Revelando a presença de mulheres na história das Igrejas Luteranas da América Latina

24/07/2013


Tecendo fios, atando nós ...

Em uma manhã fria e chuvosa, vão chegando 25 teólogas latino-americanos e as coordenadoras regionais, convocadas pela coordenação de mulheres das igrejas luteranas do continente e pela Secretaria das Mulheres na Igreja e Sociedade da FLM - MEIS. Estiveram reunidas de 24 a 27 de junho na Faculdades EST, na cidade de São Leopoldo, região sul do Brasil.

O tema sob o qual se reuniram foi “A caminhada das mulheres na construção das igrejas latino-americanas”. Com vistas à comemoração dos 500 anos da Reforma Luterana, as mulheres refletiram sobre a importância de se contar o trabalho das mulheres ao longo da história das igrejas latino-americanas. Como a mulher em Lucas 15 que acende uma luz e varre a casa, procurando a moeda perdida, se acendem luzes no trabalho em conjunto que ilumina o caminho para descobrir a tantas mulheres protagonistas nas igrejas da América Latina.

A biblista brasileira Ivoni Richter Reimer acendeu mais luzes, dando perspectivas hermenêuticas para visualizar as tantas mulheres esquecidas da Bíblia e perceber o seu trabalho e importância. Foi um dia de estudos bíblicos que surpreenderam a todas, pelas descobertas e recuperação de testemunhos de mulheres que raramente são percebidas nos relatos bíblicos.

As mulheres na América Latina se organizaram em uma rede, uma rede que segura e filtra. Assim como toda rede, que tem nós, também da Rede de Mulheres Luteranas da América Latina e Caribe tem nós. Nós que organizam e reúnem as coordenadores regionais de MEIS, teólogas, jovens e mulheres que atuam nas pastorais.

Entre os assuntos trabalhados na reunião, dois eram fundamentalmente importantes para a articulação das mulheres nas igrejas-membro da FLM: o recém aprovado documento de política de justiça de gênero da FLM e a participação das mulheres na história da Reforma. O grupo teceu em conjunto, fios que servirão de guia para a contextualização e implementação da política de justiça de gênero no contexto latino-americano. Aprovou-se, também, um conjunto de iniciativas conjuntas, que resgatarão as histórias do protagonismo de mulheres no contexto da celebração dos 500 anos de Reforma.

Cantos, tecidos, música, palestras, testemunhos, estudos hermenêuticos, histórias pessoais ... tudo parte do mesmo encontro, como a vida, com seus vários fios que formam o tecido da vida cotidiana.

Como pão quente ...

Elizabeth Arciniegas coordenadora para a região andina de MEIS e delegada ao Conselho da FLM participou da assembleia que aprovou a “Política justiça de gênero da FLM. Ela diz:

“Para mim, esta política de justiça de gênero é fundamental. Fazia falta uma ferramenta de trabalho que nos fornecesse princípios que nos dão fundamentos bíblicos, teológicos e práticos do porquê e como se trabalhar o tema gênero. Saber que toda a comunhão das igrejas-membro da FLM aprovaram este documento, revela-nos quão importante é este tema. E nos dá base para inserir este tema em nossas próprias igrejas”

- Como trabalhar com este documento, para que as igrejas se apropriem dele?

O mais importante é colocar o documento em uma linguagem que todas as pessoas possam entender. E isso deve ser feito rapidamente. É como pão caseiro... Sentimos o cheiro maravilhoso de pão fresco na reunião do Conselho da FLM, agora, temos que distribuir o pão e fazê-lo palatável para todas as pessoas, enquanto ainda está quente , diz Elizabeth. Temos que socializá-lo com os conselhos diretivos das comunidades e também com grupos de homens e mulheres. No IELCO (Igreja Evangélica Luterana na Colômbia) tivemos uma experiência muito linda. A líderes do trabalho com mulheres, o grupo diretivo das mulheres e alguns homens que compartilham de nossos anseios, discutiram o documento “Gênero e Poder” da FLM. A palavra gênero causa confusão e, às vezes, a usamos mal. Assim, ao invés da palavra “gênero”, usamos a expressão “Relações de poder entre homens e mulheres” para convidar essas pessoas para dialogar. Foi uma discussão muito rica, onde se compartilhou experiências concretas desta desigualdade no poder. Assim, o documento se fez carne e se tornou vivo, concreto, a partir da experiência real.

Segundo Elisabeth, este encontro de teólogas e coordenadoras regionais, é um espaço para criar estratégias de como trabalhar com o documento em nossas respectivas igrejas e na região. Ela afirma: “Por sua vez, estes espaços nos ajudam a fortalecer a nossa confiança, a nos encorajar no caminho e a buscar estratégias de incidência comuns”.

Para a Pastora Rosangela Stange, “o encontro foi uma oportunidade de tornar a Rede de Mulheres e Justiça de Gênero mais conhecida e em mais espaços das igrejas. Todo o processo que fizemos de recordar os princípios da hermenêutica feminista com instrumentais de justiça de gênero foi fundamental para termos instrumentais metodológicos para desvelar e contar as histórias de mulheres em nossas igrejas. O grupo experimentou um crescimento na compreensão de ser e fazer parte de uma comunhão de igrejas....”

Iniciativas regionais que visibilizarão as histórias das mulheres no contexto da celebração da Reforma, a implementação da política de justiça de gênero e a incrementação da produção teológica de mulheres luteranas latino-americanas e as estratégias de implementação que foram acordadas no encontro, foram os três eixos centrais do trabalho durante estes dias.

Fonte: Federação Luterana Mundial

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Mal tenho começado a crer. Em coisas de fé, vou ter que ser aprendiz até morrer.
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