Senhor - eu sou filho do MEU tempo

20/03/2013

 

 

SENHOR — eu sou um filho do MEU tempo

Então foram a um lugar chamado Getsêmani; ali chegados, disse Jesus a seus discípulos: Assentai-vos aqui enquanto eu vou orar. E, levando consigo a Pedro, Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia. E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai. E adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se possível, lhe fosse poupada aquela hora.

(Marcos 14.32-35) 

 

Senhor, a palavra da cruz, do teu sofrimento, fala a nós. 

Ela fala a nós como homens, 

que estão envolvidos na vida, 

numa vida, que é  determinada pelo relógio,

numa vida, que vive do brilho de sucessos próprios, 

numa vida, que gostaria de fugir do sofrimento, 

numa vida, que se fez a si própria como objeto do seu procurar, achar e agir.


Senhor, eu ouvi muito do teu sofrimento, mas muito mais do sofrimento, que se expande aqui e ali como uma sombra sobre a humanidade. Diariamente ouço e leio sobre guerras, catástrofes, epidemias, e acidentes, e sempre de novo encontro pessoas, que estão marcadas pelo sofrimento, que as leva até as margens da morte, O que há de especial, portanto, se ouço dizeres: A minha alma está profundamente triste até a morte? 

Se percebo que tremeste e temeste? - 

não há o tremor e temor, que muitos homens, milhões, viveram e vivem nas guerras dos nossos tempos? 

E se ouço, que preferias livrar-te da tua sorte – 

não existem muitos homens, que gostariam de se desfazer de sua carga, mas não o conseguindo, sofrem sob seu jugo?

E se me dizem que teus discípulos esmoreceram, quando mais precisavas de seu apoio — 

não há milhares deles diariamente, que nas horas mais amargas de sua vida estão sós e desamparados?


Senhor, eu sou um filho do meu tempo —

perdoa as minhas perguntas. Parece, quase, que eu te acuso. Eu sei que tu não tens culpa, e nem podes tê-la em toda a miséria e sofrimento deste mundo, em todo o ódio e luta, guerra e derramamento de sangue, solidão e desamparo.

Senhor, eu sou um filho do meu tempo – 

eu vivo dos sucessos da inteligência humana. Eu amo a técnica com todas as comodidades que ela traz consigo e aproveito todas as suas vantagens. Eu me aproprio dos conhecimentos da ciência e apesar desta riqueza enche-me um grande vazio. 

Senhor, eu sou um filho do meu tempo – 

a tua palavra da cruz, com a qual me vens ao encontro, não me atinge, porque este teu sofrimento se tornou muito distante para mim. Não vejo nele nenhuma relação para comigo.

Senhor, eu sou um filho do meu tempo – 

entre mim e ti encontra-se o sucesso da própria vida meu agir e produzir. E sempre quando procuro pela verdade, por ti, esbarro com aquilo que produzi e contento-me com minha ação. 

Senhor, — eu, filho do meu tempo, estou tão satisfeito e ao mesmo tempo tão infeliz 

eu sofro, mas só de compaixão - por mim e pelo meu próximo estou alegre — mas esta alegria não tem uma fonte eterna eu espero - mas só em desespero.

Senhor, meu interior é um labirinto, no qual eu próprio não mais me encontro. 

Tu te entregaste ao teu Pai — quero fazer o mesmo. 

Tu oraste em tua aflição - eu quero fazer o mesmo. 

Assim eu te peço, deixa-me ver em teu sofrimento os nossos sofrimentos -

Tu sofreste por nós, deixa-me ver em tuas feridas as feridas da humanidade 

— Tu as carregaste para nós, 

deixa-me reconhecer no teu amor o amor por mim, 

deixa-me reconhecer na tua oração a oração por mim, 

deixa-me reconhecer na tua morte a minha libertação e na tua ressurreição a minha vida eterna. 

Senhor, deixa-me experimentar tua morte na minha vida e tua vida na minha morte.

Friedrich Gierus
Trad. Hugo S. Wuettinger

Fonte: Anuário Evangélico - 1973


Autor(a): Friedrich Gierus
Âmbito: IECLB
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 14 / Versículo Inicial: 32 / Versículo Final: 35
Título da publicação: Anuário Evangélico / Ano: 1973
Natureza do Texto: Oração
ID: 19523
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