Palavras e atos que consolam

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Pa. Cibele Kuss, Secretária Executiva da Fundação Luterana de Diaconia (FLD), em Porto Alegre/RS

Perguntou-lhe Jesus: o que queres que eu te faça?

   Acompanhar e se colocar ao lado das pessoas que vivem situações de sofrimento é uma dimensão da vida em Comunidade e sociedade. É também um testemunho evangélico que revela o amor que vivemos na relação de irmãs e irmãos em Cristo, quando desenvolvemos sensibilidades para atuar em contextos e com pessoas em diferentes circunstâncias de dor e sofrimento.

   A pergunta sobre quem sofre é ampla e produz respostas de diversidade. Também a pergunta sobre o que e como fazer é importante. No encontro de Jesus com Bartimeu, narrado no Evangelho de Marcos, que estava provavelmente em situação de rua e tinha uma defi ciência visual, a pergunta é feita: O que queres que eu te faça? Esta pergunta de Jesus é uma das chaves metodológicas para fazer companhia a quem sofre. As pessoas precisam e têm condições de participar de forma ativa nas suas difi culdades.

   Há alguns aprendizados que todas as pessoas necessitam realizar e um deles é que o sofrimento é uma experiência que nos acompanha a vida inteira. Caso contrário, viveríamos diariamente com intervenções médicas, em uma perspectiva psíquica higienista, patológica e fora do nosso controle.

   Quando conseguimos desconstruir a ideia de que a felicidade é mais importante que a vida em si, a vida com todas as experiências plurais que acontecem conosco, entre elas as mudanças que causam tristezas, alegrias, novos comportamentos e pensamentos, conseguimos também desconstruir a noção que o sofrimento nos incapacita. Existem situações sem muita governabilidade, mas, mesmo nelas, as pessoas têm possibilidade de manifestar os seus de sejos, as suas opiniões e receber orientação e ajuda qualificada.

   Jesus faz perguntas a quem sofre, a pessoas, individualmente, e também a grupos inseridos em contextos mais complexos, porque acredita e tem consciência que cada pessoa é sujeito de direitos e, na mais difícil condição, ainda assim, necessita participar ativamente nos processos de superação de dificuldades.

   Jesus acompanhou o sofrimento de Bartimeu em diálogo e ação conjunta na relação com o contexto que a situação vivida por ele apresentava: exclusão, invisibilidade e criminalização. Muitos grupos e pessoas em situação de sofrimento são estereotipadas e tratadas como incapazes de encaminhar soluções ou propostas de saída destas condições. Os sofrimentos nunca estão descontextualizados, assim como o acompanhamento não pode ser isento de um olhar ampliado sobre o acontecimento. Bartimeu gritou a sua condição e Jesus a acolheu e a devolveu em forma de pergunta acompanhada do reconhecimento das capacidades encontradas nele para fazer a sua mudança em direção a uma vida com dignidade e respeito.

   Fazemos companhia a quem sofre na família, na rua, em grupos ou projetos diaconais, com amor e democracia. A pergunta estratégica e participativa de Jesus pode ser aplicada e refletida para dentro dos processos e contextos em que atuamos. É realmente incrível e surpreendente o que podemos fazer coletivamente em situações de sofrimento. As pessoas aprendem que o sofrimento não tem a última palavra.

Para refletir, leia Marcos 10.46-52

 

 

P. Elio Scheffller, formado em Teologia pelas Faculdades EST, em São Leopoldo/RS, exerceu o Ministério Pastoral em Erval Seco/RS, Cachoeira do Sul/RS, Palmitos/SC, Rolim de Moura/RO, Ökumenische Werstadt - Kassel, na Alemanha, além de ter sido Pastor Sinodal no Sínodo da Amazônia. Atua na Paróquia de Monte Alverne, em Santa Cruz do Sul/RS

Bíblia: Palavra que consola

   Na minha vivência em diversas regiões do Brasil e em diferentes instâncias da IECLB, o que mais encontrei foi a necessidade por palavras que consolam e amparam. Confrontados com limitações decorrentes da idade e de condições sociais, injustiças, doenças, dores cruéis, acidentes fatais, mortes violentas e em função da idade avançada, o consolo é fonte de vida. É inerente à nossa natureza humana que fiquemos revoltados, tristes, desesperados, sintamos saudades e o vazio deixado por pessoas queridas...

   A Bíblia é fonte inesgotável da Palavra que consola, de palavras que mobilizam a Comunidade para a solidariedade e a oração em favor de quem está sofrendo. Na Comunidade cristã, há espaço institucionalizado para pronunciar estas palavras, seja nas visitas em hospitais, casas geriátricas, visita domiciliar, sepultamentos, cultos de oração memorial e no aconselhamento pastoral, além de diferentes gestos solidários. 

   Experimento sempre de novo que Palavras que consolam verdadeiramente são aquelas que vêm acompanhadas de um gesto concreto de solidariedade. Um aperto de mão, um cartão, um abraço, uma bênção, um dar-se as mãos para oração comunitária e ecumênica, estar junto para denunciar, um acender de vela, uma flor, um hino cantado ou simplesmente uma música tocada. 

   Recentemente, diante do brutal assassinato de Miriam Roselene Gabe, morta pelo seu ex-companheiro, procuramos consolo em um ato público de indignação e uma caminhada pela paz, com parada para oração e clamor no local do crime: a emergência do hospital, onde ela foi para fazer corpo de delito. Nas palavras do Salmo 121.1-2, buscamos socorro para denunciar e clamar por justiça: Elevo os meus olhos para os montes. De onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra.

   Expressamos assim que não podemos apenas chorar juntos, mas imploramos por misericórdia ao nosso Deus, da vida e do amor, que nos ajude a encontrar caminhos e atitudes para que esta realidade seja transformada. Esta iniciativa da Oase foi um dizer ‘não’ à violência. Ficamos comprometidos a nos ajudarmos no cultivo da amizade e do cuidado. Chamamos a atenção das autoridades para que cumpram com mais efi ciência as leis de proteção à vida, como a Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio. 

Em caminhada silenciosa, com camisetas, balões e bandeirinhas brancas, além de cartazes expressando ‘Não à violência’, orando, de mãos dadas, na praça e na rua, ouvindo leituras bíblicas e reflexões, procuramos vencer o medo e a indiferença que a cultura patriarcal de morte quer nos impor. 

As palavras consoladoras da Bíblia nos desafiam ao testemunho. Não são palavras de conformação diante da realidade de pecado e morte que insiste em nos sufocar. Não são palavras que transferem ou minimizam a dor. São palavras que consolam, trazendo paz diante da realidade e coragem para agir diante do que deve ser mudado. 

Para refletir, leia Romanos 8.31-32  

Que cada um dê a sua oferta conforme resolveu no seu coração.
2Coríntios 9.7
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