Romanos 12.6-16b

Prédica

Romanos 12.6-16b - 2º. DOMINGO APÓS EPIFANIA

Tendo, porém, diferentes dons, segundo a graça que nos foi dada; quer (o dom da) profecia - nesse caso, seja ela praticada de acordo com a fé; quer (o dom do) serviço - nesse caso, seja praticado no serviço; ou o que ensina, faça-o Ali no ensino; ou o que exorta, faça-o na exortação; quem contribui, faça-o sem segundas intenções; quem preside, com zelo; quem exerce misericórdia, com alegria. O amor seja sem hipocrisia! Odiai o mal e apegai-vos ao bem. No amor fraternal de uns para com os outros, amai-vos de coração; no tributo de honra mútua, cada qual preze o outro mais ( do que a si mesmo); no zelo não sejais vacilantes; no espírito, fervorosos, servindo ao Senhor. Alegrai-vos na esperança; sede pacientes na tribulação; perseverantes na oração! Compartilhai as necessidades dos santos; praticai a hospitalidade! Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram. Tende o mesmo sentimento uns para com os outros; não tenhais em mente as coisas elevadas, mas entregai-vos aos humildes.

Prezada comunidade! 

Os senhores acabaram de ouvir o famoso texto de Paulo que faia dos dons. Tenho certeza de que já devem ter ouvido esse mesmo trecho diversas vezes ao longo de sua vida. E, sem dúvida, concordarão que se trata de um trecho impressionante. Quanto mais se o lê, tanto mais ele cativa. 

Quem prestou atenção a leitura dessas palavras deve ter sentido duas reações. Primeiro: uma profunda admiração por este Paulo, que soube formular tudo tão bem, que soube expressar de maneira tão exata e bonita toda essa questão dos dons, do amor sem hipocrisia, de alegrar-se com os que se alegram e chorar com os que choram, e assim por diante. Temos a impressão de que Paulo acerta em cheio e concordamos plenamente com ele. 

E quem digeriu um pouco melhor essas palavras deve ter sentido ainda outra reação. Uma reação que nos deixa de cabeça baixa, ombros cardos, acabrunhados, pensando: Se isso é ser cristão, o que é que há (vai ser de mim) comigo? Sou um cristão fracassado? Estou longe, longíssimo de atingir esse ideal que Paulo esboçou na minha frente. E, assim sendo, será que sou digno de Deus? Ser ã que Deus me aceita, se eu deixo de cumprir com tudo isso?

E esta segunda reação, essa preocupação, quando levada ao extremo, pode conduzir a sérias e nefastas consequências. A pessoa acaba por entender essa exortação do apóstolo como uma lei, que tem que ser cumprida a qualquer preço. Eu tenho que contribuir sem segundas intenções Eu tenho que amar sem hipocrisia! Eu tenho que me alegrar com os que se alegram! Eu tenho que chorar com os que choram! Pois do contrário Deus não vai querer nada comigo. 

O resultado disso é o fracasso. Pois o homem não se pode fazer merecedor diante de Deus . Nem que seja um Albert Schweitzer ou um Martin Luther King. O homem sempre acabará notando que TUDO ele não consegue fazer. Pior ainda: com essa mentalidade, ele estar ã fazendo exatamente o contrário do que Paulo exige aqui. Paulo quer que tudo isso seja feito, que todos esses dons sejam aproveitados em função do outro, sem segundas intenções. Mas se eu fizer gordas contribuições, se eu compartilhar as necessidades dos outros, se eu praticar a hospitalidade, se eu me alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram - com a única finalidade de ficar numa boa situação diante de Deus, tudo isso não vai valer nada. Será fruto do meu egoísmo. Atrás de tudo esconde-se, então, uma segunda intenção muito feia: a minha ânsia de aparecer diante de Deus, de me salvar a qualquer custo.

Não é isso o que Paulo quer com este seu magnifico capítulo acerca dos dons. É exatamente o contrário! Paulo não diz: Façam essas coisas, e então Deus dará atenção a vocês. Ele diz: Deus já deu atenção a vocês, por isso façam essas coisas!

Este capítulo 12 da carta aos Romanos, onde se encontra esse trecho sobre os dons, é encabeçado pelo seguinte versículo, que serve mais ou menos de título para o nosso texto: Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus ... Peço a vocês, diz Paulo, que realizem todos esse seus dons pelas misericórdias de Deus. Ar é que está! 

Pelas misericórdias de Deus. Por causa das misericórdias de Deus em nosso favor, reconhecendo e agradecendo por essas misericórdias, é que nos cabe apresentar os nossos corpos, a nossa pessoa, com toda nossa capacidade, com tudo o que este corpo cria e produz, por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, justamente fazendo uso dos dons que nos foram dados. 

Quais são essas misericórdias de Deus? Elas se resumem num nome: Jesus Cristo! Em Jesus Cristo, Deus demonstrou que é o Deus da misericórdia, o Deus que nos quer bem, o Deus que não nos deixou na mão. Este nosso Deus percebeu que nós estávamos num beco sem saída, sem apelação, por nossa própria culpa. E em vez de nos deixar continuar trilhando esse caminho fatal, ele mandou seu Filho Jesus Cristo. Este seu Filho veio e botou as coisas nos eixos outra vez. Ele mostrou-nos o que é amar de verdade, sem segundas intenções, amar indiscriminadamente todas as pessoas, sem perguntar pela cor, pela classe social, pela sua posição. Mas o mais importante foi que este seu Filho, que não tinha pecado, que não tinha culpa de espécie alguma, se entregou por nós, foi executado por causa da nossa culpa, abrindo, assim, para nós, o caminho para a vida eterna. Estas são as misericórdias de Deus! E nós só compreenderemos mesmo tudo isso, se nos lembrarmos que Jesus Cristo viveu e morreu por todas as pessoas com que nos deparamos diariamente. Por todos nossos semelhantes. Por mais insignificantes que nos pareçam. Por mais importantes que nos pareçam. A consciência, a certeza, a fé nesse fato tem que ter, necessariamente, consequências quanto á aplicação de nossos dons. Do contrário, ainda no compreendemos as misericórdias de Deus. 

Como criaturas que sarros, todos nós temos determinadas qualidades e capacidades mais ou menos acentuadas. Estas podem ser aplicadas em diversos sentidos. Um indivíduo com grande capacidade de organização pode aplicar esse recurso na estruturação eficiente de uma empresa ou na organização de uma poderosa rede de contrabando. Quem sabe formular ideias é passá-las adiante pode aproveitar essa qualidade para levar um povo a uma ação construtiva ou então para fazer demagogia, de esquerda ou de direita, fazendo este povo de boba Quem tem o dom de curar - e teve a-felicidade de pegar uma vaga na faculdade - pode aproveitar esta capacidade dedicando parte do seu tempo a consultas grátis aos menos favorecidos, mas pode também passar alguns anos no interior, cortando a barriga de todo colono que lhe cruzar o caminho, para depois instalar seu consultório na melhor zona da capital e galgar ás classes mais abastadas. 

Mas para quem parte das misericórdias de Deus, para quem tem fé no que Deus fez por ele em Jesus Cristo, só há uma alternativa na aplicação de seus dons. Os dons, dentro de uma comunidade, são os mais diversos, formando em seu conjunto o potencial da comunidade. E diante de Deus, todos eles são iguais. Não há um-mais digno do que o outro. Tanto valem os dons das mulheres que ajudam a D. Emília lá em cima na Flickstube, como os dons do nosso presidente Ivo Lampert. Da mesma forma valem os dons dos que se dedicam à Escola Dominical, á OASE, á Juventude, ao DECA, á assistência social, ao ensino, e assim por diante. A maneira em que nós aplicarmos esses dons ser é a nossa resposta ao que Deus fez por nós em Jesus Cristo. 

O texto de Paulo, em que se baseia esta prédica, fala desta maneira de aplicar os dons. E este texto é claro. Não requer explicação. Por isso vou lê-lo de novo, em sua íntegra, baseando-me, porém, numa tradução moderna alemã de Jörg Zink: 

As dádivas que Deus nos deu, em sua bondade, são diversas. Existem cristãos que estão em condições de nos dizer: Aqui e agora Deus exige isso e aquilo de vocês! Descobriremos se eles, de fato, representam a vontade de Deus, ao verificarmos se a sua palavra é determinada pela fé em Jesus Cristo. Existem cristãos cuja capacidade especial reside em realizarem um serviço de amor a outras pessoas, em toda simplicidade e sem grande alarde. Estes devem atentar para que façam realmente e de todo o coração aquilo que aparentam: ou seja, servir e nada mais. Existem cristãos dotados da capacidade de interpretar, explicar e tornar compreensível a palavra de Deus. Estes devem atentar para que não falem de si mesmos ou de outra coisa, mas da palavra de Deus. Quem tiver a capacidade de consolar outros e ajuda-los a enfrentar a vida, dedique toda sua força a essa tarefa. Quem dá adiante algo de suas posses, faça-o em toda simplicidade. Se alguém tiver a tarefa de dirigir ou administrar, aplique toda sua força e atenção nesse sentido. Quem se dedica a pessoas que se encontram na miséria, que estio doentes, são pobres ou descaídas, faça-o numa atitude alegre e de boa disposição. 

O amor seja claro e sem muita onda. Desprezem o mal e agarrem-se ao bem. O amor que reina em seu meio seja sincero e honesto. Cada um honre o outro mais do que a si mesmo. Não percam a oportunidade de passar adiante a sua fé. O espírito, que vocês receberam, é um fogo. Deixem que ele queime! Atirem-se às tarefas que a sua época lhes impõe; façam tudo isso com alegria, sabendo que vocês têm pela frente um grande futuro. Suportem, sem esmorecer, as cargas que Deus lhes impõe, sem procurar derrubá-las. Cuidem para que a sua oração não aconteça de vez em quando, irregular e casualmente, mas permaneçam constantemente em diálogo com Deus. Ajudem sempre que um de vocês, na comunidade, precisar de auxilio. Se alguém bater à sua porta, acolham-no e importem-se por ele. Mostrem àqueles que os odeiam ou perseguem que Deus os ama e que também vocês querem dar-lhes esse amor. Alegrem-se com aqueles que têm motivo de alegria. Ajudem a suportar o pesar daqueles que estão abatidos. Atentem para que os seus pensamentos e interesses não os separem mas os unam com os outros. Não procurem subir até as alturas, mas dirijam-se àqueles lugares, onde estio as tarefas insignificantes e os homens insignificantes. 

Aí, prezada comunidade, está dito tudo. Não há nada a acrescentar. Resumindo: As qualidades que temos devem ser aproveitadas no amor e no serviço, sempre em função do outro, numa atitude honesta e sincera, sem segundas intenções, com a finalidade única de amar aquele que Jesus Cristo amou primeiro. 

Tudo isso, por causa das misericórdias de Deus”: por causa de Jesus Cristo. Que Deus nos ajude a compreender sempre mais o que Jesus Cristo significa para nós, para que apliquemos corretamente os nossos dons. Amém. 

Oremos: Senhor, nosso Deus, Deus de nosso Senhor Jesus Cristo! Faze com que jamais esqueçamos as tuas misericórdias. Presenteia-nos uma fé inabalável em Jesus Cristo, para que esta nos faça aplicar nossas capacidades no amor e no serviço, sempre em função do outro, numa atitude honesta e sincera, sem segundas Intenções, com a finalidade única de amar aquele que Jesus Cristo amou primeiro. Por teu Filho, nosso Salvador. Amém.

Veja:
Nelson Kirst
Vai e fala! - Prédicas
Editora Sinodal
São Leopoldo - RS
 


Autor(a): Nelson Kirst
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Epifania
Perfil do Domingo: 2º Domingo após Epifania
Testamento: Novo / Livro: Romanos / Capitulo: 12 / Versículo Inicial: 6 / Versículo Final: 16
Título da publicação: Vai e fala! - Prédicas / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1978
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 20298
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