Soterrados sob escombros: sobreviventes do terremoto do Haiti

Segue o testemunho pessoal do Diretor do Programa do Serviço Mundial da FLM no Haiti

02/09/2021

A equipe dos escritórios da Diakonie Katastrofenhilfe / FLM / Ajuda da Igreja da Noruega distribui kits de abrigo de emergência em Camp Perrin, no sul do Haiti. Foto: DKH
Sede da Christian Aid em Porto Príncipe, onde se localizava o escritório de Raymond, mostrando o prédio antes e depois do terremoto de 2010. Foto: Christian Aid
Prospery Raymond, Diretor do Programa do Serviço Mundial da Federação Luterana Mundial no Haiti. Foto: Christian Aid
Agentes humanitários da DKH/FLM/NCA procedem o registro de sobreviventes do terremoto em Camp Perrin, no sul do Haiti. Foto: DKH
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Na manhã de sábado, 14 de agosto, Prospery Raymond, Diretor do Programa do Serviço Mundial da Federação Luterana Mundial (FLM) no Haiti, dirigia seu carro quando sentiu o veículo sacudir e temeu que pudesse estar havendo algum problema sério no motor. Segundos depois sua filha ligou para dizer que o tremor foi causado por um terremoto de magnitude 7,2 na Escala Richter que atingiu o sul da nação insular caribenha. O agente humanitário teve um flashback e reviveu em sua memória o que experimentou em 2010, quando foi soterrado sob os escombros de outro terremoto que matou mais de 200.000 pessoas e arrasou grandes partes da capital, Porto Príncipe.

Onze anos depois, Raymond se lembra claramente daquele dia de janeiro de 2010 quando trabalhava como Diretor Regional do Caribe para a agência britânica Christian Aid e estava numa chamada pelo Skype para colegas na Jamaica. “Senti o primeiro tremor e instintivamente pulei para o canto da sala”, lembra ele. “Eu assisti o telhado cair sobre a minha mesa e sabia que se eu tivesse ficado lá mais alguns segundos, eu teria morrido”, diz ele. Quando o escritório desabou ao seu redor, ele ficou preso por duas horas sob os escombros, antes de ser retirado por jovens locais que ouviram seus gritos desesperados por ajuda.

Onze anos depois, Raymond se lembra claramente daquele dia de janeiro de 2010 quando trabalhava como Diretor Regional do Caribe para a agência britânica Christian Aid e estava numa chamada pelo Skype para colegas na Jamaica. “Senti o primeiro tremor e instintivamente pulei para o canto da sala”, lembra ele. “Eu assisti o telhado cair sobre a minha mesa e sabia que se eu tivesse ficado lá mais alguns segundos, eu teria morrido”, diz ele. Quando o escritório desabou ao seu redor, ele ficou preso por duas horas sob os escombros, antes de ser retirado por jovens locais que ouviram seus gritos desesperados por ajuda.

Resposta de emergência coordenada

Também nesta ocasião, Raymond teve a sorte de sobreviver: dois dias antes, o nativo de Les Cayes estava visitando a península sudoeste, e ficara hospedado em um hotel que desabou durante o terremoto. “Ambas as igrejas católicas onde fui batizado e recebi minha primeira comunhão foram fortemente danificadas e a casa da minha avó foi completamente destruída”, diz ele. Sua própria família sobreviveu e encontrou abrigo, mas ele perdeu amigos neste terremoto e no de 2010.

Poucos minutos após o último desastre, Raymond começou a ativar a resposta de emergência da FLM em estreita coordenação com colegas da Ajuda da Igreja da Noruega (NCA) e da agência de ajuda protestante alemã Diakonie Katastrophenhilfe (DKH). As três organizações cooperam por meio de um programa conjunto no Haiti para compartilhar recursos e reduzir custos, em um país que é considerado o mais pobre do hemisfério norte.

Trabalhando no Haiti desde 1995, o programa FLM tem apoiado os mais afetados pelo terremoto de 2010, bem como pelo furacão Matthew de 2016, que devastou grandes áreas no sudeste da ilha. Em parceria com o governo haitiano, organizações locais da sociedade civil e o Fórum ACT Haiti, o programa da FLM se concentra na construção de novas casas e no treinamento de pessoas na preparação em desastres, bem como no reflorestamento e na produção de alimentos.

Abrigo, proteção e saneamento

Situado num corredor de furacões e sobre uma fenda continental, o Haiti está sujeito a desastres naturais, mas Raymond diz que as mudanças climáticas estão causando tempestades piores e padrões climáticos mais imprevisíveis, incluindo o aumento de secas e inundações. Estradas, pontes, escolas, hospitais e outros edifícios públicos foram gravemente danificados no último terremoto, que matou cerca de 2.200 pessoas.

Oito dias após o desastre Raymond disse que mais 24 pessoas foram encontradas vivas sob os escombros, incluindo quatro crianças. “A área ainda está sofrendo com mais de 500 réplicas ou tremores secundários - alguns tão fortes quanto o terremoto original - que dificultam os esforços de resgate”, disse ele. Apenas dois dias após o terremoto, a tempestade tropical Grace causou mais e novos problemas para 650.000 pessoas que precisavam de assistência emergencial e abrigo contra as fortes chuvas.

“Os primeiros passos que demos foram coletar informações, aconselhar as pessoas sobre onde encontrar abrigo e proteção”, continua Raymond. “Agora precisamos urgentemente de dinheiro para reconstruir as instalações de água e saneamento e distribuir kits de higiene”, diz ele, lembrando o surto de cólera que matou mais de 8.000 pessoas após o terremoto de 2010. “Temos um caminhão com filtros de água, uma equipe especializada em WASH (sigla em Inglês para água, saneamento e higiene) e pessoas que trabalham nas comunidades mais afetadas, muitas em áreas montanhosas remotas, consertando sistemas de água danificados”, acrescenta.

A prevenção da violência de gênero é outra parte da resposta conjunta de emergência, uma vez que mulheres e meninas vulneráveis enfrentam riscos maiores após todos esses desastres naturais. “Trabalhamos para informar as pessoas sobre os riscos e mitiga-lo, reduzindo a proximidade e instalando banheiros separados para as mulheres”, observa Raymond. “Também é importante sensibilizar as pessoas para essa questão e orientá-las para saber como responder, se necessário”, diz ele.

Nosso trabalho proporciona esperança e dignidade e capacita as pessoas mostrando assim que podemos viver nossa fé por meio da ação. - Prospery Raymond, Diretor Nacional do Programa do Serviço Mundial da FLM no Haiti

A longo prazo, fundos serão urgentemente necessários para começar a construir casas para substituir as 80.000 casas que foram danificadas ou destruídas pelo terremoto. “Algumas pessoas estão tentando desesperadamente consertar suas casas, mas correm o risco de as construções desabarem sobre elas”, diz Raymond. Os custos básicos de construção começam em torno de US $ 5.000 (aproximadamente R$ 26.000,00) por casa, mas “a boa notícia é que treinamos muitos pedreiros após os desastres anteriores e estamos mais bem preparados para obter as licenças governamentais necessárias”, explica ele.
“Muito poderá ser feito se recebermos os recursos necessários”, insiste Raymond, acrescentando que espera que o país e a comunidade internacional tenham aprendido lições com a tragédia de 2010. Ele observa a necessidade de “coordenação e planejamento muito melhores, com menos atores e mais recursos indo para as organizações locais e para o governo haitiano.”

Há um forte senso de solidariedade entre os próprios haitianos, diz Raymond, com muitas pessoas respondendo a um pedido de doação de sangue para tratar os feridos. “Eu também sou um doador e tenho incentivado outros a também doarem sangue. É o mínimo que podemos fazer para ajudar os necessitados - os haitianos ajudam os haitianos, e não apenas contam com a ajuda de fora”, acrescenta.

Ainda assim, há uma enorme necessidade de recursos financeiros para apoiar organizações como a FLM / NCA / DKH, tanto para a resposta de emergência em andamento quanto para o trabalho de longo prazo de reconstrução de casas e meios de subsistência. “As doações são muito importantes para nós”, diz Raymond, “pois farão uma diferença real na vida das pessoas”. Neste momento, “as pessoas estão com medo e muitas vezes eu também me sinto assustado”, conclui. “Mas nosso trabalho proporciona esperança e dignidade e capacita as pessoas mostrando assim que podemos viver nossa fé por meio da ação.”

FLM / P. Hitchen




 

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