Tiago 5.7-8

Auxílio Homilético

08/12/1985

Prédica: Tiago 5.7-8
Autor: Rui Bernhard
Data Litúrgica: 2º. Domingo de Advento
Data da Pregação: 8/12/1985
Proclamar Libertação - Volume: XI
Tema: Advento

A título de introdução deve-se dizer que a perícope de Tiago 5.7-8 faz parte de um contexto maior, ou seja, 5.7-11. Aí pode-se ver três unidades distintas (v.7-8; v.9; v.10-11). O imperativo que se dirige aos irmãos dá uma certa identidade às três unidades. O que mais destoa é o v.9. No entanto fica bem claro que cada unidade tem a sua estrutura própria e mensagem em si mesma. Por isso é perfeitamente viável tomar a perícope indicada para o 2.° domingo de advento como texto para a pregação.

I — Sobre o texto

O nosso texto pode ser estruturado da seguinte maneira:

1. O imperativo (7a) — sede pacientes até a vinda do Senhor.

2. Um exemplo para o imperativo (7b) — o agricultor que aguarda com paciência o fruto da terra.

3. Reforço do imperativo (8).

7a — Com a palavra OÜN o texto pode ser colocado num certo relacionamento com o texto anterior, onde é expressa pelo autor a condenação de Deus sobre as riquezas mal adquiridas. Aos exploradores é anunciado o juízo de Deus. Aos explorados a exortação para a paciência. Não se trata de uma fé passiva e resignada. Para isso nos indica o exemplo do agricultor, que espera, mas não de mãos cruzadas.

O consolo dos pobres explorados não está na condenação de Deus sobre os ricos propriamente dita. Mas o seu consolo e, acima de tudo, a sua esperança, está na parusia, na vinda de Jesus. Somente a vinda de Jesus pode trazer-lhes a verdadeira libertação. E é nesta es¬perança que os cristãos devem assumir a atitude de espera pacienciosa e perseverante. Schlatter diz que a identidade dos cristãos é estar à espera.

A força para esta espera o cristão recebe da graça que está por virem Jesus Cristo. Praticamente todos exegetas concordam que aqui se trata da segunda vinda de Cristo.

7b-8— Para que o leitor possa entender melhor o imperativo da espera, o autor usa um exemplo vivencial do mesmo. Como age o agricultor? Ele semeia e espera pelo dia da colheita. O bom agricultor sabe perfeitamente o que isto significa: é preciso ficar atento para as pragas, as ervas daninhas e o seu combate. Quer dizer, esperar não significa ficar de braços cruzados, sem ação.

O exemplo aqui se refere ao pequeno agricultor, para quem o fruto, a colheita, significa uma grande preciosidade, pois significam a sobrevivência para ele e sua família. Portanto, também para o agricultor a paciência na espera é importante, pois o fruto — que é o resultado de seu trabalho duro — é o produto final, que ainda está por vir. Nada está garantido de saída. É preciso icar numa espera com muita fé e esperança.

Isto significa que entre a ação do homem e a ação misericordiosa de Deus precisa ser localizado o ato de espera em fé e esperança. Pois nós não podemos forçar com a nossa ação e com as nossas forças limitadas o resultado final que são os frutos tão esperados pelo agricultor. É preciso que aconteça o ciclo normal entre semeadura e colheita, da qual faz parte a ação de Deus e que inclui as chuvas cíclicas.

Assim a vinda do Senhor não pode ser forçada. É preciso paciência e fé. A parusia está tão próxima que podemos confiar no fato de que o tempo de opressão dos exploradores não vai mais durar muito. Até lá é preciso aguardar e esperar, é preciso fortalecer-se, na certeza de que a fé e confiança vão valer a pena. E o resultado vai ser importante: Para os que esperam com confiança vai significar a salvação, a libertação; para os ricos (os opressores) vai significar dia de juízo, dia de desventuras que vos sobrevirão (5.1) (Compare também SI. 37.10.11).

II — Meditação e prédica

A perícope presente trata da segunda vinda de Cristo, para a qual estão voltadas nossa esperança e fé também na época de advento. Esta vinda de Cristo marcará o fim do tempo presente e inaugurará um tempo novo, o da manifestação do reino dos céus na terra.
Como podemos transmitir esta mensagem às nossas comunidades?

Para a comunidade da época em que foi escrita a carta de Tiago isto era claro. Mas mesmo para esta comunidade a palavra precisava ser repetida sempre de novo. Também para nós hoje isto é mais que necessário. Ninguém de nós pode negar a limitação de sua vida. E por isto nunca vamos conseguir responder a pergunta: Por que e para que eu existo? Para a comunidade cristã esta pergunta recebe a sua resposta no fato de que Deus saiu da eternidade para entrar no nosso tempo através de seu Filho. (J. Haar).

Deus nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como que primícias das suas criaturas (Tiago 1.18). Assim sendo, a pessoa é transformada para uma nova vida que começa aqui com a fé e que será confirmada (concluída) em toda sua plenitude na eternidade.

Por isso a vida do cristão será sempre uma vida no conflito. Será uma vida na espera constante e paciente no Senhor. E esta espera não acontece fora do mundo, mas justamente dentro dele, em meio a todas as maldades e atrocidades presentes na vida de cada um e que se revelam nas guerras sujas, nas matanças, na miséria, na corrupção, nas injustiças e ha fome que tanto e diariamente ameaçam a humanidade. É justamente ali que a perseverante e pacienciosa espera no Senhor poderá trazer esperança para o mundo dividido e sem esperanças. Resistir diante de propostas injustas que visam o privilégio de alguns poucos — isto só é possível para alguém que não conta somente com a sua sabedoria e potencial idades, mas coloca a sua esperança no Cristo que há de vir.

A prédica deveria enfocar que em meio a todas as tensões e preocupações do dia-a-dia o Senhor virá! Para isto devemos deixar claro na prédica, que o Deus do amor está diante de nossa porta.

Esquema pára a prédica:

— O Senhor virá! Nós vivemos desta certeza em fé. Para tanto podemos preparar-nos da seguinte maneira:

1. Permanecendo firmes e perseverantes com toda paciência.

2. Que nos deixemos fortalecer e equipar através de sua palavra para uma atuação em amor e justiça na transformação do mundo em que vivemos.

3. Que nos humilhemos perante o Cristo, pois ele nos julgará em amor e nos libertará para sermos uma comunidade livre que procura vivenciar o amor e a verdadeira paz.

III — Subsídios litúrgicos

1. Confissão de pecados: Senhor Deus, hoje queremos confessar-te a falta de esperança que existe dentro de nós. Nós perdemos a esperança de que Tu realmente ainda chegarás mais uma vez de forma bem perceptível e visível a este mundo, para livrá-lo de todos os seus males e de todas as pessoas más que existem dentro dele. Não contamos mais com tuas promessas, também não confiamos mais que honestidade, justiça e amor tragam mais felicidade do que ganhar dinheiro, ganhar poder e ganhar prazer. Ensina-nos, Senhor, a contarmos conTigo e com a vinda do Teu reino. Dá-nos um coração paciente, que saiba esperar por Ti, por Tua vinda. Livra-nos da tentação de querermos ser juiz sobre outras pessoas, por não confiarmos mais no teu juízo prometido. Tem piedade de nós, Senhor!

2. Oração de coleta: Obrigado, Senhor, por mais esta oportunidade de nos reunirmos para louvar-Te, agradecer-Te e pedir pela Tua bênção e proteção. Esteja presente neste culto. Tua palavra queira nos dar alegrias e novas forças para a vida e missão. Faze habitar o Teu espírito em nossos corações, para que também nos momentos mais difíceis da vida possamos estar certos de que estás do nosso lado e que¬res o nosso bem. Por Jesus Cristo, Senhor e Salvador de todos, amém.

3. Assuntos para a oração final: Orar por aqueles que não mais têm esperança, de tanto que foram enganados, explorados, e aproveitados por outras pessoas; orar pelos que não mais têm paciência diante das muitas injustiças (políticas, econômicas, sociais, eclesiais, familiares, etc.) existentes, tendo optado por fazer juízo com as próprias mãos; orar pela vinda do Senhor, ou seja, pelo término de toda maldade e corrupção a nível individual e social; orar para que toda a comunidade saiba se inspirar nessa esperança futura, deixando que esta determine à natureza de seu pensar e a qualidade do seu agir.

IV — Bibliografia

- DIBELIUS, M. GREEVEN, H. Der Brief des Jakobus. In: Kritisch-exegetischer Kommentar zum NT, v. 15,11a ed., Goettingen, 1964.
- HAAR, J. Meditação sobre Tiago 5.7-11. In: Goettinger Predigt-Meditationen, Goettingen, 24(4):431-438,1970.
- MUSSNER, F. Der Jakobusbrief. In: Herders theologischer Kommentar zum NT, v.13, Freiburg-Basel-Wien, 1964.
- SCHRAGE, W. Der Jakobusbrief. In: Das Neue Testament Deutsch, v. 10.11a ed., Goettingen, 1973.
- SEIM, J. Meditação sobre Tiago 5.7-11. In: FALKENROTH, A. HELD, H.J. ed. Hoeren und Fragen, v. 4,2a parte, Neukirchen, 1976.


Autor(a): Rui Bernhard
Âmbito: IECLB
Natureza do Domingo: Advento
Perfil do Domingo: 2º Domingo de Advento
Testamento: Novo / Livro: Tiago / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 7 / Versículo Final: 8
Título da publicação: Proclamar Libertação / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1985 / Volume: 11
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Auxílio homilético
ID: 17601
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