Sofonias 3.14-18a

Auxílio Homilético

11/12/1994

Prédica: Sofonias 3.14-18a
Leituras: Filipenses 4.4-7 e Lucas 3.7-18
Autor: Haroldo Reimer
Data Litúrgica: 3º Domingo de Advento
Data da Pregação: 11/12/1994
Proclamar Libertação - Volume: XX


1. Alegria pela proximidade salvadora de Deus — o tema do domingo

Com o Terceiro Domingo de Advento já estamos quase às vésperas do Natal. Advento é espera. É também preparação e arrependimento. A proximidade da vinda do Filho de Deus chama para a conversão de vida, para uma nova postura, para uma vida em novidade. Essa novidade torna-se real com a proximidade do Deus vivo. Isso é motivo de alegria.

Lendo em conjunto os três textos previstos para este domingo, destaca-se, ao meu ver, como tema comum a alegria pela proximidade salvadora de Deus. Vejamos.

O texto de pregação, Sf 3.14-18a, é um trecho hínico. O gênero do hino, no AT, conclama para o louvor, a exaltação e a alegria. E esta tem a sua base no próprio Deus, em ações por ele realizadas em favor do seu povo. Aqui, em particular, destaca-se a presença de Deus em meio ao resto do seu povo em Jerusalém, entre o qual haverá novidade de vida.

O texto da epístola, Fp 4.4-7, igualmente destaca a alegria (v. 4), que pode fundamentar-se, sem medo e temor, no próprio Senhor. A alegria é expressão de vida renovada pelo Espirito do Senhor. E essa vida renovada expressa-se, segundo o apóstolo, em moderação (v. 5). Essa moderação pode tomar a forma concreta de não andar desejoso de coisa alguma. Na época de Advento e Natal, isso poderia significar concretamente não se deixar levar pela onda consumista que impera antes do Natal.

O texto do evangelho deste domingo, Lc 3.7-18, traz à memória coletiva a proclamação de João Batista. É um texto muito denso, que estabelece a ligação concreta entre a vinda do Senhor e os frutos do arrependimento e da novidade de vida. Em nosso contexto evangélico-luterano, o texto pode ser entendido como uma crítica à inércia missionária e ao pensamento de que não precisamos fazer nada, pois estamos salvos pela graça de Deus. Não serão as boas obras que salvarão, com certeza. Mas sem elas a fé é morta, como bem o afirma Tiago. Nesses tempos de preparação, de expectativa, mas também de desejo consumista, o texto pode convidar para a solidariedade, não simplesmente como esmola, mas como contribuição contra a fome, a miséria, e pela cidadania . Natal sem fome (lembram-se da campanha do Bolinho do ano passado?) pode ser tema também neste ano, mesmo sem a devida publicidade. Repartir, repartir, foi Jesus quem ensinou... E isso não por constrangimento nem por obrigação, mas com alegria, como bem o lembra o apóstolo Paulo. Pode-se fazê-lo, pois o Senhor está próximo e a sua luz ilumina este caminho.

2. O Senhor teu Deus está no meio de ti... — o texto de Sofonias

O texto de pregação nos remete primeiramente ao tempo da atuação do profeta Sofonias. Historicamente, localiza-se a sua atuação como profeta do sei VII a.C. Com muita probabilidade foi um negro (cushita = etíope). De modo geral, a sua atuação é situada na época do reinado de Josias (639-609 a.C.). possivelmente no início, em torno do ano 630 a.C, portanto ainda antes da obra da reforma josiânica.

O livro do profeta Sofonias apresenta uma estrutura em que se diferenciam pelo menos três blocos temáticos.

Primeiramente temos palavras de juízo contra Judá e Jerusalém (1.2-2 J). Aí ganha realce a repetida referência ao dia de Javé como dia da interferência julgadora do próprio Deus no mundo.

A partir de 2.4 seguem-se palavras de juízo sobre povos estrangeiros, que, em alguns momentos, são interrompidas por novas palavras contra Jerusalém. Esse bloco termina em 3.8. Em 3.9 começa um bloco de palavras de juí/,o e salvação relacionadas com Jerusalém e seus habitantes. Isso culmina primeira mente em 3.12 ou até 3.13, que são parte integrante da mensagem de Sofonias. Aí é anunciado que o juízo de Deus não será total. Haverá um resto (3.12). Esse resto serão os pobres oprimidos pelos grupos opressores de Jerusalém. Nas palavras de Sofonias, porém, esses pobres (= resto) não são simplesmente os pobres enquanto categoria sociológica. Eles recebem ainda um outro atributo: são humildes, isto é, têm abertura para os desígnios e a vontade de Deus. Restará um povo modesto e humilde, que confia em o nome do Senhor (3.12). Em cima disso, Sf 3.13 apresenta um quadro quase idílico da nova postura desse povo-resto.

O livro de Sofonias termina com palavras de salvação para todo o povo: 3.19-20. Aí deve tratar-se de palavras da época do exílio, pois o tema é salvação daqueles que te afligem e a volta para a terra.

Antes desse happy end exílico, o texto de Sf 3.14-18a desdobra o tema da situação no pós-juízo. Ele o faz em forma de hino: Canta, ó filha de Sião... (3.14). Quem é convidado a cantar e jubilar é Sião, a cidade de Jerusalém com os seus habitantes-resto. Canta... Isso é o oposto do início do capítulo: Ai da cidade opressora... (3.1). Houve um processo de juízo. A palavra profética de crítica e de juízo foi dita, buscando uma resposta. Houve conversão? Antes, houve um processo de purificação. A sua pá ele a tem na mão para limpar completamente a sua eira... (Lc 3.17).

Agora, há motivo de alegria. Alegria também para o próprio Deus. Essa alegria é fundamentada no fato de que há um povo que confia no nome do Senhor. Deus exulta de alegria. E também esse próprio povo pode alegrar-se, porque Deus está em seu meio. Está aí como um herói que salva, afirma o texto (3.17). Por isso não é preciso temer nem desfalecer. Deus está no meio de ti. Como?

3. Corações alegres, pois o Senhor está em nosso meio — rumo à pregação

A presença do Senhor se manifesta na ação continuada de sua comunidade. Para essa conclusão parecem confluir os textos deste domingo.

A pregação poderá primeiramente enfatizar o anúncio incondicional da vinda do Senhor. Deve anunciar a sua presença salvadora em nosso meio. Isso é motivo para o rompante de alegria que desagua no louvor, no júbilo. Rejubila, venturosa... Corações, alegrem-se, pois o Senhor está em nosso meio!

Após o anúncio incondicional, a pregação deverá passar pelo teste da realidade. Será necessário buscar sinais concretos de corações plenos de alegria pela presença do Senhor. Tu já não verás mal algum, ou em teus olhos não haverá a busca do mal. Buscar-se-á o bem.

Creio que um ponto-chave é deixar transparecer na prédica que Deus se alegra por causa de nossa postura e prática. A expressão adequada de uma comunidade que confia no Senhor e que comemora a sua proximidade jamais poderá ser o fechamento para os outros. Deve ser a abertura para Deus, para os outros. Na pregação pode-se levantar a pergunta: Será que Deus está se alegrando comigo ou conosco como comunidade? Isso pode até ser um impulso para um momento de diálogo na pregação. Certamente sairão coisas muito interessan¬tes! Em todo caso, convém enfatizar que a presença de Deus em nosso meio manifesta-se na ação continuada da comunidade dos crentes, que se alegra com a proximidade do Senhor.


 


Autor(a): Haroldo Reimer
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 3º Domingo de Advento
Testamento: Antigo / Livro: Sofonias / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 14 / Versículo Final: 18
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1994 / Volume: 20
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17468
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Confie no Senhor. Tenha fé e coragem. Confie em Deus, o Senhor.
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