Reforma do ensino no Brasil e a Reforma

27/07/2017

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Evelin
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     Há 500 anos, Lutero revolucionou o mundo com as suas reflexões e os seus questionamentos. Não há como negar o efeito da Reforma também na área da educação. O movimento de Lutero, que foi antes de mais nada uma reforma teológica por sua redescoberta do evangelho, deixou suas marcas na estrutura eclesiástica, bem como no sistema de ensino da época e até hoje. Senão vejamos: nos primórdios da IECLB, a criação de comunidades e de escolas acontecia conjuntamente. O pastor era muitas vezes simultaneamente professor e vice-versa. Ainda hoje, igreja e escola estão lado a lado em muitos lugares. Além disso, não se pode deixar de considerar que Lutero, em suas pregações e escritos, seguidamente aborda questões relacionadas com a educação, além de escrever alguns escritos em que ele enfoca mais concretamente problemas da educação e que foram chamados de escritos pedagógicos. São eles: Carta aos prefeitos e conselheiros das cidades alemãs, de 1524, e Sermão sobre o dever de enviar as crianças à escola, de 1530, além dos Catecismos Menor e Maior de 1529.
     Observar, refletir, analisar, registrar, detectar problemas e prejuízos, apontar sugestões e mudanças necessárias, através de suas 95 teses e na tradução da Bíblia, corroboram a importância de se desenvolver senso crítico positivo.
     Ao olhar o cenário brasileiro, o ensino tem sofrido alterações inconsequentes, de intenções positivas. As execuções são cada vez mais frustrantes, pois mudanças requerem preparo e adequações. Isto demanda tempo e investimento. Estes itens que não têm sido observados, e assim, nosso ensino vai deteriorando.
     Somos muito protecionistas, cuidamos de nossas crianças como se fossem incapazes, pois tudo lhes é direcionado: em casa pelos familiares, nas escolas pelos educadores/as e na sociedade por todos/as que os/as cercam, tudo é perigoso e nada lhes é permitido, eles crescem dependentes, vigiados e sem crítica, são egoístas e materialistas, suas agendas são entupidas de atividades para que estejam sempre assistidos por alguém, não há liberdade de observação, de interação com a natureza, tendo a mídia como babá extra. Nossas crianças não ajudam na organização do lar, e assim não aprendem conceitos, valores e atitudes altruístas. De nossos infantes nada é exigido, não há comprometimento deles com nada, a eles/as dá-se o direito de tripudiarem sobre os/as adultos/as, e dos/as educadores/as espera-se o milagre da educação, sendo que a estes profissionais nem respeito há.
Isso posto, como esperar, quanto à nova proposta educacional, que nossos jovens ingressantes no ensino médio possam escolher seus caminhos no ensino e decidirem por quais matérias devem galgar para um êxito pessoal e profissional, sem que haja comprometimento com todas as áreas e conhecimentos gerais?
     Sou da geração que cresceu usando palavras mágicas: Sim, Senhor. Senhora, com licença. Por favor. Muito obrigado/a”. Sim, na escola e colégio nos foram impostas muitas matérias e obrigações, como cantar uma vez por semana o hino, usar uniforme, pontualidade, provas e professores/as exigentes. Sim, questionávamos a validade de muitas coisas, mas nem por isso deixamos de fazer. Penei com matérias com as quais não tenho o menor talento, me desestimulei com professores/as mal preparados e me encantei com os mestres talentosos, porém, hoje, tenho ciência e respeito por todas as matérias e a partir disso pude realmente optar por matérias que complementam minha profissão, e essa dimensão me ajuda a atender meus alunos e alunas em suas diversidades e talentos.
     Ouvi e ouço de muitas pessoas: “não levo minha criança ao culto infantil ou à igreja para não a influenciar quanto à sua futura opção religiosa”. Levei minhas crianças a muitos cultos, estudos bíblicos e eventos, não só à igreja em que cresci, como também a várias igrejas. Conhecê-las nos enriqueceu e aumentou nosso respeito pelas várias formas de crer. Em circunstâncias de enfermidade, amigos, parentes, conhecidos, colegas de trabalho, de muitas religiões e segmentos, se uniram em correntes de orações, e essa energia nos ajudou a superar a dificuldade. Só se pode optar por um caminho de fé se o indivíduo tiver à sua disposição essa variedade de experiências. Do nada se opta pelo nada.
     Abrir mão de aprendizados e priorizar aprender só o que nos agrada não nos tornam melhores profissionais nem melhores cidadãos e cidadãs. Como tais precisamos ter ciência do todo para podermos exercer nossos direitos. Aprimorar o comprometimento com o saber e com conceitos, estar mais presente é o melhor legado que podemos deixar para nossas crianças e nosso planeta. Preparar os/as infantes para viver e vivenciar o mundo e nos tornarmos não mais necessários para eles/as, fazer deles/as cidadãos e cidadãs plenos e responsáveis é nosso dever.

Evelin Hintz Scheer - A autora é membro da Paróquia do ABCD –IECLB, Diretora Financeira do Centro Social Heliodor Hesse e professora de Língua Alemã no Colégio Ben-jamin Constant – Vila Mariana/SP. Casada com Sidnei Scheer, mãe de Fraia e Philip.


Autor(a): Evelin Hintz Scheer
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: ABCD (Santo André-SP)
Natureza do Texto: Artigo
ID: 43126
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