Posicionamento pastoral a respeito da crise hídrica, estiagem e endividamento da agricultura familiar nas regiões norte e noroeste do Espírito Santo

17/08/2016

Bambu a beira de córrego morrendo
Cafezal Jaguaré.
Estação de captação de água - Boapaba
Gado está sem pastagem
Lavoura de café
Monte Alverne_Café Queimado devido a seca (2)
Monte Alverne_Café Queimado devido a seca (4)
Rio Santa Joana_Depois (7)
Rio Santa Maria
Rio São João Pequeno (7)
Rio São João Pequeno (9)
Rio São João Pequeno (14)
Rio São João Pequeno_Depois
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POSICIONAMENTO PASTORAL A RESPEITO DA CRISE HÍDRICA, ESTIAGEM E ENDIVIDAMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR NAS REGIÕES NORTE E NOROESTE DO ESPÍRITO SANTO

Reunidos em Conferência ministerial da União Paroquial Norte do Espírito Santo (SESB), nós, ministros e ministras da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, vimos a público expor parte das questões ambientais e socioeconômicas, cujos impactos estão presentes em nosso território eclesial.

O norte e o noroeste do Estado do Espírito Santo enfrentam a maior seca de que se tem notícia nos últimos oitenta anos. A produção de café sofreu perdas substanciais que se aproximam aos sessenta por cento ou mais. Lavouras inteiras estão morrendo por falta de chuva e de água para a irrigação. Muitos membros da Igreja Evangélica Confissão Luterana no Brasil (IECLB) estão desesperados, pois se encontram envoltos em dívidas. Há exemplos concretos de gente que colheu apenas dez por cento da safra que normalmente colheria, e no desespero migra para Rondônia. Em alguns lugares não existe sequer água para o consumo humano, o que obriga prefeituras a disponibilizarem carros-pipa para o transporte de água, inclusive para comunidades rurais.

Os rios estão secando. Nascentes que no passado nunca deixaram de verter água, transformaram-se em terra tórrida. Nos últimos dias, em alguns trechos, o Rio Pancas parou de correr por duas vezes. Não diferente foi com os Rios Santa Joana e Santa Maria, cujas águas não mais alcançam o Rio Doce. Mais ao norte do Estado, próximo à Vila Pavão, o Rio 15 de Novembro secou totalmente. Quando voltar a chover, muitas lavouras terão de ser arrancadas, pois se tornaram irrecuperáveis. Cidades como Itaguaçu, São Roque do Canaã, Vila Pavão, Marilândia, Pancas, Vila Valério, Aracruz, Jaguaré, Linhares e Sooretama já sofrem com o racionamento de água potável. Em Jaguaré a população só tem acesso ao abastecimento pela parte da manhã. Em Linhares, o Rio Pequeno que liga o Rio Doce à Lagoa Juparanã, precisou ser fechado com barragem, prejudicando a captação. Devido a isto, a cidade enfrenta racionamento durante dois dias da semana. Tal atitude foi necessária para impedir que as águas do Rio Doce, contaminadas pelos rejeitos de minério, oriundos do rompimento das represas da Samarco, em Mariana, em novembro de 2015, adentrassem o leito do Rio pequeno, cujas águas são usadas basicamente para o consumo humano e animal. A escassez de água no Rio Cricaré, em São Mateus, propicia o avanço do mar sobre o leito do rio, transformando as águas restantes em águas salinizadas, impróprias para o consumo.

O desespero faz com que poços artesianos sejam perfurados, atingindo as profundezas dos lençóis freáticos. Por vezes, alcançam profundidade que ultrapassam os 200 metros, o que acende o alerta para a necessidade de um amplo debate a respeito da questão hídrica em todo o Estado. Soma-se a isto a crise econômica, politica e social nacional, que tem afetado a todas as cidades da região, fomentando o desemprego e perdas substanciais da renda familiar.
Chegou-se à conclusão de que este quadro desolador exige dos ministros e da IECLB uma postura solidária, ética e esperançosa. Somente falar em crise não resolve. É preciso lembrar que confiamos num Deus que continua Senhor do mundo e da criação.

Esta situação fomentou a criação de espaço para inúmeras reuniões com os diversos setores da sociedade capixaba, entre as quais estão lideranças religiosas, Movimento dos Pequenos Agricultores, Via Campesina, CONIC, Sindicatos, entre outros, que em suas instituições também vivenciam problemas enfrentados pela agricultura familiar.

Concordamos e assumimos em repudiar, juntamente com todos os nossos parceiros e movimentos sociais, qualquer tipo de economia que promova a exclusão e a desigualdade, na qual o dinheiro reina em vez de servir. Somos contrários a ditames econômicos que destroem a criação de Deus. Sistemas excludentes, que promovem a desigualdade e ameaçam a vida, não podem ser suportados por trabalhadores, comunidades e pelo povo em geral.

Almejamos uma economia de inspiração cristã, justa e digna, que crie condições de respeito à família e possibilite uma infância sadia para nossas crianças, incentive os talentos e profissionalize os nossos jovens, permitindo-lhes trabalhar honestamente e ter a garantia de acesso a uma aposentadoria digna na velhice.

Por essa razão, apontamos a necessidade de um projeto de lei, emitido pelo Estado brasileiro, através do Congresso Nacional, que intervenha neste quadro desolador de crise hídrica e de endividamento bancário.

É compromisso e dever das instituições públicas e de seus gestores vir ao encontro do povo, que por ora está abandonado e esquecido em suas necessidades, decorrentes do endividamento e das estiagens.

Em Cristo, e no seu Evangelho, firmamos a nossa posição, no desejo que a nossa súplica por socorro e o nosso pleito sejam acolhidos e devidamente encaminhados através dos mecanismos necessários para a proteção da vida.

Barra de São Francisco, 27 de Julho de 2016.

P. Arlindo Krause (Coordenador)
P. Leonardo Ramlow (Vice-coordenador)
P. Adair Leomar Dockhorn
P. André Radinz
P. Ênio Fuchs
P. Ismar Schiefelbein
P. Jocir Felberg
P. Juliano Müller Peter
P. Luciano Ribeiro Camuzi
Pa. Maria Helena Ost
P. Natanael Karnopp Böhm
P. Vitorino Retz
Cat. Traudi Margarida Kraemer
 

COMUNICAÇÃO
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Deus é maior do que o nosso coração e conhece todas as coisas.
1João 3.20
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