O itinerário de formação de um discípulo/discípula de Jesus

Prédica

17/09/2021

Marcos 9.30-37
Jesus e os discípulos saíram daquele lugar e continuaram atravessando a Galileia. Jesus não queria que ninguém soubesse onde ele estava porque estava ensinando os discípulos. Ele lhes dizia: — O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e eles vão matá-lo; mas três dias depois ele ressuscitará. Eles não entendiam o que Jesus dizia, mas tinham medo de perguntar. Jesus e os discípulos chegaram à cidade de Cafarnaum. Quando já estavam em casa, Jesus perguntou aos doze discípulos: — O que é que vocês estavam discutindo no caminho? Mas eles ficaram calados porque no caminho tinham discutido sobre qual deles era o mais importante. Jesus sentou-se, chamou os doze e lhes disse: — Se alguém quer ser o primeiro, deve ficar em último lugar e servir a todos. Aí segurou uma criança e a pôs no meio deles. E, abraçando-a, disse aos discípulos: — Aquele que, por ser meu seguidor, receber uma criança como esta estará também me recebendo. E quem me receber não recebe somente a mim, mas também aquele que me enviou.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo
o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam no meio de nós.

Abre Senhor os nossos ouvidos e os nossos corações para a tua Palavra. Pois lâmpada para os nossos pés é a tua Palavra e luz para o nosso caminho. Amém.

Estimada Comunidade:

O texto do evangelho de Marcos nos quer falar hoje sobre o itinerário de formação de um discípulo/discipula de Jesus. Jesus não quer um grupo de fanáticos, mas ele quer como seus seguidores/seguidoras um grupo de pessoas responsáveis capazes de assumir um compromisso com os seus ensinamentos.
Por isso, Jesus se esforça muito na formação de seus seguidores. E essa foi uma tarefa bastante complicada, pois os seus seguidores e seguidoras tinham grandes dificuldades em compreender que os ensinamentos de Jesus eram bem diferentes dos ensinamentos da sociedade. Que Jesus queria deles um novo modo de vida, que fosse totalmente diferente dos valores egoístas e competitivos da sociedade.
O texto que ouvimos do Evangelho de Marcos está entre dois relatos de cura de dois cegos (Mc 8.22ss e 10.46ss). E isso tem um significado claramente simbólico. Significa que se Deus não nos abrir os olhos, se não transformar a maneira dos discípulos de ver as coisas, eles não serão capazes de entender a cruz do Filho do homem e muito menos o que significa seguir Jesus no caminho da cruz.

E no Evangelho de Marcos, cada vez que Jesus anuncia a sua morte, esse anúncio é sempre seguido de um acontecimento que revela o quanto os discípulos foram incapazes de assimilar o que Jesus estava dizendo.

Talvez a reação dos discípulos de não entender e - até ter medo de perguntar o que significava que “o Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens e eles vão matá-lo; mas três dias depois ele ressuscitará”(Mc 9.31), fosse resultado do temor que eles mesmos tinham em relação ao sofrimento que estava prestes a ocorrer. Talvez eles achassem que não falar sobre isso, significaria que isso não iria acontecer.

Ainda hoje ouvimos pessoas falarem sobre o poder das palavras. Se falamos coisas boas, acontecem coisas boas e se falamos coisas ruins, acontecem coisas ruins. Por isso, devemos sempre só falar coisas boas. A corrida do ser humano deve sempre atrás de prestígio e poder, e da satisfação de sua vontade e desejos. Nós aprendemos que a pessoa tem sucesso na vida, quando ela alcança o topo de suas pretensões. Então ela passa a ser uma pessoa admirada e acaba exercendo fascínio e influência sobre os demais.

Jesus não é contra o bem estar das pessoas, ele não é contra a influência que umas pessoas podem ter sobre as outras, mas ele diz que a forma de exercer influência sobre os outros é pelo amor. Existem duas formas de exercer a autoridade sobre outras pessoas: uma forma é a forma diabólica de exercer a autoridade promovendo o medo, a violência, a destruição e a morte. Pessoas assim são respeitadas por conta do medo.
a outra maneira de exercer autoridade sobre as pessoas é promovendo a vida, a paz, a harmonia e a preocupação pelo bem-estar coletivo. Essas pessoas serão respeitadas por reconhecimento, por gratidão.

Os discípulos e muitas pessoas cristãs acreditam que tudo seria melhor se Jesus estivesse sempre ao lado os poderosos.
A religião judaica cultivava essa esperança que um dia Deus enviaria um Messias, um triunfador - que destruiria os inimigos do povo de Israel com grande poder.
Mas esse não foi o objetivo de Jesus.

Para Jesus, Deus se manifesta nesse mundo no serviço ao outro, no serviço à sua criação. Quando Deus se manifesta ele presta um serviço à vida. Jesus nunca esteve ao lado de atitudes violentas, de discursos de ódio e de morte. Por mais que se fale o nome de Deus, Deus não se aproxima desses lugares. Deus não abençoa a ambição autoritária do ser-humano e seus projetos de descaso com a vida dos mais fracos e a destruição irresponsável da Natureza.

O poder de Deus se revela no sofrimento, na morte e na ressurreição de Jesus. Isto é, quando tudo parece perdido, quando os poderosos festejam suas vitórias, quando eles pensam ter o poder sobre a vida e a morte das pessoas, nesse momento Deus intervém em favor dos que sofreram por terem permanecido solidários e fiéis aos ensinamentos de Jesus. Quem persevera na prática do amor tem o olhar e o cuidado de Deus.
Portanto, Jesus quer ensinar aos seus discípulos que a fé deve ter um efeito prático também na vida da pessoa cristã. A fé transforma o ser humano para uma experiência diferenciada de relações. Foi o que ocorreu na comunidade de Jerusalém, a comunidade experimentou o Pentecostes, cujo resultado foi a busca por uma vida comunitária e relacional bem diferenciada.

Mas, o Evangelho também nos faz um alerta muito importante.
Ele nos diz que - nós pessoas cristãs - nunca nos devemos considerar superiores aos outros. O pecado também pode entrar numa comunidade cristã e dentro do coração de quem se diz seguidor de Jesus.

Mesmo Jesus estando presente entre os discípulos, mesmo ensinando e conduzindo seus discípulos, mesmo assim aconteceram situações entre eles (e nas Comunidades) que geraram conflitos. E mesmo estando tão próximos de Jesus, os discípulos não entenderam todos os ensinamentos de Jesus. Se isso aconteceu aos discípulos estando Jesus fisicamente presente, então o mesmo pode acontecer a qualquer pessoa e em qualquer comunidade.

Apesar de Jesus dizer que ele não seria esse Messias general militar, que deveria interferir violentamente na história, mesmo assim os discípulos estavam discutindo entre eles sobre quem era o maior, quem era o mais importante entre eles. Quem dos discípulos deve ter a palavra final, quem deve ser o mais respeitado. Os discípulos estavam esperando que Jesus interferisse de maneira violenta na história de Israel, que chamasse o povo para uma rebelião para expulsar o Império Romano e instaurasse um novo regime político, no qual cada um dos discípulos já estava esperando um cargo.

Para os discípulos, ser o maior é interpretado como ser o primeiro. E Jesus diz de maneira clara que ele não é esse líder militar e quem quiser ser o primeiro deve ficar em último lugar e servir a todos.

Portanto, Jesus quer ensinar aos discípulos uma maneira diferente de transformar as situações – sem fazer uso da violência ou da ambição pelo poder.

O ato de segurar uma criança, colocá-la no centro e abraçando-a, são gestos contundentes de amor que cada pessoa cristã deve ter em relação aos pequenos e pouco considerados. A criança era uma das criaturas mais insignificantes da cultura antiga. Por sua idade não estava em condições de participar de uma guerra, nem da política ou da vida religiosa. Jesus coloca uma criança no centro, e mostra que seus seguidores e seguidoras não devem colocar no centro as próprias ambições, mas o cuidado com as situações e pessoas mais simples.

E a partir daí, podemos concluir que alguns ensinamentos de Jesus para a vida pessoal e comunitária são os seguintes:

A primeira pessoa a pedir desculpas a outra será sempre a mais corajosa. A primeira pessoa a perdoar a outra será sempre a mais forte. A primeira pessoa que se dispuser a escutar uma outra pessoa, será o sempre a mais ouvida. A primeira pessoa a esquecer as ofensas será sempre a mais feliz. Quem quiser ter segurança, não se preocupe com construir um muro maior, nem em comprar uma. Preocupe-se com construir uma mesa maior e dividir um pouco do que vc tem com os mais pobres.
Portanto, Jesus nos apresentou hoje o itinerário de formação para um discípulo/discípula. E Jesus quer como seus seguidores um grupo de pessoas responsáveis e capazes de assumir um compromisso com os seus ensinamentos.
Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo permaneçam no meio de nós. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Paranapanema / Paróquia: Curitiba - Igreja de Cristo
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 9 / Versículo Inicial: 30 / Versículo Final: 37
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 64347
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