QUER SEJA OPORTUNO, QUER NÃO: A SÉRIE ALTERNATIVA DE PL - Uma apresentação

01/11/1983

QUER SEJA OPORTUNO, QUER NÃO: A SÉRIE ALTERNATIVA DE PL

Uma apresentação

Nelson Kirst

l —O uso convencional das séries de perícopes: vantagens e perigos

A quase totalidade dos pastores da IECLB segue, na pregação dominical, as séries de perícopes adotadas da Igreja Evangélica na Alemanha. Fazem-no com bastante fidelidade e rigor, tomando, porém, a liberdade de desviar-se quando o consideram adequado.

A utilização disciplinada das séries de perícopes traz algumas importantes vantagens:

a) Ajuda a evitar que o pregador pregue apenas suas ideias favoritas.

b) Proporciona ao pregador e à comunidade maior abrangência, variação e riqueza de conteúdos.

c) Evita que o pregador perca muito tempo na escolha de textos.

d) Facilita ao pregador da IECLB o acesso a auxílios homiléticos.

As desvantagens da utilização inflexível das séries de perícopes via de regra não se colocam com a mesma clareza, embora sua importância. Na verdade, não se trata de meras desvantagens, mas de reais perigos que ameaçam a pregação da Palavra:

a) A pregação semanal sobre um texto previsto e indicado para cada domingo pode levar o pregador ao que podemos chamar de automatismo funcional. Isso acontece, particularmente, quando a explicação de um texto se transforma no fim de si mesma. Ou seja, no caso do automatismo funcional, a prédica será explicação de determinado texto, pela simples razão de que tal texto está previsto para tal domingo e a prédica está inapelavelmente determinada pelo plano de cultos. Neste caso, o pregador deixa facilmente de ser uma testemunha, que prega porque sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho (1 Co 9.16), tornando-se um funcionário que faz seu serviço automaticamente. Prega porque tem que ser, porque está previsto. E prega tal mensagem, baseada em tal texto, porque assim está determinado. Quando isso acontece, a comunidade torna-se mero cabide. O pregador abusa dela, porque ela, no caso, não faz mais do que colocar-se à disposição para que o pregador-funcionário tenha sobre quem exercitar o serviço automático que lhe é determinado por força de oficio.

b) A utilização inflexível das séries de perícopes pode levar o pregador a deixar de reconhecer certas situações, em sua comunidade, que exigiriam uma palavra diferente. Ocorrendo efetivamente tal situação, o uso do texto previsto na série de perícopes pode significar uma fuga. Dessa forma, a série de perícopes pode chegar a inibir o caráter profético da mensagem cristã. Pode, de qualquer maneira, evitar que para dentro de determinada situação seja dita a palavra certa. Assim, pregar sobre o texto previsto para o domingo pode vir a ser um ato de infidelidade à Palavra de Deus.

2 — Alternativas

À utilização do texto previsto pela série de perícopes oferecem-se diversas boas alternativas. Uma delas seria pregar, em sequência, sobre determinados complexos bíblicos. Outra boa opção é a prédica sobre figuras bíblicas. Esta também seria praticada em série e, via de regra, basear-se-ia em um ou mais textos bíblicos, de cada vez. Pode-se pensar ainda na prédica sobre um verso de hino ou um pensamento cristão.

A mais importante alternativa, porém, é aquela em que o pregador parte da situação dada na comunidade ou em seu contexto. Há situações na comunidade que já são. em si, uma notícia de Deus. Essa noticia precisa ser interpretada. Um incêndio, uma seca, uma enchente, um caso de morte, eleições, greves, enfim, qualquer circunstância ou acontecimento do momento pode vir a exigir do pregador uma análise, uma perscrutação, uma mensagem a partir do texto bíblico. Neste caso, o pregador precisa partir da situação vigente para um texto que possa vir a iluminá-la. Mais detalhes sobre a metodologia desta alterna¬tiva, abaixo no capitulo 5.

3 — A preocupação de PL por uma série nossa

Independentemente das reflexões esboçadas acima, os autores de PROCLAMAR LIBERTAÇÃO vêm, de há muito, preocupando-se com uma série nossa, ou seja, com uma série que pudesse nascer do contexto da IECLB ou do âmbito ecuménico brasileiro ou latino-americano. Enquetes e estudos foram realizados. Algumas tentativas foram sugeridas, encaminhadas e acabaram esbarrando em obstáculos intransponíveis.

No Encontro de Autores de 1982, finalmente, chegou-se a uma proposta praticável. Decidiu-se que o Encontro de 1983 criaria uma série de doze textos, um para cada mês, que seria apresentada em PROCLAMAR LIBERTAÇÃO ao lado dos auxílios homiléticos regulares. As duas principais razões para esta decisão foram as seguintes:

a) Em muitas comunidades ocorre apenas uma prédica por mês. Para estas seria bem mais conveniente uma série que apresentasse, de modo abrangente e equilibrado como convém, um texto mensal.

b) Muitos colegas lamentam a ausência de certos textos bem específicos, dentro das séries convencionais.

4 —QUER SEJA OPORTUNO, QUER NÃO: a nova proposta de PL

Ao atacar a tarefa delegada pela reunião anterior, o Encontro de Autores de 1983 decidiu não partir de textos sugeridos, mas da situação vigente. Em vez de perguntarmos quais são os textos a escolher?, perguntamos qual é o assunto de cada mês, o que está no ar e nas conversas, em cada mês do ano brasileiro?. E decidimos partir, então, do assunto do mês, para a procura de um texto que pudesse trazer luz para dentro da situação descrita.

Com isso, a nova proposta de PL significa uma resposta a duas preocupações importantes: é tentativa de uma superação dos perigos inerentes à utilização rígida das séries de perícopes e, ao mesmo tempo, busca de uma série que corresponda ao nosso contexto específico.

O titulo QUER SEJA OPORTUNO, QUER NÃO foi extraído de 2 Tm 4.2: Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina. Fala por si.

O subtítulo Série alternativa de PL indica que se trata de uma proposta, que não estamos empenhados em substituir as séries de perícopes aceitas e reconhecidas pela IECLB, e que foram elaboradas com bem mais tempo, ciência, representatividade e autoridade do que nós seriamos capazes de reunir.

É nossa intenção oferecer, em cada novo volume de PROCLAMAR LIBERTAÇÃO, um novo ciclo de QUER SEJA OPORTUNO, QUER NÃO, com novos temas específicos e novos textos para cada mês.

Quanto à apresentação, a série alternativa aparece, em páginas coloridas, na primeira parte do volume. Atesta de cada mês aparece o tema, numa frase, e uma breve explicação do mesmo. Segue-se, então, o respectivo auxílio homilético. O tema, sua explicação e o respectivo texto são formulados pelo Encontro de Autores. O auxílio homilético é de responsabilidade exclusiva do respectivo autor.

5 — Metodologia

A ideia de partir de uma situação dada à procura de um texto, a principio, produz calafrios na espinha de quem está solidamente embasado no ensino tradicional da Homilética. E, não sem razão. Logo nos vem à mente a imagem do pregador que já sabe o que dizer e apenas precisa de um texto que se preste como cabide de sua própria sabedoria. A nova proposta de PL é o oposto disto, mas efetivamente corre o risco de cair nesta armadilha, se não seguir um procedimento metodológico muito disciplinado.

A metodologia da nova proposta de PL prevê os seguintes passos:

1 °) Informar-se bem sobre a situação e seus problemas.

2°) Procurar um texto que possa levar um recado de Deus para dentro de tal situação. (No nosso caso, o texto está sendo proposto por PL)

3°) Fazer com que o texto não seja simplesmente mais um palpite no meio da conversa geral sobre o assunto. O texto deve, a partir de uma boa exegese, perscrutar, aclarar, interpretar, elucidar a situação e nortear a reflexão sobre a mesma a partir da vontade de Deus. Deve ajudar a explicar e entender a situação teologicamente. Portanto, a situação não deve reprimir o texto escolhido nem domesticá-lo. O texto é que governa a situação, e não o inverso.

4°) Coloque-se todo o culto, com suas leituras, orações e hinos, dentro da mesma temática.

6 — Conclusão

Estamos convictos de que este novo procedimento homilético é altamente prometedor. A partir de experiências feitas, porém, julgamos necessário lançar três alertas:

a) não esqueça o texto; a ocupação com o assunto, com a situação, podem facilmente absorver a mente a tal ponto que o texto passa para segundo plano; contudo, o texto é que deve dominar a situação;

b) não se limite a problemas globais, diante dos quais o ouvinte de sua prédica se sentirá absolutamente impotente; é preciso relacionar problemas globais com situações locais, e propor ao ouvinte da prédica aquilo que é factível, na dimensão individual e comunitária local;

c) não diletar; colher informações sólidas; entre os ouvintes de sua prédica é bem provável que estejam pessoas muito bem informadas sobre o assunto; é bom valer-se dos livros utilizados por nossas universidades nas aulas de Estudos de Problemas Brasileiros.

Os autores de PROCLAMAR LIBERTAÇÃO ficariam muito gratos em ouvir sobre sua opinião e experiência no tocante a esta nova proposta, para podermos analisar e corrigi-la constantemente. Seu ponto de vista será muito importante. Escreva para

Conselho Editorial de PROCLAMAR LIBERTAÇÃO
Caixa Postal 14
93000 São Leopoldo, RS

e colabore conosco na procura de urna pregação viva da Palavra de Deus em nosso meio.


Autor(a): Nelson Kirst
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1983 / Volume: 9
Natureza do Texto: Artigo
ID: 20561
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Hoje, tenho muito a fazer, portanto, hoje, vou precisar orar muito.
Martim Lutero
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