Reconciliação consigo mesmo

Caderno de Subsídios - Semana Nacional da Pessoa com Deficiência - 2008

01/08/2008

Reconciliação consigo mesmo

Nenhum desses relatos que vocês leram antes, da Tânia, da Márcia e da Rosalie teria acontecido se cada uma dessa s pessoas não tivesse antes de tudo se reconciliado com sua história e sua deficiência. Mesmo que a deficiência permaneça para sempre em nossos corpos, nós precisamos curar os efeitos colaterais da deficiência para viver plenamente. Explico: com a deficiência em si, nós aprendemos a lidar e a viver adaptando o que necessitamos, mas com os efeitos colaterais dela, como o preconceito das pessoas, com perguntas dolorosas que nos fazem, baixa auto-estima, medo de sair na rua, isso tudo, precisamos ir tratando e processando ao longo da nossa vida em busca de reconciliação conosco mesmas. Digo isso porque eu tive paralisia infantil e caminho com duas bengalas canadenses.

Para sobreviver com uma deficiência, tive que processar (e continuo processando) a minha história, trabalhar minha auto-estima, enfrentar o preconceito dos outros e tentar mudá-los, além de agüentar perguntas perturbadoras como: tu sentes tuas pernas? Tua perna é podre? Ou, quando estava grávida: teu neném também vai ter essa doença que tu tens? Ao ouvir essas perguntas, já não dá mais vontade de sair na rua e enfrentar a vida.

Lembro que um grande passo para minha reconciliação comigo mesma e com Deus foi receber um bilhete de uma amiga que dizia assim: Iára, você não é só pernas! Isso me ajudou a ver que sou um todo muito mais abrangente do que só a deficiência.

Viver reconciliados consigo mesmos, com Deus, com os outros e com a ecologia toda só é possível se processarmos todas essas mazelas, deixando a mão de Deus nos curar através dos relacionamentos que temos e das experiências da vida. Se, como diz o lema da nossa Igreja, no poder do Espírito, as pessoas com deficiência também podem proclamar a reconciliação, é necessário então que as ruas e as praças sejam acessíveis, que as pessoas sejam abertas ao diferente e que a reconciliação seja um processo e não uma obrigação.

Pastora Mestra lára Müller -Faculdades EST

Índice do Caderno de Subsídios da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência - 2008
 


Autor(a): Iára Müller
Âmbito: IECLB
Natureza do Texto: Artigo
ID: 23931
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