Um leigo entre pastores - Entrevista com o Secretário de Economia da IECLB

01/12/1997

Um leigo entre pastores

Entrevista com o Secretário de Economia da IECLB

Por duas vezes, ele ocupou a Secretaria de Economia da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Helvino Pufal foi o primeiro leigo a assumir um cargo de Secretário na IECLB, há pouco mais de dez anos. As demais secretarias são ocupadas por pastores. Graças à sua competência profissional, foi convidado uma segunda vez para ocupar a Secretaria de Economia. Humilde, Pufal credita sua escolha ¨à vontade de Deus¨ . Ele nasceu em Santa Rosa (RS), é casado e tem um filho de 23 anos e duas filhas de 15 e 7 anos. Formou-se inicialmente como Técnico em Contabilidade e, mais tarde, graduou-se em Ciências Econômicas.


Anuário: Como chegaste a trabalhar na sede administrativa da IECLB?

Pufal: Em 1978, no Concílio de Joinville (SC), fui eleito ¨suplente ao Conselho Diretor (CD)¨. No impedimento do titular, assumi constantemente. Em 1982, no Concílio de Hamburgo Velho (RS), fui eleito ¨titular ao Conselho Diretor¨, sendo reeleito em 1986 no Concilio do Rio de Janeiro (RJ). Devido à minha formação, o CD incumbiu-me de diversas tarefas em comissões que tratavam de finanças e contabilidade, sendo também indicado como ¨presidente da Comissão de Finanças¨.

No início de 1986, fui sondado pelo então Secretário-Geral para ocupar a Secretaria da Economia. Declinei do convite. No início de 1987 fui mais uma vez convidado pelo Presidente da IECLB, o pastor Brakemeier, e pelo Secretário-Geral, pastor Droste. Senti-me convocado e não tinha mais argumentos para não aceitar a tarefa. Em 1º. de julho de 1987, assumi então como Secretário de Economia.

Anuário: Como foi essa primeira experiência? Quanto tempo durou?

Pufal: Acho que foi importante para mim e para a IECLB o período de 19 de julho de 1987 a 31 e dezembro de 1993, portanto, seis anos e meio.

Anuário: Por que saíste da Secretaria Geral?

Pufal: Negócios e a empresa da família precisavam do meu trabalho.

Anuário: Retornaste mais tarde de novo. Quando e por que voltaste?

Pufal: No Concilio de Cachoeira do Sul (RS), em outubro de 1994, foram eleitos o novo Pastor Presidente — pastor Huberto Kirchheim — e o novo Conselho Diretor. Como o Secretário que me havia sucedido já manifestara o desejo de não continuar, a partir de 1995, o pastor Kirchheim convidou-me para voltar. Quando deixei a Secretaria, jamais me passou pela cabeça voltar a trabalhar na Secretaria Geral, muito menos no mesmo cargo. Mas existem situações que, muitas vezes, por mais que a gente tente, não são explicáveis. Olhando para trás, creio que esta foi a vontade de Deus. Assumi novamente em 1º. de fevereiro de 1995, com o compromisso de permanecer até o fim da presente gestão do Conselho Diretor.

Anuário: Como está a tua segunda experiência na Secretaria Geral?

Pufal: Na realidade, após o meu retorno, sentia-me como se tivesse tirado férias mais prologandas. Com muita disposição e baterias recarregadas para colocar em dia o que era necessário.

Anuário: Tens planos de permanecer na nova configuração dentro da IECLB?

Pufal: Há necessidades de realizar também uma reestruturação na Secretaria Geral. Quero ajudar nessa transição, mas não tenho planos além da atual gestão do Conselho Diretor.

Anuário: Tua ligação com o Movimento Encontrão influenciou o convite para trabalhares na Igreja?

Pufal: Eu sou grato a Deus pelo Movimento Encontrão. Nos anos 70, fui confrontado com o Evangelho e passei pelo processo de conversão. Pastores ligados ao Encontrão foram os instrumentos de Deus para que eu deixasse de ser ¨sócio de uma Comunidade¨ para ser um membro atuante na IECLB. Quando fui convidado para ser Secretario de Economia, não assumi como representante do Encontrão, mas como leigo engajado da Igreja. Como secretário sempre procurei ser profissional e humano com todas as pessoas. Sempre tive o respeito de pessoas de outras linha teológicas.

Anuário: Foste o primeiro leigo a assumir o cargo de Secretário na IECLB?

Pufal: Acho que foi importante para a IECLB ter um leigo e profissional da área.

Anuário: Quais foram as tuas realizações na Secretaria de Economia?

Pufal: Em primeiro lugar, a transparência e ajudar na credibilidade da administração. Sempre informamos os líderes sobre a situação financeira/ econômica da IECLB. Em segundo lugar, a informatização contábil e de toda a Secretaria Geral. Em terceiro, os contatos com as bases, através de encontros, retiros, palestras e seminários.

Anuário: Onde estão os maiores problemas financeiros da IECLB?

Pufal: Falta uma ¨teologia do dinheiro¨. É uma falha deformação. Para muitos líderes das Comunidades, incluindo o pastor e a pastora, falta uma visão de Igreja. O tamanho da Igreja para alguns é o limite geográfico da paróquia. Não consideram importante a missão, a formação e muito menos a estrutura, que são responsabilidades da administração central. Para alguns falta sinceridade quanto aos valores a serem repassados às Regiões e à Secretaria Geral, referente às cotas-IECLB Com a implantação do percentual, como será?

Anuário: Muda alguma coisa na tua Secretaria agora com a reestruturação da IECLB?

Pufal: Haverá uma reestruturação na Secretaria Geral e também na Secretaria de Economia. A transição será um período de turbulências. É necessário ter calma e paciência, pois levará de dois a três anos até que tudo esteja em ordem nas questões de finanças, contabilidade e economia da IECLB . Certamente no primeiro momento, o Conselho Diretor terá que desativar atividades por falta de recursos. Isso nem sempre é fácil.

Anuário: Estás satisfeito com os novos rumos da IECLB?

Pufal: Tem muito a ser feito. Isso só acontece num grande ¨mutirão¨. O problema é que eu vejo que muitos líderes espirituais (pastores e pastoras) estão cansados, desanimados, deprimidos, revoltados e rancorosos. Para os novos rumos, precisamos estar com ânimo, com perspectivas, com objetivos e alegres.

Anuário: Lembras algo pitoresco que aconteceu na tua Secretaria ao longo desses anos a serviço da IECLB?

Pufal: Em 31 de dezembro de 1993, despedi-me dos colegas e entreguei ao funcionário encarregado o molho de oito chaves que dão acesso ao prédio e às salas da Secretaria de Economia, no segundo andar da sede da IECLB Em 19 de fevereiro de 1995, quando retornei, o funcionário devolveu-me as mesmas chaves com o mesmo chaveirinho vermelho. Eu disse: Mas são as mesmas chaves! Ele respondeu: ¨Nós tínhamos esperança de que você voltasse¨. Nessa expressão voltei a sentir a alegria de trabalhar num ambiente que ajudei a formar, onde o respeito e o amor aos colegas devem estar sempre presentes.


Entrevista realizada por Rui J. Bender em abril de 1997


Ver ìndice do Anuário Evangélico - 1998
 


Autor(a): Rui Bender
Âmbito: IECLB
Título da publicação: Anuário Evangélico - 1998 / Editora: Editora Sinodal / Ano: 1997
ID: 33101
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