimento de Jesus não é uma boa notícia. Herodes quer que a situação permaneça como ela está, sem mudanças. Jesus, porém, não veio para manter o mundo como está. Jesus nasceu para mudar os rumos e os caminhos da humanidade -para transformar as pessoas e a realidade. Jesus é somente boa notícia para as pessoas que anseiam e oram por mudanças em suas vidas e no mundo.

Ele é o Salvador prometido em tempos antigos, proclamado pelos profetas do Antigo Testamento. Talvez seja este um dos motivos porque os visitantes do Oriente foram em busca de Jesus. Não sabemos ao certo, mas é possível que os visitantes tivessem tido contato com os escritos de Israel quando o povo de Deus foi levado ao exílio. Por isso, conheciam a promessa do messias de Israel. Também não sabemos ao certo quantos visitantes eram. A tradição cristã diz que foram três os visitantes porque Jesus recebeu três presentes: ouro, incenso e mirra.

O que sabemos com certeza é que eram pessoas de fora de Israel, estrangeiros. Também sabemos que eles estudavam as estrelas. As pessoas que estudavam as estrelas eram chamadas de magos. Os povos da Antiguidade atribuíam grande poder aos astros celestes. Assim como nos dias de hoje as pessoas consultam o horóscopo, na antiguidade os povos acreditavam que o sol, a lua, as estrelas eram deuses e tinham o poder para influenciar a vida das pessoas e mudar o curso da história humana. Inclusive fazia parte do senso comum que um fenômeno estranho no céu, por exemplo, um cometa, fosse o sinal do nascimento de uma pessoa importante.

Por isso, os visitantes do oriente seguiram a estrela. E quando perceberam que estavam na terra de Israel, imaginaram que o messias estava prestes a nascer. Com certa naturalidade, foram ao palácio real na grande cidade e capital Jerusalém. Talvez pensassem que uma pessoa tão importante, o messias de Israel, iria nascer no palácio, na sede do poder político – um palácio com todo seu luxo e esplendor.

Demonstramos mentalidade semelhante quando valorizamos em excesso o que tem aparência de grandeza e poder. A lógica de Deus, entretanto, não segue a lógica humana. Os visitantes acreditavam no poder da estrela para lhes conduzir no caminho. Por fim, estavam procurando Jesus no lugar errado: no palácio em Jerusalém. A lógica humana precisa ser corrigida. Deus assim o faz, através de sua Palavra: “Você, Belém, da terra de Judá, de modo nenhum é a menor entre as principais cidades de Judá, pois de você sairá o líder que guiará o meu povo de Israel”. Palavras do profeta Miquéias que indicam o caminho em que os magos devem prosseguir.

O poder, portanto, não está na estrela, ou no sol, na lua ou em qualquer outro astro celeste. Estes não são deuses como as pessoas antigamente - ou ainda hoje - acreditam. Tudo o que existe foi criado por Deus como nos anuncia o salmo 19, “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1). O poder não está na estrela que conduz os visitantes do oriente. O poder está em Deus e sua Palavra. A Palavra de Deus, esta sim é capaz de corrigir o rumo. Esta sim, a Palavra de Deus, tem o poder para conduzir as pessoas até Jesus.

Os magos então prosseguiram viagem rumo a Belém. E encontraram a casa onde estava o pequeno Jesus e sua mãe. Uma casa simples, um vilarejo de pessoas humildes, na periferia de Jerusalém. Invertendo a lógica humana, mais uma vez o a lógica de Deus se revela de forma inesperada. Ao invés de palácio real e prestígio, Deus escolheu o caminho da manjedoura e humildade. Diferente do rei Herodes, cujo poder está em dominar as pessoas, o poder de Deus em Jesus Cristo se revela em se deixar cuidar por mãos humanas. Cristo Jesus exemplifica o poder do serviço, o poder que agrega e fortalece comunidade, o poder que gera esperança e profunda alegria. Cristo Jesus exemplifica o poder da doação. Deus entregando seu próprio filho ao mundo para salvar e resgatar. Deus presenteando a humanidade com sua dádiva mais preciosa, Cristo Jesus. É verdade que os visitantes do Oriente não sabiam ainda o quanto Jesus vai se doar em favor das pessoas - não sabiam de sua missão entre pessoas pecadoras e de sua morte na cruz por pessoas pecadoras. Os magos não chegaram a conhecer o homem Jesus que anunciou o Reino de Deus, chamando as pessoas para que mudassem a sua maneira de viver e se voltassem ao SENHOR.

Este entendimento os magos do Oriente não tinham. Mas o que tinham era suficiente para caírem de joelhos e adorarem a criança Jesus. O que tinham era suficiente para lhe prestar sincera homenagem e lhe trazer oferendas de valor. E o que eles não tinham, nós temos. Nós temos uma percepção mais ampla de quem é Jesus e o que ele fez e faz em nosso favor. Conhecemos o Jesus que tem o poder para mudar o curso da história humana – mudar a nossa história. Seu poder é amor que se doa e transforma. Seu poder é Palavra que corrige e nos levanta para uma nova vida. Seu poder é comunhão que gera gratidão e nos chama para ofertar a ele nossos dons e nossas vidas. Queira Deus despertar em nós a fé firme para buscar e encontrar Jesus, e se deixar conduzir pelo Deus que se tornou criança. Amém.
 


Autor(a): P. Me. Alexander R. Busch
Âmbito: IECLB / Sinodo: Rio Paraná / Paróquia: Maripá (PR)
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo do Natal
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 1 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 12
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 54781
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