Salmo 37.1-7 - Crer é confiar

Prédica

26/01/1979

CRER É CONFIAR
Salmo 37.1-7 (Leitura: Romanos 8.31-39) 

« Eu creio em Deus.» De acordo com uma pesquisa, feita em 1978 pela TV Globo, mais de noventa por cento dos brasileiros afirmam isso mesmo: Creio em Deus. Isto é: Creio que existe um Deus. Talvez bem por dentro, qualquer pessoa humana saiba que Deus existe. Talvez até o ateu confesso, o maior criminoso e a pessoa mais revoltada o saibam: que, bem em secreto, sua consciência lho diga: Há um Deus, ao qual eu deverei prestar contas. Não deixa de ser impressionante, este resultado da pesquisa mencionada. É um sinal de que nem a ciência, nem o progresso técnico são capazes de destruir aquele saber secreto, que existe em todos os povos da terra, mesmo que de forma confusa e obscura: Há um Deus. Há um poder invisível, superior a nós, que nós não controlamos. Um Deus desconhecido, talvez, mas um Deus em cuja existência se crê. 

Agora, precisamos saber que, conforme o testemunho da Bíblia, crer em Deus, não quer dizer simplesmente crer que Deus existe. Eu posso crer que Deus existe, e mesmo assim viver de costas voltadas para ele. A palavra «crer», em nossa linguagem diária, foi sendo mais e mais aguada: «Creio que sim» — «creio que não»: -- isto é, acho que sim, acho que não, pode ser pode não ser! -- Crer, no sentido da Bíblia, é muito mais que achar. É, antes de tudo, confiar. É uma diferença, você crer que seu vizinho existe, (ou mesmo que ele está em casa) e confiar nele. Confiar nele é contar com ele, É ter certeza de que ele fala a verdade. É ter certeza de que ele é bom. É ter certeza de que, às duas horas da madrugada, você poderá bater à porta de sua casa e pedir-lhe ajuda, num caso de doença repentina na família. É saber que ele não muda de atitude para com você e que nunca o vai deixar na mão. 

O que seria nosso convívio humano sem confiança? Quando você viaja de ônibus, por exemplo: Você desliga, olha a paisagem, chega a dormir, Confia no motorista, em sua capacidade de dirigir, em sua seriedade. E numa viagem de avião — aí nem se fala! Como você sente que está dependendo do piloto e do co-piloto, quando o avião atravessa uma zona de mau tempo, por exemplo! Nem é bom pensar que o comandante talvez não seja competente, ou que ele tenha tomado algumas cervejas antes da decolagem! — Ou, pense numa operação: Você se entrega ao médico; deixa que lhe ponham a máscara de anestesia sobre o rosto, deixa que o cirurgião lhe abra o abdômen, lhe extraia a vesícula e tudo isso, sem que você esteja consciente, acordado; sem que possa controlar o processo. É que você confia no seu médico. Tem a certeza de que ele vai fazer tudo para que a operação dê certo. 

Lembro-me de um caso de minha infância onde aprendi bem o que é ter confiança. Eu havia subido numa goiabeira alta, que se achava numa ladeira cheia de pedras, tendo me metido num galho mais fino, a procura de umas goiabas especialmente bonitas. E, de repente, eu estava pendurado num galho que se dobrava sobre o vazio -- sem forças para voltar. Um irmão adulto meu, que estava perto, se pôs bem por baixo de mim e disse: «Te solta! Eu te pego!» -- Eu nem pensei nem um pouco. Não olhei as pedras que havia lá embaixo. Não me veio nem a ideia que o mano grande pudesse ficar com medo e me deixar bater no chão. Soltei as mãos e fui cair direto nos braços dele. É que eu conhecia meu irmão e sabia que poderia confiar nele.
Se nós pudéssemos ter uma confiança assim em Deus, nosso Criador! Ele, que é o Senhor Todo-Poderoso -- que nos ama! Se fôssemos capazes de nos soltar de nosso galhinho em que nos seguramos, deixando-nos cair em seus braços, sem olhar para a esquerda, nem para a direita, nem para o vazio que há debaixo de nós! Em verdade — nós fomos criados por Deus para vivermos em tal relação de confiança para com ele. Todos os problemas de nossa vida se resolveriam, se pudéssemos voltar àquela confiança sem limites, confiança que entrega tudo a Deus — tudo mesmo -- até as preocupações e as angústias mais secretas, coisas que às vezes escondemos até de nós mesmos! 

O trecho do salmo 37 que lemos há pouco, é uma única mensagem de Deus para nós, que diz: Confia em mim! O autor do salmo sabe muito bem donde vem a nossa desconfiança: Nós olhamos para os descrentes, os malfeitores, os que praticam a iniquidade. Vemos que eles parecem se virar muito bem, parecem ser contentes e felizes, talvez mais bem sucedidos na vida do que nós, que queremos viver nossa vida com Deus, E no momento em que olhamos para os outros, em que comparamos a vida deles com a nossa, em que calculamos as vantagens e as desvantagens da fé — ficamos inseguros e desconfiados. É como se tivéssemos ficado vesgos. Deixamos de olhar só para Deus. Olhamos para as coisas, para as aparências. O salmo 37 diz: Você, que não se impressione com os malfeitores ditos felizes. Isso não vai durar. Não olhe para o lado, Não seja vesgo. Olhe para Deus somente! «Confia no Senhor e faze o bem; habita na terra e alimenta-te da verdade. Agrada-te do Senhor e ele satisfará os desejos de teu coração.»
Que vida, aquela! Confiar no Senhor; alimentar-se da verdade, agradar-se do Senhor; ter os desejos do coração satisfeitos: Se isso é verdade, se a vida com Deus é assim, então ela é a única vida de verdade, a única vida real e autêntica que existe. Então a vida sem fé, sem confiança em Deus, é uma vida falha, uma vida vazia, uma vida errada em sua própria raiz. Uma vida que deixa a pessoa faminta, porque ela não se alimenta da verdade; que deixa os corações secos como um deserto, porque não se agradam do Senhor. Que os deixa murchar como a relva em tempo de estiagem porque não habitam na terra de Deus, onde há justiça, segurança e paz. 

«Entrega o teu caminho ao Senhor e confia nele, e o mais ele fará.» — O caminho que nós entregamos a Deus, não é mais o nosso caminho. Nós desistimos do direito de marcarmos nós mesmos a direção e o rumo do caminho de nossa vida. Deixamos Deus tomar conta do caminho. — Pode parecer duro. Pode parecer um sacrifício. Há tantos caminhos tentadores. Há tanto atalho que nos tenta. Há tantas possibilidades no mundo que nos atraem. Entregar o nosso caminho a Deus - isso não será perder a liberdade? Não será abrir mão de nosso direito de decidir, de planejar, de achar soluções, de ser criativos? 

Entendemos que o caminho de Deus não é como um trilho de estrada de ferro, Deus, quando toma conta de nossa vida, antes nos coloca num espaço livre, dizendo: Caminha — segue adiante — segue a bússola da fé, a bússola da confiança que eu pus em ti; vai seguindo, vai te esforçando, vai lutando, vai trabalhando, Mas faze tudo isso como uma pessoa confiada em mim, como uma criatura que se entregou ao seu Criador. Criatura que já não quer bancar mais um pequeno deus; criatura que deixou de ser dona de sua vida, de suas decisões, de seus planos. Deus diz: Fala comigo em todas as situações. Fala comigo em todas as encruzilhadas. Pede-me forças nas subidas, nos trechos pedregosos. Entrega teu caminho a mim, quando andares de noite, no escuro, à beira do abismo, talvez. Quando tua consciência te acusar. Não tentes fazer sobressair a tua própria justiça; não trates de justificar-te a ti mesmo. Deixa isso para mim. Se andares no meu caminho, eu tomarei conta de ti e de teus problemas. «Eu farei sobressair a tua justiça como a luz.» Será a justiça que eu dou. Ela iluminará a tua vida. A justiça própria dos homens — ela produz fumaça. Fumaça que obscurece o caminho. A luz é que clareia o teu trilho. E tu vais precisar de luz para seguir adiante. Quanto mais te entregares a mim, seguindo o caminho da fé e da obediência, tanto mais claro ficará o teu caminho, tanto para ti mesmo como para outros. 

«Descansa no Senhor e espera nele.» — Obrigado, Senhor, por essa palavra! Tu me convidas a descansar em ti. A pôr minha carga em ti, a deixar-me envolver por tua paz. Tu não és um Senhor que forces tuas criaturas a correr sem fôlego, a dar tudo de si. Tu as fazes descansar em tua paz e os fazes seguir em tua paz. Obrigado, Senhor! Eu já não preciso correr de lã para cá, nervoso e impaciente. Não preciso preocupar-me por causa do futuro incerto, por causa de minha doença, por causa da minha velhice. Já não preciso acusar-me, a cada momento, porque não consigo dar conta do recado. Eu posso descansar em ti, Senhor. Deste descanso eu preciso para viver de fato. Preciso dele também hoje -- para ter coragem a prosseguir, a trabalhar e a lutar. Obrigado, Senhor! 

«O Senhor firma os passos do homem bom, e no seu caminho se compraz; se cair, não ficará prostrado, porque o Senhor o segura pela mão.» O descanso no Senhor não deixa o homem acomodado e sem vontade de seguir adiante. O homem que descansa no Senhor não vira preguiçoso. Pelo contrário: Deus lhe firma os passos. Transforma passos vacilantes e tímidos em passos firmes. Deus se agrada do caminho de seu filho, de sua filha. E este agrado de Deus, esta graça de Deus -- é como uma luz que brilha sobre nós. É a alegria secreta da vida daqueles que entregaram os seus caminhos a Deus. O poder deste agrado de Deus, o poder desta sua graça é tão grande que a nossa fraqueza fica mais que compensada. Quando cairmos, a sua mão nos segura. Deus não diz, quando cairmos: «A culpa foi tua; vê como te levantas!» Não diz que não merecemos mais o seu agrado. Não solta a nossa mão; pelo contrário: Ele nos segura com mais força ainda — para nos erguer, para não nos deixar prostrados, parados, solitários, à beira do caminho. 

Você notou, caro leitor, caro ouvinte: Através de tudo que acabamos de dizer, vai aparecendo alguém, cujo nome nem precisávamos mencionar, por que o sabemos e experimentamos: Aquele que disse de si: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida!» Demos graças a Deus, por ele ter revelado o seu caminho com clareza em Jesus Cristo — a todo o mundo e a todas as pessoas. Sigamos a ele com fieldade, e saibamos que nele se cumprem todas as promissões de Deus. 

Oremos: Benigno Deus, nosso Pai. Nós te agradecemos de coração por tua fidelidade e por tua bondade. Cada dia de nossa vida foi uma prova do teu paterno amor para conosco. Perdoa-nos por não termos confiado em ti sempre. Perdoa o nosso coração vacilante e mesquinho. Dá-nos a graça de podermos confiar em ti, sem duvidarmos e sem vacilarmos. Firma os nossos passos na obediência e, quando cairmos, segura-nos pela mão para que possamos erguer-nos e continuar a seguir o caminho da fé. Louvado seja teu nome, nosso Criador e Sal-vador! Amém.

Veja:

Lindolfo Weingärtner 

Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão

Editora Sinodal

São Leopoldo - RS


 


Autor(a): Lindolfo Weingärtner
Âmbito: IECLB
Testamento: Antigo / Livro: Salmos / Capitulo: 37 / Versículo Inicial: 1 / Versículo Final: 7
Título da publicação: Lançarei as redes - Sermonário para o lar cristão / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1979
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 19690
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