Números 11.24-30

Auxílio Homilético

11/05/2008

Prédica: Números 11.24-30
Leituras: João 20.19-23 ou João 7.37-39; 1 Coríntios 12.3b-13 ou Atos 2.1-21
Autor: Sisi Blind
Data Litúrgica: Domingo de Pentecostes
Data da Pregação: 11/05/2008
Proclamar Libertação - Volume: XXXII

1 Introdução
“Todos bebemos de um só espírito.” É festa de Pentecostes, é dia de celebrar a graça inclusiva de Deus. Sim, através do envio do Espírito, Deus presenteia-nos com a possibilidade de ser, todos, seus interlocutores. Toda a comunidade é convocada para a tarefa ministerial, na qual o uso da potencialidade de cada um pode-se fazer evidenciar na aplicação dos diferentes dons, inclusive no desafio de usar os dons de forma inovadora. Somos chamados e enviados à ação profética em nosso mundo através da ação do Espírito Santo. O espírito é um só e sopra onde quer. Os dons são diversos, e sua diversidade pode ser ampliada.
Em nossas comunidades existe carência de liderança, mas a tarefa dos líderes é reunir e auxiliar na capacitação da comunidade para que ela mesma assuma a tarefa que lhe é concedida em sua riqueza de dons e potencialidades. Os textos indicados para a mensagem do Domingo de Pentecostes desafiam-nos a chamar a comunidade, valorizar seus dons e auxiliá-la na inclusão de pessoas no ministério da profecia e rever dons que podem ser utilizados de forma diferenciada e inclusiva. A profecia é ação do Espírito Santo. Não é movimento novo na igreja, mas é parte da essência histórica do movimento de Jesus, que, por sua vez, traz em sua ação a memória da ação profética e libertadora do povo de Israel.
Como igreja, é importante estar atento ao contexto vivencial. Portanto precisamos reformular nossas formas de ação e atuação, inclusive nossa forma funcional, em consideração à realidade, que se transforma na dinamicidade das relações em nossa sociedade. Nossa mensagem deve auxiliar na construção de uma comunidade participativa e disposta a rever sua forma e seu conceito de organização. Os processos sociais sofrem mudanças, e a comunidade, como parte da sociedade, também muda, de modo que é importante que vivenciemos as mudanças sem perder os referenciais de nossa essência constitutiva.

2 Exegese
Milton Schwantes classifica Números 11 como um mosaico. Ela é um conjunto de peças muito diferentes entre si, mas é um conjunto. Seu enfoque é a murmuração do povo na caminhada pelo deserto. Inicia narrando a queixa do povo (v. 1) e finaliza com o sepultamento dos desejosos das panelas fartas do Egito. Sob esse enfoque foram inseridas outras cenas, entre elas a indicação da pregação deste domingo, que sinaliza a experiência da ação do Espírito aos setenta anciãos reunidos na tenda (v. 24, 25) e aos dois homens do acampamento (v. 26).
Esse mosaico tem um propósito: mostrar a história a partir de suas partes, ou seja, características próprias, elencando elementos importantes na construção de uma comunidade que necessita rever suas características funcionais. Essa forma de ser da perícope localiza-a numa fase mais adiantada da história de Israel, talvez até na época do exílio (Schwantes, 1982, p. 206).
O povo já não se encontra no deserto de areia, mas está agora no deserto estrutural, ou seja, fora de sua comunidade constituída e organizada funcionalmente. Essa constatação nasce do fato de que os anciãos são reivindicados como mensageiros/profetas do povo. A tarefa que o Antigo Testamento, em geral, atribui aos anciãos é a de líderes mantenedores da sabedoria, autoridades judiciárias, chefes políticos.
Poderíamos arriscar dizer que, em função do exílio, esses homens perderam sua função comunitária, e Moisés convoca-os para a Tenda, onde recebem uma reorientação de função. Eles recebem a capacitação do Espírito de Deus para assumir a função da profecia. A esses homens sábios é dada a tarefa de anunciar a ação e presença de Deus em meio ao sofrimento dos exilados. Moisés está na origem do movimento profético. Ele chama os anciãos para a profecia. Esses homens possuem sabedoria e força, mas pelas circunstâncias do contexto do exílio se encontram sem função. Assim acontece uma reorganização comunitária que potencializa suas lideranças para uma tarefa que é vital nesse momento histórico do povo. No exílio, são necessárias pessoas que anunciam a presença e a força de Deus para manter o povo animado e combativo. Os anciãos recebem essa incumbência. Mas a tarefa não é dada somente àqueles que fazem parte do seio organizacional do grupo.
Como a profecia é ação do Espírito, ela vai além dos convocados, em torno da tenda, pela autoridade mosaica. Ela alcança também aqueles que estão fora dela. A ação do Espírito de Deus mostra que nem sempre Deus comunica seu Espírito através dos canais oficiais. Os dois homens (Eldade e Medade) também estavam na lista dos inscritos, mas não estavam junto a Moisés. Portanto as autoridades do povo de Deus devem entender que o Espírito de Deus também se comunica ali onde eles não estão e não lhes pede permissão. Esses dois homens realizam a profecia na periferia da Tenda. Essa ação periférica causa estranheza e desejo de que seja interrompida, proibida (v. 28).

3 Meditação
O texto evoca algumas questões: diante de situações difíceis, não devemos ater-nos a murmurações ou condenações, mas buscar mudanças que possam reconstruir nossos processos comunitários. Antes devemos reorganizar-nos para superar as dificuldades e enfrentar as oposições do projeto cristão em nosso mundo. Portanto nossas energias devem estar voltadas para a realização de ações que possam garantir mudanças e transformar a realidade que nos machuca, corrói e, muitas vezes, paralisa.
O texto ensina-nos que as ações do Espírito de Deus são muito diferentes. Ele nos chama à percepção de que o Espírito de Deus desafia para a tarefa profética aqueles que são dirigentes e fazem parte da comunidade estruturada, assim como também chama aqueles que estão fora da estrutura. Essa compreensão é fundamental para a continuidade da igreja como corpo de diferentes membros e funções. Nesse processo, somos convidados a rever nossos conceitos, a mudar nossa forma de atuar e nossos enfoques no uso dos dons e, especialmente, a abrir nossas portas e janelas para que as pessoas possam ocupar os espaços comunitários, usando seus dons, com os quais foram capacitados pelo Espírito de Deus. Quando a realidade da morte se abateu sobre os discípulos, eles se fecharam; mas a ressurreição de Jesus abre as portas e envia os discípulos para a tarefa que lhes cabe. Quando a comunidade de Corinto valoriza somente alguns escolhidos, Paulo lhes fala que a comunidade é um corpo em que todos têm funções importantes e que nenhum dom é melhor do que outro, mas é a complementaridade que constrói a riqueza e a verdadeira comunidade cristã.
Celebrar Pentecostes é entender a riqueza do mosaico humano e identificar a beleza da caminhada cristã como o processo de luta contra as dores e as injustiças do mundo presente. É preciso ativar a esperança e aguçar a crítica frente ao mundo globalizado, que é um mosaico rico e belo, mas que precisa de lideranças que percebam que a sobreposição das peças não é o caminho que garante a diversidade da criação.

4 Imagens para a prédica
Gostei muito da idéia do mosaico para falar da diversidade. Portanto construir um mosaico ou trazer um já pronto para ilustrar a pregação poderia ser um elemento rico e de construção participativa. Esse elemento pode ser um forte símbolo para exemplificar o que é a igreja, ou seja, o que Pentecostes propõe como igreja cristã. Os elementos que formam um mosaico são importantes para conduzir a reflexão:
1 – Cacos: os cacos podem ser comparados, com suas pontas e seus contornos brutos, à fragmentaridade de nossa experiência e à nossa fragilidade humana, presentes na construção da igreja/comunidade. Sem eles não se constrói um mosaico; sem eles não há diversidade de dons e nem de ministérios;
2 – Cola: o cimento, a argamassa necessária para colar os cacos, é a força do Espírito de Deus. Ele nos chama, capacita e desafia a viver a comunhão sem perder nossa característica individual, mas desafiando a não viver o individualismo da modernidade/pós-modernidade;
3 – Base: para fazer um mosaico, é preciso ter uma base, seja um quadro, seja um vaso, seja uma parede. Essa base é a nossa identificação cristã. É nossa memória sempre viva do projeto de Deus para com seu povo, que é um projeto que exige nosso comprometimento com o anúncio de sua palavra e a denúncia das injustiças presentes em nosso mundo.

5 Subsídios litúrgicos
Confissão de pecados:
Pensando no mosaico, poderíamos trazer cacos como símbolos para representar nosso individualismo e nossa precariedade humana.

Kyrie:
Os cacos podem ser mostrados como objetos que machucam, ferem, causando dor e exclusão.

Oração do dia:
(aqui poderia ser usada a argamassa ou cola como símbolo da unidade reconstrutora)
Deus, nosso Senhor, Deus da graça e do amor. Auxilia-nos a perceber a diversidade de dons e especialmente que é preciso deixar que o Espírito de Deus atue em nós para que haja a reconstrução da tua igreja em nosso mundo. Capacita-nos, através do teu santo Espírito, a viver a comunhão em nossa diversidade e pluralidade. Amém!

Oração de intercessão:
Of. – Deus Eterno, intercedemos pelas igrejas para que elas possam andar juntas, construindo o caminho da inclusão e da diversidade em seu meio. Assim pedimos a ti!
Com. – Escuta, Deus, a nossa oração!
Of. – Deus, intercedemos também pelas autoridades, a fim de que elas possam ter a capacidade de mudar suas funções se preciso for, para que o anúncio da tua verdade seja fortalecida. Assim pedimos a ti!
Com. – Escuta, Deus, a nossa oração!
Of. – Deus Criador! Lembramos todas as pessoas necessitadas, doentes, enlutadas e, de maneira muito carinhosa, as pessoas atormentadas e desorientadas. Que em ti possam encontrar orientação e apoio, força e ânimo, perseverança e fé mediante o poder do Espírito Santo. Assim pedimos a ti!
Com. – Escuta, Deus, a nossa oração!
Of. – Deus da graça e do amor! Pedimos pelas pessoas de nossas comunidades, para que assumam os desafios de promover vida justa e digna através da partilha e do comprometimento de cada pessoa. Assim pedimos a ti! Amém

Bibliografia
SCHWANTES, Milton. Meditação sobre Nm 11. In: Proclamar Libertação VIII. São Leopoldo: Sinodal, 1982. p. 205-212.
von RAD, Gerhard. Teologia do Antigo Testamento, v. 2. São Paulo: ASTE, 1974.
 


Autor(a): Sisi Blind
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Pentecostes
Perfil do Domingo: Domingo de Pentecostes
Testamento: Antigo / Livro: Números / Capitulo: 11 / Versículo Inicial: 24 / Versículo Final: 30
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 2007 / Volume: 32
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 24216
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