Tema do Ano 2011 - Paz na Criação de Deus – Esperança e Compromisso

Texto Motivador

26/10/2011

O PAMI – Plano de Ação Missionária da IECLB continua sendo o roteiro programático para toda a igreja até o ano 2012. O slogan do PAMI, Missão de Deus – Nossa Paixão, é o guarda-chuva sob o qual se abrigam, se alimentam e se fundamentam todas as iniciativas, trabalhos e atividades. Depois de dois anos mantendo o próprio slogan do PAMI como tema do ano para a IECLB, decide-se, tendo em mente a concepção integral de missão, realçar o horizonte mais amplo de nossa responsabilidade cristã, a saber, a própria criação de Deus e nosso cuidado por ela. Após reflexão interna, consultados a pastora e os pastores sinodais e ouvido o Conselho da Igreja, optamos pelo seguinte tema:

Paz na Criação de Deus – Esperança e Compromisso.

O Lema do Ano para 2011 é

Glória a Deus e Paz na Terra (Lc 2.14, em versão abreviada).

Este lema é o tema central da Convocação Ecumênica Internacional para a Paz, a realizar-se em Kingston, Jamaica, de 17 a 25 de maio de 2011. Trata-se de uma conferência importante que irá discutir a questão da paz, em conexão com o encerramento da Década de Superação da Violência, promovida pelo Conselho Mundial de Igrejas. No dia 22 de maio de 2011 todas as igrejas estarão convocadas a unirem-se em culto com as igrejas e pessoas delegadas reunidas na Jamaica. Mais uma vez a IECLB quer se unir às vozes de outras igrejas e juntar-se ao esforço delas. Para 2011 queremos refletir e propor ações em busca de uma paz solidária, justa e igualitária entre os seres humanos e destes para com toda a Criação de Deus.

“Glória a Deus e paz na terra” faz parte da mensagem proferida pelos anjos que indicaram aos pastores o lugar onde Jesus Cristo havia nascido. Trata-se de um texto natalino e, portanto, inspirador de renovadas esperanças. Nós glorificamos a Deus porque Deus veio a nós em Jesus Cristo. Também o glorificamos porque Deus criou a nós e a tudo o que existe e é Deus quem mantém esta criação.

A criação é um elemento muito importante dentro da concepção cristã de fé. A Bíblia relata que Deus criou tudo o que existe. O livro de Gênesis apresenta dois relatos da criação: Gn 1.1-2.3 e 2.4-25. Destes relatos, destacamos o v. 2.3 no qual é relatada a santificação do sétimo dia, o dia do descanso, no qual Deus viu como era boa sua obra; também o v. 2.15, onde o autor de Gênesis afirma que Deus colocou o ser humano no Jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo. Além de ser boa obra de Deus, os seres humanos foram especialmente incumbidos de cuidar da criação.

No primeiro artigo do Credo Apostólico confessamos crer em “Deus Pai, todo-poderoso, criador do céu e da terra.” Nosso Deus é um Deus criador, que elaborou a criação a partir do nada. Desrespeito a essa criação significa desrespeito ao próprio criador. Na explicação a esse artigo do Credo Apostólico, o Reformador Martim Lutero enfatizou que Deus também mantém a criação, dando-lhe condições para que seja produzido tudo quanto seja necessário para uma vida digna. Por isso mesmo a natureza precisa ser cuidada e de modo algum abusada e agredida.

Como o tema Paz na Criação de Deus se vincula ao PAMI? Através da reflexão em torno das seguintes perguntas: de que forma as quatro dimensões do PAMI (evangelização, comunhão, diaconia, liturgia), e seus três eixos transversais (comunicação, formação e sustentabilidade), amplamente fundamentadas nos materiais disponíveis, se relacionam com a Criação de Deus? É possível a uma igreja ficar indiferente a todos os pecados cometidos contra a Criação? Como o planejamento missionário estratégico que já está em andamento nas comunidades, pode e deve levar em consideração a Criação de Deus? Trata-se de perguntar e de responder de que forma a IECLB, que quer ser uma igreja cada vez mais comprometida com a missão de Deus, pode fazê-lo a) em paz com a Criação e, b) promovendo a paz na Criação de Deus.

Ainda sobre o PAMI, mas especificamente sobre diaconia e sustentabilidade. O trabalho diaconal da Igreja obviamente não pode deixar de incluir o respeito à Criação. De que maneiras a autossustentabilidade que a Igreja quer para seus sínodos, paróquias, comunidades e instituições afeta ou não o restante da Criação de Deus?

O tempo atual nos remete a uma grande necessidade de refletir sobre paz e falta de paz na Criação. Paz aqui é entendida não apenas como ausência de guerra ou violência (apesar de que estas sejam tristes realidades constantes no mundo atual), mas paz que implica em justiça, partilha, comunhão, bem-estar e alegria de viver. Trata-se de uma paz que se traduz em respeito e compromisso. É importante que a igreja volte a refletir sobre a relação do ser humano com o restante da Criação, sobre a relação entre a preservação da natureza e suas implicações para com a paz e os direitos humanos, sobre a relação entre Criação e economia, Criação e questões de gênero, Criação e diversidade étnica.

Certamente o modelo de desenvolvimento dominante no mundo, o modelo do crescimento ilimitado, difundido e facilitado pelo fenômeno da globalização, precisa ser severamente questionado. Embora seja inegável que avanços econômicos tenham proporcionado melhorias nas condições de vida de forma geral, o mundo ainda contém cerca de 800 milhões de pessoas famintas e muitos outros milhões de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. E o que falar da destruição na natureza, do aquecimento global, da extinção de espécies animais e vegetais, da poluição e privatização da água potável? Já no Concílio de Chapada dos Guimarães, no ano de 2000, a IECLB lançava um manifesto onde afirmava:

A teologia da graça nos anima e fortalece na esperança e no compromisso transformador diante da ideologia do crescimento e acumulação ilimitados. Ela também previne contra uma teologia que enaltece o consumo como um fim em si mesmo ou glorifica a prosperidade desvinculada dos valores da justiça. O que temos e somos não constitui mérito nosso, mas representa dádiva e graça de Deus. Somos tão somente parte da criação divina. A criação nos é confiada a nosso cuidado, jamais para sua exploração. (Manifesto de Chapada dos Guimarães, 2000)

A realidade mostra que a Criação está perigosamente ameaçada! É fato inquestionável que o desequilíbrio ecológico ameaça a vida (em geral e do ser humano em particular). Estamos vivendo uma época de agudo descontrole das condições climáticas. Testemunhamos e/ou somos vítimas de calor ou frio excessivo, enchentes, temporais, terremotos, deslizamentos, que causam destruição e morte – ou seja, falta Paz na Criação! Também comunidades da IECLB têm sido fortemente afetadas.

Em seu posicionamento sobre Bioética, de 2008, a Presidência da IECLB afirma:

De fato, há uma fraternidade na tragédia e na esperança entre todos os seres vivos. Na tragédia, porque a criação como um todo sofre a realidade da morte, que também se mostra na destruição dos seres vivos (Rm 8.20, 22-23). Mas há também uma solidariedade na esperança, porque todos aguardam pela realização do Reino de Deus, que significa a superação da morte e do sofrimento (Rm 8.19, 21, 24-25). Entretanto, isso não dispensa o cristão de assumir sua tarefa de ser um bom administrador, cuidando da boa criação de Deus (Gn 2.15). Somos chamados à responsabilidade, ou seja, devemos responder pelos nossos atos diante do Deus vivo e verdadeiro.

Em sua reunião de 2009, os grupos assessores da Presidência, e de forma especial os grupos de responsabilidade pública e etnia, refletiram bastante sobre a necessidade de tematizar questões ligadas a terra, água e ar. Há boas possibilidades de que sejam incentivados e realizados trabalhos bem práticos (reciclagem, reflorestamento, proteção às nascentes, agricultura ecológica, etc.). Também podemos incentivar as pessoas a viver uma vida com simplicidade, com menos supérfluos. Para estas atividades, podemos contar com vários anos de experiências e iniciativas de instituições que nasceram no seio da IECLB e que a ela permanecem confessionalmente vinculadas, como o CAPA, o COMIN, a FLD, etc.

O tema “mudanças climáticas” é um assunto bastante candente e até mesmo polêmico, já que não encontra consenso geral na comunidade científica. A conferência de Copenhagen, em final de 2009, foi uma tentativa de comprometer países a diminuírem suas emissões de agentes poluentes. Infelizmente não houve o comprometimento necessário e se considera a conferência como tendo sido um fracasso. É duvidoso se a nova conferência programada para o México poderá trazer melhores resultados, ainda que o desastre ecológico do vazamento de petróleo no Golfo do México tenha escancarado a necessidade de melhores políticas de cuidado para com a natureza.

As mudanças pelas quais o clima terrestre está passando também foram abordadas na consulta realizada entre a IECLB e a Igreja da Baviera, em 2009. A pergunta que ficou é que tipo de ações a igreja pode tomar para colocar em prática a preservação da natureza e a diminuição das mudanças climáticas: promover reciclagem de papel? Imprimir sempre frente-verso e somente o imprescindível? Evitar materiais descartáveis? Incentivar membros a cuidar das nascentes de cursos de água e diminuir os pesticidas nas lavouras?

A Presidência traduziu, publicou e enviou para cada líder, ministro, ministra, comunidade, paróquia e sínodo um exemplar do caderno “Deus, Criação e Mudança Climática”, produzido pela FLM. Certamente este subsídio irá ser muito útil na reflexão do tema que estamos propondo para 2011.

A IECLB é uma igreja de Jesus Cristo que procura testemunhar o amor de Deus em solo brasileiro. Sua voz profética e seu comprometimento com tudo aquilo que diz respeito à vida digna e justa é um de seus pontos mais fortes. Impossível para esta igreja colocar-se como instrumento da missão de Deus sem levar em conta toda a Criação de Deus, da qual o ser humano é uma pequena parte. Trata-se de colocar-se a serviço para que haja paz na Criação de Deus.

Porto Alegre, 2 de junho de 2010

Walter Altmann
Pastor Presidente
 

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